Seguindo a trajetória da disciplina Economia Política e Educação ministrada pelo Professor Ruy de Deus e Sociologia da Educação pela Professora Heulália ambos da UFC numa visão interdisciplinar. E a luz de várias biografias de economistas que pude ler no decorrer da vida escrita por eles ou sobre eles, fui aprendendo que tão importante quanto suas teorias é compreender a época que viveram e como gestaram suas idéias no diálogo entre suas vidas e a interação entre os desafios econômicos, sociais e educacionais em seus respectivos contextos históricos. Acho que assim como faz Harvard e MIT as Universidades devem desenvolver mais disciplinas como essas.
Claro que vamos começar por Adam Smith, o pai da economia, em sua época ainda vivia os efeitos do Iluminismo e da Revolução Industrial, mas podemos considerar vários pensadores que buscam libertar a economia do feudalismo e da nobreza gerando a riqueza das nações. O importante é como atualizar estes conhecimentos e a História para compreender melhor os desafios de nossa época. Como estudioso da Filosofia Moral, Adam Smith, não separa economia da moral, escreve sobre os dois. É uma lição importante quando vivemos épocas neoliberais de total independência das finanças, mercado financeiro e suas consequências nas brutais desigualdades e violências nas vidas e destruição do planeta. Sim, conseguimos destruir os dois principais “ ativos econômicos ”, a vida e a Terra sem os quais não é possível uma lei da casa, que é o significado da palavra Economia. Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de economia, escreve sobre economia e ética e vai atualizar este debate, primeiro pesquisando sobre bem estar social e escolha coletiva para ver se é possível unir a Economia e a Democracia com o Bem estar social. Essa jornada com o livro Desenvolvimento como Liberdade, no sentido de acesso, emancipação e empoderamento, vai influenciar as metas do milênio da ONU como forma de priorizar estrategicamente o que é essencial para alcançar este bem-estar social coletivamente, como o grande desafio de nossa época, antes de destruir a Terra e bilhões de vidas. Só existe economia e educação na Teia da vida.
ADAM SMITH E O CAPITALISTA, MARX E O TRABALHADOR.
Adam Smith vai criar um personagem importante para mudar e escrever a história que é o capitalista. O Empresário com a busca do lucro vai necessitar da divisão do trabalho para produzir mais pelo menor preço, e por isso as oficinas medievais serão substituídas por fábricas. Elas vão aumentar a produção e também a urbanização da cidade, a miséria, criminalidade, prostituição, crianças trabalhando e o surgimento da loucura, presídios, justiça, polícia, a expansão dos Bancos, novas funções do Estado como segurança e proteger a propriedade, Escolas e Universidades que vão formar trabalhadores para fazer a transição do feudalismo para capitalismo nas cidades. Neste cenário, em Manchester na Inglaterra surge Marx que inaugura a luta de classes com o líder trabalhista mas, entre Adam Smith e Marx temos Ricardo, pois o valor tempo de trabalho gasto na produção contínua nas análises de Marx para definir a mais valia e o papel do capital na reprodução do sistema. Essas questões continuam presentes em nossa época, nasce os novos capitalistas com suas startups em busca de inovação e rentabilidade para alavancar investimentos, a mais valia com avanço da tecnologia vê a produção aumentar sem precisar do homem e seu valor trabalho, emerge a ideia de renda mínima, enquanto a educação passa de um lugar para alfabetizar e profissionalizar busca se cada vez mais a criatividade para inovar.
KEYNES E O ESTADO, SCHUMPETER E A INOVAÇÃO.
No meio da luta dos trabalhadores com Marx e a luta de aumentar a riqueza das nações, expandindo seus domínios e mercados, explode duas guerras mundiais e com elas outros Economistas como Keynes e Schumpeter para continuar a escrever a relação entre Economia e Educação e os desafios de seus contextos históricos. Assim como Adam Smith coloca o Capitalista em nossa história e Marx o trabalhador, Keynes coloca o papel do Estado e muda a Economia. Keynes estuda a Economia indiana sobre moeda e probabilidade, o que o leva a questionar a exatidão da Economia devido às várias variáveis que a impactam e suas diversas variações, incluindo a subjetividade humana. Ele ajuda a Inglaterra a pensar como financiar a guerra e assim como Schumpeter ocupa funções no Estado. Keynes prevê a quebra da bolsa, escreve a Teoria geral do emprego, juros e moeda, e influencia o New Deal e o mundo nas próximas décadas visando o pleno emprego, bem-estar social e outros com a intervenção do Estado evitando a diminuição do emprego, consumo e investimento. O Capitalista de Adam Smith sozinho não consegue resolver, mas as pressões dos trabalhadores ajudam a resolver, e portanto o Estado afirma seu papel na Economia e Educação.
ECONOMIA E EDUCAÇÃO NO PÓS GUERRA.
