SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

domingo, 4 de setembro de 2022

Blob': a extraordinária criatura que nos obriga a questionar se somos a espécie mais inteligente

 


'Blob': a extraordinária criatura que nos obriga a questionar se somos a espécie mais inteligente

•          Becky Ripley e Emily Knight 

•          BBC, série NatureBang *

31 agosto 2022

CRÉDITO, RONALD GRANT

 

Uma criatura amarela que mora na floresta e não tem cérebro, mas é capaz de pensar

Que tal começarmos com um teste rápido.

Você está perdido em uma enorme loja que parece um labirinto e não sabe como sair dela. A quem você pede ajuda?

Pergunta 2: Você está redigindo um documento de política para assessorar o governo dos Estados Unidos sobre como governar suas fronteiras nacionais. Onde você procura conselhos?

Última pergunta: Você precisa desenhar um mapa da teia cósmica, como você faz isso?

Existem, é claro, várias respostas para essas perguntas, mas em todos os casos você poderia ser inspirado por um organismo: o bolor limoso, que também pode ser conhecido por muitos nomes diferentes.

 

Sendo cientificamente preciso ele não é exatamente um bolor... 

 

"O bolor é uma divisão do mundo dos fungos, mas o bolor limoso é na verdade um protista (não é um animal, planta ou fungo) - é essencialmente uma célula gigante", diz o biólogo Merlin Sheldrake, autor do livro Entangled Life, que aborda o tema.

O bolor limoso é um plasmódio, ou seja, uma célula que contém muitos núcleos. Então, ao contrário da maioria dos organismos unicelulares, você não precisa de um microscópio para vê-lo.

E essa única célula é capaz de tecer vastas redes exploratórias feitas de tentáculos semelhantes a veias que podem se estender até um metro.

A estrela entre todos

Existem cerca de 900 espécies de bolor limoso, mas vamos nos concentrar no Physarum Polycephalum, que literalmente quer dizer "bolor de várias cabeças". Ele também é conhecido como "blob" (referindo-se ao clássico filme de 1958 The Blob).

 

Clássico filme The Blob serviu de inspiração para nomear popularmente o bolor limoso

Por que os cientistas do mundo estão tão empolgados com essa espécie em particular?

"Ele se tornou um organismo emblemático de resolução de problemas. É fácil de cultivar e cresce rápido, o que é uma das razões pelas quais tem sido tão bem estudado", explica Sheldrake.

"Mas acima de tudo, seus comportamentos são extraordinários."

Ele pode fazer todos os tipos de coisas.

"Explorar, resolver problemas, adaptar-se a novas situações, tomar decisões entre cursos alternativos de ação - e tudo sem cérebro!"

Como ele faz isso?

"O Physarum é sensível ao gradiente químico, então pode crescer em direção a sinais químicos ou ficar longe dos pouco atraentes".

"Primeiro, ele tende a crescer em todas as direções ao mesmo tempo. E então, quando encontra comida, ele se retrai e forma as conexões entre suas fontes de alimento."

É um pouco como se você estivesse no deserto e precisasse procurar água. Você tem que escolher apenas uma direção para caminhar.

O Physarum Polycephalum pode "andar" em todas as direções ao mesmo tempo até encontrar alimentos; depois encolhe os ramos que não encontraram nada e fortalece os que encontraram, através de uma série de contrações químicas.

 

Em um experimento memorável, "blob" aprendeu a "ignorar" os químicos colocados para bloquear seu caminho para a comida. Esse comportamento sugere uma forma primitiva de memória, e ninguém sabe como ela realiza essa façanha

"Nunca deixa de me surpreender que eles possam usar essas contrações para fazer esse tipo de cálculo analógico, para integrar informações sem precisar de um cérebro. Que sua coordenação ocorra em todos os lugares ao mesmo tempo e em nenhum lugar em particular."

 

Uma rede ferroviária no Japão

 

Tudo isso significa que o "blob" é capaz, em termos humanos, de resolver problemas, fazer redes, navegar em sistemas e labirintos com uma eficiência incrível.

Há um estudo japonês icônico de 2010, quando o Physarum traçou a rede ferroviária da Grande Tóquio, e para isso precisou somente de uma pequena placa de Petri e um punhado de aveia.

Segundo os estudos, o Physarum adora aveia, é a sua comida preferida.

"Então, eles modelaram a área da Grande Tóquio colocando copos de aveia nos centros urbanos e depois o lançaram. Ao longo de algumas horas, havia formado uma rede eficiente que conectava os copos de aveia, e essa rede parecia muito com a rede de metrô existente na área da Grande Tóquio", detalha o estudo.

O Physarum havia estabelecido, em questão de horas, uma rede eficaz que levou décadas para ser feita na vida real.

 

Após o estudo de Tóquio, experimentos com Physarum Polycephalum decolaram em todo o mundo, para projetar novas redes de transporte urbano ou encontrar rotas eficazes de evacuação de incêndio, até mesmo mapear a teia cósmica... o que parece estranho, mas ocorreu.

Uma equipe de cientistas fez uma simulação digital traçando as localizações das 37.000 galáxias conhecidas.

Então, um algoritmo inspirado no "blob", adaptado da placa de Petri para trabalhar em três dimensões, foi liberado em um banquete virtual onde as galáxias estavam representadas por pilhas de copos de aveia digital, por assim dizer.

A partir daí, o algoritmo produziu um mapa digital em 3D da teia cósmica subjacente, visualizando os fios em grande parte invisíveis de matéria que os astrofísicos acreditam que unem as galáxias do universo.

Eles compararam com dados do Telescópio Espacial Hubble, que detecta traços da teia cósmica, e descobriram que tudo combinava em grande parte.

Portanto, parece haver uma estranha semelhança entre as duas redes, a rede de "blob" formada pela evolução biológica e as de estruturas no cosmos criadas pela força primordial da gravidade.

