SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

SONS QUE ORQUESTRAM SERES - Uma jornada com Consigla.




SONS QUE ORQUESTRAM SERES - Uma jornada com Consigla

E se cada um de nós se transformasse na nota de uma musica sem partitura ou no instrumento de uma orquestra sem maestro ? Se tiver que criar uma musica andando pela cidade com outras pessoas que não conhecemos ? E conseguíssemos ouvir alguns sons que tocam dentro de nós ? E buscássemos interagir com os sons dos ambientes  e das pessoas que encontramos nos caminhos por onde passamos ?

MUSICA.

Cada ação, um som. Ver o som tornar-se o centro de tudo foi encontrar o som como arte. Emitir o som de outro também foi uma experiência lúdica que me ensinou a buscar interpretar  o que vejo por sons. Outro passo na Jornada de Consigla. Entre um som curto e um longo apreendi a duração. De nota em nota, ou gesto em gesto, fui apreendendo como elas interagem entre si formando um ritmo. Uma musica construída com os corpos e a percepção.

Sinto que as palavras que não consigo canta-las é porque meu corpo não pode ouvi-las nem vê-las. Chega a hora de sentir a pulsação de nosso corpo na vida. Sons e movimentações corporais se articulando sozinhos para emergir em grupos. Neste ritmo dos sons e atos mais simples aos complexos, fomos construindo uma musica do grupo, com seus sons e corpos, a partitura era gerada pela interação com o outro. Aos poucos fomos apreendendo a identificar padrões e segui-los. Encontrar o silêncio de cada um foi tão importante quanto o som. Aprender e escutar o som , inclusive o nosso, nos ensina outras percepções não somente sobre a musica, mais sobre o mundo e cada um de nós.Entender como a musica ajudou a construir mundos e subjetividades é um desafio.

a musica ajudou a construir mundos e subjetividades...

Bater uma palma, tentando manter a regularidade e a velocidade do pulso, com cuidado para não antecipar ou atrasar o tempo. Escutar o pulso enquanto a vida passa me ensina a autonomia do som. Ir além da repetição que se rompe com a diferença para mim representa o nascimento da arte e da cultura. O ritmo, ganha vida em cada cultura, varia em altura, em intensidade, em timbre, em velocidade e em duração.

Sentir e viver a musica é o grande ensinamento de Consigla. Ampliar e dançar com nossa percepção muda horizontes e integra o interior com o exterior.

Cada um de nós quer interagir com os grupos que vivemos, mas cada um no seu ritmo, buscando construir de forma coletiva uma musica para estes acontecimentos e a vida que deles emerge. A criatividade era limitada por regras e condições. O som/movimento que fazia tinha haver com minha personalidade mas muito com ambiente e trocas que ali aconteciam .A cada som/movimento que era acrescentado ao organismo mas energia fluía para o resto do grupo. Descondicionamos o som como repetição ou como musica decorada e passamos a viver aquele momento com o que ele tinha de desafio e de construção. Comecei a observar como a musica, o teatro, o cinema, a dança estão pulsando ali nos atos das pessoas na vida real. Se pudéssemos extrair momentos, seus encontros, a energia viva que circula tem seus efeitos em sons, movimentos, cenas, e outros.

Educar o ouvido é bem diferente do que o olhar. Estes exercícios me ensinaram que as cores e os sons tem tons , mas que os sons se combinam de forma diferente que as imagens. Os sons se sobrepõe, combinam, interagem, mesmo em tons diferentes talvez forme um ritmo ? ou não ? No cotidiano podemos apreender a vida pelos sons.

 apreender a vida pelos sons....

“Em um instrumento melódico não é possível executar mais de uma nota musical simultaneamente, ou seja, não é possível executar um acorde. Já os instrumentos harmônicos executam acordes, porque tem essa característica de poder executar mais de uma nota simultaneamente. Alguns instrumentos podem exercer características harmônicas e melódicas, dependendo da forma como ele é tocado, exemplos destes são o piano e o violão.
E o ser para ser humanizar tem que apreender a tocar a vida ora de formas harmônicas ora melódicas escrevendo sua musica na arte de viver de forma ética e estética.

Durante a jornada de Consigla fui apreendendo a unidade entre voz, olhar e movimento formando um único conjunto que não sei se é o corpo mas a vida porque interage todo tempo com os ambientes naturais, sociais, culturais e mesmo com o saber que temos sobre eles. Acho que vivemos sempre buscando a batida perfeita em nossa vida. Algo como ao nos movermos à musica e a imagem ganhasse vida, ora um, ora outro, nos conduzisse a novos movimentos ora harmônicos ora melódicos.

Os sons pode nos ajudar a nos organizar de outras formas para alem das imagens. Perceber vários detalhes de nossa existência. Primeiro se conseguíssemos nos escutar ? e ao nos escutar, escutar o outro, a vida, o mundo, observaríamos eles falando de várias formas , e muitas vezes gritando ou silenciando diante de imagens, atitudes que não gostamos, mas que a fuga e não os sons tem sido a resposta.

