SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

domingo, 26 de novembro de 2023

Por que 'ESG' virou algo sem sentido?

 

Por que 'ESG' virou algo sem sentido?

Torres de energia eólica

CRÉDITO, GETTY IMAGES

  • Author, Kristen Talman
  • Role, BBC Worklife

Em 2015, a expectativa tomou conta da capital francesa, Paris, onde os líderes mundiais estavam reunidos para a COP21, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

Depois de semanas de intensos debates, foi apresentada uma promessa no dia 12 de dezembro: 196 países se comprometeram a tomar medidas contra as mudanças climáticas, com o objetivo de zerar suas emissões de carbono até 2050.

Para as empresas, a decisão simbolizou o início do movimento chamado "ESG", que consiste em manter o foco nas questões ambientais ("environmental", em inglês), sociais e de governança na tomada de decisões comerciais.

Empresas de todo o mundo criaram campanhas individuais ambiciosas para atingir o objetivo de emissão zero. Surgiram diversas estratégias de investimento concentradas nas práticas de ESG, que frequentemente incluíam transições para a energia verde e a retirada de investimentos em combustíveis fósseis.

Um exemplo foi a empresa norte-americana de telecomunicações Verizon, que se comprometeu a gerar energia renovável equivalente a 50% do seu consumo anual de eletricidade até 2025. Já a seguradora francesa Axa prometeu romper seus laços com a indústria de carvão até 2030.

E, depois do assassinato de George Floyd nos Estados Unidos em 2020, empresas multinacionais como a Apple, AbbVie, Facebook, Pfizer, Johnson & Johnson e Procter & Gamble prometeram investir o montante combinado de US$ 340 bilhões (cerca de R$ 1,7 trilhão) para promover causas relacionadas à justiça racial. 

O anúncio desses vultosos compromissos com a prática de ESG, muitas vezes, serviu para impulsionar os preços das ações e a reputação das empresas. Mas, ao longo dos anos, a sigla criou mais confusão do que mudanças positivas – e até problemas. 

Na verdade, alguns desses compromissos de ESG criaram inúmeras dificuldades para os executivos, segundo a professora clínica Alison Taylor, da Escola de Negócios Stern da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos. 

O movimento ESG é cada vez mais rotulado de capitalismo "woke" e acusado de permitir a prática do "greenwashing". 

Por isso, Taylor afirma que mesmo as empresas que continuam a prometer emissões zero deixaram de rotular suas decisões comerciais como prática de ESG. 

Essa medida pode trazer alívio para as empresas que enfrentaram reações cada vez mais adversas por terem adotado o termo sem realizar mudanças substanciais, particularmente em uma época de expectativas cada vez maiores do público em relação à responsabilidade empresarial.

Líderes erguendo as mãos em frente a painel de evento

CRÉDITO, ARNAUD BOUISSOU/COP21/ANADOLU AGENCY/GETTY IMAGES

Legenda da foto, 

Durante a COP21 em 2015, os líderes globais chegaram a um acordo histórico para enfrentar as mudanças climáticas

A sopa de letras do ESG

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BBC Lê

Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

Episódios

Fim do Podcast

A fragilidade do movimento ESG como um todo – que foi, em muitos aspectos, um importante catalisador para sua queda – pode muito bem ter sido seu próprio nome, que se transformou em um slogan genérico com pouco significado concreto.

O professor de finanças Alex Edmans, da London Business School, afirma, em primeiro lugar, que as três palavras representadas pela sigla não se encaixam.

"Ambiental e social descrevem a forma como servimos à sociedade como um todo", explica ele. "Governança é sobre como geramos retorno."

Um plano de emissões zero, por exemplo, é um compromisso ambiental. Garantir contratações igualitárias certamente é um compromisso social. E a governança se refere à estrutura da política corporativa, como a relação salarial entre o CEO (diretor-executivo) e os funcionários.

Mas, muitas vezes, essas ambições são funcionalmente incompatíveis entre si.

A consultora de ESG de Londres Tara Shirvani, ex-chefe de integração de ESG para projetos de infraestrutura do Banco Mundial, concorda que a falta de clareza gerada por um termo tão abrangente é consequência da reunião de três palavras que dificultam sua aplicação na prática.

"Vamos considerar, por exemplo, uma empresa de mineração de lítio. Você precisa de muito lítio para a revolução que é a transição energética", explica ela.

Uma empresa poderá buscar fornecedores de lítio na América Latina, que usa eletricidade verde nas suas operações de mineração. Assim, ela atenderá o compromisso "E" ("environmental", ambiental) da expressão.

Mas uma eventual investigação pode concluir que aquele fornecedor viola as leis trabalhistas locais. Com isso, o componente "S" (social) da iniciativa ESG não será cumprido.

Sem uma definição sólida – e, muitas vezes, uma forma realista de cumprir a promessa – "ESG" acabou representando diferentes coisas para pessoas diferentes.

Muitos acreditam, por exemplo, que o termo só se aplica a investimentos em instrumentos financeiros verdes ou ao apoio a empresas que prometem reduzir suas emissões de carbono. Outros acreditam em interpretações mais amplas, como os investimentos socialmente responsáveis.

Mas as empresas vêm adotando de bom grado a qualificação ESG para todo tipo de decisões comerciais. E muitos investidores apoiaram alegremente os compromissos com as práticas de ESG.

A empresa de consultoria PwC calcula que os investimentos institucionais voltados à prática de ESG aumentem em 84% entre 2022 e 2026, elevando os ativos sob gestão ao astronômico nível de US$ 33,9 trilhões (cerca de R$ 166 trilhões).

Para as empresas, havia uma certa vantagem ao afirmar seu comprometimento com a prática de ESG, como sua inclusão em certos fundos negociados em bolsa (ETFs) ou o apelo aos pequenos investidores que desejam, cada vez mais, alinhar seus portfólios de investimento aos seus valores pessoais.

O próprio executivo-chefe da financeira BlackRock, Larry Fink, começou a escrever suas cartas anuais – um modelo na comunidade financeira – pedindo mais atenção aos riscos climáticos e consideração pela sociedade como um todo, além dos lucros.

Para algumas empresas, essas mudanças melhoraram sua reputação, atingindo as manchetes e conquistando elogios dos investidores. Mas, paralelamente, a corrida para adotar as práticas de ESG nas empresas levou ao uso excessivo do termo e desvalorizou seu significado, segundo Edmans.

"As pessoas dizem que qualquer coisa boa em uma empresa é ESG", explica ele. "Por isso, tem havido casos em que se diz, 'oh, esta empresa é bem administrada, vamos chamar isso de bom ESG'."