 

Os astronômos apelaram à criatividade ao tentar rastrear a indescrítivel teia cósmica, a coluna vertebral do cosmos. As imagens mostram algumas das galáxias das quais o "blob" se "alimentou" (representadas em amarelo) e os fios de conexão da rede cósmica (roxo) sobrepostos

 

Os "blobs" acadêmicos

 

Vamos voltar para a dura realidade daquele pequeno ponto azul no espaço que é o nosso mundo.

O Physarum também pode nos ajudar com problemas que vão além do mapeamento e da criação de redes, como para coisas humanas mais complexas, como formulação de políticas e governança.

"De certa forma, os Physarum são economistas, em termos de alcançar um ótimo universo", diz o filósofo experimental Jonathon Keats.

Em 2018, ele foi ao Hampshire College, em Massachusetts, EUA, com uma ideia.

"Propus que os "blobs" fossem nomeados como professores visitantes, com a ideia de ter um grupo desses especialistas no campus para refletir sobre alguns dos problemas mais desafiadores do mundo."

Foi o primeiro programa acadêmico do mundo para uma espécie não humana e foi chamado de Consórcio Plasmodium.

 

Os polycephalies de Physarum se tornaram estudiosos, com direito a escritório.

"Não tem janelas, mas os "blobs" não gostam muito de luz, então do ponto de vista deles foi bom, e logo que eles se instalaram lá, pudemos começar."

Eles modelaram os problemas humanos de maneira que os blobs pudessem "entendê-los" para obter sua perspectiva imparcial.

"Os Physarum são superorganismos: eles são um apesar de serem muitos. Portanto, eles são mais objetivos do que nós quando se trata de assuntos humanos."

Eles começaram com as questões usuais de rede e mapeamento, distribuição e transporte, antes de passar para algumas preocupações políticas maiores, "desde políticas de drogas até questões de nosso uso de recursos", observa Keats.

 

O muro de Trump

 

Talvez os experimentos mais polêmicos tenham sido aqueles que exploraram a política de fronteira internacional.

"Criamos um mundo simplificado, que é realmente o que qualquer um faz quando está criando qualquer tipo de modelo (os economistas fazem isso o tempo todo)."

"O que fizemos foi pegar uma das condições mais fundamentais: um lugar tem alguma coisa, outro lugar tem outra coisa, e cada lugar quer proteger o que tem contra o outro.

 

O "blob" com seu prato preferido: aveia

Eles usaram dois recursos essenciais para os "blobs", proteína e açúcar, e os espalharam em uma placa de Petri, cada um em um lado oposto, e tentaram com uma parede entre eles e também sem ela, deixando Physarum descobrir o que fazer com esses recursos.

"Eles não apenas sobreviveram, mas prosperaram no caso de não haver muro e floresceram mais na área de fronteira", explica o pesquisador.

"Então escrevemos uma carta para Kirstjen Nielsen, que era a Secretária de Segurança Nacional nos EUA na época, e também enviamos para as Nações Unidas e muitos outros órgãos governamentais, dizendo a eles que as fronteiras não são uma boa ideia e que devemos superar o medo para reconhecer como ter fronteiras abertas beneficia a todos."

 

Absurdo?

 

É claro que esses problemas internacionais multifacetados não podem ser reduzidos a algumas poucas placas de Petri.

Mas o ponto é que esses experimentos são deliberadamente exagerados para nos desafiar a pensar de novas maneiras.

"O consórcio Plasmodium é, em certo sentido, absurdo. As pessoas riem quando ouvem que os "blobs" montaram um grupo de especialistas em colaboração com humanos em uma universidade nos Estados Unidos porque simplesmente não é assim que as coisas são feitas."

Mas acho que também há algo muito sério por trás disso. O Physarum têm uma inteligência excepcional, então precisamos incorporar algumas das ideias que obtemos ao observar como eles se comportam, pensando em nós mesmos de maneiras que não tínhamos feito antes", declara o pesquisador.

Esse é o aspecto mais atraente de tudo isso. Que um organismo sem cérebro pode nos ensinar a ser mais objetivos, a pensar mais a longo prazo, e que pode abordar um problema de uma maneira que simplesmente não pensaríamos.

E no caso de alguns enigmas, como mapear o cosmos, pode ser mais rápido do que a gente.

Tudo isso põe em dúvida nossas definições humanas de inteligência.

 

Do fundo de nossas hierarquias, Physarum é considerado um desafio que tem sido cada vez mais estudado

"Nossa visão hierárquica da inteligência com humanos no topo da Grande Pirâmide revela o narcisismo de nossa espécie", afirma Sheldrake.

"Pensar sobre o mundo sem usar a nós mesmos como o padrão pelo qual todos os outros seres vivos devem ser julgados pode ajudar a amortecer algumas das hierarquias que sustentam o pensamento moderno", completa.

Essas hierarquias significam que nós, Homo sapiens, temos uma opinião incrivelmente alta de nós mesmos, e isso tem nos ajudado a chegar longe. 

Mas talvez isso já tenha cumprido o seu propósito.

"Acho que nós, humanos, temos a necessidade de acreditar em um tipo de superioridade. Essa alta autoestima tem sido o motor da dominação. Temos sido capazes de fazer mais e isso é um resultado de acreditar que podemos mais", aponta Keats. .

"Mas estamos chegando a um limite, ao ponto em que essa forma de pensar está piorando o mundo para nós e para outras espécies. Então é hora de repensar."

E um catalisador para esse repensar é o Physarum Polycephalum, um protista de uma única célula sem cérebro que fica na parte inferior dessa hierarquia, de onde pode abalar todo o sistema.

 

Este artigo é baseado no episódio "Slime mould and Problem solving" da série NatureBang da BBC. Se quiser escutá-lo, clique aqui.

