Por Egidio Guerra, Cineasta, Educador e Empreendedor Social.
Será que as Universidades constam em seus quadros acadêmicos com Professores educadores preocupados e com capacidades para desenvolver o potencial de seus alunos ? ou estão mais centrados em seus egos e interesses, repetindo palavras como papagaios, sem didática para manter a atenção dos alunos, como por exemplo fazem os filmes com bons roteiros, mas professores por falta de ideias não geram boas aulas, se escondem no nome da Universidade ou nos seus títulos. Grande parte dos professores infelizmente não possuem pesquisas, nem projetos de extensão que poderiam lhe educar sobre a complexidade de sistemas dinâmicos como educação, principalmente sociedades em transição. Infelizmente eles continuam ensinando de forma linear, fragmentada e triste. Abordo essa questão para tratar da educação de jovens que infelizmente tem usado suas energias em bebidas alcoólicas, drogas, consumo desenfreado e outros porque não conseguirmos como sociedade conquistar seus corpos, mentes, imaginação e coragem através da educação e pior tem sido no mundo do trabalho, política, e até mesmo na espiritualidade, o desencantamento é pior. Esse processo social tem consequências ruins e outras boas. É importante lembrar mais uma vez que vivemos numa sociedade em transição que impacta o futuro da Universidade, mundo do trabalho e outros.
A arte e os filmes têm sido excelentes instrumentos pedagógicos para analisar sociedades em transição, e em especial, o papel da juventude em transgredir regras e apontar novos horizontes. Bons professores usam filmes para o despertar de uma visão mais complexa e sistêmica sobre determinados assuntos, visando dar movimento aos conceitos e razões que precisam de contextos para ganhar vida e iluminar mentes com a compreensão dos comportamentos e escolhas de determinados personagens. Vamos falar sobre alguns filmes como Juventude transviada da década de 50, e outros filmes de outras épocas para ver como eles contribuem com a compreensão da juventude como agente transformador de sociedades; incluindo a educação, economia, política e outros. Nesse sentido, a arte vista de forma transversal pode ser um excelente caminho para colaborar na transformação da educação.
É importante ver ou lembrar do filme Juventude transviada com o olhar de 1950. É preciso reunir informações ou relatos sobre essa época. Naquela época o filme Juventude transviada foi um choque de quebra de regras morais, novos comportamentos foram adotados pela juventude que lotou o cinema e transformou James Dean, em um ícone da cultura pop com sua morte que aconteceu três anos depois do filme, ele continua ainda hoje como celebridade.
Como um filme conquista o imaginário ? Isso pode nos despertar para como atitudes, antes de pequenos grupos, se difundem e propagam em milhares de pessoas tendo a arte como meio educacional. Não necessariamente esses filmes devem envolver carros, festas, amigos, sexo e outros. Eles podem envolver violências como Laranja Mecânica e Cidade de Deus. Ficção científica como Star Wars e Matrix. Guerra pelo poder como Game of Thrones e Senhor dos Anéis. Mágica como Harry Potter ou qualquer outro assunto, inclusive quem gostaria de ser Professor na Sociedade dos Poetas Mortos? Entre eles existe uma identificação entre os personagens e a juventude que assistem com suas personalidades, problemas e desafios comuns compartilhados em suas vidas e realidades. Normalmente a maioria das escolas e professores não estão preparados para lidar com esses assuntos que afetam as vidas dos estudantes e impactam de diversas formas seus processos de aprendizagem, convívio e outros.
A arte nos ensina o tecido sensível e a inteligibilidade necessária para compreender o mundo que fazemos parte, incluindo a produção de suas razões e conhecimentos. Muitos confundem sua excelência intrínseca com seu lugar na partilha social, é difícil ser professor sem compreender as desigualdades e violências que afetam nossas juventudes. E se o professor não falar nisso, não se preocupe, os filmes, WhatsApp, amigos, gamers e outros falam. Não importa as notas ou evidências que buscam tratar todos como iguais quando sabemos que todos somos singulares, vivendo histórias diferentes em nossas trajetórias de vidas. Isso quando tomamos a pílula vermelha
Como disse, vários fatores impactam um sistema educacional dinâmico que é mais parecido com a produção de um filme em sua complexidade. Onde a hierarquia das formas de vida começa a vacilar, numa sociedade em transição, a arte e Educação entram. O que buscamos na educação não é performance, é criação e crítica de forma singular, as experiências sensíveis e as razões mudam com a sociedade, e com elas nossas maneiras de perceber e nos afetar. Filmes como Juventude transviada retrata isso em duas horas. Os filmes retratam instituições, práticas, modos de afeto e esquemas de pensamento com cores, ritmos, silêncio entre palavras, movimentos, e acontecimentos em cenas que dialogam ao mesmo tempo com sua mente e coração através dessas histórias.
