SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

domingo, 7 de setembro de 2025

70 milhões de pessoas gritando todos os dias no Brasil da Exclusão: Um Retrato da Desigualdade Estrutural por Egidio Guerra.




É fácil responder quem é responsável pelas mais de 50 mil mortes na Palestina? Governo de Israel com suas indústrias da Guerra. É fácil também responder quem é responsável por uma média de 50 mil mortes por violência no Brasil por ano, uma Guerra da palestina por ano nas ultimas décadas. As elites brasileiras e seus privilégios, as oligarquias há décadas no poder, os corruptos, a prostituição politica do centrão, o Banco Central e uma das maiores taxas de juros do mundo, os latifundiários, os Golpistas e Ditadores, concentração bancária e da mídia, as milicias e crime organizado, a banda podre da justiça e da policia, e os diversos privilégios. Caros idiotas não são os pobres os responsáveis por suas mortes e miséria, eles pagam com milhões de vidas há séculos a falta de gritos e lutas pela soberania e cidadania. E agora com o tarifaço de Trump, Bolsonaro e Tarcisio podemos lembrar que a juventude é a maior força de trabalho, cidadania e mercado interno de todo país, e não os idosos, e não podem ficar reféns do crime e do ciclo nem estuda, nem trabalha, nem vive, nem sonha.


O Brasil é um país de paradoxos gritantes. Uma das maiores economias do mundo convive com uma das mais severas desigualdades sociais, uma chaga histórica que se manifesta em todos os aspectos da vida nacional. Esta não é uma mera coincidência, mas o resultado de um projeto de poder secular que privilegia uma minoria em detrimento da maioria, criando uma nação onde a "loteria do nascimento" – como bem definiu o economista Joseph Stiglitz – determina, em grande medida, o destino de cada cidadão.
 


As Raízes Históricas do Abismo 

A estrutura social brasileira foi forjada na violência da colonização e na brutalidade da escravidão. Gilberto Freyre, em Casa-Grande & Senzala, descreveu a formação de uma sociedade patriarcal e extremamente hierarquizada, onde a "casa grande" ditava as regras e a "senzala" sofria as consequências. Esse dualismo evoluiu, mas não desapareceu. Raymundo Faoro, em Donos do Poder, analisa como o Estado brasileiro foi historicamente "privatizado" por uma elite patrimonialista que usa o aparelho público para seus próprios interesses, perpetuando privilégios e excluindo a vasta população dos frutos do desenvolvimento. 

Os sucessivos golpes e a longa ausência de democracia, documentados em relatos cruéis como Brasil: Nunca Mais, serviram para silenciar qualquer tentativa de mudança desta ordem social, garantindo a impunidade dos poderosos e a manutenção do status quo. 


A Brutal Concentração de Riqueza e os Privilégios Econômicos 

O Brasil é um caso emblemático no estudo da desigualdade global. Thomas Piketty e sua equipe demonstram que o país permanece como um dos mais desiguais do mundo. Os 10% mais ricos da população concentram cerca de 59% da renda nacional, enquanto os 50% mais pobres ficam com apenas 10% (World Inequality Lab). O Banco Mundial e a CEPAL constantemente alertam que esta disparidade é um entrave ao crescimento sustentável e à coesão social. 

Essa concentração não é acidental. Ela é sustentada por mecanismos sofisticados: 

  • Sistema Tributário Regressivo: Onde a carga pesa mais sobre o consumo (imposto sobre serviços) do que sobre a renda e o patrimônio, penalizando os pobres. 

  • Títulos da Dívida Pública e Juros Altos: Um sistema que historicamente transferiu riqueza pública para detentores de capital financeiro, como bem analisado em livros como O País dos Privilégios, de Bruno Carazza e Os Ricos e os Pobres de Marcelo Medeiros. 

  • Concentração Bancária e de Mídia: Poucos grupos controlam o crédito e a informação, moldando a opinião pública e dificultando reformas que ameacem seus interesses. 

O salário-mínimo nacional, embora vital para milhões, ainda está muito aquém do necessário para uma vida digna se comparado ao custo de vida das grandes cidades e aos padrões internacionais de países desenvolvidos. 



As Múltiplas Faces da Exclusão Contemporânea 

A desigualdade econômica se traduz em sofrimento humano concreto: 

  • Violência e Extermínio da Juventude: O Brasil é um dos países que mais mata jovens no mundo. A violência é seletiva: a principal vítima é o jovem, negro, pobre e periférico. São milhares de vidas perdidas anualmente, um genocídio silencioso e tolerado. 

  • Crise Educacional: Nossa posição no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) permanece estagnada entre as piores do mundo, refletindo um abismo educacional. Filhos da elite estudam em colégios de padrão internacional, enquanto a escola pública sofre com falta de investimento, evasão e baixa qualidade, perpetuando o ciclo da pobreza. 

  • Falta de Moradia e Abandono dos Idosos: O déficit habitacional é monumental, levando ao crescimento desordenado de favelas e à população em situação de rua, que inclui um número crescente de idosos abandonados por suas famílias e por um Estado ineficiente. 

  • Massacre dos Povos Originários e Destruição Ambiental: A histórica luta pela terra continua. As populações indígenas são violentamente atacadas por madeireiros, garimpeiros e grileiros, num cenário de total impunidade. A destruição da Amazônia e de outros biomas é a face ambiental dessa lógica de exploração predatória, que enxerga a natureza apenas como commodity. 

  • Desigualdades Regionais: O Norte e Nordeste brasileiros, embora tenham avançado nas últimas décadas, ainda carregam o fardo do subdesenvolvimento herdado do período colonial. Indicadores de renda, acesso a saneamento básico, saúde e educação ficam consistentemente abaixo das médias das regiões Sul e Sudeste. 



A Impunidade e a Corrupção Sistêmica 

A corrupção, embora combatida pontualmente, muitas vezes serve como cortina de fumaça para uma corrupção sistêmica muito pior: a corrupção de um sistema que legaliza privilégios através do lobby (ou "fisiologismo"), do orçamento secreto e de benesses ao setor financeiro. A impunidade para crimes de colarinho branco contrasta violentamente com a superlotação das prisões de pobres e negros. 


Conclusão: Por um Projeto de Inclusão e Cidadania 

Superar esses desafios monumentais exige mais que reformas isoladas; exige um novo pacto social. As ações necessárias passam por: 

  1. Reforma Tributária Solidária: Tornar o sistema progressivo, taxando grandes fortunas, heranças, lucros e dividendos, e aliviando a carga sobre o consumo. 

  1. Investimento Massivo em Educação Pública Universal: Da creche à pós-graduação, com valorização dos professores e melhoria da infraestrutura. Esta é a chave para quebrar a "loteria do nascimento". 

  1. Reforma Política e Democrática: Combater a distorção da representação no Congresso e o poder do dinheiro nas eleições, aproximando o Estado dos cidadãos e não dos grupos de interesse. 

  1. Fortalecimento das Instituições Democráticas: Garantir a independência do Ministério Público, da Polícia Federal e do Judiciário no combate à corrupção e aos crimes de elite. 

  1. Políticas de Inclusão Social Ativas: Manter e ampliar programas de transferência de renda, garantir direitos trabalhistas e fomentar a geração de empregos formais. 

O objetivo final deve ser a construção de um país que ofereça as mesmas chances, a mesma dignidade e os mesmos direitos a todos os seus cidadãos. Um Brasil onde o lugar onde se nasce, a cor da pele ou o sobrenome da família não determinem o futuro de ninguém. É a luta árdua, porém essencial, para transformar o país dos privilégios históricos na pátria da cidadania plena. 

 

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