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62703311

 

domingo, 28 de agosto de 2022

Pandemia antecipa redução da população




Agência O Globo

| 28/08/2022 07:28


A população vai envelhecer e diminuir antes que tenhamos chegado a um padrão de bem-estar social elevado e ao futuro promissor esperado. A pandemia deixou sua marca, com quase 700 mil mortos, antecipando a redução populacional para o fim desta década, nos cálculos da pesquisadora Ana Amélia Camarano, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. 


Pelas estimativas anteriores, esse encolhimento só aconteceria na segunda metade da década de 2030. E essa população menor estará mais velha: um em cada quatro brasileiros terá 60 anos ou mais em 2040. 


A gigante parcela de mão de obra jovem que marcou o Brasil durante as últimas décadas vai diminuir em todo o país, inclusive no Norte, a mais jovem das regiões. Daqui a 20 anos, não teremos conseguido erradicar a miséria, ter a totalidade dos adolescentes no ensino médio ou superior e seguiremos como um dos países mais desiguais do mundo.


Longe da OCDE 

Especialistas que fizeram as previsões para o Brasil daqui a 20 anos, tomando por base o desempenho nas últimas décadas, alertam que, se não acelerarmos o investimento em educação e no combate à desigualdade, continuaremos com mazelas há muito superadas no mundo desenvolvido, tendo que aumentar recursos para saúde, já que teremos 26,5 milhões de pessoas com 70 anos ou mais em 2040. 

"Com mão de obra menor, ela precisa ser altamente qualificada e ter investimento em inovação e desenvolvimento tecnológico, para aumentar a produtividade, para compensar", afirma Ana Amélia.

 

Ter mão de obra mais bem formada, com salários mais altos, ajudaria no financiamento da Previdência Social, uma questão crucial quando 25,7% da população terá 60 anos ou mais, diz Ana Amélia. Atualmente, para se aposentar, as mulheres precisam ter 62 anos e os homens, 65 anos:


"Já que teremos menos gente demandando educação, é possível melhorar a qualidade. E não é só isso. As crianças que estão nascendo são, em sua maioria, de famílias pobres. Tem que investir em saúde e nutrição, focar nessas crianças. E atacar a mortalidade alta de jovens e jovens negros. Estamos perdendo população jovem porque não está nascendo e pela morte precoce


A população vai diminuir porque as mulheres passaram a ter menos filhos. Entre 1940 e 1960, elas tinham em média 6,2 filhos, hoje têm 1,7 filho. 


Desde 2000, a taxa de natalidade está abaixo do que seria necessário para repor a população, que é de 2,1 filhos por mulher. Na pandemia, houve menos nascimentos, e a mortalidade materna foi sete vezes maior que a média mundial.


Na educação, ainda há uma janela “estreita” de oportunidade para formar essa população jovem que diminui, na visão do economista Ricardo Henriques, colunista do GLOBO e superintendente-executivo do Instituto Unibanco. 


A população em idade escolar vai cair 12%, para 3,3 milhões. O desafio será manter igual nível de investimento público, mesmo com menos alunos: 


"Teremos os desafios de qualquer sociedade que envelhece, mas, além disso, carregando um volume de estudantes com enorme defasagem idade-série, fruto de uma política educacional marcada pela cultura da reprovação. Chegamos tarde ao desafio contemporâneo, não fizemos a transição educacional alinhada com a transição demográfica, perdemos uma janela grande.


A velocidade de melhora que vínhamos tendo antes da pandemia não será suficiente para compensar o tempo perdido —o aprendizado voltou aos níveis próximos a 2008. É preciso acelerar tanto a melhora educacional como diminuir a desigualdade de raça e regional no acesso: 


"Quando subir a barra da aprendizagem, a desigualdade vai tender a aumentar. Tem que incluir todo mundo, se não houver uma estratégia de equidade, com todo mundo indo junto, não vai funcionar. Vamos perder essa galera, que vai ficar num limbo, e o Brasil, um país de segunda linha.


Se mantivermos o orçamento dedicado à educação atualmente, o investimento per capita vai aumentar. Isso é indispensável para o Brasil se aproximar dos indicadores dos países da OCDE (clube dos países ricos). 


O atraso escolar no ensino médio cairia de 26,2% em 2019 para 10,1% em 2042, se os recursos atuais forem mantidos. Se houver aumento de 15% na verba disponível para educação, a taxa cairá para 3,2%, pelos cálculos do instituto. Mas estaremos longe de ter a totalidade dos jovens no ensino médio e superior. Algo que já é realidade na Europa. 


Sem melhorar a educação, a perspectiva de crescimento do Brasil é pequena. Com menos mão de obra, a expansão do PIB virá principalmente do aumento da produtividade. Nesse quesito, o país tem ido mal: está estagnado há décadas.

Por isso, a economista Silvia Matos, da Fundação Getulio Vargas (FGV), calcula que só em 2035 o PIB per capita brasileiro vai voltar aos níveis de 2013, o melhor momento recente. Nas últimas quatro décadas, cresceu 0,7% ao ano. 


"Desde 2018, a população em idade ativa (em idade de trabalhar) cresce abaixo da população. Quando chega em uma estrutura produtiva mais dependente de capital humano cria o gargalo, num país que ainda tem muitas demandas sociais e carga tributária alta", afirma Silvia.


O crescimento ainda pode vir das commodities, “mas quanto tempo isso dura?”, indaga Silvia. Quando só a produtividade leva o país a crescer mais, o que estimula o crescimento é mais diversificação e capital humano.


E como Silvia alertou, o país ainda tem demandas sociais, principalmente depois da pandemia, com o aumento da pobreza e a fome atingindo 33 milhões de brasileiros. 
Nossa performance anterior não garante a erradicação da pobreza nos próximos 20 anos, indicam as projeções. Nas contas do economista Daniel Duque, da FGV, a miséria, caracterizada por ganhos de até US$ 1,90 por dia por pessoa, vai oscilar entre 6% e 8% da população, mesmo patamar registrado entre 2016 e 2021: 


— Houve uma desaceleração na queda da pobreza em relação ao período de 2006 e 2014. O orçamento em termos reais do Bolsa Família caiu, com perda muito forte de orçamento, e a inflação continuou crescendo. A renda dos mais pobres depende muito dessa política. E o mercado de trabalho foi muito afetado. 

