Pouca gente conhece essa história. Mas ela está entre as mais comoventes já vividas por um dos maiores nomes da cultura brasileira. É uma história real. Uma daquelas que mexem com a gente por dentro. Que desafiam o ego, que escancaram a dor... mas também revelam o tamanho da alma. Jô Soares perdeu sua mãe, Mercedes Leal Soares, de forma trágica. Ela tinha 70 anos quando foi atropelada por um táxi em um dia chuvoso. O acidente aconteceu de maneira inesperada, como quase sempre acontece com as tragédias. Ela foi socorrida imediatamente pelo próprio motorista, que ficou ao lado do marido dela — o pai de Jô — até o último segundo. Mas, infelizmente, a fratura na base do crânio foi fatal. E Mercedes não resistiu. Agora respira fundo. Dez anos se passaram. Jô estava em um aeroporto do Rio de Janeiro, no Santos Dumont. Pediu um táxi como faria qualquer pessoa. Entrou no carro sem imaginar que aquele seria um dos encontros mais intensos e simbólicos da sua vida. A corrida seguiu normalmente. Mas, ao final, o motorista parou, virou-se para ele, com olhos cheios de lágrimas, e disse: — “Senhor Jô... eu sou o homem que atropelou sua mãe.” Silêncio. O tempo deve ter parado por alguns segundos naquele carro. O motorista então revelou que carregava aquele peso havia anos. Que desde aquele dia não conseguia mais dormir em paz. Disse que só encontraria descanso verdadeiro quando pudesse olhar nos olhos de Jô e ouvir, da boca dele, que estava perdoado. Agora imagine. Imagine a dor contida naquele reencontro. A culpa do motorista. A saudade da mãe. A surpresa de Jô. E, mesmo assim, ele não hesitou. Com a voz calma e o coração cheio de humanidade, Jô respondeu: — “O perdão foi dado ali mesmo, naquele dia. Quando você socorreu minha mãe. Quando ficou com meu pai. Quando teve dignidade e humanidade diante do que aconteceu. Você não teve culpa. E eu já estou em paz com isso há muito tempo.” Ambos começaram a chorar. Ali, naquele carro parado, duas vidas foram tocadas pelo mistério do perdão. Jô Soares contou essa história em 2015, durante uma entrevista ao jornalista Marcelo Bonfá. E, com a serenidade de quem já compreendeu as coisas mais profundas da vida, ele concluiu: — “O perdão é a coisa mais importante do mundo.” Essa história nos desarma. Ela nos lembra que há tragédias inevitáveis, dores que não têm explicação, feridas que a gente pensa que nunca vão cicatrizar. Mas também nos lembra que, mesmo dentro dessas dores, existe espaço para a compaixão. Para a empatia. Para o perdão que liberta — a quem dá e a quem recebe. Hoje, mais do que nunca, o Brasil precisa ouvir histórias assim. Histórias reais. Humanas. Capazes de acender uma luz no meio da escuridão. Se Jô Soares, com toda sua dor, foi capaz de perdoar o homem que tirou a vida de sua mãe... O que nos impede de perdoar as pequenas mágoas do nosso cotidiano?
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