SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

domingo, 18 de abril de 2021

AS DIVERSAS FOLHAS EM BRANCO ESQUECIDAS OU NEGADAS NA EDUCAÇÃO PARA DURKHEIM



Apresentar Durkheim e qualquer uma de suas obras é sempre importante lembrar que ele era um positivista que visava manter a ordem social. Portanto o eixo de seu pensamento era detalhar o que cada um podia aprender e com quem do seu meio social para se tornar um ser social , capaz de funcionar na máquina econômica e social da época, à partir da formação adequada ao ser “folha em branco”, ensinados por autoridades educacionais sem questionamentos visando manter a ordem. Durkheim ensinou pedagogia e sociologia para o ensino primário e ensino superior, porém numa sociedade que centralizava o poder de todas formas principalmente pelo saber, que negava a multiplicidade, diversidade e desejos. Os quais graças às lutas sociais e históricas Durkheim nunca conseguiu controlar nem em sua época. Na verdade Durkheim é o produto direto que busca controlar os efeitos da comuna, luta de classes, o avanço da criminalidade e “anormais”, o qual essa anti educação é uma reação do Estado.      


Durkheim nos alerta que é como sociólogo que falará sobre educação.


 

Na primeira parte Durkheim aborda conceitos sobre o que é educação? Durkheim cita uma frase de Stuart Mill "como algo que fazemos por conta própria ou que os outros fazem por nós " , e depois amplia o sentido dessa frase sem citar a vida de Stuart Mill e as várias coisas que ele fez para se educar. Stuart Mill era estudioso de política, filosofia, economia e direito, mas quando criança estudou matemática e ciências naturais. Publicou muito sobre governo, liberdade, lógica, evidências judiciais, civilização, religião e com sua esposa sobre a luta das mulheres . Ele cita Mill para discordar dele e reduzir a educação ao que se faz com os jovens. Depois ele reduz a busca pela perfeição em Kant como modelo para educação para reduzir cada pessoa a uma função e negar o direito de refletir a todos. Depois nega a felicidade como objetivo da educação, apesar de Spencer definir felicidade como vida plena. Durkheim passa a questionar o que é vida ? Ele faz um relato histórico da educação em diversas épocas focada exclusivamente naqueles que tinham acesso a elas, mas não cita que educação na época era perpetuar as formas de poder quer sejam aristocráticas, militares ou religiosas. E ameaça que qualquer coisa diferente disso colocava em xeque a sociedade e nossa evolução positivista. Enfim ela trata a história como uma evolução das espécies oficiais mas esquece de abordar as lutas pela sobrevivência e os desafios do ambiente que geram criações, acasos, inovações , rupturas e outras anomalias que fogem às instituições e métricas educacionais. 


 

Na segunda parte Durkheim fala dos adultos educando os jovens mas esquece de jovens artistas como Rimbaud, jovens líderes espirituais como Davi e Lutero, Maio de 68 e outras períodos de rebelião juvenil que mudaram o mundo, líderes políticos jovens que mudaram sua época, jovens cientistas como Leonardo da Vinci e outros que educaram muitos adultos. Enfim nessa segunda parte de seu pensamento, apesar dele amar classificar todos seres humanos quase como elementos químicos ou animais com a respectiva divisão no zoológico ou selva social, ele lembra que todos somos humanos e temos vários aspectos em comum que afirmam nossa coletividade. Porém palavras como liberdade e educação como emancipação do ser, independente das caixinhas, é muito complexo para sua época, onde saber é ensinar a classificar como ensinou Foucault em Arqueologia dos Saberes ou Palavras e as coisas; e pouco a criticar e interpretar a própria época e não apenas escrever o passado a sua semelhança.