Sem erradicar miséria 

Se mantivéssemos o ritmo de antes da recessão de 2015 e 2016, essa parcela poderia cair para 3%, diz Duque. E a receita é proteger o orçamento das transferências, gerar emprego e investir em educação.

Mas há uma questão adicional: o mercado de trabalho tem expulsado a mão de obra pouco qualificada.


"Desde a recessão de 2015 e 2016, vemos uma hostilidade no mercado de trabalho aos mais vulneráveis, eles perderam a conexão. Totalmente na contramão dos anos 2000, quando se gerou muito emprego formal", analisa o sociólogo Pedro Ferreira de Souza.


Não será em 20 anos que a desigualdade vai alcançar o níveis de países desenvolvidos. O Índice de Gini (que mede concentração de renda e quanto mais perto de 1, mais desigual) vai cair do atual 0,54 para 0,48 em 2042, diz Duque. Ainda assim, acima do dos EUA hoje (0,40), o mais desigual entre os países desenvolvidos.


"Não tenho ilusões. É tema sensível e claro, mas o combate à pobreza tem mais consenso da urgência. Não acredito que daqui a 20 anos, chegaremos ao nível europeu (0,3). É trabalho de mais de uma geração", diz Souza.

 

sábado, 27 de agosto de 2022

Shakespeare e Chaplin ressuscitam para reescrever as narrativas politicas do Coronel Ciro Gomes e da Oligarquia Cearense.



Hoje eu fiquei preocupado quando vi Acylon, Prefeito do Eusébio, aliado dos Coronéis Ferreira Gomes há quase 30 anos, falar sozinho no programa eleitoral do PL, o partido do Bolsonaro, será que ele virou facista? Tive que encontrar um jeito de ressuscitar Shakespeare para reescrever Macbeth misturado com Sonhos de uma noite de verão, juntar uma tragédia com uma comédia. Afinal as Narrativas das oligarquias para se manter no poder há qualquer preço, jogando moedas para todos os lados, formando uma carteira de investimento para reduzir riscos, está cada dia mais engraçada para não dizer ridícula. 

Ao mesmo tempo dois irmãos do Coronel Ciro Gomes que a nível nacional é oposição ao PT para tentar evitar a eleição de Lula no primeiro turno, tem dois irmãos seus o Senador Cid Gomes e o Prefeito de Sobral Ivo Gomes, que apoiam os candidatos do PT ao Senado Camilo Santana Gomes e ao Governo do Estado no Ceara. Até Gabriel Marques ficaria surpreendido com o realismo fantástico da narrativa da oligarquia cearense há décadas no poder passando por nove partidos da Ditadura até hoje. 

Gabriel Garcia Marquez teria vergonha de contar a história e o imaginário da America Latina pela pobreza de espirito e riqueza de poder e dinheiro de nossos tristes coronéis. É como se Adam Smith vira Marx e vice-versa, nem precisavam ter nascido para escrever a história, afinal água vira óleo e óleo vira água. Nem a química e a física precisa existir, não faz diferença a ciência, apenas tudo vira uma eterna porra maluquice de loucos e comediantes. Eles usam as vidas e mortes de milhões de cearenses, vivem do Estado e fundos eleitorais para se manter no poder sempre. Até o bobo da corte de Shakespeare pediu demissão. Porém milhares de bobos da corte da nobreza cearense e brasileira vivem no fantástico mundo de fake news, fake história e fake lideres da Oligarquia cearense no mundo imaginário de Dr. Parnassus. Os ratos não importa se direita ou esquerda são os primeiros a abandonar o barco.


 

O hospício político cearense que de loucos não tem nada consegue fazer da prostituição política e mentiras um meio de vida. Porém, repare bem falam em Democracia, povo brasileiro e ética. Rezam todos os dias para São Maquiavel para dividir e eliminar os inimigos, perseguem quem pensa diferente e inviabiliza a Democracia com a Ditadura da corrupção sem fiscalização, sem lei e com incentivos fiscais para empresários bilionários com campanhas milionárias. As prostitutas que vendem seus corpos muitas vezes para estudar ou sustentar sus famílias, que não roubam dinheiro público, ou assaltantes que roubam para comer são mais dignos que muitos políticos. Até pedi para Salvador Dali representar o que o poder tem haver com desejo sexual e luxúria? Só que quando olham para o mercado de votos, a miséria do povo, a velhice massacrada, as mortes pela violência e inocência das crianças talvez brochem ou delirem negando a realidade ?


 

O mundo sempre foi um circo sem igual mas a arte é a única linguagem que não depende da matéria para se expressar e falar com o espirito segundo Deleuze. Shakespeare com suas peças de teatro ou Brecht mudaram a politica talvez mais do que Maquiavel. Sim, existe disputa de poder e guerras mas elas ainda não destruíram a estética, a ética e a luta por justiça social. Apesar de todas as narrativas das oligarquias cearenses como do Coronel Ciro Gomes ainda não apagam a historia e a ciência, apesar que tentam com campanhas milionárias, mentiras, mudanças de partidos e narrativas para inglês e baianos como ACM ver. Ciro ainda tentou obrigar Lula a apoia-lo baseado na sua longa tradição de pesquisa, estudo e projeto de desenvolvimento de como famílias ou juniores se perpetuam no poder trocando moedas entre os poderes.




Chaplin deveria ressuscitar para regravar o dono do mundo e pronunciar o último discurso e ao invés de Hitler será um Coronel matando e deixando metade do povo que tanta ama na miséria e vivendo na violência durante décadas, se reelegendo com promessas que nunca cumpre, elegendo parentes e famílias aliadas, e toda eleição dizendo que a última que vai concorrer como a ultima passada em Paris.  


