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sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Os 'robôs' com armadilhas explosivas de Israel que aterrorizam moradores de Gaza.

 

Explosão atinge área da Cidade de Gaza no último dia 5 de setembro

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Moradores dizem que impacto é mais devastador do que o de ataques aéreos
    • Author,Adnan El-Bursh
    • Role,BBC Arabic
    • Author,Marwa Gamal
    • Role,BBC Arabic

"Veículos militares antigos são transformados em bombas móveis, colocados em bairros residenciais e detonados remotamente para demolir prédios inteiros, destruindo pessoas ao redor em segundos."

Foi assim que Alam al-Ghoul, que vive na Cidade de Gaza, descreveu o que moradores daquela região chamam de "robôs com armadilhas explosivas".

Moradores afirmam que é a primeira vez que veem esse tipo de arma nos anos de guerra que enfrentam, que os ataques com esses robôs estão se tornando mais frequentes e que seu impacto é mais devastador do que o de ataques aéreos.

"Esses robôs podem ser tanques antigos ou veículos blindados de transporte pessoal que não servem mais para esse propósito. Eles os pegam, enchem de explosivos e lançam nas ruas, controlando-os remotamente", explicou Ghoul à BBC.

Ghoul, que ocasionalmente se voluntaria para ajudar a recuperar os corpos de vítimas da guerra em Gaza, disse que "minutos depois de se posicionarem na área que tem como alvo, ocorre uma enorme explosão. O céu fica vermelho em segundos".

"Se houver pessoas nas proximidades da explosão, nenhum vestígio delas será encontrado. Até mesmo seus restos mortais estão espalhados, e não conseguimos encontrá-los intactos", explica.

Os edifícios são completamente destruídos ou esvaziados, dependendo da proximidade com a explosão, deixando a área livre para as forças israelenses "como se fosse uma operação de varredura", acrescentou Ghoul.

Ele testemunhou os efeitos da destruição e disse à BBC que "famílias inteiras foram dizimadas".

"As famílias estavam em suas casas quando o 'robô' explodiu, e suas casas desabaram sobre elas. Algumas ainda estão sob os escombros em bairros como Al-Zaytoun, Seikh Radwan e Jabalia", afirmou.

O Gabinete de Imprensa do governo de Gaza, administrado pelo Hamas, declarou que os militares israelenses estão conduzindo uma operação militar na Cidade de Gaza desde 13 de agosto, matando mais de 1.200 pessoas e ferindo mais de 6.000, de acordo com estatísticas divulgadas pelas autoridades de saúde e oficiais da Faixa de Gaza.

Nessa declaração, o Hamas diz que as operações militares incluem bombardeios aéreos intensivos com mais de 70 ataques aéreos diretos por aviões de guerra, além da detonação de mais de 100 robôs explosivos em áreas povoadas, causando deslocamento forçado generalizado.

Rua na Cidade de Gaza que está coberta de escombros

Crédito,Anadolu via Getty Images

Legenda da foto,'Mesmo a 100 metros de distância, pessoas morreram devido à pressão da explosão e à asfixia', relatou moradora

O Exército israelense está realizando um ataque intenso à Cidade de Gaza, com a mídia israelense relatando explosões tão poderosas que podem ser sentidas em Tel Aviv, a cerca de 70 km de distância.

O serviço árabe da BBC contatou o tenente-coronel Avichay Adraee, porta-voz militar das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), para comentar as alegações de que os militares usaram essas armas contra civis.

"Não discutimos métodos operacionais, mas posso dizer que usamos vários meios — alguns altamente inovadores e usados pela primeira vez — para atingir nossos objetivos, eliminando terroristas do Hamas e protegendo soldados e civis israelenses", disse Adraee à BBC.

Uma enorme coluna de fumaça sobe após uma explosão durante uma operação do exército israelense na Cidade de Gaza.