O resultado, segundo Shirvani, é que "na verdade, não surpreende que você tenha grandes investidores e outros deixando de agrupar estes três termos como algo único".

Em protesto, bandeira dos EUA repleta de logomarcas de empresas como Ford e Visa

CRÉDITO, ALAMY

Legenda da foto, 

A pressão do público e dos acionistas para que as empresas tomem medidas para enfrentar as questões ambientais, sociais e de governança é crescente

Na mira do público

O uso excessivo da expressão logo começou a revelar as falhas estruturais das práticas de ESG, o que gerou problemas para muitas companhias, depois de inúmeros elogios.

Nos Estados Unidos, investir em ESG se tornou uma questão política controversa entre alguns governantes.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, defende que esquerdistas "woke" estão usando ESG como mecanismo para priorizar a ideologia sobre os lucros. Republicanos do Texas apresentaram leis contra a prática de ESG e o ex-vice-presidente americano Mike Pence afirmou que os investidores em ESG estão tentando atingir no mundo corporativo o que eles não conseguiram nas urnas.

No Reino Unido, o primeiro-ministro Rishi Sunak afirmou que as leis propostas sobre emissões zero ultrapassam os limites do governo e ameaçam os direitos do povo britânico.

Por outro lado, os proponentes de ESG indicam falhas das empresas em relação aos compromissos com a sustentabilidade.

Desiree Fixler, ex-chefe de sustentabilidade do braço de administração de ativos do Deutsche Bank, DWS Group, denunciou a empresa por ludibriar o público, exagerando as alegadas práticas de ESG nos seus fundos.

Instituições financeiras como o Bank of America, Citi e Santander deixaram de disponibilizar fundos para um ETF climático após reunirem a imprensa na COP27 de 2021 em Glasgow, no Reino Unido.

Já a Netflix sofreu ataques depois de dispensar conteúdo e talentos, reduzindo sua diversidade, enquanto marcas como a H&M, KLM, Nike e Samsung se envolveram em litígios contra a prática do greenwashing.

"Sou alguém geralmente considerado defensor de ESG e preciso admitir que parte da reação negativa é muito válida", afirma Edmans. "Os fundos dizem 'invista em mim, vou mudar o mundo', mas eles não mudam o mundo, na verdade. E é por isso que algumas pessoas, agora, têm prevenção contra eles."

Alguns dos executivos de hoje em dia podem estar dispostos a lavar as mãos em relação à expressão ESG, mas Taylor afirma que a próxima geração de líderes pode adotar esse conceito mais amplo com mais insistência, talvez sem usar o mesmo rótulo.

"Eu explico para meus alunos que houve uma época em que as empresas eram politicamente neutras", ela conta. Mas, para eles, a noção de uma empresa separada da política é uma relíquia do passado. "Eles me dizem que esta opção não existe mais."

Seus alunos talvez não estejam buscando compromissos identificados como iniciativas de ESG, segundo Taylor, mas eles mantêm a visão de que o papel das empresas na sociedade deve reconhecer os movimentos à sua volta, sejam eles as iniciativas de promoção da diversidade ou o abandono dos combustíveis fósseis.

E, em meio às mudanças climáticas e às questões sociais do mundo globalizado, as empresas enfrentam avaliações cada vez mais rigorosas das suas práticas comerciais.

Quer as empresas adotem ou recusem a terminologia ESG, seus investidores vêm pressionando cada vez mais para que elas trabalhem com preocupações ambientais, sociais e de governança em mente – seja qual for o nome escolhido para designá-las.

O PARAÍSO NA TERRA! OS DEZ MANDAMENTOS DA TERRA E DE DEUS.

 


É fácil falar da opressão, pobreza, corrupção, e luta pela democracia, mas quando acontece problemas dentro de instituições públicas? O desafio é enraizar essas lutas em nossas instituições, cidades, famílias e educar nosso ser. O que os membros dessas instituições fazem como Professores de Escolas e Universidades, demais funcionários públicos, membros do poder judiciário, médicos em hospitais, entre outros? Quando a opressão, autoritarismo, corrupção e outros é dentro de nossa casa, as pessoas se calam e atacam apenas os de fora? Que conhecimento e ética é esse que é seletiva, corporativista e hipócrita? É muito acordo entre feudos que querem mandar na lei, na ética e no conhecimento. Em nome de que? Dos seus umbigos, egos e vaidades. As instituições se tornam um cabaré, uma selva, onde os mais fortes massacram os que lutaram para colocar eles no poder. Será que o crime organizado é mais claro em sua forma de agir do que nossas instituições, políticos e elites? Porque o crime assume que mata e rouba, mas muitas instituições públicas transformadas em feudos e casas grandes como polícia, governos, e outras roubam mentindo com seus discursos e hipocrisia, sendo pagos com dinheiro público e usando as instituições ditas públicas, atuando como capitães do mato em nossa sociedade. 



Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões...

Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda hipocrisia e toda afetação
Todo roubo e toda a indiferença...

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
A lágrima é verdadeira...

 

Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção.

Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha, que o que vem é perfeição!


PRIMEIRO MANDAMENTO: Igualdade de oportunidades com liberdade de escolha.

SEGUNDO MANDAMENTO: Todos juntos atuando coletivamente nos territórios onde vivemos.

TERCEIRO MANDAMENTO: Economia circular, compartilhada e solidária com autonomia alimentar, hídrica, energética, terra e paz.

QUARTO MANDAMENTO: Casas com espaços comuns e conexões atenienses democráticas com a cidade.

QUINTO MANDAMENTO:  Saúde ecológica sagrada para os seres vivos e Gaia.

SEXTO MANDAMENTO: Aprender o valor da disciplina individual e coletiva pelo esporte.

SÉTIMO MANDAMENTO: A vida como obra de arte ética e estética.

OITAVO MANDAMENTO: Tecnologia para fins sociais e ambientais.

NONO MANDAMENTO: Educar, experimentar e realizar com autonomia, corporeidade, afetos e interação social todo potencial humano para o bem e o belo.

DÉCIMO MANDAMENTO: Todos os mandamentos de seu Deus e espiritualidade planetária da família humana.  

 

 

sábado, 25 de novembro de 2023

Gandhi e Churchill: A rivalidade épica que destruiu um império e forjou nossa era.



Nessa obra fascinante, finalista do Prêmio Pulitzer de Não Ficção, o historiador Arthur Herman constrói, com detalhes, uma biografia dupla de dois dos maiores líderes do século XX: Mahatma Gandhi e Winston Churchill. 