 

Porém em algumas obras como Donos do Poder de Raymundo Faoro, Casa Grande, e o Quinze de Rachel de Queiroz. O Coronel Ciro e as oligarquias atuam em seus papeis reais vivendo da seca, escravidão, e miséria do povo cearense enquanto representa em entrevistas e programas eleitorais narrativas tristes e ridículas.   


Oh! saudades do Chico Anysio e Jô Soares para dizer verdades politicas pela arte. 



Enquanto isso vamos ler 
Irmãos Karamazov...



Vamos celebrar o horror
De tudo isso com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção

Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha, que o que vem é perfeição




terça-feira, 23 de agosto de 2022

SOMOS CANDIDATOS A MUDAR O MUNDO! MULHERES DE ATENAS SALVEM O BRASIL!



Gostar de pobres por questões religiosas, inspirado em São Francisco de Assis, é diferente de lutar com os pobres para chegar ao poder; e nenhuma dessas duas é minha vida. Minha escolha é entre seres livres e iguais em seus direitos, nos educamos juntos para lutar, construir e amar a democracia, cidadania e economia que permite a essa e as futuras gerações viver existências belas, boas, justas, equitativas e economicamente ambientalmente sustentáveis. Portanto somos candidatos a mudar o mundo não apenas a ser político e buscar o poder a qualquer preço.



Relembrando minhas escolhas de vida, nunca optei por ficar refém de um grupo político visando o poder. A lógica nesses espaços é calar a boca para os erros e corrupções do grupo que faz parte e atacar os inimigos que cometem os mesmos crimes por exemplo de corrupção. Por isso fui expulso duas vezes de partido denunciando corrupção no partido que fazia parte. Os partidos tem donos no Brasil portanto não tem democracia. O que eles cobram externamente não serve para uso interno. Levei tempo para entender isso que militantes babam políticos em troca de favores da mesma forma em Universidades, os estudantes babam professores para acessar o mestrado. A lógica do favor e da nobreza impera no Brasil sem instituições sem regras nem lei.  


https://exame.com/carreira/empreendedores-de-sonhos-m0042479/


 

Resolvi caminhar estudando de forma interdisciplinar diversos caminhos que impactam vidas e cidades, criando e empreendendo projetos e organizações que dessem vida a essas ideias, e dialogando com vários setores sobre suas viabilidades. Essa jornada é diferente de um projeto religioso ou político, pois visamos ser um projeto de sociedade que muda vidas e cidades pela educação. Obviamente isso impacta o debate de políticas públicas. 



Lendo os programas de governos de Bolsonaro, Lula, Simone e o livro de Ciro assim como os Planos ao Governo do Ceará de Wagner, Roberto e Elmano observamos que muito se foca nas consequências, exclui de diversas formas, a maioria da população e as brutalidades e desigualdades que sofrem, isso em parte porque teriam que admitir o que nunca fizeram, assim como evitam falar de privilégios porque atacaram quem financiam suas campanhas. Porém nenhum país desenvolvido como Canadá, Japão e Alemanha mesmo destruído por guerras não alcançaram seus patamares econômicos nem de qualidade de vida sem olhar sua realidade de forma dura, planejar e agir para superar seus desafios coletivos.


 

Portanto vejo pouca participação, humildade e escuta dos políticos em relação a construção conjunta dos planos de governos principalmente sobre sinergias e complementaridades entre governos, empresas, universidades, fundações, comunidades e outros como ocorre em diversos países. Além da brutal exclusão das mulheres, negros, pobres e de suas vozes nos planos de Governos. O corredor entre sociedade civil e governos é muito estreito, se a sociedade se cala, os políticos tomam conta do dinheiro e escolhem prioridades que são mais sobres seus projetos de poder do que da nação, em especial dos pobres.


 

Mesmo São Cícero que teve sua trajetória de vida marcada pela hóstia que virou sangue, assentamentos que viram cidade como Juazeiro e por caminhadas com os sertanejos pobres até a capital Fortaleza, realizou um pacto com as Oligarquias e elites cearenses visando expulsar o interventor do Governo Federal do Ceará. Foi eleito prefeito de Juazeiro por vinte anos e Vice Governador, agora vai se tornar São Cícero, o santo dos pobres nordestinos, mas não mudou a pobreza em que vivia e vive seu povo. 


Enquanto isso Mandela e Gandhi lutaram contra apartheid, castas e colonização, e muito mais que políticos e santos lutaram juntos com seu povo e caminharam para mudar sua sociedade, a história e o mundo. 

      


MULHERES DE ATENAS SALVEM O BRASIL!



Necessitamos cada vez mais das mulheres de Atenas sem Ditaduras nem igrejas que impeçam suas vozes. Portanto, embora em toda a música Chico Buarque conclame as pessoas a imitarem o exemplo das mulheres de Atenas, ele está na verdade fazendo uma crítica. Ele está mostrando que, naquele momento, vivíamos em uma sociedade patriarcal em que a mulher não tinha voz nem direitos, onde seus desejos eram anulados.

 

Veja alguns trechos e as ideias que eles transmitem:

 

  • submissão: vivem para os seus maridos, se perfumam, se banham com leite e se arrumam; quando fustigadas não choram: se ajoelham, pedem e imploram; não têm gosto ou vontade, defeitos ou qualidades (despersonalização); têm medo, apenas; não têm sonhos, só tem presságios; MAIS MULHERES NA POLÍTICA. 

 

  • supremacia masculina: os maridos são chamados de “orgulho e raça”, “poder e força”, “bravos guerreiros”, “heróis e amantes” de Atenas; MULHERES NA LIDERANÇA EM TODOS OS LUGARES E INSTITUIÇÕES. 

