Começo a falar de minha infância, o mundo perfeito, a inocência, a harmonia dos valores, o momento em que sonhar é estar acordado, algo mais importante, coerente e de maior impacto para a nossa jornada...
Infância, pulsão de descobrir, criar, ser, realizar; verdades que não definimos, sentimentos que não calamos, sinceridade que somos, caminhos por onde andamos, momentos perfeitos que se realizaram. Formigas que são verdadeiras riquezas e astros, pequenas coisas, grandes significados.
Nós estamos prestes a entrar no mundo de nossa infância, quando contarmos até três, estaremos dormindo, aquela brisa de chuva, tocando nosso corpo, a nossa velha casa, os velhos sonhos, seremos nós! Um, dois, três...
OBS: MINHA INFÂNCIA TEM SUAS PECULIARIDADES E FATOS INTERESSANTES, PORÉM ELA NÃO É MAIS IMPORTANTE E NEM MENOS REAL QUE A SUA, PROCURE RECORDÁ-LA, TRAÇANDO A ORIGEM DE SEU MUNDO.
Ao acordar, meus pais estavam trabalhando. Papai Gerardo pintando e mamãe Rita corrigindo as redações de seus alunos pacientes.
Meu pai, mantinha a tradição e gostava de reproduzir com suas mãos, como meu avô quadros famosos com um diferencial dando um retoque especial. Ele escolhia aqueles que garantissem a ele, a serenidade da vida, em harmonia com o mundo que ele havia construído.
Delacroix, lembrava a sua militância de esquerda quando jovem, apesar de este quadro se referir a Revolução Francesa, expoente do Capitalismo. Ele dizia que como outros eram sinônimos de grandes momentos históricos, grandes oportunidades de libertar o povo, momentos estes, criados com muito suor e desperdiçados com muitas palavras. Palavras gritadas de poucas bocas, por esta razão nunca representada estava a verdadeira Liberdade.
No quadro de Delacroix, ele gostava de pintar a mulher de boca aberta, protestando, como estava fazendo o jovem, a rosa, ao seu lado. No original, ela está de boca fechada e a burguesia dominante, foi quem falou.
Um outro quadro, como já disse que sempre estava presente em minha vida e me chamava bastante atenção, era um desenho de Michelângelo pintado por meu avô: “O Sacrifício de Isaac”, que mostra Abraão prestes a sacrificar seu filho... Me lembrava das visitas aos museus que fazia, quando criança, com o vô Alberto. Continuava a indagar-me: porque um homem haveria de matar seu filho?
Tento responder a esta pergunta, ao longo de minha vida, percebendo nos quadros que meu pai escolhia para pintar a presença de um jovem, como ele dizia, de uma “rosa”, quer seja o Isaac de Abraão ou a criança que segue protestando no quadro de Delacroix. Sentia que esses jovens tinham a mim como referência para meu pai e que seus protestos, estavam carregados de sua Fé no homem, como na Revolução Francesa, ou a Fé em Deus, no sacrifício de Isaac. A minha missão era uni-los num só quadro, no quadro da vida!
Porém o mundo atual me dá poucas referências, símbolos, espelhos, heróis, exemplos que pudessem facilitar a minha busca para o significado de minhas palavras e de minha vida. O mundo que me cercava me ensinava o que era TV a Cabo, Internet e a importância da informação, porém não me dava a oportunidade de compreender as reais possibilidades dessas informações, mudarem nossas vidas, pois não era exigido a capacidade crítica e criativa necessárias para analisá-las.
São informações literalmente virtuais, que escondem as suas conseqüências, as ideologias que carregam, como se fossem vazias e necessárias apenas para estarmos conectados a algo que nos consome, exigindo um determinado comportamento.
Por outro lado, quando as informações que chegam são boas, elas não acompanham a semente de transformação que a partir delas mudariam nossa realidade, tendo como horizonte o que outras pessoas de outros lugares do mundo conseguiram realizar. São mensagens de caminhos por onde podemos concretizar nossos sonhos. O virtual precisa se tornar real.
Países como Noruega, Dinamarca e Finlândia conseguem altos índices de qualidade de vida. O Microcrédito, reduz a pobreza em Bangladesh e lá existe a figura do banqueiro dos pobres. Vivo a me questionar sobre o que fazer para que essas informações se tornem realidade no lugar onde moro e se quisesse a partir destes modelos, implantar mudanças em meu país, a escola dos céticos logo diria: isto é utópico, temos outra realidade. Essa informação está incompleta ou encerrariam dizendo: será que você não percebe que somos “especialistas”?
Não é preciso ser Deus para transformar tal realidade. Einstein, Chaplin, Marx, Gandhi, Goethe, Sócrates foram seres humanos como nós, que se dedicaram com fé ao seu trabalho e modificaram o mundo.
Podemos produzir comida necessária para acabar com a fome. Temos total tecnologia de educação capazes de libertar o homem em toda sua plenitude. Todavia o Homem também tornou o mundo descartável com a Fé na sua ciência, criou a Bomba H.
Fui percebendo que a única coisa “impossível”, era mudar a posição da escola de céticos, dos “especialistas”. As suas posições ditas “racionais” são primordialmente políticas, eles não querem que seja possível!