Nas terceira, quarta e quinta parte do texto " A educação: sua natureza e função". Durkheim depois de justificar vai modelar sua proposta educacional, onde o indivíduo serve a sociedade e é formado pelo Estado. O indivíduo é para Durkheim formado pelos espaços que ocupa na sociedade, mas antes cabe ao estado estabelecer o comum entre eles. Ele esquece a multiplicidade e incertezas que indivíduo e a sociedade gera em seu seio e suas consequências éticas que não cabem no currículo. Os modelos de educação para Durkheim se apresentam lineares e simples em torno dos objetivos que enaltece na sociedade mas não fala da comunhão econômica e política que torna possível a vida em sociedade. Por fim, no fim ele aborda a individualidade e a diversidade das pessoas e que não se pode prever futuros, mas apenas mais uma vez para justificar a educação e autoridades como meios de impor uma ordem social. O exemplo da Hipnose como metáfora para educação é patético, triste e ignorante. Ele faz crítica a educação de Epicuro, não por acaso essa é a tese de doutorado de Marx, assim como faz a crítica aos prazeres e instintos talvez sentindo os ventos da psicanálise e da guerras mundiais que nenhuma educação freou, mas pelo contrário na Alemanha intelectual ela explodiu e reproduziu violências de pessoas bem educadas na concepção do Estado e sociedade alemã. As autoridades educacionais não foram suficientes, pelo contrário fortaleceram as loucuras da época e a repressão não foi usada em nome de um mundo melhor, infelizmente não fomos educados a resistir aos nazismos, incluindo seus modelos educacionais. 



Nós podemos fazer uma resenha sociológica ou educacional sobre o livro de Durkheim. Muito mais do que ele busca me ensinar sobre sua sociedade, prefiro compreender como ele busca me educar com suas palavras, formas de ver o mundo e o papel que ele busca destinar a educação em sua época. Portanto considero a resenha um instrumento pedagógico "Durkheimiano"  porque ele ensina muito pouco a pensar, como fez nas escolas, menos ainda deixa a crítica livre em seu método para que a pessoa possa expressar sua singularidade e diversas formas de construir seu discurso e subjetividade, sem a necessidade da reprodução social. Aqui nesse caso de pensamentos que servem a manutenção de poderes como o próprio Durkheim afirma em seus textos. Considero que instrumentos pedagógicos pensados por Paulo Freire afirmam muito mais a autonomia do ser. Durkheim reforça uma ética que exclui e nega outros saberes, incluindo dos alunos, negando as críticas às normas afirmadas pela moral de Durkheim e o papel da educação em reproduzi-las. A resenha castra e destrói pensamentos que emergem de forma espontânea visando encontrar caminhos mais complexos e sistêmicos de expressar o pensamento de Durkheim nos dias de hoje ou mesmo diria em sua época. Porque felizmente Marx desde sua juventude não se rendeu a eles. 



O sistema de Marx durou mais do que os de Comte e Spencer. Ele é uma síntese de economia política, filosofia, história, e da nova disciplina da sociologia; assim como Stuart Mill. O interesse de Marx se dá pela história global, incluindo países como Índia e China em busca de uma teoria geral da evolução histórica que abarcasse o modo de produção asiático. No final da vida descobre a nova disciplina da Antropologia estudando sobre os iroqueses. Os interesses de Marx vão muito além das ciências sociais em sua tese de Doutorado segue os caminhos de como Epicuro pensa. Marx domina os clássicos gregos e latinos, debate a favor e contra Hegel, vivia cercado por um oceano de livros na sala de leitura do Museu Britânico, e quando se sentia cansado de trabalhar lia sobre anatomia e fisiologia. Compreender como Marx se educou, eu avalio e recomendo mais importante do que resenhar Durkheim. 


    

Tenho a mesma convicção de Max Weber sobre as irreconciliáveis éticas da ciência e da política. E poderíamos continuar sobre a diferença delas para uma ética protestante, uma ética educacional ou de uma ética para Durkheim descrita em seu livro sobre ética e sociologia da moral. Um ser social “produzido” em espaços lineares e disciplinares, as luzes da igreja e do Estado que fundam um sistema escolar, e os professores como padres e avaliação como confissão, sem amplos meios de comunicação e acesso ao conhecimento por outros meios. É diferente de um ser “produzido” numa sociedade em rede com acesso a internet e redes sociais com a perda da hegemonia da família, escola e Estado, principalmente porque esses mesmos poderes perdem o diálogo com “folhas que não vem em branco” e muitos servem aos poderes da ordem que mantém brutais desigualdades e violências. 




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