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terça-feira, 22 de julho de 2025

O "PRIVILÉGIO EXORBITANTE" DO DÓLAR: COMO ELE MOLDA O CENÁRIO ECONÔMICO E POLÍTICO GLOBAL DA ATUALIDADE.


Fernando Veiga BarrosPremium • 2ºConsultor Legislativo | Senado FederalHá 1 hora • Editado • Visível a todos, dentro ou fora do LinkedIn

A posição do dólar, como moeda de reserva internacional, concede aos EUA benefício único, historicamente chamado de "privilégio exorbitante". A expressão foi cunhada nos anos 1960, por Valéry Giscard d’Estaing (então ministro francês), e descreve assimetria profunda, no sistema financeiro global.

A assimetria permite que os EUA financiem déficits crônicos, em conta corrente, simplesmente emitindo sua própria moeda. Enquanto outros países dependem de reservas externas limitadas, os EUA pagam importações e investimentos externos com dólares – moeda que eles próprios emitem e controlam. Esse mecanismo gera dois efeitos estruturais.

Primeiramente, os EUA capturam a "senhoriagem internacional": tomam emprestado do mundo, a juros reais frequentemente negativos. Isso reduz o custo do financiamento público e privado da economia americana. Em segundo lugar, exportam parte dos ônus de seus desajustes econômicos ao resto do mundo. Políticas monetárias expansionistas, nos EUA, implicam transferir pressões inflacionárias e volatilidade cambial a economias atreladas ao dólar ou com grandes reservas em USD.

O resultado é a transferência líquida de recursos reais. Os EUA consomem e investem além de sua produção doméstica, sustentando elevado padrão de vida, artificialmente. Estudos empíricos confirmam: mesmo com patrimônio líquido internacional negativo, os EUA recebem retornos líquidos positivos, sobre seus passivos externos. E a explicação é simples: embora devam mais do que tenham a receber, pagam por sua dívida muito pouco, bem abaixo do que recebem por seus ativos.

Economistas como Barry Eichengreen, Maurice Obstfeld, Pierre-Olivier Gourinchas e Hélène Rey detalharam esses mecanismos e fatos.

O privilégio, contudo, exige contrapartidas. Exige que os EUA mantenham mercados abertos e profundos, limitando políticas de controle de capitais. Também exige que os EUA sejam cuidadosos, ao transformar o dólar em arma, usando-o em sanções, pois esse expediente estimula movimentos globais por alternativas monetárias.

Embora o sistema permaneça, está sob contestação crescente e, em reação, sob forte defesa, por parte dos EUA. Seu entendimento ajuda a interpretar as tensões geopolíticas, econômicas e comerciais, no plano internacional, notadamente a indisposição norte-americana, em face de movimentos como o BRICS+.

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