Como é possível um crime sem interesse ou motivo ? de alguém que está consciente do crime sem puder ser declarado louco. Nem a justiça podia julgar pois não há interesse nem motivo, nem a Psiquiatria poderia curar pois não há doença. Foucault no livro “ Os Anormais” de 1975 já falava sobre neurociência e talvez ficaria impressionado com as mortes feitas pelo tráfico no México, os coachings e os efeitos da pandemia sobre crianças e jovens ? Antes de falar sobre o presente, gostaríamos de nos lembrar da história que transforma cientificamente, a ausência da razão num mecanismo patológico positivo. É esse o papel do instinto, peça nesse jogo do saber e poder. Na falta do delírio, da demência, da alienação é na falta disso que em casos extremos se recorre ao instinto.
Os conflitos, reivindicações, distribuição e redistribuição do poder no início do Século XIX vai exigir respostas da Psiquiatria para lidar com as revoltas políticas desde revoluções republicanas , democráticas, nacionalistas e socialistas, e o aumento da criminalidade do qual vai emergir a loucura instintiva, que é mais uma pedra no edifício piramidal da taxonomia. A partir dali a "psiquiatrização" ou seja todo comportamento considerado anormal pela sociedade visando lidar com as revoltas, crimes, loucos nas famílias e outros. Em épocas de pandemia, como a que vivemos, vários especialistas estão sendo convocados para dar respostas e curas aos efeitos da pandemia sobre cada um de nós. Hoje, tão importante quanto a vacina tem sido o debate sobre o que fazer com os “loucos” e os anormais que tem reagido de diversas formas a pandemia e suas consequências na política, economia, educação, sociedade e outros. Tudo em nome da Ciência e da verdade. Qual o diagnóstico e a teoria nos vai dar respostas para saciar nossa fome dos novos normais e de cura na Pandemia? Será que outra Pedagogia nova vai surgir da Psiquiatria nova como foi no Século XIX e XX para melhorar o funcionamento da sociedade ? visando trazer de volta nossos alunos, a sociedade, a economia e deixar como sempre as pandemias, revoltas, loucuras e crimes produzidos pela miséria de lado ? para que a Ciência e a Educação produzam novos normais? Essa mesma miséria e destruição da natureza que produziu essa e outras pandemias, e o ciclo da história se renova rendendo o Século XXI da tecnologia e do mercado financeiro ao poder de um vírus!
Será que vai caber de novo às Escolas e Universidades produzirem esses novos normais ? Ou vamos ter que abrir mais presídios para lidar com aumento da pobreza e desempregados ? ou matar mais quantos negros e pobres ? reabrir os hospícios ? ou como lidar com o poderio crescente do crime organizado que nasceu em períodos de miséria e desemprego! Será tão difícil ao invés de definir o novo normal nas escolas e clínicas , se podemos aprender com as cem linguagens da criança como faz Emilia Romana ou aprender com a política social e educacional da Finlândia que gera uma economia criativa. O que podemos aprender com Foucault e Deleuze sobre as sociedades que vivemos ? ou melhor com tudo isso que vivemos, quando começou a se organizar suas causas e consequências no Século 18 e 19, incluindo o lado bom e ruim da História. Necessitamos aprender sobre os saberes e poderes que produz comportamentos em nossa sociedade, e educar as pessoas a se libertar e cuidar de si para se curar com todo potencial humano individual e coletivo.
A ordem e a segurança pública são muito mais comprometidas pelas “grades” curriculares, controles e notas que impomos, enquanto a Finlândia, Itália e outros tem construído caminhos diferentes. A necessidade de tempo para amar e cuidar de nossas famílias, e ócio para criar, assim como a renda mínima. A robótica, inteligência artificial e internet das coisas podem proporcionar essa mesma renda mínima e tempo, mais tempo para educar, ao invés de criminalizar e enlouquecer pessoas que lutam pela sobrevivência. Necessitamos educar professores que dominem práticas pedagógicas, atuando como maestros de saberes diferentes e não apenas ensinar matemática, química, biologia, física e outros. Até porque a internet disponibiliza cada vez mais conteúdo gratuito, mas onde se aprende ética, emoções , sensibilidade, liderança, complexidade, visão sistêmica é na Escola e Universidade em sala de aula ? Temos muito que aprender com o desenvolvimento infantil de Piaget, com o papel da linguagem no ensino com Vygotsky, com o valor das experiências na pedagogia de Dewey e com a complexidade de Edgar Morin, onde não devemos separar o conhecimento da vida e da natureza e principalmente do desconhecido.