Gandhi e Churchill conta a história de duas importantes figuras políticas do século XX que até hoje impactam nossa era. Nascidos em mundos distintos ― o primeiro em um lar religioso no interior da Índia, o segundo em uma família aristocrática britânica ―, tiveram suas vidas e carreiras entrelaçadas ao protagonizar quarenta anos de rivalidade que selaram o destino da Índia e do Império Britânico.

Durante sua longa carreira, Winston Churchill fez o necessário para assegurar que a Índia permanecesse sob o domínio britânico. Chegou a redesenhar todo o mapa do Oriente Médio e até pôr em risco a aliança com os Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Mahatma Gandhi, ao contrário, dedicou a vida à libertação de seu país, desafiou a morte e a prisão e criou um movimento político totalmente novo: satyagraha, ou desobediência civil. Suas campanhas por não violência ― em especial sua famosa Marcha do Sal ― seriam um ensaio e um exemplo não apenas para a independência da Índia, mas para os movimentos por direitos civis nos Estados Unidos e as lutas por liberdade ao redor do mundo.

A partir de uma meticulosa pesquisa, Arthur Herman traz uma narrativa histórica ampla e vigorosa sobre império e insurreição, guerra e intrigas políticas, e conta com um fascinante elenco de apoio, como o general Kitchener, Rabindranath Tagore, Franklin Roosevelt, lorde Mountbatten e Muhammad Ali Jinnah, o fundador do Paquistão.

Essa impressionante biografia desconstrói as lendas e os mitos criados sobre esses grandes personagens, expondo seus pontos fortes e suas fraquezas. Além disso, é uma brilhante parábola sobre dois homens poderosos e carismáticos que sempre foram assombrados pelo fracasso pessoal, e que, ao fim da vida, tiveram seus maiores triunfos ofuscados pela perda daquilo que mais estimavam.

Uma história da imaginação: Como e por que pensamos o que pensamos


Um livro fascinante sobre como a imaginação interage com a emoção, a percepção e a razão para formar a história da vida humana.

Atravessando diferentes campos, como ciência, política, antropologia, religião, cultura e filosofia, o renomado historiador Felipe Fernández-Armesto revela as emocionantes e perturbadoras histórias de nossos saltos imaginativos — dos primeiros Homo sapiens aos dias de hoje. Ele desafia as convenções que rondam o tema e nos conduz por séculos e continentes para tentar responder a como e por que surgiram ideias que marcaram e continuam a ditar os rumos da humanidade.
Com elegância e erudição ímpares, Fernández-Armesto inova ao propor uma história global das ideias, rastreando suas origens e conexões, e ligando a Europa a polos culturais milenares, como a China e o Oriente Médio. Assim, nos mostra que noções como a de um deus amoroso, ou a de que todos os homens são iguais, não nasceram exatamente onde imaginávamos.  
Nesta ode à alegria da imaginação, veremos que a mente — ou a aptidão para produzir ideias — é a principal causa de mudança, o lócus onde a diversidade humana começa. E que nossas ideias são a fonte de nossa mutável e volátil história como espécie.

Samsara - A Jornada da Alma


Agora que estou morto, o que irei fazer?’. A frase se encontra no Bardo Thödol, livro concebido para instruir indivíduos para a vida após a morte. Para onde ir? Que relação terei com o mundo de antes? Quais serão meus objetivos do lado de lá? De acordo com os preceitos religiosos de uma comunidade de monges no Laos, este guia não pode ser lido pela própria pessoa — é preciso que outros o leiam para você. O contato com a obra ocorre, portanto, quando se pressente a proximidade de um ente querido com a morte.

Assim como o cristianismo estabelece cuidados e rituais fúnebres (o velório, o enterro, etc.), esta comunidade inclui também as cerimônias pré-morte. Por isso, Mon, ciente de sua passagem iminente, despede-se da casa, dos objetos ao redor. “Mesa querida, vou sentir muita falta de você”. Já Amid (Amid Keomany), adolescente encarregado da leitura, se preocupa com o ritmo da leitura, pois precisa terminar centenas de páginas, e teme não cumprir a tarefa antes do falecimento da senhora. Há obrigações e responsabilidades muito precisas na hora de partir.

Samsara — A Jornada da Alma aborda percepções diferentes da natureza humana e animal, através de dois espelhos geográficos. A primeira metade se situa no Laos, entre os monges em formação. Já a segunda se desenvolve no Zanzibar, onde uma garotinha no Ensino Fundamental descobre o funcionamento da vida (ela passa a cuidar de uma cabrita recém-nascida) e de morte (quando perde o animal, por descuido). Trata-se de personagens diferentes, com línguas, culturas e religiões diferentes.

Patiño se converte na figura do diretor provocador, o enfant terrible que gosta de jogar luz à própria engenhosidade.

O elemento permitindo unir ambos os lados da moeda consiste na morte de Mon. Falecida, a mulher que sempre sonhou em reencarnar num animal se vê convertida na figura da pequena cabra que faz companhia à estudante. A morte se torna sinônimo de renovação da vida; a partida implica num renascimento, e o fim da existência se converte no prolongamento da alma. A montagem insiste em posicionar a morte no meio da trama, literalmente, ao invés do final (como seria o costume na interpretação do término enquanto destino humano). Logo, a finitude representa uma possibilidade de prosseguimento, ao invés de interrupção.

Esteticamente, as partes se costuram por procedimentos estéticos análogos. A obra é marcada pelo uso da película granulada, com cores fortíssimas, saturadas, que transbordam os limites de cada objeto para iluminar a região ao redor. Isso significa que o azul do céu e dos rios ultrapassa o limite das águas até tingir as florestas, que se tornam azuladas. As algas multicoloridas, a cor laranja dos trajes religiosos iluminam a tela. Devido ao curioso procedimento escolhido, as luzes se convertem em borrões: árvores, rios e céus transformam-se em refletores naturais.

A fotografia de Mauro Herce e Jessica Sarah Rinland oferece texturas, tons e contornos muito diferentes daqueles encontrados na média das produções “para festival”. Nota-se a busca por uma qualidade onírica, próxima do realismo fantástico. O diretor Lois Patiño sempre foi comparado a Apichatpong Weerasethakul, no entanto, suas escolhas estéticas são muito mais apoiadas, ao limite do kitsch e histriônico. Aqui, as imagens admitem a busca de atenção a si próprias. A estética constitui uma finalidade autônoma, para além do meioutilizado para contar uma história.