 

  • atuação exclusivamente doméstica: quando eles embarcam, soldados, elas tecem longos bordados (inclui a noção de futilidade, já que bordado é um “enfeite”); MULHERES COM OS MESMOS SALÁRIOS E DIREITOS EM TODAS AS PROFISSÕES 

 

  • servidão sexual: guardam-se para seus maridos, ficam em quarentena quando eles embarcam, estão à disposição quando retornam, suportam traições; OBVIO! MULHERES DONAS DE SEUS CORPOS 

 

  • procriam para alimentar a guerra: geram para seus maridos os novos filhos de Atenas; MAĒS QUE LUTAM POR SEUS FILHOS VITIMAS DA VIOLÊNCIAS DO TRAFICO, POLÍCIA E MILÍCIAS.  

 

  • sofrem perdas devido à guerra: temem por seus maridos, jovens viúvas marcadas, gestantes abandonadas, vivem o luto, se conformam e se recolhem às suas novenas;

 

Portanto, de forma até irônica, Chico Buarque se refere à sociedade patriarcal. Ele canta o exemplo das mulheres de Atenas mas, na verdade, está criticando um mundo em que não existe direitos iguais para pessoas de gêneros diferentes.

 

Porém, essa é a crítica feita no primeiro plano. Em segundo plano, temos uma ainda mais forte. Esse homem poderoso e autoritário representa também o Estado, a ditadura militar.

 

Veja que ele não fala para as mulheres se inspirarem nas mulheres de Atenas. O convite dele é para todos, não existe um único destinatário.

O que ele diz, com isso, é que a ditadura impunha a todos os brasileiros uma situação semelhante às das atenienses. Os cidadãos eram maltratados e não tinham o direito de chorar, não tinham gosto ou vontades. Seus sonhos haviam dado lugar aos presságios. Como canta na música, “tinham medo, apenas”.




segunda-feira, 15 de agosto de 2022

1600 DIAS SOBRE NOSSA JORNADA EDUCACIONAL EM BUSCA DE SABEDORIA E OS LIMITES DE NOSSA IMAGINAÇÃO EM NOS TORNAR REFÉNS DE VIDAS TRISTES.


 

Uma jornada educacional é também espiritual em busca de descobrir novas verdades e mundos. Chegar a lugares que nunca tinha ido antes e ampliar seu ser e existência por caminhos únicos. Às vezes escolhemos empobrecer nossa história de vida e ficar reféns de lugares conhecidos assim reduzimos nosso potencial e inteligência. Se temos dificuldade de imaginar uma vida alternativa que pode ser envolvente e interessante, é mais reflexo dos limites de nossa imaginação do que a vida em si.

 

As violências e egoísmos são espetáculos que vemos todos os dias e achamos normal. Agora se eu te convidar para uma jornada educacional onde cooperar com outro, lutar e construir juntos um mundo melhor, aprender com vários projetos e experiências que estão transformando o mundo, você mudaria sua visão do mundo? 


 

O que é a razão e evidências para você? Sua ideologia, seus preconceitos, suas dores ou fatos isolados sem um pensamento crítico e complexo capaz de analisar mas também de propor mudanças possíveis na realidade que o cerca? Marchamos para guerra de todos contra todos numa selva de Hobbes ou somos inocentes como Rousseau propôs caminhando sempre para brutais desigualdades? Acho que devemos aprender a caminhar pelo mar enquanto ele abre um caminho para travessia em busca de terras prometidas, mas as capacidades críticas, criativas e sabedoria são necessárias para liderar, imaginar e construir novos caminhos éticos, estéticos, justos e economicamente ambientalmente sustentáveis.

 

Nós nunca seremos iguais mesmo que sejamos ricos no capitalismo ou pobres porque somos únicos e o sistema econômico não nos define. Na verdade, o significado da palavra economia é lei da casa. A economia é resultado de várias questões, entre elas luta política, educação, cultura, tecnologias, saúde como aprendemos na pandemia, meio ambiente como estamos aprendendo nas mudanças climáticas, e valores como amor, esperança, verdade...



Temos aprendido sobre essas questões em nossas jornadas educacionais e de vida? A grande maioria não! Isso tem reduzido nossas escolhas de vidas por nos tornar reféns de prisões que criamos para nossas vidas. Prisões com correntes e grades curriculares, políticas, ambientais, artísticas, sociais e outras que impedem de imaginar outras vidas e outros mundos possíveis. Sim, somos humanos inteligentes, imaginativos, e lúdicos, mas fomos presos por conceitos e práticas educacionais rígidas que dificultam nossa capacidade de nos reinventar e de mudar nossas vidas e os lugares que vivemos.

 

As desigualdades e brutalidades podem ser superadas sem nos tornamos iguais ou perdermos as liberdades mas pelas nossas diferenças atuando em orquestras sociais cada vez mais complexas, humanas e tecnológicas. Esse foi o caminho da diversidade que construiu a nossa natureza, culturas e o mundo que vivemos. Mas estamos prontos a receber críticas de mundos e verdades que não conhecemos? Estamos prontos a conviver com quem é diferente de mim e aprender com ele? E a imaginar e sonhar com eles? Não somos anjos nem demônios, não precisamos de autoritarismo em nossas vidas, nem de guerras, nem de vaidades e ambições delirantes, nem de opressões e brutalidades. Nós precisamos de educação por caminhos éticos que desafie as escolas e as Universidades a ocupar seu lugar na história e fazer as metamorfoses de médio e longo prazo que precisamos como humanidade realizar e não ceder aos instintos neoliberais imediatos. Na língua inglesa as palavras politics, polite e polícia soam quase iguais e derivam da palavra polis. Sim, precisamos de novas formas de dizer, ver, sentir, ser, viver e nos auto governar de um pequeno grão de terra a Terra da sabedoria. 