O que gera o perigo e os distúrbios muitas vezes não é o indivíduo, e sim a sociedade e a ausência de educação para vida não apenas para o trabalho ou passar no vestibular. No século XIX se associou a loucura, a doença, os anormais com o perigo, distúrbios e desordens provocados por comportamentos que geram revoltas, aumento do crime e problemas nas escolas, trabalho e nas famílias. O importante no Século XIX ou agora, não é o que pensa ou apreende o doente ou o estudante, e sim o que ele faz ou nota que tira, o que ele é capaz de compreender para o que ele é capaz de cometer principalmente sendo preto e pobre, do que ele pode conscientemente querer para o que pode acontecer se for convencido pelo consumo, fome, crime que roubar e matar é o único caminho de viver. Eles precisam ser presos, internados ou adestrados em escolas onde não se aprende a viver. A morte passa a ser prioridade e não a vida da maioria. Os pobres e loucos agora são malvados, e mais importante que o amor são as lacunas que provocaram suas doenças no interior de suas famílias e comunidades. A troca do bom pelo mau procedimento social, emerge como portadora de valores patológicos. Agora indivíduos e famílias serão consumidos pela psiquiatria e psicologia e influenciaram a política e os Governos.
Crianças hiperativas ou bi polares no mundo de redes sociais, games e outros meios que nos educam e impactam nosso comportamento como a indústria cultural. Sim, com a Escola de Frankfurt temos muito que aprender sobre nossa sociedade. Agora na família, escola e pela cidade temos que ser acompanhados e controlados pelas tecnologias, produzidos e normalizados por algoritmos. Eles vão definir quem são os novos normais e os que devem ser criticados, excluídos e punidos ? Será que o DNA ou os neurônios vão demonstrar quem é biologicamente incapaz ? numa sociedade que tem aprendido a viver com os especiais, deficientes e outros construindo caminhos comuns ou queremos planejar antes de nascer, uma raça pura ? E os gênios esquizofrênicos como John Nash e suas teorias dos jogos que quebrou a linearidade e o caminhos bipolares de nossa sociedade em prol da diversidade de atores, até na economia, e caminhos múltiplos ?
Hoje observamos sentimentos, afetos, solidariedade, famílias, amor sendo destruídos tudo em nome do dinheiro e do poder . Indivíduos sendo isolados e excluídos antes da pandemia pela miséria, refugiados, violências, desigualdades, mudanças climáticas e outros. Vários atos voluntários e involuntários se misturam em nossa sociedade perturbada com tantas tragédias. Pessoas reféns do sonho do consumo e do dinheiro sem conseguir enxergar as tragédias da realidade. Os instintos e os comportamentos automáticos estão na raízes históricas das doenças mentais. Os comportamentos que já não precisam ser raros ou absurdos mas tudo que foge às regras da ordem, da conformidade, do controle definidas por uma regularidade administrativa, obrigações políticas e sociais. Os comportamentos tornam-se patológicos e claro necessitam de remédios para segurar os distúrbios orgânicos, neurológicos e sociais. A sociedade precisa funcionar com velocidade com ou sem pandemia, mesmo que estejamos caminhando para abismos, destruindo o planeta e milhões de mortes ?
Tudo que antes a moral, o judiciário, ou os governos disciplinaram como desordens, indisciplinas, agitações, indocilidade agora a psiquiatria e a psicologia podem resolver com diagnósticos e testes. A norma a que se opõe a irregularidade, desordens , esquisitices, excentricidades, desnivelamentos, discrepâncias muitas vezes provocadas por tragédias, violências, pobreza. Agora temos os dois usos da norma: a norma como regra de conduta e a norma como regularidade funcional. A norma que se opõe a irregularidade e a desordem, a norma que se opõe ao patológico e mórbido, agora em busca do novo normal. Será agora em todas as partes nas condutas mais ínfimas, mais comuns, mais cotidianas por exemplo o que escrevemos nas redes sociais, suas notas, e fotos. Objetos cada vez mais familiares no estudo da psiquiatria, neurociências e outras influenciando a medicina, justiça, e política porque agora os grandes problemas e desafios da sociedade que exigem liberdade, igualdade e solidariedade são tratados como problemas do indivíduos nas escolas, hospitais, justiça e governos. Tristeza, cansaço, solidão ..é o novo normal agora para muitos, mas sempre foi para grande maioria.
Parece cocaína mas é só tristeza, talvez tua cidade
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão
Descompasso, desperdício
Herdeiros são agora da virtude que perdemos
Há tempos tive um sonho
Não me lembro, não me lembro
Tua tristeza é tão exata
E hoje o dia é tão bonito
Já estamos acostumados
A não termos mais nem isso
Os sonhos vêm e os sonhos vão
E o resto é imperfeito
Disseste que se tua voz
Tivesse força igual
À imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
Não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira
E há tempos nem os santos
Têm ao certo a medida da maldade
E há tempos são os jovens que adoecem
E há tempos o encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços
A quem procura abrigo e proteção
Meu amor, disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem
Lá em casa tem um poço
Mas a água é muito limpa
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