Quando se trata de interesses econômicos, dados, números, explicações ficam sem sentido! Só quem é burro, acreditaria que o desemprego é estrutural e nada podemos fazer, que é necessário um ajuste fiscal, para equilibrar a balança comercial e por esta razão os governantes cortarem gastos na Saúde e na Educação.
Afinal qual o critério da existência da economia? Será preservar a vida humana ou aniquilá-la através de seus números? Vidas ou números? A lógica de um Sistema que pune a vida em benefício da loucura de uma minoria, que criaram as suas próprias palavras, para se manterem comunicando e ensinando ao mundo sua lógica, sua ideologia.
Mas que pelo menos deveriam ter a coerência do seu discurso, e apresentá-los completos com as suas conseqüências, não ter vergonha de dizer, o mundo que criaram e que sustentam com suas teorias e são sustentados com o nosso trabalho. Dizer que para reduzir o déficit público se faz necessário matar tantas vidas, castrar outras mais! E que lógico as sua não estão incluídas, por isso tanto faz somar, dividir, se a conta não sou eu quem pago!
Fui entendendo desde criança o que era fé para homens que comandam a modernidade. Até a minha pergunta inicial de como um pai, sacrificaria seu filho (?) foi ficando clara a sua resposta moderna! Sim! A técnica sem ética, sem filosofia é capaz de produzir bombas atômicas e matar seu próprio filho, economias globalizadas e matar seus irmãos de sangue e nação!
A cegueira da fé mirada para o seu umbigo, não consegue definir em nome de que mundo, de que valores estão construindo sua técnica, não olha para o outro, para o mundo, apenas para dentro, para sua ignorância. Da qual se vangloria e ataca, necessitando dos materiais que esta técnica lhe proporciona para preencher o seu vazio, de prêmios, de “novas” novidades, de moda e quanto mais preencher, mais vazio fica, pois a sua fé não produz resultados que satisfaçam o seu coração!
Por ser tão raro atos de fé na vida humana ou em Deus, tive que buscar novos caminhos durante a minha infância. Estava cansado de procurar a fé em olhos que estavam encobertos pelo “Deus-Homem”. Onde pouco se admite e se fala abertamente das condições de sacrifício que este mundo impõe a nós Isaac’s, através de projetos legais e até mesmo reverenciados com fé sem amor sem razão, por exemplo: investimentos em mais tecnologia, cercadas pela fome e miséria, ceifando mais vidas, globalizando os lucros. Isto castra a juventude deste mundo, fazendo murcharem suas rosas!
Porém com os passos do tempo e o que dele fazemos, com o estudo, fui descobrindo novos caminhos, novas associações de palavras e percebendo atos de fé, protesto das rosas em jovens de espírito. Exemplos como Gandhi, ao enfrentar a Inglaterra; o jovem chinês que enfrentou um tanque de guerra, na Praça Celestial; Chaplin ao ironizar Hitler em “O Dono do Mundo”; Jesus ao permitir que no ato de seu sacrifício, os homens percebessem que a falta da mesma fé e amor que salvou Isaac, permitisse a prática da injustiça de levar à cruz, alguém que só usou de suas palavras e atos para provar o poder da fé e do amor!
Talvez por esta razão reencontrar a fé seja tão difícil! Matamos a fé, o amor e hoje continuamos da mesma forma a aniquilar crianças, a sacrificar Jesus, mesmo reconhecendo nas palavras dele a dor de um oprimido, pelo qual nos viciamos a “rezar”, negando o próprio Cristo que condenou a fé sem ação! - “Não basta me dizer: ‘Senhor, Senhor!’ para entrar no Reino dos Céus; é preciso fazer a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mateus 7, 21)
Em nome do “Deus Neo-Liberal” fala-se de mercado e câmbio como primeiro e segundo mandamentos e não se fala de Vida e eu por estar escrevendo essas Palavras é que sou louco, que não caí na “real”. Porém o Presidente dito Fernando II, que vai até a TV anunciar as regras do jogo que ele segue fielmente, a “Teoria da Dependência”, num discurso criado, visando justificar a submissão “às forças ocultas”, em sua sócia-demagogia, é enquadrado na Normalidade. Até que ponto a Sociologia comeu o espírito dele, tornando-nos espectadores de um circo, onde seremos usados como comida para alimentarmos o leão? Até que ponto a palavra Fé, tem sido travestida de novos significados, como em empresas que usam programas de qualidade total, gerando uma linguagem “religiosa” para garantir a devoção e a lealdade do funcionário. Com suas cerimônias, hinos, bandeiras, para enaltecer a empresa e seus fundadores e óbvio, o dízimo, ou seja, o lucro.
Veja que algumas igrejas, em processo de expansão, são empresas, da mesma forma que algumas empresas são igrejas. É com este sentido que fazem canalizar a nossa fé e, portanto, todos os sentimentos espontâneos, naturais, humanos da Fé estão sendo banalizados, para garantir a sobrevivência material, e quanto mais fazemos isto, mais uns tijolos colocam neste mundo que tem a vida como refém, onde “Amar é Proibido”, quando ainda não somos nós!
O que podemos esperar dos filhos destes homens sem fé, de nossas Rosas, de nossos Isaac’s, o que brotará de nossa infância? Da nossa infância, que não se mostra receptiva à fé em Deus e na vida?
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