Nada poderia ser mais chamativo do que a passagem intermediária, correspondente à morte de Mon. Letreiros surgem na tela para avisar o espectador de que iremos acompanhá-la rumo ao outro lado. “A experiência será longa”, somos avisados. Então, a pedido do filme, fechamos os olhos e embarcamos numa sequência multicolorida de flashes velozes, de intensidades distintas, perceptíveis mesmo com os olhos fechados. Os sons nos sugerem a travessia na natureza, o contato com outros humanos, a presença de animais neste espaço de transição.

O segmento dura quinze minutos, talvez um pouco mais. É tentador abrir os olhos, encarar a tela, descobrir quais estímulos se agitam à nossa frente. A comunicação direta com o espectador transforma por completo a experiência, em vários sentidos. Primeiro, rompe com a imersão naturalista: o filme se assume enquanto construção totalmente artificial. Este não é o mundo, mas uma representação do mundo, e a imagem não passa de um estímulo aos sentidos.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

AS DESIGUALDADES NA ESCOLA, UNIVERSIDADE, ECONOMIA E NA VIDA.




“Quando um indivíduo protesta contra a recusa da sociedade em reconhecer a sua dignidade como ser humano, o seu próprio ato de protesto confere dignidade a ele.” — Bayard Rustin.


Boas metáforas para educação. O Corpo pode realizar mais de mil movimentos diferentes e quantos desses você aprende na escola? O seu corpo é analfabeto? Quais os benefícios da dança para vida, saúde, aprendizagem pela corporeidade e outros.  Muitas vezes o corpo é uma armadura que foi condicionada pelas violências, timidez, religião e por traumas e dores. Libertar o corpo por um gesto pode libertar a mente, a imaginação, a vida. Mas na escola podemos negar o corpo e iniciar a dança da vida pelas desigualdades, pela redução do repertório do corpo a poucos movimentos autorizados pelo regime escolar que muitas vezes não dispõe de espaços para brincar, dançar, se movimentar em sala de aula. A disciplina escolar imposta ao corpo nega o currículo e os movimentos que a própria vida nos deu desde que experimentado, exercitado, testado, vivido. 



Essa mesma metáfora para educação pode ser usada para outras áreas como o paladar. Na creche do MIT as crianças recebem pequenos pedacinhos de diversas comidas para conhecer os sabores e pesquisar o paladar. Afinal o paladar é uma tabula rasa ou a cultura nos condiciona a determinados alimentos? ou a desigualdade impera pelos tipos de alimentos que temos à disposição, pelo tipo de escola onde estudo, se tenho acesso a dança entre outros. Nas nossas origens pela pobreza e educação são impostas milhares de desigualdades que negam a existência e a vida. Quantos cheiros a natureza pode nos ensinar com suas plantas, frutos, flores, animais, ou pelas montanhas, florestas, águas e pedras? Bilhões podemos ser Bilionários e enriquecer nosso olfato com bilhões de cheiros, perfumes e olfatos. Se somar essa riqueza com milhares de sabores e movimentos do corpo que podemos apreender durante a Escola, Universidade e a Vida qual a consequência de tudo isso em nossa existência e em uma economia circular, solidária e viva. E se conseguirmos expressar tudo que pensamos, sentimos, fazemos, sonharmos através de milhões de palavras nos letrando pela vida, tendo o mundo como um sala de aula e milhares de livros, filmes, danças, músicas, natureza, trabalhos diversos que podemos realizar durante toda vida, pessoas que podemos interagir e culturas diferentes, esportes, tecnologias, diferentes tipos de comunidades onde podemos viver, espiritualidades, amores... Sim, assim teremos menos desigualdades, seremos mais humanos com todos, mas precisamos de Escolas, Universidade e Economia para organizar tudo isso na era da tecnologia digital ?



Todos nós somos ao mesmo tempo professores e pesquisadores. A vida é uma eterna pesquisa e aprendizagem desde que sejamos desde criança fortalecida nossa autonomia, aprendizagem pela corporeidade, interações sociais, por múltiplos caminhos incluindo espaços educacionais não escolares, gerando a nossa individualização com nossas palavras, gestos, movimentos, saberes, sabores, odores, sons. Auto poesia que gera mutações e responde aos desafios cada vez maiores das mudanças climáticas, inovações tecnológicas, aumento da pobreza e violências gerada por brutais desigualdades semeadas todos os dias nas Escolas, Universidades, Economia e a vida. Nos desafiamos a inovar a tecnologia, ir a Marte, mas não podemos inovar a sociedade, educação e a vida que vivemos? Nos acostumamos a servir as elites entregando nas Escolas e Universidade milhões de vidas para o açougue do Sistema. 



Enquanto isso, as Escolas e Universidades se transformaram em negócios de enriquecimento ilícito de alguns que usam as instituições em projetos corruptos e de poder. Onde o saber é negado todos os dias por tecnocratas
que usam processos para seus privilégios pagos com dinheiro público. Eles são Educadores ou Deuses sem lei que querem que aplaudamos suas ignorâncias e violências massacrando pessoas que buscam o saber, negando suas existências e dias melhores para todos. 
Muitos conhecimentos e estruturas públicas são usados para violências por autoridades que chegam ao poder para manter esses crimes e proteger criminosos em nome da educação?  Assim como políticos fazem no Estado, juízes na Justiça, policiais na polícia, e educadores serpentes na educação que rouba, mata e destrói existências para manter seus privilégios, poderes e delírios.  Eles também são responsáveis por brutais desigualdades, assim como políticos, mercado financeiro, senhores da guerra porque atuam como capitães do mato para manter a escravidão da maioria começando a escravizá-lo e educando para negar suas existências e vidas desde crianças nas escolas e jovens nas Universidade. Negando seus corpos, movimentos, gestos, sabores, cheiros, sons, palavras, e suas capacidades de aprender, pesquisar, sonhar, viver. 


 

O despertar do conhecimento nos torna humanos em busca da sabedoria muitas vezes lugares sem Escolas e Universidades, encontramos nas comunidades e na pobreza o conhecimento pela vida que gerou muitos dos conteúdos, que hoje foram encaixotados em disciplinas nos currículos escolares e acadêmicos. Leva tempo para cair a quarta parede em Brecht, para que Sócrates depois de tanto diálogo resolva beber a cicuta, e que Rosseau andando pela floresta descubra as origens da desigualdade hoje transformada em capital, o conhecimento não para de pulsar com a vida. Benjamim nos educa para transformar o agora como anjos da história, as ruínas do passado em presentes e futuros, somando outras experiências que nos humaniza e destrua os nazismos e fascismos. Esse texto é apenas mais uma pedra nos empresários, políticos e educadores que usam a Educação para destruir vidas com suas cantigas de serpentes. Mas como pássaros livres vamos sobreviver os jogos vorazes da educação enfrentado os dragões das mudanças climáticas. É preciso lidar com o peso do não dito e do indizível, do perdido e do deixado de lado. Do silêncio de crianças, jovens e professores sobre o que sofrem na escola, universidades e brutais desigualdades em sus vidas.     

