
- Laura Gozzi
- BBC News
A França vive nesta quarta-feira (10/9) um dia de protestos liderados pelo movimento popular Bloquons Tout ("Vamos Bloquear Tudo", em tradução livre), em uma demonstração de indignação contra a classe política e cortes orçamentários.
As manifestações ocorrem no dia da posse do novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu, que assumiu o cargo após a deposição de seu antecessor, François Bayrou, em um voto de desconfiança no início desta semana.
Manifestantes bloquearam ruas, incendiaram lixeiras e interromperam o acesso à infraestrutura e às escolas em todo o país.
Cerca de 250 pessoas haviam sido presas até o meio da manhã, informou o ministro do Interior, Bruno Retailleau, em fim de mandato.
Um ônibus foi incendiado em Rennes e cabos elétricos perto de Toulouse foram sabotados, acrescentou Retailleau.
Milhares de pessoas se reuniram em Paris, Marselha, Bordeaux e Montpellier.
No entanto, os distúrbios permaneceram contidos. A maioria das prisões ocorreu em Paris ou nos arredores, onde cerca de mil manifestantes – muitos mascarados ou usando balaclavas – entraram em confronto com a polícia do lado de fora da estação de trem Gare du Nord.
Agora você pode receber as notícias da BBC News Brasil no seu celular.
Clique para se inscrever
Fim do Whatsapp!
Alguns tentaram entrar na estação, mas foram impedidos por agentes que dispararam gás lacrimogêneo, segundo relatos da imprensa francesa.
Mais tarde, um restaurante foi incendiado no centro de Paris, e as lojas no complexo comercial de Les Halles fecharam mais cedo.
Muitos manifestantes entoaram slogans políticos contra o presidente, Emmanuel Macron, e o novo primeiro-ministro, Sébastien Lecornu. Vários carregavam cartazes contra a guerra em Gaza.
O movimento "Vamos Bloquear Tudo" parece ter surgido nas redes sociais há alguns meses e ganhou força durante o verão no Hemisfério Norte, quando encorajou as pessoas a protestarem contra cortes orçamentários de 44 bilhões de euros (cerca de R$ 280 bilhões) anunciados pelo ex-premiê François Bayrou.
O movimento tem características claras de esquerda. Suas reivindicações incluem mais investimentos em serviços públicos, impostos para a alta renda, congelamento de aluguéis e a renúncia de Macron.
Às vésperas dos protestos de quarta-feira, o grupo "Vamos Bloquear Tudo" incitou as pessoas a participarem de atos de desobediência civil contra "austeridade, desprezo e humilhação".
Um grupo de jovens manifestantes em frente à Gare du Nord disse à BBC que estava indo às ruas em "solidariedade" com pessoas em situação precária em toda a França.
"Estamos aqui porque estamos muito cansados de como Macron tem lidado com a situação" da crescente dívida francesa, disse Alex, 25, acrescentando que não tinha fé que o novo primeiro-ministro não "repetiria o ciclo".

Quem é Sébastien Lecornu
Lecornu é um apoiador de Macron e o quinto primeiro-ministro do país em menos de dois anos.
Sua nomeação foi criticada tanto por partidos de extrema direita quanto de esquerda.
Primeiro, ele precisará elaborar um orçamento que seja aceitável para a maioria dos parlamentares franceses, em um parlamento dividido — o mesmo esforço desafiador que derrubou seus dois antecessores.
O déficit francês atingiu 5,8% do PIB em 2024, mas os três grupos ideológicos distintos na Assembleia, profundamente partida, discordam sobre como lidar com a crise.
O partido de esquerda radical França Insubmissa já disse que apresentará uma moção de desconfiança a Lecornu o mais breve possível.
No entanto, essa moção precisaria do apoio de outros partidos para ser aprovada. Atualmente, o maior partido parlamentar – o de extrema direita União Nacional – afirmou que "ouviria o que Lecornu tivesse a dizer", embora "sem muitas ilusões".
Em um breve discurso após a transferência de poder na residência do primeiro-ministro, Lecornu agradeceu a Bayrou por seu trabalho e prometeu ao povo francês: "Chegaremos lá".
"A instabilidade e a crise política que atravessamos exigem sobriedade e humildade", disse Lecornu.
"Teremos que ser mais criativos e mais sérios na forma como trabalhamos com a oposição", acrescentou, antes de anunciar que iniciaria imediatamente conversas com partidos políticos e sindicatos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário