
- Redação*
- Da BBC News Mundo
Em meio ao caos e ao horror das pessoas que estão sendo forçadas a abandonar suas casas em Gaza, um menino pequeno e descalço foge desesperadamente carregando seu irmãozinho, com a voz embargada pelas lágrimas enquanto grita repetidamente "ya ama", que significa "mamãe".
O vídeo, capturado pelo fotojornalista palestino independente Ahmed Younis, foi visto por milhões de pessoas em todo o mundo.
Graças a essas imagens, um comitê de ajuda humanitária egípcio conseguiu encontrar as crianças e reuni-las com seus pais no sul de Gaza.
Para muitos, a história delas é mais um símbolo da agonia das crianças palestinas diante dos implacáveis ataques de Israel.
O jornalista Ahmed Younis reencontrou as crianças no sul de Gaza e conversou com a família.
Noha Mahmoud Khalil Abu Arar, a mãe das crianças, contou a Younis como se sentiu ao ver o vídeo viral dos dois irmãos.
"Fiquei chocada quando soube que meu filho apareceu em um vídeo online carregando o irmão sozinho. Quando vi o vídeo, não aguentei. Chorei e me senti sufocada. Mas depois fiquei feliz que Jadoua tenha feito algo assim."
"Até os homens adultos se sentem exaustos atravessando esse caminho, então imagine uma criança."
Jadoua carregou seu irmão nas costas por 10 km até chegar a Khan Yunis.
Na Cidade de Gaza, a família foi retirada da região de Tal al-Hawa.
"Meu marido tinha saído para conseguir comida para as crianças", contou Noha.
"O exército de ocupação israelense começou a bombardear. O bombardeio foi extremamente intenso."
A mãe estava com as filhas do casal e tentou salvá-las.

Jassim Abu Arar, pai de Jadoua, estava fora de casa no momento.
"Os bombardeios começaram um após o outro. Eu me escondi na entrada de um prédio. A entrada foi fechada atrás de mim e fiquei preso lá. Não sabia o que tinha acontecido com meus filhos", contou o pai.
"Jadoua estava brincando com os amigos e, quando aconteceu a explosão, ele fugiu. Quando voltou para onde estava sua mãe, não a encontrou. Viu o irmão no chão, chorando e gritando, então o pegou no colo e começou a correr."
Jadoua começou a caminhar, carregando o irmãozinho, na mesma direção para onde o restante das pessoas fugia.
"Não achei minha mãe nem meu pai. Peguei meu irmão e caminhei, parando para descansar de vez em quando", contou o menino.
"Cheguei ao meu destino no meio da noite. E fiquei pedindo informações a todos que encontrava."

Símbolo do sofrimento
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Jassim, o pai das crianças, descobriu que seus filhos estavam vivos quando viu o vídeo viral na internet.
"Achei que estavam todos mortos", disse ele.
O Comitê Egípcio de Assistência aos Moradores de Gaza procurou por Jadoua e seu irmãozinho por três dias até encontrá-los e reuni-los com seus pais. A família está agora em um acampamento administrado pela mesma organização em Khan Yunis.
Ahmed Younis, o jornalista que capturou tanto o vídeo viral quanto o reencontro subsequente, reflete sobre o impacto de seu trabalho.
"Desde o início da agressão, documentamos vários eventos aqui em Gaza, sejam deslocamentos, ataques direcionados ou outros incidentes."
"Muitas vezes enfrentamos desafios com a reação das pessoas às nossas filmagens, que nos perguntam: para quem estamos filmando? Quem vai ver isso? E por quê?"
"Costumamos filmar para que o mundo veja o que está acontecendo e tome providências. Graças a Deus, este vídeo comoveu o mundo inteiro."
O pai de Jadoua observou que todos os seus filhos, "cada um deles, tem um sonho".
"O sonho de Jadoua é ser professor no futuro."
Para Ahmed Younis, as lágrimas do menino em seu vídeo simbolizam o imenso sofrimento e o fardo carregado pelas crianças de Gaza.
Tess Ingram, porta-voz da Unicef, condenou o deslocamento forçado de milhares de crianças como Jadoua e adultos da Cidade de Gaza, que até recentemente tinha uma população de mais de um milhão.
"O deslocamento forçado em massa da Cidade de Gaza é uma ameaça mortal para os mais vulneráveis", disse Ingram.
"É desumano esperar que meio milhão de crianças, espancadas e traumatizadas por mais de 700 dias de conflito implacável, fujam de um inferno apenas para acabar em outro."
"Só na Cidade de Gaza, havia pelo menos 10 mil crianças sofrendo de desnutrição sem água, e agora, com os bombardeios, elas não conseguem acessar um terço dos centros de nutrição que poderiam salvar suas vidas."

Israel lançou uma campanha militar em Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251 foram feitas reféns, segundo autoridades israelenses.
Os ataques de Israel mataram mais de 65 mil pessoas, incluindo mais de 18 mil crianças, e feriram mais de 167 mil, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
Um comitê das Nações Unidas observou que mais de 40 mil crianças foram feridas pelos ataques israelenses e, dessas, pelo menos 21 mil estão agora incapacitadas.
Em 16 de setembro, um comitê investigativo da ONU, a Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre os Territórios Palestinos Ocupados, concluiu que Israel cometeu e continua cometendo genocídio em Gaza.
As mesmas afirmações foram feitas anteriormente pela Associação Internacional de Peritos em Genocídio, relatores da ONU, Anistia Internacional e Human Rights Watch, entre outros.
O governo israelense nega as acusações.
*Esta reportagem foi compilada com material fornecido pelo serviço de notícias em árabe da BBC.
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