1. " Estado de Sítio" segundo Giorgio Agamben
Para o filósofo italiano Giorgio Agamben, o "estado de exceção" (ou "estado de sítio") tornou-se a regra. Não se trata de uma ditadura clássica, mas de um mecanismo pelo qual os governos suspendem garantias legais e direitos fundamentais em nome de uma "emergência permanente" (seja ela terrorismo, crise econômica, pandemia, fluxo migratório).
Como a maioria é excluída? Neste modelo, o cidadão é reduzido a "vida nua" (homo sacer) – uma vida que pode ser controlada, vigiada, confinada e abandonada pelo poder sem que isso constitua um crime. A maioria da população é excluída do poder real de decisão sobre suas próprias vidas, tornando-se objeto de gestão e controle por parte de um poder soberano que decide quem é incluído e quem é excluído da proteção da lei.
2. Concentração de Renda (Thomas Piketty)
Thomas Piketty, em "O Capital no Século XXI", demonstra que a taxa de retorno do capital (r) tem sido historicamente maior que a taxa de crescimento econômico (g) (r > g). Isso significa que a riqueza herdada cresce mais rápido que a economia como um todo, levando a uma concentração extrema.
Números (Dados pré-pandemia e atualizados):
1% mais rico da população global capturou 38% de toda a nova riqueza gerada desde 1995, enquanto os 50% mais pobres se beneficiaram de apenas 2%.
Em 2022, o 1% mais rico detinha 45,8% de toda a riqueza financeira global.
Os 10% mais ricos detêm 76% da riqueza global.
A pandemia exacerbou isso: os 10 homens mais ricos do mundo dobraram suas fortunas, enquanto 99% da humanidade ficou mais pobre (Oxfam, 2022).
3. Concentração no Uso de Recursos Naturais e Mudanças Climáticas
Recursos Naturais: O 10% mais rico da população global (cerca de 800 milhões de pessoas) é responsável por 52% das emissões de carbono acumuladas. Os 50% mais pobres (cerca de 4 bilhões de pessoas) são responsáveis por apenas 7%.
Maiores Responsáveis pelas Mudanças Climáticas:
Países Industrializados: Historicamente, os EUA e a Europa são responsáveis pela maior parte das emissões acumuladas desde a Revolução Industrial.
Corporações: Um relatório de 2017 identificou que apenas 100 empresas (a maioria produtoras de combustíveis fósseis como Exxon, Shell, BP, Chevron) são responsáveis por 71% de todas as emissões industriais globais desde 1988.
Classe de Consumo Global: O estilo de vida de alta emissão (voos frequentes, grandes carros, consumo excessivo) é concentrado no topo da pirâmide social global, independente do país.
4. Concentração de Capital Intelectual e Técnico
Maior número de médicos, engenheiros e formados: A China forma anualmente o maior número absoluto de graduados em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e médicos do mundo, reflexo de sua população enorme e investimento massivo em educação superior. Os EUA e a União Europeia ainda lideram em qualidade e impacto de pesquisa em muitas áreas de ponta, mas a China está fechando a lacuta rapidamente.
5. Concentração de Poder Econômico e Corporativo
Quem controla as multinacionais e fundos? O controle é exercido por uma rede extremamente concentrada de:
Grandes Fundos de Investimento: Empresas como BlackRock, Vanguard, State Street são os maiores acionistas da vasta maioria das corporações globais. Sozinhos, eles administram trilhões de dólares e são acionistas majoritários um do outro, formando uma rede de poder oligopolista.
Acionistas Majoritários e Famílias Bilionárias: Famílias como Walton (Walmart), Bezos (Amazon), Musk (Tesla, SpaceX), e os controladores de conglomerados como a Alphabet (Google) e Meta (Facebook) têm um poder de decisão descomunal sobre a economia global.
6. Pesquisa, Inovação e Patentes: O controle é majoritariamente de grandes corporações (Pfizer, etc.) e de países desenvolvidos (EUA, Japão, Alemanha, Coreia do Sul, China). Eles detêm a vasta maioria das patentes e direcionam a inovação para áreas lucrativas, nem sempre para as de maior necessidade social.
Mídias Globais: Controladas por um pequeno número de conglomerados e bilionários. Exemplos: News Corp (Rupert Murdoch), Comcast (NBCUniversal), Disney, Warner Bros. Discovery, Paramount Global,
e gigantes digitais como Meta e Google (YouTube). Eles moldam a narrativa global.
8. Maiores Exércitos:
EUA: Orçamento militar maior que os 10 países seguintes somados (~$877 bi em 2023).
China: Exército mais numeroso e orçamento em rápido crescimento.
Rússia, Índia, Arábia Saudita, etc. O poder militar é a expressão máxima da soberania estatal e está concentrado em poucas nações.
Os números são chocantes e mostram o outro lado da concentração de riqueza:
Fome: Mais de 735 milhões de pessoas enfrentaram fome crônica em 2022 (ONU).
Pobreza Extrema: Cerca de 700 milhões de pessoas vivem com menos de $2,15 por dia (linha de pobreza extrema do Banco Mundial).
Mortalidade Preventável: Milhões ainda morrem por doenças evitáveis, falta de água potável e saneamento.
Crianças sem lar / Refugiados:
108,4 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar à força no mundo até 2023 (ACNUR) – é um recorde histórico.
Deste total, 43,3 milhões são crianças.
Estima-se que 140 milhões de crianças no mundo sejam órfãs.
Conclusão Síntese: Quem Manda?
A resposta para a pergunta "quem manda?" é um sistema interligado composto por:
Uma Elite Econômica Transnacional: O 0,1% mais rico, acionistas e CEOs de megacorporações e fundos de investimento.
Países do Norte Global: Principalmente EUA e membros do G7, que comandam instituições financeiras internacionais (FMI, Banco Mundial) e têm poder militar desproporcional.
Redes de Poder: Uma teia onde grandes corporações, fundos de investimento, governos de nações poderosas e conglomerados de mídia se interligam, definindo as regras do jogo econômico e político.
Este sistema, conforme explicado por Agamben, Piketty e outros críticos, opera em um "estado de exceção" permanente, onde as regras são suspensas para beneficiar a acumulação de capital e o controle social, gerando uma exclusão massiva que se reflete nos números dramáticos da fome, pobreza e deslocamento forçado. A riqueza extrema de uns poucos é a outra face da mesma moeda da miséria extrema de bilhões.
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