      



 


domingo, 19 de novembro de 2023

LA VIDA É UMA FESTA!


 

Matemática, um pacto social

 

Matemática, um pacto social

Teórico afiança: a objetividade inexiste até no mundo dos números. Não há pensamento puro, mas árduos experimentos. E as grandes verdades da área são repletas de palpites — que sempre exigem acordo mútuo entre pensador e comunidade científica 

Arte: Interior de uma sala com geógrafos e matemáticos, c.1680-90/Musee Municipal, Cambrai, França 
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Andrew Granville em entrevista a Alex Tran, no Quanta Magazine | Tradução: Mariana Bercht Ruy

Em 2012, o matemático Shinichi Mochizuki declarou que havia resolvido a conjectura abc, grande questão aberta na teoria dos números, a respeito da relação entre adição e multiplicação. Havia apenas um problema: sua prova, com mais de 500 páginas, era completamente impenetrável. Ela se baseava em um turbilhão de novas definições, notações e teorias que quase todos os matemáticos acharam impossível de entender. Anos depois, quando dois matemáticos traduziram grande parte da prova em termos mais familiares, eles apontaram para o que se chamou de “uma falha séria e sem conserto” na sua lógica – apenas para que Mochizuki rejeitasse o argumento com base no fato de que eles não houvessem entendido seu trabalho.

O incidente levanta uma questão fundamental: o que é uma prova matemática? Costumamos pensar que seja como a revelação de alguma verdade eterna, mas talvez seja melhor compreendê-la como um construto social.

Andrew Granville, matemático da Universidade de Montreal, tem pensado muito sobre isso recentemente. Após ser contatado por um filósofo a respeito de seus escritos, “eu pensei muito sobre como chegamos às nossas verdades”, ele disse. “E uma vez que essa porta é aberta, você descobre como o assunto é vasto”.

Desde muito cedo, Granville gostou de aritmética, mas nunca havia considerado a possibilidade de uma carreira em pesquisa em matemática por não saber que tal coisa existisse. “Meu pai deixou a escola aos 14 anos, minha mãe, aos 15 ou 16”, ele disse. “Eles nasceram na área da classe trabalhadora da Londres de então, e a universidade estava além daquilo que eles achavam que fosse possível. Então não fazíamos ideia.”

Após graduar-se na Universidade de Cambridge, onde estudou matemática, ele começou a adaptar The Rachel Papers [Os documentos de Raquel], romance de Martin Amis, para um roteiro. Enquanto trabalhava no projeto e buscava financiamento para ele, Granville quis evitar um emprego de escritório – havia trabalhado em uma companhia de seguros durante um ano sabático entre o ensino médio e a faculdade e não queria voltar para lá –, “então fui para a pós-graduação”, disse ele. O filme nunca decolou (o romance foi adaptado mais tarde, de forma independente), mas Granville conseguiu o mestrado em matemática e mudou-se para o Canadá para completar seu doutorado. Nunca olhou para trás.

“Foi uma aventura, de verdade”, ele disse. “Eu não esperava muito quando entrei. Não tinha ideia do que fosse um Ph.D.”.

Nas décadas desde então, ele foi autor de mais de 175 artigos, principalmente em teoria dos números. Ele também se tornou conhecido por escrever sobre matemática para o público popular: em 2019, junto com sua irmã Jennifer, que é roteirista, foi coautor de uma Graphic novel sobre números primos e conceitos relacionados. Junto com outros matemáticos, cientistas da computação e filósofos, ele planeja publicar um conjunto de artigos no Bulletin of the American Mathematical Society [Boletim da Sociedade Americana de Matemática] do ano que vem, sobre como as máquinas podem mudar a matemática.

A revista Quanta conversou com Granville sobre a natureza da prova matemática – como funciona na prática e equívocos populares a seu respeito até sobre como a redação de provas matemáticas pode evoluir na era da inteligência artificial. A entrevista foi editada e condensada para maior clareza.

Recentemente, você publicou um artigo a respeito da natureza da prova matemática. Porque você decidiu que esse era um assunto a respeito do qual era importante escrever?

A forma como os matemáticos aproximam-se da pesquisa em geral não é bem retratada na mídia popular. As pessoas tendem a ver a matemática como essa busca pura, onde simplesmente chegamos às grandes verdades apenas com o puro pensamento. Mas a matemática é feita de palpites – muitas vezes, palpites errados. É um processo experimental. Aprendemos em etapas.

Por exemplo, quando a hipótese de Riemann apareceu em um artigo pela primeira vez, em 1859, parecia magia: eis aqui essa conjectura maravilhosa, tirada do nada. Por setenta anos, as pessoas falavam sobre o que um grande pensador pode conseguir apenas com o pensamento. Então o matemático Carl Siegel encontrou os rascunhos de Riemann nos arquivos de Göttingen. Riemann na verdade tinha enchido páginas com cálculos de zeros da função zeta de Riemann. As famosas palavras de Siegel foram: “lá se foi o pensamento puro”.

Então há essa tensão na forma como as pessoas escrevem sobre matemática – particularmente alguns filósofos e historiadores. Eles parecem pensar que somos alguma criatura mágica pura, um unicórnio da ciência. Mas, em geral, nós não somos. Raramente é apenas puro pensamento.

Como você caracterizaria o que os matemáticos fazem?

A cultura da matemática é construída em torno de provas. Nos sentamos e pensamos, e 95% do que fazemos são provas. Muito do entendimento a que chegamos se dá por meio da luta com as provas e da interpretação dos problemas que surgem enquanto lutamos com elas.

Frequentemente pensamos em uma prova como um argumento matemático. Por meio de uma série de passos lógicos, ela demonstra que certa afirmação é verdadeira. Mas você escreve que isso não deve ser confundido com uma verdade pura, objetiva. O que você quer dizer com isso?

O principal objetivo de uma prova é persuadir o leitor da verdade de uma asserção. Isso significa que a verificação é chave. O melhor sistema de verificação que temos em matemática é que muitas pessoas olhem para uma mesma prova a partir de diferentes perspectivas e ela se encaixe adequadamente no contexto que eles conhecem e no qual acreditam. De certa forma, não estamos dizendo que sabemos que é verdade. Estamos dizendo que esperamos que ela esteja certa, porque muitas pessoas a testaram a partir de diferentes perspectivas. As provas são aceitas por esses padrões da comunidade.