Acredito que quando “criamos musicas ou sons ”estamos tocando pela primeira vez, vivendo, testando, buscando melodias...e nem todas as batalhas são vitoriosas porque o processo flui ao redor de trocas que fazemos entre nós e o mundo buscando uma certa melodia possível dos temas que orientam nossos sentidos.

A organização da música provoca diferentes paisagens sonoras, evocando sensações e sentimentos a partir da música. A busca de singularidades e menos de padrões me anima como artista porque fortalece a autonomia dos artistas para além dos sucessos ou formulas impostas pelas industrias.

Busco cada vez mais como a diferença de cada artista , melodia , é construída ? Como ele ilumina novas áreas antes silenciadas ou excluídas em suas sonoridades? De alguma forma elas sobrevivem fora dos contextos ate que outros começam a perceber sua magia, seu som, seu encantamento que iluminam novos contextos “ melódicos”.

Fico pensando quantas musicas guardo na memória ou de repente surgem pelas histórias que contam e que tem haver com o que estou vivendo naquele momento. Acho que a musica busca um relacionamento biológico conosco algo que nosso corpo e alma se sintoniza melhor com a musica do que com a razão morta de vibrações, de timbres,de melodias...Talvez porque a musica nos ensina a sentir e pensar junto, ousando como um sonho, timbres que nosso corpo não aguentam naquele momento, mas que os ajuda a expandir ou seja o corpo sentido de outras formas.

E quando em coletividade aprendemos que timbrar é ajustar o seu som , o mais próximo do som , que a outra pessoa está fazendo.

Toda vez que assisto o filme  “ O segredo de Betthowen”ele começa a nona sinfonia com uma frase “hoje a musica mudara para sempre” Eu não entendo mas para mim uma coletividade de vozes, acontecimentos, instrumentos estão ali dialogando, dançando, brigando, sonhando, e os sons expressam a minha alma ora conflito seguido de paz,  paz que vira amor, mas que se revolta, sonha. Explode e cala será isto os timbres ?

Como um maestro fico imaginando por exemplo como Hans Zimmer cria as musicas que se tornam trilhas sonoras de filmes? Qual o impacto que aqueles instrumentos,  movimentos , sons tem sobre as pessoas? Fico imaginando o cajado como um maestro vivo que apontasse o encontro do ritmos dos vários personagens e cenas vividas por eles ? No meu caso pequenos gestos neste contexto teriam os mesmos efeitos ?
Entre Mozart e Hans Zimmer temos uma distância temporal mas acho que os dois com seus recursos criavam e dialogavam com personagens, cenas e ambientes a sua volta.

De várias formas vivenciais Consiglia nos ensina  a entender as notas em nosso corpo como pulsos, nosso corpo como instrumento, o ritmo, a melodia, como trocas entre eles em momentos e tempos distintos, a composição como encontro e dialogo entre sons que interagem para realizar a musica.Somos orquestras e nos tornamos orquestras com outros de acordo com as musicas que vivemos.

Somos orquestras e nos tornamos orquestras com outros de acordo com as musicas que vivemos.

Amo Musicais e Operas porque a razão é cantada e dançada em uma História musicalizada por uma orquestra que toca ao mesmo tempo o ambiente, os personagens, a História e o publico, uma magia de conexões entre artes. Bem os musicais nos convidam a ver o teatro pela orquestra assim como os filmes por suas trilhas.

E se toda imagem tivesse um som em nossa mente ?  E se nossa forma de ler as imagens , os padrões e grafias dos sons , reduzisse nossa compreensão dos mundos em que vivemos ? Porque alguns encontram singularidades de sons e outros apenas a repetem e se maravilhavam com a repetição sem diferença ? Porque não podemos criar e ouvir ao mesmo tempo os sons que emergem de nossa alma, de nossos sonhos, atitudes, vontades, vida ?

Acho que a pesquisa que Consigla realiza encontra caminhos para esta nossa época ou paradigma ético e estético capaz de cada um de nós viver a sua musica e o seu filme!

Talvez se buscássemos as origens das linguagens na humanidade , em gestos com sons que não eram palavras , mas buscavam situações e sentidos. Não estranharíamos estes procedimentos pela lógica da razão e da história. Porem ao nos colocar no processo em contextos semelhantes. Sentimos dificuldade em expressar não palavras mas sons que venham de dentro e não de fora e transforme em gestos que signifiquem o que sentimos. Nossa sociedade talvez focou demais em comunicar , do que em ter algo a dizer , em algo que seja significativo para inventar nossas palavras,  sons , gestos , mas principalmente novas formas de se comunicar e interagir com si e os outros que lide com as diferenças e não apenas com os padrões . E a jornada apenas começou....

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