
A música Bella Ciao, cuja letra foi encontrada em uma bala da arma que teria sido usada para matar o ativista conservador Charlie Kirk, na última quarta-feira (10/9), é facilmente associada à série da Netflix La Casa de Papel.
No seriado, os protagonistas, que planejam um assalto bilionário à Casa da Moeda de Madri, entoam a canção em momentos-chave da trama.
Mas a história da canção remete à Segunda Guerra Mundial, quando se tornou um hino da resistência italiana contra o fascismo de Benito Mussolini e as tropas nazistas.
Desde então, Bella Ciao, que tem autoria desconhecida, é entoada em protestos ao redor do mundo, principalmente por movimentos antifascistas— formado por ativistas de esquerda radical, que tem um forte discurso anticapitalista.
Segundo autoridades dos Estados Unidos, as balas usadas por Tyler Robinson, preso nesta sexta-feira (12/9) pelo atentado contra Charlie Kirk, tinham referências do movimento Antifa, ou antifacista.

Mas a origem de Bella Ciao pode ser ainda mais antiga.
Alguns sugerem que a melodia é uma adaptação de uma canção Klezmer — um gênero que emerge da tradição musical de judeus asquenazes, da Europa Oriental —, mais especificamente de Oi Oi di Koilen, do acordeonista ucraniano Mishka Ziganoff.
A música foi gravada em Nova York, em 1919, e teria sido levada para a Itália por um imigrante que retornou dos Estados Unidos.
Ao ouvir a melodia e a letra em iídiche (dialeto das comunidades judaicas da Europa Central e Oriental) são várias as semelhanças com Bella Ciao.
Uma outra versão, contudo, indica que a música surgiu das canções populares das trabalhadoras dos campos de arroz do vale do rio Pó, no norte da Itália, no século 19.
Canções populares como Picchia alla Porticella e Fior di Tomba, por exemplo, têm trechos que lembram Bella Ciao.
Hino internacional de resistência
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Mas a história de Bella Ciao não termina aí.
Nos anos 60, a música se tornou um hino popular durante as manifestações de trabalhadores e estudantes na Itália.
No governo de Silvio Berlusconi, partidos de esquerda italianos cantavam a música antifascista como forma de protesto.
Mais recentemente, durante uma manifestação de bancários por aumento salarial em Buenos Aires, os funcionários parodiaram a letra de Bella Ciao e cantaram para o governo de Mauricio Macri: "Somos bancários, queremos aumento e Macri tchau, tchau, tchau".
Em 2013, Bella Ciao foi entoada em protestos em Istambul e, em 2014, nos atos pró-democracia em Hong Kong.
Na Grécia, partidos de esquerda radical também utlizaram a canção em campanhas eleitorais.
Há várias versões de Bella Ciao em ritmos que vão do punk ao ska. A canção foi gravada por Mercedes Sosa e Manu Chao, entre outros.
No Chile, no início dos anos 1970, durante o governo de Salvador Allende, o grupo Quilapayún adotou Bella Ciao como uma canção de protesto.

Veja a letra de Bella Ciao, em tradução livre para o português:
Uma manhã, eu acordei
Bela, tchau! Bela, tchau! Bela, tchau, tchau, tchau!
Uma manhã, eu acordei
E encontrei um invasor
Oh, partigiano (membro da Resistência), leve-me embora
Bela, tchau! Bela, tchau! Bela, tchau! Bela, tchau, tchau, tchau!
Oh, membro da Resistência, leve-me embora
Porque sinto que vou morrer
E se eu morrer como partigiano,
Bela, tchau! Bela, tchau! Bela, tchau, tchau, tchau!
E se eu morrer como partigiano,
Você deve me enterrar
E me enterre no alto das montanhas
Bela, tchau! Bela, tchau! Bela, tchau, tchau, tchau!
E me enterre no alto das montanhas
Sob a sombra de uma bela flor
E todas as pessoas que passarem
Bela, tchau! Bela, tchau! Bela, tchau, tchau, tchau!
E todas as pessoas que passarem
Te dirão: Que bela flor!
E essa será a flor da Resistência
Daquele que morreu pela liberdade
E essa será a flor da Resistência
Daquele que morreu pela liberdade

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