E aí existe essa ideia de objetividade – de ter certeza que aquilo que se afirma está certo, ou sentir que você tem uma verdade suprema. Mas como podemos saber que estamos sendo objetivos? É difícil sair do contexto em que você fez uma declaração – ter uma perspectiva de fora do paradigma estabelecido pela sociedade. Isso é tão verdadeiro para as ideias científicas quanto o é para qualquer outra coisa.

Pode-se perguntar o que é objetivamente interessante ou importante em matemática. Mas isso também é claramente subjetivo. Porque consideramos Shakespeare um bom autor? Shakespeare não foi tão popular em seu próprio tempo quanto o é hoje. Existem convenções sociais evidentes a respeito do que é interessante, do que é importante. E elas dependem do paradigma atual.

Em matemática, como isso se manifesta?

Um dos exemplos mais famosos de uma mudança de paradigma é o cálculo. Quando o cálculo foi inventado, ele envolvia a divisão de algo que está se aproximando de zero por outra coisa que também está se aproximando de zero – conduzindo a zero dividido por zero, que não tem nenhum significado. Inicialmente, Newton e Leibniz criaram objetos chamados infinitesimais. Isso fez com que as equações funcionassem, mas não de forma sensata ou rigorosa para os padrões de hoje.

Agora temos a formulação épsilon-delta, que foi introduzida no fim do século XIX. Essa formulação moderna é tão estonteantemente, obviamente boa para acertar esses conceitos que quando se olha para as formulações antigas você pensa, o que eles estavam pensando? Mas na época, considerava-se que fosse a única forma de resolver o problema. Para ser justo com Leibniz e Newton, provavelmente eles teriam adorado o jeito moderno. Eles não pensaram nele por causa dos paradigmas da sua era. Então demoramos um tempão para chegar aqui.

O problema é que não sabemos quando estamos nos comportando assim. Estamos presos à sociedade em que vivemos. Não temos uma perspectiva externa que nos diga quais suposições estamos fazendo. Um dos perigos na matemática é que você pode não conceber que algo seja importante por não ser facilmente expresso ou discutido na linguagem que você escolheu usar. O que não significa que você esteja certo.

Eu gosto muito dessa citação de Descartes, em que ele diz essencialmente: “eu acho que sei tudo sobre um triângulo, mas quem disse que eu sei? Quer dizer, alguém no futuro pode vir com uma perspectiva radicalmente diferente e levar a um jeito muito melhor de se pensar sobre um triângulo”. E eu acho que ele está certo. Você vê isso na matemática.

Como você escreveu no seu artigo, você pode pensar na prova matemática como um pacto social – uma espécie de acordo mútuo entre o autor e sua comunidade matemática. Vimos um exemplo extremo disso não funcionando, com a alegada prova da conjectura abc de Mochizuki.

É extremo, porque Mochizuki não quis jogar o jogo como ele é jogado. Ele fez essa escolha de ser obscuro. Quando as pessoas fazem grandes avanços, com ideias realmente novas e difíceis, eu acredito que seja incumbência delas tentar incluir as outras pessoas, explicando a elas suas ideias da forma mais acessível possível. E ele estava mais para, bom, se você não quer ler do jeito que eu escrevi, não é problema meu. Ele tem o direito de jogar o jogo que quiser. Mas isso não tem nada a ver com comunidade. Não tem nada a ver com a forma como progredimos.

Se provas existem em um contexto social, como elas mudaram ao longo do tempo?

Tudo começa com Aristóteles. Ele disse que precisava haver algum tipo de sistema dedutivo – que você só pode provar novas coisas baseadas em coisas que você já sabe e sobre as quais tem certeza, voltando a certas “afirmações primitivas”, ou axiomas.

Mas então a questão é: quais são essas coisas básicas que você sabe que são verdade? Por muito tempo as pessoas simplesmente disseram, bem, uma linha é uma linha, um círculo é um círculo; há algumas coisas que são simples e óbvias e é por elas que devemos começar nossas assunções.

Essa perspectiva tem durado desde sempre. Ainda hoje é amplamente presente. Mas o sistema axiomático euclidiano que se desenvolveu – “uma linha é uma linha” – teve seus problemas. Houve esses paradoxos descobertos por Bertrand Russell com base na noção de conjunto. Além disso, era possível fazer jogos de palavras com a linguagem matemática, criando afirmações problemáticas como “esta afirmação é falsa” (se for verdadeira, então é falsa; se for falsa, então é verdadeira) que indicavam que havia problemas com o sistema axiomático.

Então Russell e Alfread Whitehead tentaram criar um novo sistema de fazer matemática que pudesse evitar esses problemas todo. Mas era ridiculamente complicado, e era difícil acreditar que oferecesse as melhores afirmações primitivas para começar tudo. Ninguém estava confortável. Algo como provar 2+2=4 tomava uma vastidão de espaço, desde o ponto de partida. Qual era o sentido de um sistema assim?

Então David Hilbert apareceu com essa ideia fantástica: que talvez nós não devêssemos dizer a ninguém qual era o ponto de partida certo. Em vez disso, qualquer coisa que funcione – um ponto de partida simples, coerente e consistente – vale a exploração. Não é possível deduzir duas coisas de seus axiomas que se contradizem, e você deve ser capaz de descrever a maior parte da matemática em termos dos axiomas selecionados. Mas você não deve, a priori, dizer quais são eles.

Isso também parece encaixar na nossa discussão anterior, sobre verdade objetiva na matemática. Então, na virada do século XX, os matemáticos perceberam que podia haver uma pluralidade de sistemas axiomáticos – que um determinado conjunto de axiomas não devia ser tomado como verdade universal ou autoevidente?

Sim. E eu diria que Hilbert não começou com isso por razões abstratas. Ele estava interessado em noções diferentes de geometria, em geometria não euclidiana. Era muito controverso. As pessoas na época diziam: você me dá essa definição de uma linha que contorna os cantos de uma caixa, por que eu deveria te dar ouvidos? E Hilbert dizia que se ele pudesse fazer algo coerente e consistente, você deveria ouvir, porque talvez houvesse outra geometria que nós precisávamos entender. Essa mudança de ponto de vista – que você pode permitir qualquer sistema axiomático – não se aplicava só à geometria: ela se aplicava a toda a matemática.

Mas é claro que algumas coisas são mais úteis que as outras. Então a maioria de nós trabalha com os mesmos dez axiomas, um sistema chamado ZFC.

