"A Lista de Schindler": Lições Éticas de um Ato de Coragem em Tempos Sombrios
"Quem salva uma vida, salva o mundo inteiro" — essa frase do Talmud, gravada no anel presenteado a Oskar Schindler, resume a essência do filme "A Lista de Schindler" (1993), obra-prima de Steven Spielberg que vai além de um relato histórico sobre o Holocausto. O filme é um estudo profundo sobre ética, humanidade e as escolhas que definem quem somos — lições que permanecem urgentes hoje.
1. A Dualidade Humana: De Explorador a Salvador
No início, Schindler (interpretado por Liam Neeson) é um oportunista — um empresário nazista que usa trabalho judaico escravo para enriquecer. Porém, conforme testemunha o horror do Holocausto (como no choque da cena do gueto de Cracóvia e do campo de concentração de Plaszów), sua transformação moral começa.
Lição ética:
O bem e o mal coexistem nas pessoas — o que importa são as escolhas finais.
A empatia pode surgir do confronto com a injustiça, mesmo para quem inicialmente a ignorou.
2. A Banalidade do Mal vs. A Banalidade do Bem
Enquanto Schindler age, o comandante Amon Goeth (Ralph Fiennes) personifica a banalidade do mal (como teorizou Hannah Arendt) — mata por tédio, sem remorso. Schindler, por outro lado, mostra que o bem também pode ser cotidiano: subornar, mentir e usar seus privilégios para salvar vidas.
Lição ética:
O mal triunfa quando bons homens nada fazem (Edmund Burke).
Atos de bondade não precisam ser heroicos — podem ser práticos, como incluir nomes em uma lista.
3. O Peso da Responsabilidade Individual
A cena em que Schindler chora "Eu poderia ter salvo mais..." revela seu arrependimento por não ter feito o suficiente. Mesmo salvando 1.200 judeus, ele sente o peso de cada vida perdida.
Lição ética:
Ninguém é "pequeno demais" para fazer a diferença.
A ética exige autocrítica — questionar sempre: "Estou fazendo o máximo que posso?"
4. A Corrupção do Sistema e a Resistência Moral
Schindler usou as regras corruptas do nazismo contra ele próprio:
Subornou oficiais com dinheiro e charutos.
Fingiu que suas fábricas eram essenciais para a guerra.
Lição ética:
Sistemas injustos podem ser desafiados por dentro.
Às vezes, é preciso "jogar o jogo" para destruí-lo.
5. A Memória como Dever Ético
O filme termina com os sobreviventes reais (e seus descendentes) colocando pedras no túmulo de Schindler — um ritual judaico de respeito. Essa cena lembra que:
Lembrar é um ato de resistência contra a negação do Holocausto.
Histórias como a de Schindler inspiram ações no presente (ex.: ajuda a refugiados hoje).
Conclusão: Qual é a Sua "Lista"?
"A Lista de Schindler" não é apenas sobre o passado — é um chamado para:
Enxergar a humanidade nos outros, mesmo quando o sistema os desumaniza.
Agir dentro de nossas possibilidades (seja doando, denunciando ou protegendo).
Lembrar que o mal começa com pequenas concessões — e o bem, com pequenas resistências.
Como disse Spielberg: "Este filme é sobre como a luz vence a escuridão — não por milagres, mas por pessoas comuns que escolhem não se calar."
Assista, reflita e aja. A ética, afinal, não é teoria — é prática.
Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?" (Miqueias 6:8).
No Pirkei Avot (Ética dos Pais), os sábios ensinam: "O mundo se sustenta sobre três coisas: a Torá, o serviço divino e os atos de bondade amorosa" (1:2). Ou seja, a justiça (Torá) deve sempre caminhar junto com o amor (chessed), pois um não existe sem o outro.
A tradição judaica ensina que Tzedaká (justiça social) e Gemilut Chassadim (atos de bondade amorosa) são pilares essenciais para uma vida significativa. Enquanto a Tzedaká se refere ao apoio material aos necessitados, Gemilut Chassadim vai além: é a bondade que não pode ser medida em moedas, como visitar os doentes, consolar os enlutados ou simplesmente ouvir quem precisa ser escutado.
Vamos explorar esses conceitos através de parábolas judaicas, exemplos históricos, literatura e filmes, trazendo suas lições para o nosso dia a dia.
1. A Parábola do Pobre e do Rei (Ensino dos Sábios)
Conta-se que um rei disfarçou-se de mendigo e foi até a casa de um homem rico, pedindo um pedaço de pão. O rico, irritado, jogou-lhe um osso roído. Anos depois, o rei revelou sua identidade e ordenou que o homem fosse preso. O rico protestou: "Por que me punis?" E o rei respondeu: "Porque quando pedi pão, me deste um osso. Se soubesses que eu era o rei, terias me servido um banquete. Logo, tua bondade não era pelo próximo, mas por interesse."
Lição: A verdadeira Tzedaká não é sobre reconhecimento, mas sobre justiça. Gemilut Chassadim exige que tratemos todos com dignidade, mesmo quando ninguém está olhando.
