Quanto carregamos dentro de nós da gerações que nos antecedem ? Formando não só o DNA biológico, mas o econômico, educacional, cultural , religioso... Quantos e quais dos nossos comportamentos são meros reflexos de meus avôs e pais, dos modelos que eles são e das verdades que aprendi na infância? Como diria os psicólogos você já se libertou das histórias de seus pais para construir a sua? Você conseguiria escrever algo sobre a história de seus avôs?. Você consegue enxergar aonde sua trajetória começa a se diferenciar para começar a contar a sua história de vida a partir de seus pais e avôs?
Como estava contando Vovô que era escritor buscava ter plena consciência de suas circunstâncias e talvez daí tenha surgido o nosso amor pela História.
Ele que além do apego à essa forma de ver o mundo, através do estudo do seu passado, valorizando a tradição, vislumbra no avanço dos métodos, a atualização dos costumes, uma vez que a vida está em pleno movimento.
Como um bom aprendiz da modernidade, procurou se adaptar tecnologicamente, mas sem se libertar do passado. Um bom exemplo disso está no seu hobby de pintar quadros, unindo clássicos a modernos, cenas históricas com momentos atuais. Os cenários criados a partir desses quadros, facilitavam a compreensão do meu passado, minha origem, minhas circunstâncias e de minha sociedade.
É bom visitar, depois de algum tempo, o site www.quandoamareproibido/arteviva.br, criado por meu pai e avô, onde numa seção de artes plásticas, há montagens com quadros históricos e acontecimentos atuais, além de poesias que ganham vida em história.
Na semana passada a inspiração tinha partido dele. Foi em busca de cenas reais e atuais que pudesse contracenar com o quadro de Delacroix, a, liberdade conduzindo um povo, onde uma mulher com uma bandeira e uma criança com um revólver, relembram o levante do povo na Revolução Francesa.
O quadro ganhara vida no site do meu avô. Ele foi em busca de um vídeo apresentado na CNN, sobre uma guerra interminável na África, onde uma mulher africana e a bandeira de sua tribo, caminham ao lado de uma criança armada no meio de um conflito, ainda em nome da liberdade conduzindo seu povo.
Normalmente, ele buscava motivação na arte, a partir de quadros para depois ir em busca de fatos e assim alimentava seu site, fazendo dele as paredes de sua cela como um prisioneiro do passado. Nada próximo a mim que me considerava um prisioneiro do futuro, apto a não voltar de minhas viagens ao novo século, que acordado me sentia como se estivesse vivendo dentro de objetos de ficção científica, percebendo sua pulsação, agindo segundo o seu movimento.
Apreendi mais ainda com meu filho que adora carros e me explica qual a diferença entre um e outro, o barulho, as rodas, o motor, design , que não é só entrar e dirigir ; tem a magia . Desta maneira fui montando um mosaico para saber como as tecnologias evoluíram. Carros, Robôs, computadores, equipamentos médicos, biotecnologia...
Eu tinha um amigo da escola , o Iran , na quarta série que adorava armas , ele entendia de tudo. Sabia de cor o nome de todos os fuzis , seus brinquedos eram exércitos, as naves da star wars , e adorava jogar War. Sabia o que faltava em cada arma e como encaixar com outros componentes formando novas tecnologias , que trouxesse a luz, o futuro e dentro dele nós seus prisioneiros.
Meu avô e pai tinham muitas semelhanças. Como disse ambos dividiam a admiração por Ortega Y Gasset. Vovô gostava muito de citar: “Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo não me salvo eu.” A convivência com os dois me fez ficar sempre próximo de minhas raízes, mas sem me tornar refém das lembranças e, para mim, o equilíbrio entre o passado e o futuro, foi, aos poucos, fazendo do presente uma ponte entre a alma que transgride evoluindo e as necessidades do corpo. Em pé na corda bamba da vida, para não perder a coerência e cair num abismo sem fim.