O que nos leva à questão daquilo que pode ou não pode ser deduzido a partir dele. Há afirmações, como a hipótese do contínuo, que não podem ser provadas usando o sistema ZFC. Precisa haver um décimo primeiro axioma. E você pode resolver de qualquer jeito, porque pode escolher seu sistema axiomático. É bem legal. Nós continuamos com esse tipo de pluralidade. Não é muito claro o que está certo e o que está errado. De acordo com Kurt Gödel, nós ainda precisamos fazer escolhas baseadas em gosto, e tomara que nós tenhamos bom gosto. Nós deveríamos fazer coisas que façam sentido. E nós fazemos.

Falando em Gödel, ele também tem um papel grande nisso.

Para discutir matemática, você precisa de uma linguagem e um conjunto de regras para seguir nessa linguagem. Nos anos 1930, Gödel provou que não importa como você selecione sua linguagem, sempre há afirmações nessa linguagem que são verdadeiras, mas não podem ser provadas pelos seus axiomas de partida. Na verdade, é mais complicado que isso, mas ainda assim você tem esse dilema filosófico imediato: o que é uma afirmação verdadeira se você não pode justifica-la? É loucura.

Então existe essa grande bagunça. Nós estamos limitados pelo que podemos fazer.

Matemáticos profissionais ignoram isso amplamente. Nós focamos naquilo que é fazível. Como diz Peter Snark, “somos trabalhadores”. Nos esforçamos e tentamos provar o que podemos.

Agora, com o uso não apenas de computadores, mas também da inteligência artificial, como a noção de prova está mudando?

Nos movemos para um lugar diferente, onde computadores fazem coisas doidas. Agora as pessoas dizem, ah, eu tenho esse computador que faz coisas que as pessoas não conseguem. Mas ele faz mesmo? O computador pode mesmo fazer coisas que as pessoas não conseguem? Lá nos anos 1950, Alan Turing disse que um computador é desenhado para fazer coisas que humanos fazem, só que mais rápido. Nada mudou.

Por décadas, matemáticos têm usado computadores – para fazer cálculos que podem guiar sua compreensão, por exemplo. O que a IA pode fazer que é novidade é verificar aquilo que acreditamos que seja verdadeiro. Alguns desenvolvimentos fantásticos aconteceram com a verificação de provas. Como o [assistente de prova] Lean, que permitiu que os matemáticos verificassem muitas provas ao mesmo tempo em que ajudava os autores a entender melhor o próprio trabalho, porque eles precisavam dividir algumas de suas ideias em etapas mais simples para alimentar o Lean para verificação.

Mas isso é à prova de erros? Uma prova é uma prova só porque o Lean concorda que seja? De certa forma, é tão garantido quanto as pessoas que convertem as provas em inputs para o Lean. O que soa muito parecido com a forma como fazemos matemática tradicional. Então não estou dizendo que acredito que algo como o Lean esteja cometendo muitos erros. Só não tenho certeza se é mesmo mais seguro do que a maioria das coisas feitas por humanos.

Receio que eu seja um bocado cético a respeito do papel dos computadores. Eles podem ser uma ferramenta valiosa para acertar as coisas – particularmente para verificar matemática baseada massivamente em novas definições, que não são fáceis de analisar à primeira vista. Não há dúvida de que seja útil ter novas perspectivas, novas ferramentas e nova tecnologia no nosso arsenal. Mas me esquivo dessa ideia de que agora teremos máquinas lógicas perfeitas que produzirão teoremas corretos.

Você tem que admitir que nós não temos como ter certeza que as coisas estão corretas com os computadores. Nosso futuro depende no senso de comunidade de que dependeu ao longo da história da ciência: que possamos trocar ideias entre nós. Que conversemos com pessoas que veem a mesma coisa de perspectivas completamente diferentes. E assim por diante.

Mas então para onde você vê isso indo, no futuro, à medida que essas tecnologias fiquem mais sofisticadas?

Talvez elas possam assistir na criação de provas. Talvez daqui cinco anos eu diga para um modelo de IA como o ChatGPT, “eu tenho certeza que vi isso em algum lugar. Você checaria para mim?”, e ele vai me responder com uma afirmação semelhante que seja correta.

Uma vez que o modelo fique muito, muito bom nisso, talvez a gente possa ir mais longe e perguntar “eu não sei como fazer isso, mas há alguém que já tenha feito algo assim?”. Talvez alguma hora um modelo de IA possa encontrar maneiras hábeis de pesquisar a literatura para encontrar ferramentas que já foram usadas em outros lugares, de uma maneira que um matemático não poderia prever.

Ainda assim, não entendo como o ChatGPT poderia ir além de um certo nível para fazer provas, de um jeito que nos supere. O ChatGPT e outros programas de aprendizado de máquina não pensam. Eles usam associação de palavras baseadas em muitos exemplos. Então parece pouco provável que eles transcendam seus dados de treinamento. Mas se acontecer, o que os matemáticos vão fazer? Grande parte do que fazemos é prova. Se você tirar as provas de nós, não tenho certeza do que nos tornaremos.

Independentemente disso, quando pensamos sobre até onde vamos levar a assistência computacional, precisamos considerar as lições que aprendemos do empreendimento humano: a importância de usar diferentes linguagens, trabalhando juntas, carregando diferentes perspectivas. Existe uma robustez, uma saúde, na forma como diferentes comunidades se juntam para trabalhar e compreender uma prova. Se vamos ter assistência computacional em matemática, precisamos enriquecê-la da mesma forma.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

HOJE É UM DIA TRISTE! VIVA O VERDADEIRO E HISTÓRICO PARTIDO DOS TRABALHADORES, SEM HISTÓRIA E SEM LÍDERES DE VERDADE NÃO EXISTE DEMOCRACIA!



