Durante muito tempo o bem-estar no trabalho foi visto como “perfumaria”, quase uma concessão generosa das empresas aos seus funcionários.
O estudo conduzido por Jan-Emmanuel De Neve, professor da Universidade de Oxford , destitui essa visão com dados que não permitem mais ingenuidade: ao analisar mais de 30 milhões de trabalhadores, ele mostra que o bem-estar não apenas acompanha os resultados, mas os antecipa, funcionando como um indicador preditivo do desempenho financeiro futuro.
O que emerge desse levantamento é uma constatação desconfortável para quem insiste em reduzir a gestão de pessoas à lógica salarial. Continuamos superestimando o peso do contracheque e subestimando fatores que parecem imateriais, como qualidade da liderança, confiança nas relações, autonomia e senso de pertencimento. Esses elementos, muitas vezes tratados como periféricos, são justamente os que diferenciam organizações capazes de sustentar competitividade em cenários de incerteza.
Ao observar casos concretos, a mensagem se torna ainda mais nítida: vendedores com altos índices de bem-estar chegam a vender até 37% mais, e empresas que cultivam relações de confiança entre líderes e equipes demonstram não apenas maior produtividade, mas também maior capacidade de inovar e de reter talentos. O que se costuma chamar de “soft” se revela, na prática, a engrenagem dura que move a lógica do negócio.
Nesse sentido, falar em bem-estar não é falar de benefício nem de vantagem periférica, mas de infraestrutura essencial. É reconhecer que as organizações que negligenciam essa dimensão comprometem não só a saúde de seus trabalhadores, mas também sua reputação, sua atratividade de mercado e sua própria sustentabilidade econômica. Em um contexto em que a agenda ESG e a regulação ampliam as responsabilidades institucionais, insistir em tratar o bem-estar como detalhe significa perder de vista o coração do capital social e, portanto, do valor de mercado.
O estudo de Oxford apenas confirma aquilo que a prática já vinha sugerindo e que a ABQV - Associação Brasileira de Qualidade de Vida advoga há 30 anos: cuidar das pessoas não é gesto de bondade empresarial, mas decisão estratégica.
É nesse ponto em que ciência, economia e ética se encontram. A pergunta que resta, para líderes e conselhos, é menos sobre se vale a pena investir em bem-estar e qualidade de vida e mais sobre quanto tempo ainda é possível resistir à evidência de que sem isso não há futuro de negócios consistente. Sem sustentabilidade humana, não haverá progresso.
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