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Algumas explosões na Cidade de Gaza são tão fortes que podem ser sentidas em lugares de Israel a dezenas de quilômetros de distância

Explosão devastadora

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Nidal Fawzi, outro morador da Cidade de Gaza, questionou se Gaza havia se tornado um campo de testes para armas israelenses, observando que os robôs "semeiam o terror, especialmente entre mulheres e crianças, e forçam as pessoas a fugir".

Ele disse à BBC que viu essas armas em ação durante uma operação militar.

"Era meia-noite. Vi um enorme 'robô' retangular sendo puxado por um veículo militar. Eles o deixaram perto de um muro e foram embora no veículo. Gritei para minha família sair imediatamente. Minutos depois de fugirmos, houve uma explosão como eu nunca tinha visto antes."

Fawzi descreveu a explosão como devastadora:

"Em Al-Zaytoun, vi corpos reduzidos a pequenos fragmentos. Mesmo a 100 metros de distância, pessoas morreram devido à pressão da explosão e à asfixia. Esta é a arma mais aterrorizante que já vimos nesta guerra."

Os moradores que fugiram antes da explosão "estavam apenas pensando em sair", tentando escapar do "monstro de ferro explosivo", lembra Fawzi.

Um homem e algumas crianças estão sentados nos cômodos expostos de um prédio severamente destruído. Toda a fachada do edifício desabou, deixando o interior de quatro cômodos visível, com destroços espalhados por toda parte.

Crédito,AFP via Getty Images

Legenda da foto,Exército israelense ordenou que os palestinos evacuassem a Cidade de Gaza, mas um grande número de pessoas permanece

Reduzir o custo do confronto militar

O professor Hani al-Basous, especialista em segurança da Academia Joaan Bin Jasim de Estudos de Defesa, no Catar (Joaan Bin Jassim Academy for Defense Studies, em inglês), que trabalhou anteriormente na Faixa de Gaza, disse à BBC que os militares israelenses usam esses veículos explosivos controlados remotamente para destruir áreas residenciais, túneis e grandes edifícios sem intervenção direta.

Segundo ele, o objetivo é "reduzir o custo do engajamento militar e evitar baixas israelenses".

Al-Basous observou que os veículos carregam grandes quantidades de explosivos e têm sido empregados em túneis e blocos residenciais, provocando explosões enormes.

Karem al-Gharabli, outro morador de Gaza, disse à BBC que presenciou a arma em ação em abril de 2025, durante um ataque israelense a um prédio residencial de vários andares no leste da Cidade de Gaza.

"Eu estava a cerca de 400 metros da explosão, mas todos os estilhaços e pedras atingiram nossa casa", relatou Gharabli.

"O céu ficou vermelho e a luz era ofuscante. Foi assustador", acrescentou.

O diretor-geral do Ministério da Saúde Palestino, Munir al-Bursh, afirmou que os militares israelenses dependem diariamente de "robôs" explosivos na Cidade de Gaza. Segundo ele, trata-se de "uma tática que representa uma ameaça direta aos civis e piora a catástrofe humanitária".

Al-Bursh disse que cada um deles carrega até sete toneladas de explosivos e que há entre sete e dez detonações diárias, forçando deslocamentos em massa e aumentando a densidade populacional no oeste de Gaza para até 60.000 pessoas por quilômetro quadrado (a cidade de São Paulo, por exemplo, tem uma densidade demográfica de cerca de 7.500 habitantes por quilômetro quadrado).

Ele alerta que o uso contínuo desses robôs pode causar "massacres e à destruição total da infraestrutura residencial", especialmente devido à escassez de recursos de resgate e socorro durante o confinamento.

*Devido as condições atuais em Gaza, não foi possível encontrar imagens dos veículos mencionados neste artigo, nem das consequências imediatas de uma explosão. As fotos neste artigo foram tiradas após um dos mais recentes ataques israelenses à Cidade de Gaza.


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