Nessa época surge a necessidade de formar trabalhadores para tarefas repetitivas, mas também de pensar a educação para formar intelectualmente e de forma organizada a linha de produção, quem vai gerenciar as empresas, melhorar a produtividade, fazer mais lucro, novos produtos, marketing, e outros. A educação se torna dual e formal, científica para pensar as práticas enquanto a outra forma trabalhadores. Em muitos países a escola se universaliza e reproduz as desigualdades, e nesse processo aumenta a oferta de educação infantil e Ensino superior no mundo. Continuando a apresentar os personagens de nossa história e como impactaram a Economia e a Educação, assim como Adam Smith coloca o Capitalista em nossa história e Marx o trabalhador, Keynes coloca o papel do Estado, e Schumpeter vai colocar um novo personagem em nossa História, a Inovação que vai criar ciclos econômicos como motor da economia e do desenvolvimento capitalista. A destruição criadora de onde emerge a introdução de inovações e novos bens no mercado , a descoberta de novo método de produção ou de comercialização de mercadorias como exportação, shoppings, comércio eletrônico global , a conquista de novas fontes de matérias primas, ou mesmo a alteração da estrutura de mercado vigente, como a quebra de um monopólio por exemplo. A introdução de uma inovação no sistema econômico é chamada por Schumpeter de “ato empreendedor”, realizada pelo “empresário empreendedor”, visando à obtenção de lucro, que, segundo o autor, é o motor de toda a atividade empreendedora. Quando se fala de lucro, Schumpeter não se refere à remuneração usual do capital investido, mas ao “lucro extraordinário”, isto é, o lucro acima da média do mercado, que engloba novos investimentos e a transferência de capitais entre os diferentes setores da economia. Schumpeter inaugura a ciência econômica contemporânea com sistemas dinâmicos não lineares, e no livro Capitalismo e Socialismo com o olhar de quem foi Professor de Antropologia, nos mostra que a Democracia representa muito mais que escolher nossos representantes, pois tem vários efeitos em nossa sociedade que passaram a serem estudados com suas contribuições, incluindo Amartya Sen e outros citados aqui.
No final de sua vida Keynes defende a necessidade de uma Banco único para converter as moedas internacionais o que acabou gerando o FMI e o Banco mundial mas acaba sendo convencido pelos americanos na conversão do dólar como moeda internacional. Esta indexação ao dólar como moeda internacional hoje está sendo questionada pela Comunidade econômica Europeia, China, Rússia e outros. O surgimento do Banco do BRICS, Blockchain, e outras moedas virtuais desafiam a Economia e a Educação numa sociedade em rede onde a globalização, as cadeias produtivas internacionais, o poder das multinacionais e do mercado financeiro, o enfraquecimento dos sindicatos e partidos socialistas com a queda do Muro de Berlim, e outros que vem colocar o fordismo e o estado do bem-estar social em cheque e a respectiva educação voltada à formação de trabalhadores.
DE 1970 AO SÉCULO XXI UMA NOVA ECONOMIA E EDUCAÇÃO!
Surge o Toyotismo nas décadas de 70 com o just time, qualidade total e outras técnicas que eliminam vários níveis de gerência, transferindo a responsabilidade e a meta para cada trabalhador. O uso dos computadores e de tecnologias da comunicação globais como a internet, o enfraquecimento do Estado, e a liberação do mercado financeiro impulsionado por pensadores como Hayek inauguram novos ciclos econômicos e educacionais com a financeirização da vida e dos negócios . Agora todos têm metas, são pagos pelo que produzem, incluindo a educação com seus indicadores internacionais tipo PISA para que possamos nos destacar no ranking internacional ou melhor funcionário no Mc Donalds. O desafio agora na educação além da gestão, tecnológico, criatividade e inovação é também lidar com a uberização da economia, ampliação das brutais desigualdades , violências, mudanças climáticas e outras.
Na busca de compreender a economia e a educação que vivemos hoje temos além do Amartya Sen já citado em suas pesquisa e trabalho com a ONU, gostaria de lembrar Joseph Stiglitz que demonstra em seu prêmio Nobel que numa sociedade movida pela informação o acesso a ela é fator estratégico e também produtor de desigualdades. Cada vez mais economistas aprofundam a relação entre Economia, Educação e Democracia seguindo o caminho de Schumpeter. John Nash vai impactar a Economia com a teoria dos jogos que ainda hoje influencia leilões, outros instrumentos financeiros e agora algoritmos. John Nash nos lembra uma dimensão lúdica e de jogo da economia na busca do melhor equilíbrio entre oferta e demanda em que preços, ativos, e oportunidades dependem da interação entre diversos atores e claro das informações que possuem no jogo econômico. Além da Uberização e das redes sociais começamos a viver o impacto da gamificação na Economia, Educação,Tecnologia e Democracia. No mundo dominado pelo mercado financeiro e tecnologia precisamos cada vez mais de Economistas para pensar esses desafios e impactos em nossa sociedade, incluindo as interações com a educação como tem feito Zurique, Finlândia, Canadá e outras.
No Século XXI que vivemos necessitamos lidar com desafios cada vez mais sistêmicos, complexos e interdisciplinares, portanto precisamos dialogar ao mesmo tempo Economia, Educação, Democracia, Ecologia, Tecnologia e outras. O avanço das Bigs Techs, redes sociais, IA, Robótica , internet das coisas e outros nos desafia a ser Polímatas pois os conhecimentos especializados e fragmentados produziram muitos dos desafios e consequências que hoje enfrentamos. Temos que aprender a contar a história e o papel de cada personagem, saberes e atitudes no mundo que vivemos para compreender melhor os desafios de nossa época. Lembramos que o olhar do mercado financeiro, economistas, educadores e outros produz conhecimento, mas estas múltiplas verdades fragmentadas e lineares, inclusive produto do método científico, fazem com que bilhões de pessoas não tenham consciência das consequências de seus saberes e atos. É preciso emancipar , empoderar e dar condições sociais e ambientais para que as pessoas continuem a produzir riqueza, superar a pobreza e as desigualdades numa economia cada vez mais circular com uso da tecnologia e ciências também para fins sociais. Essa é a missão que tenho dedicado à minha vida pesquisando e empreendendo de um pequeno grão de terra na Terra da Sabedoria.
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