SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

FRANKSTEINS, A HORA DE OLHAR NO ESPELHO E DESCOSTURAR PARA ENCONTRAR SEU EU:



Olhar no espelho e não se reconhecer depois de uma operação plástica virou rotina em nossa sociedade. Está nascendo aos poucos uma nova raça. Ela troca de corpo, de fé, de personalidade, de personagem, de acordo com a história ou interesse que melhor se enquadrar. Não falo sobre trocar de namorada ou mesmo esposa , posição ideológica , ou marca de um novo produto. Falo de raízes, de identidade, de que o cenário da vida e do mundo muda, mas por mais que queira a velocidade tecnológica ou a globalização não nos constituímos como humanos de material descartável como os produtos e por mais que nos tornamos mercadorias algo em nós pulsa e luta para destruir o Frankstein que a tv , o mercado e as novas novidades costuraram em nós.

Encontrar a linha que costurou em nosso corpo e alma pedaços clonados, imputados, antagônicos, contraditórios , hipócritas , incoerentes sobrepondo , camada por camada, tecidos sem a estética de nossas belezas e de nossa vida não é tarefa fácil.
Primeiro porque acreditamos que somos livres, ou seja, nem conseguimos enxergar estes implantes, vírus, ou as partes de nosso corpo que foram arrancadas para dar espaço para experiências ao estilo BBB em nossa alma.

Segundo porque são operações que não se fazem sem dor e as anestesias não tem muito efeito e muitas contra-indicações. É preciso coragem !
Porque não é simplesmente tirar de nós o que nos contamina , os corpos estranhos, mas principalmente como viver sem eles nesta sociedade que vive deles, o que colocar no lugar se é que precisamos de algo , ou a própria operação é que constitui a vida ? Dilemas de um paciente , como disse um cobaia , que resiste com uma agulha na mão operando todos os dias os sentidos da vida e do mundo.

Como dizia um poeta de nossa época Renato Russo “ é a própria fé que destrói , estes são dias desleais”
Como se ao dançar , ou ver um filme, ou comprar um produto, pudesse nos ver lá de cima por um momento fora de nosso corpo e perguntar qual o sentido disto que estou fazendo ? Porém não é apenas uma questão religiosa essa é uma dimensão importante mas não nos revela todo segredo da vida .
Se fosse um Romano, um nobre , pronto a ordenar que meus escravos fossem castigados por desobediência ou mesmo um senhor colonial no Brasil conseguiria realizar minha auto-crítica e avaliar meu ato ? Seria tão normal como hoje sendo um funcionário ou escravo de uma empresa que atua numa zona de exportação na China ?

Achamos que estas decisões não nos pertencem que apenas devemos obedecer as regras e baixar a cabeça quando se trata de ordens. O máximo de nossa liberdade se dá na escolha da marcas, no programa de TV, no time de futebol, no reino de minha casa, nas próximas férias...E nós reduzimos a isto. Bons espectadores aptos a aplaudir, amar, produzir, estudar, rezar, sonhar a noite na hora certa!

Sonhamos em ficar ricos para viver esta pobreza de vida e aumentar o numero de produtos a nossa escolha.

Fico pensando que a maioria das pessoas não viveu um grande amor, de ter ajudado e transformado a vida de pessoas, de escrever um livro ou cantar uma música sua, de falar diretamente com seu Deus da forma mais simples como conversasse com seu pai, não teve o orgulho de aprender o conhecimento não por causa de uma nota , de ter feito história na sua rua, comunidade, escola, universidade, cidade..Momentos mágicos como esse marcam a vida , são costurados na pele, transcendem a alegria de qualquer produto ou escolha que possamos fazer pois no outro dia precisamos de outro mas estas ficam para sempre.

Sabem estas decisões de não castigar os escravos ou de se libertar não sendo um deles dependem de nós. Compreender o personagem e o teatro que fazemos parte é fundamental para quebrar as cordas que nos movimentam como fantoches de um circo sem sentido.

Quando Pink Floyd ao lado de crianças cantaram que não precisávamos deste tipo de educação e era preciso derrubar as paredes da escola para enxergarmos o que estava acontecendo lá fora. Virou um hino da liberdade para milhões de jovens mais forte que o hino de suas nações. Quando a juventude foi as ruas em 1968 e literalmente parou e mudou o mundo , ninguém sabia no que aquela revolução silenciosa iria transformar. Hoje sabemos. Quando Martin Luther King conclamou a todos ir além da questão racial e viver a paz e a democracia; a história já imaginava que atos, sonhos e palavras tão fortes não ficariam perdidos. Eles continuaram com “ YES WE CAN “ na eleição de Barack Obama.

A coragem de realizar a operação de descosturar o Frankstein pode ser movida por momentos mágicos como esses. Nenhum destas pessoas que admiramos ficou concordando com tudo, seguindo ordens, balançando a cabeça . Eles resolveram assumir o comando da própria vida construindo um sonho, um ideal e o vivendo a cada dia como a própria vida. Não precisa ser estes personagens históricos, pode se lembrar na sua família ou comunidade, aqueles que fizeram e são a diferença como construíram seus caminhos?
Sabemos que não é fácil que é cheio de dragões, noites escuras, angústias, mas todos eles não negam o quanto valeu a pena.
De baixo para cima, juntando forças pelo lado, dialogando ou “esclarecendo” seus direitos para quem vem de cima para baixo. Vamos construindo caminhos, novos horizontes, linhas que vão descosturando o passado, o ser aprisionado, o Frankstein ,que ousa agora gritar de alegria da dor liberta.

Vão ficando pelo caminho tecidos que não colam e nem servem mais nem tem como se sustentar em nosso corpo. Enxergamos e vivemos a nossa pele e sentimos as alegrias e as dores de viver nossos sentidos em todos os sentidos. A cada costura que desfazemos, nos libertamos e aprendemos mais sobre nós e o mundo em que vivemos. De Franksteins, assumimos o nosso próprio nome, a nossa identidade.

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