Como meu pai, minha inspiração vem da imaginação, mas esta semana tivemos uma surpresa. A sugestão do novo quadro e experimento tecnológico vem da realidade que nos cerca, das circunstâncias de nosso mundo. Era a vez dela de sugerir libertar os prisioneiros trazendo-os do nosso passado de volta ao presente. Um quadro que meu avô me mostrou num museu quando criança e que ajudei a desenhar os traços dele inclusive em minha vida.
Eram seis e trinta da manhã de Domingo quando meu avô ao assistir o culto judaico, ouvia o sermão sobre o memorável texto bíblico de Abraão e o Sacrifício de Isaac.
“E Abraão provou sua fé. Iria, em atendimento à vontade de Deus, sacrificar seu próprio filho, a quem tanto amor dedicava...” e assim prosseguiu o rabino em sua pregação.
Aquela sugestão da realidade lhe fez lembrar o antigo quadro de Michelangelo que visitou comigo no museu retratando o Sacrifício de Isaac. Logo após o culto dirigiu-se ao seu computador para encontrar o quadro e pôs a pensar que cena do mundo onde vivemos traria a tona o Sacrifício de um jovem por seu pai...
Enquanto isto a diversão de nossa turma de garotos de 10 anos na escola era as novas tecnologias enquanto eu me vislumbrava com computadores, Iran queria transformar o seu corpo em armas, ele ficava lendo revistas especializadas para entender como uma AR-15 funciona e imaginava que ela fosse seu braço, enquanto sua cabeça funcionava como um radar digital, mirando as pessoas que cruzavam o seu caminho como nestes jogos em cyber cafés . Todos nós éramos personagens de sua história, mesmo sem saber as pessoas que passavam ao seu redor, eram alvos inimigos. Como os garotos nos EUA ou os meninos bombas no Iraque! Isaacs que foram ensinados a sacrificar suas sociedades por seus pais.
Naquele dia ao dobrarmos a esquina da Escola para irmos para casa , vimos duas gang’s se enfrentando. Uma era formada por garotos do bairro , a outra garotos mais velhos da escola, mas o que me chamou mais atenção foi uma “câmara de TV que filmava tudo ali” e dava sinais de que realidade e ficção perderiam rapidamente suas fronteiras.
Sem perder tempo, Luizinho pegou minha pasta, imaginando nele uma lança-míssel que obedeceria a seu comando instantaneamente na velocidade de seu pensamento, porém antes de disparar seu lança-míssel, fomos acertados por balas perdidas, caímos... De repente de um lado via a gang, a câmera de TV e por detrás dela talvez meu pai e avô lá estivessem preparando a cena para o Sacrifício de Isaac... Por um momento, fiquei como que fora de mim e lembrando cenas de minha infância. Como poderiam brincar com a realidade desta forma? Lembrei de um desenho que fazia ao lado de meu pai, transformando estrelas num parque de diversão.
Passados todos esses anos, lembro que enquanto convalescia, imagens se formavam em minha mente. No infinito via uma porta aberta e “a primeira voz que eu vi falar-me como trombeta disse: ‘sobe até aqui para que eu te mostre as coisas que devem acontecer depois destas’”. Como se flutuando, o espírito me levava ao encontro de um trono e nele, alguém sentado: Deus ou um homem, não dava para identificar. Ao seu redor, via sete cadeiras ocupadas por pessoas de aspectos diferentes, todavia, algo era comum: o traje alvo de brancura inigualável e o uso de coroas, todas de ouro, mas em formatos e modelos diferentes. Diante delas via cendeiros, com sete lâmpadas de fogo, representando sete espíritos de “deus”.
O principal ocupante daquele cenário, tinha na mão direita um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos. Um anjo poderoso, proclamava em alta voz: “Quem é digno de abrir o livro, rompendo seus selos?” No entanto, não percebia quem, mas um jovem, em alto mar, como se estivesse em êxtase, ou num momento de suprema dor, tornou-se o escolhido pela divindade e abria selo a selo, em ritual como se estivesse a fazer um sacrifício e de repente começava a cair uma chuva de flores sobre a multidão de pessoas que viam, através da Internet e outros instrumentos de comunicação, aquelas imagens, inclusive na lua..
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