Cenas por exemplo do cotidiano aparecem nos filmes em busca de diálogo com situações e problemas que vivemos e que podem apontar direções e atitudes nos educando para isso. As razões da arte se misturam com outras esferas da experiência, e com a escola e universidade impactando sujeitos que existem antes de serem alunos. Cada uma das cenas de um filme, apresenta um conhecimento singular e o explora para diversas formas de compreensão. Por isso que mais importante que analisar um filme prefiro esclarecer pedagogicamente como eles interagem conosco. A rede construída ao redor de um filme nos mostra como são sentidos e pensados, fontes de emoção artística singulares, às vezes alguns filmes como os aqui citados como uma novidade. Essa rede inscreve os filmes na constelação em movimento na qual se formam os modos de percepção, os afetos e os modos de interpretação. Em sala de aula podemos ver as diversas formas como se interpreta um filme como Juventude transviada e outros. Desta forma tecemos os laços que unem percepções, afetos, personagens e ideias, constituímos uma comunidade sensível tecida por esses laços e uma comunidade intelectual que torna os fios pensáveis. A cena capta os conceitos em ação, e sua relação com os novos objetos e ideias. O pensamento é sempre, de saída, um pensamento acerca do pensável, a arte produz um pensamento que modifica o pensável ao acolher o que era impensável. Obrigado aos filmes por educar jovens em sociedades em transição.
Os filmes não provocam rupturas, eles condensam mudanças da percepção e do pensamento. É preciso resgatar a genealogia das formas de percepção e pensamento que os converteram em acontecimentos. Essa é a essência de educar jovens pelos filmes ou prepará-los para futuras revoluções como aconteceu em maio de 68 que além de mudanças políticas , trouxe inovações tecnológicas como cibernética, computadores e internet, e uma espiritualidade planetária com um compromisso ecológico. Os filmes trazem novos temas para o paradigma estético de uma época que dialoga com as comunidades políticas. O paradigma estético se ergue contra a ordem vigente. O povo livre, segundo Schiller, é o povo que brinca. Todas as pessoas podem experimentar, todas as formas de aspiração ideal e frenesi sensual. Porém para isso arruinamos os modelos da história ou da ciência, com suas causas e efeitos, ou da ação, com seus meios e fins. Rousseau contrapõe a atividade da festa cívica à passividade do espectador do teatro, e inaugura com Júlia ou a nova Heloísa a longa série de romances sem ação, dedicados ao que Borges chama de cotidiano insípido e ocioso.
Portanto, a autonomia gerada pela arte e o movimento emancipado, não consegue reintegrar as normas e os esquemas estratégicos das causas e dos efeitos, dos fins e dos meios. As pessoas se libertam de caminhos políticos e educacionais que buscam treinar e adestrar pessoas, criando seus próprios caminhos, inclusive de aprender ou mudar a sociedade em que vivemos. Eles aprendem a dizer NÃO! A fazer greve geral, ação estratégica e inação radical. Nem Marx ou ditadores como Stalin ou Hitler acabaram com os delírios e utopias. Como educadores temos que buscar que as pessoas encontrem seus caminhos para nada querer ou não se prestar a nenhuma estratégia. "A Revolução Social é filha da Revolução Estética e não pode negar essa filiação a não ser transformando em tribunal de exceção uma vontade estratégica que tinha perdido seu mundo" como nos educa Ranciere. Nesse caso surgem diversas juventudes transviadas de diversos lugares incluindo da Ciência e Universidades para nos despertar do pesadelo de bombas atômicas.
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