  


Sim, precisamos de missões educadoras e inspiradoras que gerem múltiplos, diferentes e singulares caminhos para novos personagens e coletivos construírem suas próprias histórias com outras narrativas e usando tecnologias para fins sociais transformando suas vidas e comunidades. Corações sábios, mestres do conhecimento, aqueles que sabem e conhecem a graça e as bênçãos que em hebraico significam gratuitas e dadas por Deus. Ampliar as leis do Direito ou da religião e educar para uma lei interna e secreta do ser e do Universo que nós sabemos que todos temos um papel vital no mundo. A lei oral no judaísmo é também chamada de Cabala e seu único tribunal é Deus. Os segredos do Antigo Testamento na Bíblia revelam o trabalho da criação e o trabalho da carruagem. Trabalhos que derivam da Cabala que significa sabedoria interior do qual depende o trabalho que realizamos no mundo exterior. Sim, precisamos de mística tanto quanto de razão e sentimento para viver unindo o divino e o humano em uma jornada educacional e espiritual. Símbolos, metáforas, conhecimentos, práticas, experiências numa jornada educacional e espiritual em direção a revelação completa da sabedoria de um pequeno grão de terra, a Terra da Sabedoria.



A sabedoria é vista como a forma que Deus criou o mundo em Salomão, "um sopro do poder de Deus, e um reflexo claro da glória do Todo poderoso”. No livro de Enoque Eslavo, Deus comanda sua sabedoria para criar o homem. A sabedoria é aqui o primeiro atributo de Deus a receber forma concreta a partir de uma emanação da glória divina. A nossa jornada educacional e espiritual continua depois de milênios da humanidade em direção a futuros pós humanos. 

 


Lutamos por uma escola de qualidade para todos, que proteja os animais e entenda suas formas de pensar/sentir, temos muito que aprender com eles e talvez os humanos não sejam tão inteligentes como achamos, aprender com a natureza de diversas formas principalmente como se auto governam os ecossistemas, aprender com as novas tecnologias e humanizá-las mas sempre sintonizados com a busca de uma sociedade mais democrática e solidária. Na jornada educacional temos que aprender como tem ocorrido o processo de imposição/expansão do projeto neoliberal que assola o mundo e como ele se manifesta no cotidiano das escolas e Universidades. 


Segundo Michael Apple “ O objetivo é identificar e tornar visível o processo pelo qual o discurso neoliberal produz e cria uma realidade que acaba por tornar impossível pensar e nomear uma outra realidade. Os educadores precisam se posicionar diante do atual contexto. Eles precisam se conscientizar que são trabalhadores culturais envolvidos na produção de uma memória histórica e de sujeitos sociais que criam e recriam o espaço e as vidas sociais.”




 

       

 

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

CARTA PELA DEMOCRACIA DA VERDADE E DA VIDA DE MILHÕES DE BRASILEIROS.



No Brasil não existe problema em ser corrupto, viver de privilégios do Estado como oligarquias e gangues partidários, juros altos como bancos e títulos da dívida pública de vinte mil famílias da elite brasileira. Hoje elas dão o primeiro passo ao assinar a Carta pela democracia depois de muitos deles gestarem Bolsonaros, Coronéis "Ciro Gomes" e diversos Lulas corruptos no Brasil sem lei nem Democracia vivendo no mercado de votos comprados; muitas vezes com fundos eleitorais devido as brutais desigualdades, tragédias e injustiças que vivem a maioria da população brasileira. Apenas querem focar no PT e em Lula porque ? 

 

Apenas dois crimes assustam as pessoas no Brasil, um deles é dizer verdades como essas e o segundo enxergar a realidade de milhões de lugares e brasileiros que podem lhe ensinar sobre a vida deles.

 

O princípio de uma carta entre cidadãos é o reconhecimento dos direitos e deveres constitucionais como acontece em outros Estados como Alemanha, Israel, Japão e outros. O conceito de Democracia não se reduz a uma resposta às ameaças e delírios de Bolsonaro, e nem à sua irresponsabilidade de fazer gestos relacionados às armas e discursos sobre guerra depois negar tudo isso. Todos sabem que democracia não existe sem liberdade, equidade, justiça social, renda, educação, saúde, ascensão social e outros. Há sobre ascensão social ela não existe no Brasil diante da absurda concentração de renda e como se enrica no Brasil com privilégios do Estado, incentivos fiscais, dinheiro dos Bancos públicos, corrupções e outros no país sem lei. Todos conhecem como funcionam os partidos no Brasil onde dirigentes se perpetuam há décadas fazendo alianças espúrias, negociando cargos nos Estados e cidades, e operando com dinheiro público seus interesses pessoais? Todos conhecem como se chega ao poder comprando votos? Mas ao mesmo tempo quem conhece a situação de nossa educação pública? E saúde?

 

A verdade é um conceito que não foge da realidade e da vida de milhões de brasileiros. 

 

A verdade política começa pelo respeito à vida e à dignidade do outro. Além do Direito, ela é interdisciplinar, passa pela economia, saúde, ciência e outras. 


Essa verdade é plural e democrática. Passa pela voz do povo negro, indígena e, inclusive, por todos que se encontram nos presídios ou que nem estudam nem trabalham, em comunidades pobres. 

 

Uma carta pela democracia deve ser lançada na casa de um sertanejo, na cidade mais pobre nordestina ou numa favela dominada pelo tráfico. Ela também deve ser lida e assinada por funcionários que aparelham instituições como bancos públicos ou universidades federais e que se dizem de esquerda ou direita. Deve ser assinada por militares que pregam golpe e chamam isso de discurso de direita. Deve ser assinada por religiosos que roubam a fé do povo. 

 

Não temos culpa pela ignorância, maldade e violências dessas pessoas que podem até assinar essa carta, mas elas, também, vivem de outras formas de ditaduras: econômicas, políticas, mafiosas, no domínio de gangues partidárias, Estados com suas oligarquias, instituições públicas como feudos e outras.

 

Portanto, essa carta é sobre milhares de vidas que são mortas pelas violências, ausência de políticas públicas, fome, tragédias ambientais, e massacres da polícia e milícias nas periferias e na Amazônia. 

