ANTES DE EDUCAR, SER GENTE!
O mural que retrata Paulo Freire, acompanhado da célebre afirmação, “Me movo como educador, porque, primeiro, me movo como gente”, traduz, de forma estética e política, uma das bases centrais de sua pedagogia: a educação como prática humanizadora.
O espaço urbano, ao ser ressignificado pela arte, torna-se território de memória e de conscientização, reforçando a dimensão pública e transformadora da educação.
Ao reafirmar que o educador é, antes de tudo, sujeito humano, histórico e político, a obra dialoga diretamente com a crítica freireana ao tecnicismo e à desumanização presentes em muitos processos escolares contemporâneos.
Em Pedagogia da Autonomia, Freire (1996, p. 32) já advertia: “Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro”.
Ou seja, a relação educativa só se realiza plenamente quando fundada na dialogicidade e no reconhecimento mútuo da humanidade.
As folhas coloridas e as libélulas presentes na obra podem ser compreendidas como metáforas da pluralidade e da inconclusão, conceitos caros à pedagogia freireana.
Para Freire (1987, p. 68), “o homem é um ser inconcluso e consciente de sua inconclusão”, aberto ao inédito-viável e permanentemente em processo de transformação.
Ao incorporar esses elementos, a arte amplia o horizonte da reflexão crítica, sinalizando que a educação, longe de ser estática, é movimento vital e coletivo.
No contexto atual, em que a educação tende a ser capturada por lógicas de mercado e pelo imediatismo instrumental, esse mural funciona como denúncia e anúncio: denúncia de práticas que esvaziam a dimensão política e humanizadora do ensino, e anúncio de uma pedagogia que insiste na emancipação dos sujeitos.
Como afirma Freire (1981, p. 43), “a educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”.
Articulando com minhas próprias pesquisas, é possível compreender essa obra como exemplo de como a educação transborda os muros escolares e se realiza também na arte, na rua e no cotidiano.
O grafite, nesse sentido, assume caráter pedagógico, instaurando espaços de conscientização e diálogo crítico, e reafirmando que toda prática educativa é, inevitavelmente, prática política.
Referências
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 12. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
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