SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

AS CAMADAS GEOLÓGICAS E ANTROPOLÓGICAS NA HISTÓRIA E CULTURA DA GESTÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA.



Entre as teorias educacionais tradicionais, críticas e pós críticas observa -se hoje uma mistura entre elas na Escola e na sociedade de forma geral.  Observamos camadas “ geológicas “  como se cada uma delas deixasse materialidade nas escolas , desde as cadeiras e mesa do professor, até livros, computadores e cada vez mais celulares , WhatsApp  e nuvens.  Observamos  também camadas antropológicas expressas nas palavras, comportamentos, técnicas de gestão no mundo capitalista e outros.  Umas em cima das outras ou do lado mas sempre em interface.


Observamos essas teorias serem confrontadas pela realidade e impactadas. Eu digo, até mesmo as teorias, serem impactadas sem mostrar sua eficácia, eficiência e efetividade. Por isso hoje no mundo se discute muito o que é impacto social, educacional, econômico, ecológico e outros. Ecológico é um exemplo de muitas interações complexas e sistêmicas. Observamos hoje escravidão, fome, miséria, e criminalidade convivendo lado a lado com a educação e escola, especialmente no Brasil desigual. Umas têm banheiro e biblioteca, outras não, umas tem internet 5G, outras nem remota. Eu poderia aqui descrever vários fatores materiais e comportamentais como formação dos professores, nível de aprendizagem dos alunos por questões sociais e outros. Por isso a gestão é essencial pois os educadores lidam com diferentes e diversas situações às vezes ao mesmo tempo.  Eles  têm alguns recursos e outros não, portanto podem produzir resultados e impactos diferentes . Portanto a gestão pode criar valor e impacto muitas vezes com pouco recursos, como mostrou Paulo Freire. Várias escolas ou empresas ricas não necessariamente inovam ou produzem bons resultados.


As questões centrais na teoria tradicional era eliminar desperdício,  administrar as empresas ou escolas, inserir uma burocracia no cotidiano da gestão, e a interação e conflitos com o meio que estamos inseridos.  Essas camadas materiais e comportamentais se revelam nas relações humanas  em como maximizar o potencial das pessoas e reduzir os conflitos para gerarmos um ambiente na escola e na empresas visando lidar com diversas situações e gerar mudanças em diversos aspectos, incluindo materiais e comportamentais.


Como frisa o texto estamos lidando com a razão pela tangente cartesiana-newtoniana e seus princípios positivistas. Como se tudo fosse linear e fragmentado, inclusive as pessoas, as organizações e as formas  de educar e gerir. Neste escopo linear, as empresas e agora escolas definem suas missões e intencionalidades,  assim como suas formas de medir e controlar os recursos e resultados, e os personagens centrais que têm autoridade e poder para isso como executivos, diretores de escola e consultores qualificados para esse objetivo.


Entre a formação de trabalhadores e a inovação, a centralização e a participação,  a educação e gestão da escola muda  sua forma de lidar com a economia e a teorias de gestão . Gosto de citar o Japão  pós segunda guerra mundial que com círculos de qualidade total, mudou a produção nas empresas, práticas pedagógicas nas escolas, e eliminou níveis gerenciais das empresas dando poder de decisão aos trabalhadores na ponta com autonomia e participação. Compreender a história e a cultura que fazemos parte nos fazem compreender a economia, gestão e a escola integradas entre si em contextos históricos e culturais, ora progressistas, ora conservadores, mas sempre educacionais.


Em épocas que empresas como Itaú e Lemann apoiam a criação de sistemas de avaliação e classificação  de escolas obviamente com seus referências e interesses que por exemplo diferem do que muitos pesquisadores nas Universidades, professores, pais e alunos pensam em como deve ser sua educação. Diferente inclusive de como outros países e escolas lidam para construir seus planos políticos pedagógicos, práticas pedagógicas, e metas mas principalmente a missão e a intencionalidade da educação.  Essas classificações impõe perguntas quem é o responsável pelos resultados da escola, o diretor e seu modelo de gestão ? ou autonomia do aluno e participação de toda comunidade escolar ? As políticas educacionais atuam com as sociais como fazem os principais países que lideram o PISA ? É bom e quais os efeitos da competitividade entre escolas e alunos principalmente quando a educação  não chega ou chega de forma diversa, diferente e desigual para a maioria da população brasileira?


A nossa burocracia e agora tecnologia, suas respectivas regras e normas pautam e modificam ambientes,  o que lá trás incentivou o patrimonialismo, meritocracia e  agora o neo liberalismo com gerencialismo  das escolas. Porém, entre o público e o privado, social e societal, há diferenças históricas e culturais que impactam o modelo de gestão. Viva o modelo Finlandês, Emilia Romana e outros que dialogam com toda sociedade e não empurram modelos tecnocratas que impactam milhões de vidas de diversas formas. O Governo do Ceará e empresas que apoiam isso, muitas sobrevivem dos juros pagos pelo Governo Brasileiro no mercado financeiro com títulos públicos que retiram dinheiro da arrecadação que poderia ir para educação, saúde, questões sociais e outros. E usam uma pequena parte disso para projetos educacionais e sociais do seu interesse mas não do povo brasileiro. Acho que o Governo do Ceará com esse modelo reducionista da educação  faz um desserviço ao povo brasileiro ao vender um  modelo de educação que exclui grande parte da população que não conclui o ensino médio e mesmo analfabeta,  foca em notas de português e matemática, incentivando professores e métodos para focar nas provas que mensuram isso, mas não consegue melhorar as brutais desigualdades, violências e pobreza que vive a maioria  da população cearense. A educação é para mudar isso, mas no Ceará é publicidade.  


Portanto é preciso aprofundar as camadas  geológicas e antropológicas da história e cultura da gestão educacional brasileira.  É preciso deixar claro como nossa economia e política de elites, oligarquias e gangues partidárias produzem em suas raízes, incluindo o marketing de políticos e empresas, uma das maiores desigualdades, injustiças e violências do mundo, fruto da concentração de renda, poder e conhecimento. Não adianta falsificar a realidade pelo interesse de alguns, o nome disso é fake história.  O conhecimento e a educação são produzidos pela interação e diálogo entre quem pensa diferente, foi assim que Países, Governos, Universidades e sociedades fizeram pelo Mundo incluindo Europa, EUA, Canadá, Japão e outros.  


Os salários importam, a igualdade de oportunidades e direitos e não privilégios de alguns,  a participação e diálogo faz toda diferença, diante de desafios dialógicos, flexíveis, plurais e dinâmicos. O ambiente escolar é um campo político, que está diretamente atrelado a fatores sociais, por isso, a necessidade de estabelecer correntes que consigam estreitar o elo entre estes campos diversos e distintos.  Resumindo o chicote e privilégios mesmo modernizados por teorias e práticas de gestão, incluindo suas classificações não é o melhor caminho para gerar inovação e realizar o potencial das pessoas na economia e na sociedade, impactando a qualidade e a felicidade de todos e não de alguns com suas miopias e visões de mundo que precisam ser democratizadas agora. 



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