Hoje é um dos dias mais tristes da política brasileira, é o dia que querem destruir o militante histórico do Partido dos Trabalhadores no Ceará que luta de baixo para cima contra a pobreza, as desigualdades, que sai de casa sem recursos para fazer a campanha de Lula e do PT. Hoje é o dia do político profissional, das Oligarquias que vivem há décadas do Estado, do Coronel Ferreira Gomes, que ocuparam 8 partidos para manter seu projeto de poder e que agora vão usar o Partido dos Trabalhadores como uma grife de bolsas nas ruas. Porém são eles que gritavam "Lula está preso Babaca" que durante várias campanhas presidenciais atacaram Lula de todas as formas, e mesmo assim perderam. Os mesmos Ferreira Gomes que hoje seu grupo está na Prefeitura de Fortaleza com vários quadros como Ferruccio ligado a Cid, no Governo com seu irmão Quintino ou o pai da namorada do Ciro Gomes, e no Governo Federal com Camilo e Izolda com apoio de seu marido que transformaram a educação no bom negócio com a Fundação Lemann, às custas da exclusão da maioria da população cearense do acesso à educação com 60 % da população sem concluir o ensino médio e um dos piores em analfabetismo. O Ceará da Oligarquia que exporta seus pobres há décadas para periferias de outros Estados, apesar de bilionários que não pagam impostos e querem continuar a não pagar, deixando mais milhões de pessoas na extrema pobreza. Durante décadas que Coronel Ferreira Gomes estão no poder, o Ceará detém a maioria da população na extrema pobreza, mata mais gente que São Paulo, e destrói a Democracia cooptando políticos e partidos para se calarem para sua Máfia que não investiga corrupção e usa o Estado para manter a qualquer preço, os juniores, suas famílias no poder. Hoje é o dia dos Ferreira Gomes juniores, Camilo Santana junior mais esposa e familiares, dos juniores da família de Izolda e Véveu, Mauro Benevides junior e familiares, Sergio Aguiar juniores, Zezinhos, Bismarcks juniores e outros que sempre agiram em grupo, que foram eleitos pela máquina do Estado herdando orçamento e cargos, usando os partidos como políticos profissionais. Assim, são forjados falsos líderes pelas famílias que vivem e enriquecem pelo Estado. Hoje é o dia em que o Partido dos Trabalhadores nega à sua militância histórica o direito de ser feliz pela luta para se calar para a Ditadura das oligarquias do Ferreira Gomes. Mas o Ceará de Dragão do Mar, Bárbara de Alencar, Padaria Espiritual nunca se calará aos Coronéis. Da mesma forma que Ciro, Cid Ferreira Gomes e Camilo nunca serão Lula pois a História se fabrica nas ruas e não em gabinetes em acordos entre elites e oligarquias que acham que podem apagar a História e a esquerda.                     





quarta-feira, 15 de novembro de 2023

15 DE NOVEMBRO SEM REPÚBLICA E SEM ESTADO! SOBRE A ENGRENAGEM FEUDAL POLÍTICA NO COTIDIANO DAS INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS.




Durkheim, fundador das ciências sociais, foi perseguido ao demonstrar que as relações sociais numa sociedade feudal estavam mudando com o surgimento da sociedade capitalista devido ao capital, especialização de funções, mercado, democracia e outros. Se pensarmos um pouco como nossas instituições funcionam ou porque deixam de funcionar, as diversas interações entre a política, o crime, igrejas, o aparelhamento por tecnocratas, ou quando elas são transformadas em negócios para alguns, mostra que pessoas ou grupos tornam privado o que é público. Isso é pior que o feudalismo porque é chamado de República e Estado sem ser, Democracia vendida todos os dias em nomes de interesses privados e mercado com a pior distribuição de renda do mundo; cometendo juntas as maiores injustiças sociais na decima maior economia do mundo.  



Recentemente descobrimos a relação entre o fuzil do crime, a fé e o medo nas igrejas que atuam em comunidades dominadas pela violência. Mas porque o Exército brasileiro é o lugar mais democrático onde o pobre tem uma chance de vida? E algumas pessoas usaram o Exército para seus objetivos políticos. Porque algumas pessoas transformaram a polícia do Rio de Janeiro em milícias? No Brasil sem lei onde a ascensão social se dá roubando o Estado e o Povo, esses exemplos são dados todos os dias pelas nossas elites políticas como Centrão ou elites econômicas como o caso das Lojas Americanas para eles é a troca de moedas entre a nobreza que funciona sem capitalismo nem Republica, nem Estado, nem lei. 



Lembramos que quem vai servir no exército ou na polícia são os pobres que estudaram em escolas públicas e a maioria vive nas mesmas comunidades pobres sem ascensão social que domina quase 90% da população brasileira, fica claro os privilégios da nobreza que usa as instituições em seu nome para servir aos seus interesses de diversos modos. Todos sabem que se ganha eleições no Brasil comprando votos usando dinheiro do Estado roubado. E quem mentir mais e roubar mais ganha, essa é a lei? Sendo assim muitos seguem o exemplo para roubar as instituições como Exército, Polícia, Igrejas, Escolas, Universidades, Justiça, e claro Prefeituras e Governos, ou trocar moedas que geram enriquecimento com operações imobiliárias, superfaturamento com construtoras, contratos de compras e venda de serviços teleguiados há décadas, entre outros. Essa engrenagem feudal enferrujada há séculos é o verdadeiro comando no dia a dia brasileiro que tem por consequência milhares de vidas mortas sem direitos e milhões massacrados em suas vidas quase escravizadas para servir aos senhores feudais, seus capitães do mato e casas grandes. 



A equação da escravidão é simples todos sabem que isso acontece, ninguém comenta, todos se submetem ou se calam para não ser perseguidos ou mortos pela Ditadura da corrupção sem lei que atuam com máfias oligarquias. Vivem de espetáculos e imagens nas redes sociais ou na mídia comprada visando ampliar seus feudos. Porém é preciso explicar para as pessoas que o crime leva à ascensão social, mas pode morrer assim como se for ser policial, dois lados da mesma moeda. As Escolas sem condições mínimas de educar assim como as Universidades podem ser um bom negócio para alguns, que as políticas públicas têm donos bem antes de prestar serviço, quando prestam já atenderam primeiro os senhores feudais.




Hoje deveríamos comemorar as praticas republicanas e democráticas no Brasil. O sol e a esperança deveria ser para todos. Os discursos dos políticos, a justiça social, distribuição de renda, os direitos humanos deveriam ser consequência de nossa Educação, Economia, Justiça e Constituição. Nós nos acostumamos a esvaziar o conteúdo das palavras e tentar apagar a história com espetáculos. Muitos políticos e partidos viraram standups em nome dos mesmos que não tem vergonha, nem limites de dizer, esqueçam o que fizemos durante décadas nos governos que ocuparam diversos cargos porque as oligarquias vão continuar a viver do osso, trocando moedas entre familiares e amigos submissos e babões. A República permanece dos Coronéis e elites das Casas grandes sobre o silêncio da esquerda que negocia no mercado dos votos, seus votos, cargos e orçamentos para viver assim como as Oligarquias e gangues partidárias dos espetáculos enquanto milhões pagam com a vida sua pobreza, violências e desigualdades sem República, Estado ou lei. Enquanto nossas instituições são feudos onde se opera nas engrenagens politicas feudais da Casa Grande Brasil e Ceara.