SONS QUE ORQUESTRAM SERES - Uma
jornada com Consigla
E se cada um de nós se transformasse
na nota de uma musica sem partitura ou no instrumento de uma orquestra sem
maestro ? Se tiver que criar uma musica andando pela cidade com outras pessoas
que não conhecemos ? E conseguíssemos ouvir alguns sons que tocam dentro de nós
? E buscássemos interagir com os sons dos ambientes e das pessoas que encontramos nos caminhos
por onde passamos ?
MUSICA.
Cada ação, um som. Ver o som
tornar-se o centro de tudo foi encontrar o som como arte. Emitir o som de outro
também foi uma experiência lúdica que me ensinou a buscar interpretar o que vejo por sons. Outro passo na Jornada
de Consigla. Entre um som curto e um longo apreendi a duração. De nota em nota,
ou gesto em gesto, fui apreendendo como elas interagem entre si formando um
ritmo. Uma musica construída com os corpos e a percepção.
Sinto que as palavras que não
consigo canta-las é porque meu corpo não pode ouvi-las nem vê-las. Chega a hora
de sentir a pulsação de nosso corpo na vida. Sons e movimentações corporais se
articulando sozinhos para emergir em grupos. Neste ritmo dos sons e atos mais
simples aos complexos, fomos construindo uma musica do grupo, com seus sons e
corpos, a partitura era gerada pela interação com o outro. Aos poucos fomos
apreendendo a identificar padrões e segui-los. Encontrar o silêncio de cada um
foi tão importante quanto o som. Aprender e escutar o som , inclusive o nosso,
nos ensina outras percepções não somente sobre a musica, mais sobre o mundo e
cada um de nós.Entender como a musica ajudou a construir mundos e
subjetividades é um desafio.
a musica ajudou a construir mundos e
subjetividades...
Bater uma palma, tentando manter a
regularidade e a velocidade do pulso, com cuidado para não antecipar ou atrasar
o tempo. Escutar o pulso enquanto a vida passa me ensina a autonomia do som. Ir
além da repetição que se rompe com a diferença para mim representa o nascimento
da arte e da cultura. O ritmo, ganha vida em cada cultura, varia em altura, em
intensidade, em timbre, em velocidade e em duração.
Sentir e viver a musica é o grande
ensinamento de Consigla. Ampliar e dançar com nossa percepção muda horizontes e
integra o interior com o exterior.
Cada um de nós quer interagir com os
grupos que vivemos, mas cada um no seu ritmo, buscando construir de forma
coletiva uma musica para estes acontecimentos e a vida que deles emerge. A
criatividade era limitada por regras e condições. O som/movimento que fazia
tinha haver com minha personalidade mas muito com ambiente e trocas que ali
aconteciam .A cada som/movimento que era acrescentado ao organismo mas energia
fluía para o resto do grupo. Descondicionamos o som como repetição ou como musica
decorada e passamos a viver aquele momento com o que ele tinha de desafio e de
construção. Comecei a observar como a musica, o teatro, o cinema, a dança estão
pulsando ali nos atos das pessoas na vida real. Se pudéssemos extrair momentos,
seus encontros, a energia viva que circula tem seus efeitos em sons,
movimentos, cenas, e outros.
Educar o ouvido é bem diferente do
que o olhar. Estes exercícios me ensinaram que as cores e os sons tem tons ,
mas que os sons se combinam de forma diferente que as imagens. Os sons se
sobrepõe, combinam, interagem, mesmo em tons diferentes talvez forme um ritmo ?
ou não ? No cotidiano podemos apreender a vida pelos sons.
apreender a vida pelos sons....
“Em um instrumento melódico não é
possível executar mais de uma nota musical simultaneamente, ou seja, não é
possível executar um acorde. Já os instrumentos harmônicos executam acordes,
porque tem essa característica de poder executar mais de uma nota
simultaneamente. Alguns instrumentos podem exercer características harmônicas e
melódicas, dependendo da forma como ele é tocado, exemplos destes são o piano e
o violão.
E o ser para ser humanizar tem que
apreender a tocar a vida ora de formas harmônicas ora melódicas escrevendo sua
musica na arte de viver de forma ética e estética.
Durante a jornada de Consigla fui
apreendendo a unidade entre voz, olhar e movimento formando um único conjunto
que não sei se é o corpo mas a vida porque interage todo tempo com os ambientes
naturais, sociais, culturais e mesmo com o saber que temos sobre eles. Acho que
vivemos sempre buscando a batida perfeita em nossa vida. Algo como ao nos
movermos à musica e a imagem ganhasse vida, ora um, ora outro, nos conduzisse a
novos movimentos ora harmônicos ora melódicos.
Os sons pode nos ajudar a nos organizar
de outras formas para alem das imagens. Perceber vários detalhes de nossa
existência. Primeiro se conseguíssemos nos escutar ? e ao nos escutar, escutar
o outro, a vida, o mundo, observaríamos eles falando de várias formas , e
muitas vezes gritando ou silenciando diante de imagens, atitudes que não
gostamos, mas que a fuga e não os sons tem sido a resposta.