2. O Exemplo Histórico de Hillel e o Gentio
Um homem zombeteiro desafiou Hillel, o Sábio: "Ensina-me toda a Torá enquanto eu fico em um pé só!" Hillel respondeu: "O que é odioso para ti, não faças ao teu próximo. O resto é comentário. Vá e aprenda."
Essa máxima resume Tzedaká e Gemilut Chassadim: empatia é a base da justiça social. Se não queremos passar fome, devemos alimentar os famintos. Se valorizamos a companhia em momentos difíceis, devemos estender a mão a quem sofre.
3. Literatura: "O Menino do Pijama Listrado" e a Falta de Gemilut Chassadim
O livro (e filme) "O Menino do Pijama Listrado" mostra a amizade entre Bruno, filho de um oficial nazista, e Shmuel, um menino judeu em um campo de concentração. A história revela o que acontece quando uma sociedade abandona a justiça e a compaixão.
Enquanto o mundo ao redor praticava a crueldade institucionalizada, a inocência das crianças lembra que Gemilut Chassadim é uma escolha diária – mesmo quando o sistema é opressor.
4. Filme: "A Lista de Schindler" – Tzedaká em Ação
A história real de Oskar Schindler, um homem que salvou mais de mil judeus durante o Holocausto, é um exemplo extremo de Tzedaká como ato de justiça radical. Ele usou sua riqueza e influência não para lucrar, mas para resgatar vidas.
A famosa cena em que ele chora "Eu poderia ter salvo mais..." nos lembra que a justiça social exige ação, não apenas boas intenções.
5. Trazendo para o Cotidiano: Como Praticar Hoje?
Tzedaká: Doe regularmente (mesmo que pouco) a instituições sérias. Seja um "Schindler anônimo" no seu bairro.
Gemilut Chassadim: Visite um idoso solitário, escute um amigo em crise, faça voluntariado. Como diz o Talmud: "Quem salva uma vida, salva o mundo inteiro."
Conclusão: Pequenos Gestos, Grandes Revoluções
O judaísmo ensina que ninguém precisa ser rico ou poderoso para mudar o mundo – basta um coração aberto e mãos dispostas. Como dizia o Rabino Nachman de Breslov:
"Se você acredita que é possível destruir, acredite que é possível consertar."
Que possamos construir um mundo onde Tzedaká e Gemilut Chassadim não sejam exceções, mas o alicerce de nossa humanidade.
Amém.
Crise Humanitária: Crianças e Jovens sob Ataque em Conflitos Globais e Violência Estrutural
Um retrato das mortes de menores na Palestina, Ucrânia, entre imigrantes nos EUA e no Brasil
1. Palestina: Geração Perdida em Gaza
O conflito israelense-palestino já matou mais de 13.800 crianças em Gaza desde outubro de 2023, segundo dados da UNICEF (maio/2024). A Save the Children alerta que isso equivale a mais de 120 crianças mortas por dia – o maior índice em qualquer guerra do século XXI.
90% das crianças em Gaza sofrem de insegurança alimentar aguda (ONU, 2024)
17.000 crianças estão desacompanhadas ou separadas de familiares (UNRWA)
1 milhão de menores precisam de apoio psicológico urgente (OMS)
"Estamos testemunhando o assassinato em massa de uma geração inteira", denuncia James Elder, porta-voz da UNICEF em Gaza.
Segundo o Escritório do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos:
560 crianças mortas e 1.280 feridas desde fevereiro de 2022 (dados confirmados, com números reais estimados em 3x maior)
1 em cada 3 escolas ucranianas danificadas (UNICEF)
2 milhões de crianças refugiadas na Europa (ACNUR)
Em cidades como Mariupol, os sobreviventes relatam crianças passando meses em porões sob bombardeios constantes.
3. Fronteira EUA-México: Crianças Migrantes em Risco
Dados oficiais do U.S. Customs and Border Protection (2024):
152.000 crianças migrantes detidas na fronteira sul dos EUA em 2023
1.500 casos de abuso sexual contra menores migrantes registrados (Human Rights Watch)
557 crianças morreram ou desapareceram na rota migratória desde 2021 (Missing Migrants Project)
A política de "Título 42" continua a deportar famílias inteiras para zonas de violência extrema na América Central.
4. Brasil: Genocídio da Juventude Negra
Números chocantes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2024):
28.000 jovens de 15-29 anos assassinados em 2023
78% negros, 93% do sexo masculino
São Paulo: 1 jovem negro morto a cada 6 horas (Sou da Paz)
Rio de Janeiro: 65% das vítimas de intervenção policial são menores de 25 anos (ISP-RJ)
"É como se houvesse uma guerra não declarada contra nossos jovens", afirma Douglas Belchior, da Coalizão Negra por Direitos.
Conclusão: Infâncias Interrompidas
Enquanto a comunidade internacional debate geopolítica, crianças morrem diariamente:
Em Gaza, sob bombas
Na Ucrânia, em escombros
Nas Américas, em rotas migratórias ou operações policiais
Como alerta a UNICEF: "Estamos falhando em proteger nossas crianças. E sem elas, não há futuro."
Fontes: UNICEF, ONU, UNRWA, OMS, ACNUR, U.S. Customs and Border Protection, Human Rights Watch, Missing Migrants Project, Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ISP-RJ, Save the Children.
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