 

Essa carta é para nossas elites que acham o máximo quando viajam à Europa, EUA ou outros países e falam mal do Brasil, mas esquecem que, talvez, elas sejam as piores elites do mundo, nada democrática, e que mantêm seus privilégios com as piores violências, representadas por governos como o de Bolsonaro. É importante lembrar que nossas elites nunca foram e nunca serão nossas elites intelectuais, diferentes de várias democracias que produziram seus heróis e suas verdades. Aqui fake história e fake líderes. Vivemos de ilusões e mentiras, mas as tragédias e sofrimentos nos despertam para revoltas.

 

domingo, 31 de julho de 2022

Estamos esperando o quê?



Amarílio Macêdo, O Estado de S.Paulo 

29 de julho de 2022 | 03h00

 Nossas elites menosprezam a cara da revolta. Aparentam não ter olhos para ver os sinais de agravamento da miséria e do esgarçamento do tecido social e político do País. Será que o Brasil precisa aumentar mais a desigualdade, deteriorar ainda mais as condições ambientais e ameaçar mais e mais a democracia para que a insatisfação se torne visível?

Parte significativa da nossa elite, em sua insensibilidade e ignorância, não vê a potencialidade destruidora de uma força social descontrolada, desorganizada e crescente, dos que já não têm mais nada a perder e que poderão passar a agir no tudo ou nada. Pessoas invisibilizadas, discriminadas e desesperançadas são capazes de explodir como uma horda desenfreada, pronta para ultrapassar todo tipo de barreira e quaisquer limites.

A contagem regressiva se acelera com o aprofundamento do fosso que separa brasileiros pela cor da pele, pela região, condição social, orientação sexual, opção religiosa, por preferências políticas e tendências ideológicas. Nessas

clivagens segregacionistas, viver ou morrer tende a ser indiferente para os que têm a vida relegada a níveis sub-humanos; e os efeitos desse tipo de apatia são devastadores.

O mundo dito civilizado caminha para o mundo da barbárie. Sinais disso são que o nazifascismo está voltando, a guerra assombra o mundo mais uma vez, intensificam-se as crises migratórias, energéticas e alimentícias e a cultura do Velho-Oeste estadunidense se infiltra nas sociedades. No Brasil, a propagação do ódio, a discriminação dos contrários, o cultivo do medo, a disseminação de notícias falsas, a demonização dos meios de comunicação e a destruição de reputações esterilizam o livre debate de ideias, que é o único caminho para a construção de soluções compartilhadas e duradouras.

O nosso país está dividido em dois blocos preocupantemente assimétricos: um pequeno, dos que têm acesso; e um gigante, dos que não o têm. E a pior desigualdade é a impossibilidade de acesso, que resulta na carência de meios para a realização individual e coletiva e na desumanização do viver. A educação, que é condição indispensável para o viver bem e para a ascensão social, não produzirá seus efeitos benéficos enquanto a escola pública brasileira não atingir padrão semelhante ao das escolas privadas; com isso, as discrepâncias continuarão sufocando aqueles que não têm acesso.

Os brasileiros não precisam de esmola nem deveriam ser tratados como fracos, inferiores e incapazes, como historicamente tem sido. A fraqueza, a inferioridade e a incapacidade nascem dos preconceitos dos poucos que, ao longo da nossa história, vêm tendo acesso às benesses civilizatórias, e se acomodaram no falso conforto da indiferença. A gravidade dessa deformação é tão destruidora que pioramos continuamente as diferenças entre os privilegiados e os apartados.

A bem da verdade, há muitas pessoas que detêm os poderes político e econômico no nosso país que não assumem sua responsabilidade como elite. Fazem com que as coisas públicas sejam confundidas com coisas que não têm dono. Esse desrespeito com o que é comum está na base do bloqueio ao acesso dos que não têm o suficiente para morar, se locomover, se comunicar, comer, se divertir, cuidar da saúde, se vestir e se educar dignamente.

Diante deste cenário de desarranjos e de injustiças, e considerando as eleições presidenciais que se aproximam, é evidente que a governabilidade do País não estará inteiramente nas mãos nem do ex-presidente Lula nem do atual presidente Bolsonaro, os dois candidatos que lideram todas as pesquisas de preferências realizadas até agora.

Quem acredita que Lula vitorioso conseguirá governar adequadamente tendo os bolsonaristas desencadeando ações agressivas, instigadas pelo perdedor? Ou, ao contrário, quem acredita que, se Bolsonaro ganhar, a crise nacional, nos campos político, econômico e social, não se agravará ainda mais?

Quem desconsidera o fato de parte da população estar sendo estimulada a se armar e a reagir àquilo de que discorda? Quem acredita que centenas de milhares de pessoas fanatizadas e armadas poderão ser controladas em eventuais desatinos?

Como fica a imagem do País, quando o presidente da República, perante o mundo, ataca sem provas nosso sistema eleitoral, o mesmo que o elegeu, e tenta desmerecer as autoridades constitucionalmente responsáveis por este sistema reconhecido internacionalmente por sua excelência e confiabilidade?

Como poderá desenvolverse um país sendo repudiado pela comunidade internacional? O que acontecerá ao Brasil, se formos submetidos a boicotes?

O desmatamento da Amazônia, por exemplo, é algo tão grave quanto a desconstrução da democracia. O respeito pelo meio ambiente e os processos políticos de diálogo são valores perseguidos pelas pessoas que em todo o mundo defendem o crescimento humanizado e a convivência harmoniosa.

Compete a nós, integrantes das elites brasileiras, assim como a toda a sociedade, opormo-nos de forma clara aos ataques à democracia para fortalecer a ordem pública nacional e o Estado de Direito constitucional, saindo da passividade e da contemplação para agirmos com efetividade nos nossos ambientes de influência.

Há muitas pessoas que detêm o poder político e o econômico no nosso país que não assumem sua responsabilidade como elite