SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

SOBRE GESTÃO EDUCACIONAL E DESENVOLVIMENTO DO BRASIL. 1660 dias.

 


Lendo um texto do Professor da UFC Dr. Marcos Lima sobre gestão educacional e sua relação com o desenvolvimento de um país me faz refletir sobre o Brasil. Ele frisa que o potencial econômico e social de um país está ligado à qualidade da educação. Começa citando os países da OCDE que são uma prova dessa tese. Cita avaliação do PISA como uma métrica baseada em algumas disciplinas e as notas dos alunos que coloca o Brasil na posição 60 dos 76 países avaliados.  



Depois ele nos apresenta uma definição de qualidade educacional que relaciona o indivíduo, grupo e sociedade e o respectivo desenvolvimento das instituições e políticas educacionais nos níveis científico, tecnológico, econômico, social e político nos alertando para premissa da igualdade de acesso, oportunidades para todos e autonomia de atuação das instituições . Segue descrevendo e dando concretude a esta educação de qualidade expressa no projeto pedagógico fundamentado e participativo que seja praticado, infra estrutura, tecnologias acessíveis e inovadoras com sustentabilidade econômica financeira e relacionamento com a comunidade e a sociedade. Prossegue sobre itens relacionados à organização educacional, seu time de técnicos e professores qualificados intelectualmente e equilibrados emocionalmente, detentores de competências éticas e atitudes que valorizem a comunicação, bem remunerados e motivados para o trabalho, e avaliados pelo seu desempenho profissional. Me pergunto: Qual impacto que tem na qualidade da educação se apenas uma dessas variáveis forem retiradas do diagnostico e do planejamento da gestão educacional ? Como podemos ser participativos numa cultura autoritária ? onde tem infra estrutura adequada para poucos devido as nossas profundas desigualdades e injustiças ? onde a tecnologia 5G de acesso a internet de alguns é minoria diante de milhões sem celular, pacotes de dados, internet remota e a distância? Enfim quais os limites da gestão educacional no Brasil ?



Por fim o Professor aborda que a organização educacional desenvolva em seus alunos, motivação, desenvolvimento intelectual e emocional, e capacidade de aprender com competências múltiplas que os permitam aplicar e melhorar sua vida pessoal, familiar, social e profissional. Hoje cada vez mais sabemos a singularidade e trajetória de vida de cada pessoa, incluindo as desigualdades e as diversas formas de apreender e se expressar, alem de varias praticas pedagógicas como autobiografia, pesquisa cientifica e unir espaços educacionais não escolares com escolares visando dialogar com os estudantes por vários caminhos que transcendem notas, currículos e mesmo salas de aulas.  Afinal hoje não só a gestão educacional visa uma abordagem integrada mas vivemos em ecossistemas educacionais ao mesmo tempo individuais e coletivos. 


Eu considero esses itens relacionados pelo Professor como um checklist de praticas educacionais que podem ser avaliadas, geridas e implantadas, ao longo de uma jornada numa organização educacional que terá mais efeitos do que apenas os alunos serem avaliados pelo PISA ou pelos Governos estaduais e federal. Focar nas causas sempre foi melhor que medir as consequências e como estamos falando de gestão educacional é preciso falar de estratégia educacional. O prêmio Nobel de Física Giorgi Parisi desse ano nos lembra a importância de estudar sistemas complexos porque isso muda nossa percepção, compreensão e abordagem sobre eles, e nos coloca os limites dos checklists de processos e mesmo da gestão educacional. O Fisico italiano Giorgi Parisi nos lembra um exemplo simples de um cachorro que podemos prever seu comportamento, mas que pode ser alterado pelo ambiente a qualquer momento pelas atitudes do homem e de outros animais em relação a ele, por algo que comeu ou doenças em suas células, algo na natureza e outros. Imagine uma organização educacional feitas por alunos, técnicos, professores, gestores, e interações diversas com a comunidade, sociedade, natureza, economia, tecnologias, questões sociais, criminalidade, violências e outras que fazem parte do cotidiano das escolas e nem precisam pedir permissão, elas entram pelas vidas no mundo em profundas transformações. O saber e o conhecimento estão se transformando e interagindo com as ideias que temos de escola, educação e outras. E possível gerir tudo isso sem visões complexas, interdisciplinares, sistêmicas, caóticas que nos aproxime das realidades dinâmicas que vivemos incluindo econômicas ?




Entre a improvisação e a excelência em gestão educacional existem milhares de caminhos a seguir e o Professor aponta uma desenvolvida pelo IAG focado em estratégia, processos e pessoas, e cita uma pesquisa da Mckinsey que coloca quatro pilares das melhores escolas no mundo sendo selecionar os melhores professores, cuidar da formação docente, não deixar nenhum aluno para trás e preparar grandes gestores. 



Há quase três décadas atuo em setores diferentes, as vezes ao mesmo tempo como empresas, governos, ONGs com projetos educacionais premiados no Brasil e no mundo, cooperação internacional, e arte. A primeiro questão é conectar esses mundos, o que o Professor busca em seu método, porem uma linguagem não pode sobrepor os objetivos e missões da educação que é diferente das empresas e governos. As métricas mudam e se adequam aos contextos como tem feito as ciências, ate porque mesmos as pedras se transformam em seus ecossistemas, imagina as pessoas e as formas de educar. Muitos países do PISA ou pesquisados pela Mckinsey priorizaram as questões sociais integradas as educacionais, como citei algumas aqui que impactam qualquer modelo de gestão, países tem histórias e culturas distintas que devem ser respeitadas diante do fracasso de muitos planos educacionais, muitos países como Finlândia reduzem o peso da avaliação, outros como Italia ampliam aulas em campo, portando as praticas pedagógicas são essenciais para balizar o modelo de gestão educacional.



Por fim a necessidade da mudança e inovação das politicas públicas para serem de fato públicas, e não oligárquicos e feudais, impacta sobre o processo de democratização da escola e acesso ao conhecimento, assim como o acesso a trabalho, saúde, habitação, igualdade de oportunidades, incluindo crédito e tecnologia, tem profundos impactos na educação e gestão educacional . Numa visão mais complexa e sistêmica compreendemos que a gestão educacional tem que apreender a dialogar com os diversos setores da sociedade, criar pontes e conexões com as empresas, governos na busca pela intersetorialidade das politicas publicas, vários países fizerem isso, por exemplo com as Universidades na formação permanente de seus técnicos e professores, ONGs na interação com espaços educacionais não escolares na busca de uma educação integral e com as comunidades dialogando sobre problemas e desafios comuns. Esse talvez seja o maior desafio da gestão de educação com qualidade no Brasil injusto, desigual e violento com baixa capacidade de somar competências, otimizar recursos, gerar sinergias e ampliar os impactos não apenas em termos de notas e PISA.      



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