Acredito que quando “criamos musicas
ou sons ”estamos tocando pela primeira vez, vivendo, testando, buscando
melodias...e nem todas as batalhas são vitoriosas porque o processo flui ao
redor de trocas que fazemos entre nós e o mundo buscando uma certa melodia
possível dos temas que orientam nossos sentidos.
A organização da música provoca
diferentes paisagens sonoras, evocando sensações e sentimentos a partir da
música. A busca de singularidades e menos de padrões me anima como artista
porque fortalece a autonomia dos artistas para além dos sucessos ou formulas
impostas pelas industrias.
Busco cada vez mais como a diferença
de cada artista , melodia , é construída ? Como ele ilumina novas áreas antes
silenciadas ou excluídas em suas sonoridades? De alguma forma elas sobrevivem
fora dos contextos ate que outros começam a perceber sua magia, seu som, seu
encantamento que iluminam novos contextos “ melódicos”.
Fico pensando quantas musicas guardo
na memória ou de repente surgem pelas histórias que contam e que tem haver com
o que estou vivendo naquele momento. Acho que a musica busca um relacionamento
biológico conosco algo que nosso corpo e alma se sintoniza melhor com a musica
do que com a razão morta de vibrações, de timbres,de melodias...Talvez porque a
musica nos ensina a sentir e pensar junto, ousando como um sonho, timbres que
nosso corpo não aguentam naquele momento, mas que os ajuda a expandir ou seja o
corpo sentido de outras formas.
E quando em coletividade aprendemos
que timbrar é ajustar o seu som , o mais próximo do som , que a outra pessoa
está fazendo.
Toda vez que assisto o filme “ O segredo de Betthowen”ele começa a nona
sinfonia com uma frase “hoje a musica mudara para sempre” Eu não entendo mas
para mim uma coletividade de vozes, acontecimentos, instrumentos estão ali
dialogando, dançando, brigando, sonhando, e os sons expressam a minha alma ora
conflito seguido de paz, paz que vira
amor, mas que se revolta, sonha. Explode e cala será isto os timbres ?
Como um maestro fico imaginando por
exemplo como Hans Zimmer cria as musicas que se tornam trilhas sonoras de
filmes? Qual o impacto que aqueles instrumentos, movimentos , sons tem sobre as pessoas? Fico
imaginando o cajado como um maestro vivo que apontasse o encontro do ritmos dos
vários personagens e cenas vividas por eles ? No meu caso pequenos gestos neste
contexto teriam os mesmos efeitos ?
Entre Mozart e Hans Zimmer temos uma
distância temporal mas acho que os dois com seus recursos criavam e dialogavam
com personagens, cenas e ambientes a sua volta.
De várias formas vivenciais
Consiglia nos ensina a entender as notas
em nosso corpo como pulsos, nosso corpo como instrumento, o ritmo, a melodia,
como trocas entre eles em momentos e
tempos distintos, a composição como encontro e dialogo entre sons que interagem
para realizar a musica.Somos orquestras e nos tornamos orquestras com outros de
acordo com as musicas que vivemos.
Somos orquestras e nos tornamos
orquestras com outros de acordo com as musicas que vivemos.
Amo Musicais e Operas porque a razão
é cantada e dançada em uma História musicalizada por uma orquestra que toca ao
mesmo tempo o ambiente, os personagens, a História e o publico, uma magia de
conexões entre artes. Bem os musicais nos convidam a ver o teatro pela
orquestra assim como os filmes por suas trilhas.
E se toda imagem tivesse um som em
nossa mente ? E se nossa forma de ler as
imagens , os padrões e grafias dos sons , reduzisse nossa compreensão dos
mundos em que vivemos ? Porque alguns encontram singularidades de sons e outros
apenas a repetem e se maravilhavam com a repetição sem diferença ? Porque não
podemos criar e ouvir ao mesmo tempo os sons que emergem de nossa alma, de
nossos sonhos, atitudes, vontades, vida ?
Acho que a pesquisa que Consigla
realiza encontra caminhos para esta nossa época ou paradigma ético e estético
capaz de cada um de nós viver a sua musica e o seu filme!
Talvez se buscássemos as origens das
linguagens na humanidade , em gestos com sons que não eram palavras , mas
buscavam situações e sentidos. Não estranharíamos estes procedimentos pela
lógica da razão e da história. Porem ao nos colocar no processo em contextos
semelhantes. Sentimos dificuldade em expressar não palavras mas sons que venham
de dentro e não de fora e transforme em gestos que signifiquem o que sentimos.
Nossa sociedade talvez focou demais em comunicar , do que em ter algo a dizer ,
em algo que seja significativo para inventar nossas palavras, sons , gestos , mas principalmente novas
formas de se comunicar e interagir com si e os outros que lide com as
diferenças e não apenas com os padrões . E a jornada apenas começou....
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