Um dos textos que mais amo de Theodor W. Adorno & Max Horkheimer é sobre a gênese da burrice que faz parte do livro DIALÉTICA DO ESCLARECIMENTO.
SOBRE A GÊNESE DA BURRICE!
O símbolo da inteligência é a antena do caracol “com a visão tacteante”, graças à qual, a acreditar em Méfistófeles,38 ele é também capaz de cheirar. Diante de um obstáculo, a antena é imediatamente retirada para o abrigo protetor do corpo, ela se identifica de novo com o todo e só muito hesitantemente ousará sair de novo como um órgão independente. Se o perigo ainda estiver presente, ela desaparecerá de novo, e a distância até a repetição da tentativa aumentará. Em seus começos, a vida intelectual é infinitamente delicada. O sentido do caracol depende do músculo, e os músculos ficam frouxos quando se prejudica seu funcionamento. O corpo é paralisado pelo ferimento físico, o espírito pelo medo. Na origem, as duas coisas são inseparáveis.
Os animais mais evoluídos devem o que são à sua maior liberdade; sua existência mostra que, outrora, suas antenas foram dirigidas em novas direcções e não foram retiradas. Cada uma de suas espécies é o monumento de inumeráveis outras espécies cuja tentativa de evoluir se frustrou desde o início; que sucumbiram ao medo tão logo uma de suas antenas se moveu na direção de sua evolução. A repressão das possibilidades pela resistência imediata da natureza ambiente prolongou-se interiormente, com o atrofiamento dos órgãos pelo medo.
Cada olhar de curiosidade que o animal lança anuncia uma forma nova dos seres vivos que poderia surgir da espécie determinada a que pertence o ser individual. Não é apenas seu carácter determinado que o mantém sob a guarda de seu antigo ser; a força que vem de encontro a esse olhar é uma força cuja existência remonta a milhões de anos: foi ela que o fixou desde sempre em sua etapa evolutiva e impede, numa resistência sempre renovada, toda tentativa de ultrapassar essa etapa. Esse primeiro olhar tacteante é sempre fácil de dobrar, ele tem por trás de si a boa vontade, a frágil esperança, mas nenhuma energia constante. Tendo sido definitivamente afugentado da direcção que queria tomar, o animal torna-se tímido e burro. A burrice é uma cicatriz. Ela pode se referir a um tipo de desempenho entre outros, ou a todos, práticos e intelectuais.
Toda burrice parcial de uma pessoa designa um lugar em que o jogo dos músculos foi, em vez de favorecido, inibido no momento do despertar. Com a inibição, teve início a inútil repetição de tentativas desorganizadas e desajeitadas. As perguntas sem fim da criança já são sinais de uma dor secreta, de uma primeira questão para a qual não encontrou resposta e que não sabe formular corretamente.39 A repetição lembra em parte a vontade lúdica, por exemplo do cão que salta sem parar em frente da porta que ainda não sabe abrir, para afinal desistir, quando o trinco está alto demais; em parte obedece a uma compulsão desesperada, por exemplo, quando o leão em sua jaula não pára de ir e vir, e o neurótico repete a reacção de defesa, que já se mostrara inútil.
Se as repetições já se reduziram na criança, ou se a inibição foi excessivamente brutal, a atenção pode se voltar numa outra direcção, a criança ficou mais rica de experiências, como se diz, mas frequentemente, no lugar onde o desejo foi atingido, fica uma cicatriz imperceptível, um pequeno endurecimento, onde a superfície ficou insensível. Essas cicatrizes constituem deformações. Elas podem criar caracteres, duros e capazes, podem tornar as pessoas burras – no sentido de uma manifestação de deficiência, da cegueira e da impotência, quando ficam apenas estagnadas, no sentido da maldade, da teimosia e do fanatismo, quando desenvolvem um câncer em seu interior. A violência sofrida transforma a boa vontade em má. E não apenas a pergunta proibida, mas também a condenação da imitação, do choro, da brincadeira arriscada, pode provocar essas cicatrizes. Como as espécies da série animal, assim também as etapas intelectuais no interior do género humano e até mesmo os pontos cegos no interior de um indivíduo designam as etapas em que a esperança se imobilizou e que são o testemunho petrificado do facto de que todo ser vivo se encontra sob uma força que domina.
Em resumo lindo ! Como escrevo nos livros que leio perfeito e fantástico.
Outro livro, esse mais atual é Emburrecimento programado escrito por um dos mais premiados Professor de Nova York John Taylor Gatto. Ele nos lembra que precisamos de conexões verdadeiras e liberdade para ser quem quisermos ser e isso nunca vai acontecer se não tivermos espaço e tempo pra se desenvolver. Hoje vivemos em redes operacionais e não em comunidades onde de uma forma sistêmica podemos desenvolver nosso ser transformando o lugar que vivemos.
“O debate atual sobre termos um currículo nacional é uma farsa. Já temos um currículo oculto cujo objetivo é emburrecer, e nenhuma mudança nos conteúdos pode reverter seus efeitos macabros. As escolas ensinam exatamente o que pretendem, e o fazem muito bem: elas são um mecanismo de engenharia social. Está na hora de encararmos o fato de que a escola obrigatória é nociva para as crianças e que fazer remendos não resolverá o problema. A culpa não é dos professores ruins ou da falta de investimento: injetar mais dinheiro ou mais gente nessa instituição doente fará apenas com que ela fique ainda mais doente. Se queremos mudar o que está rapidamente se transformando num desastre de ignorância, temos de compreender que a instituição escolar serve para “escolarizar”, mas não para “educar”, e que “educar” e “escolarizar” são termos mutuamente excludentes. É urgente ignorarmos as vozes autorizadas da televisão e da mídia e recuperarmos as premissas fundamentais de uma verdadeira educação.”
O sistema escolar é o primeiro passo para destruir a essência humana de cada um. Lógico que existe vários caminhos de mudar a educação e a Finlândia, Emilia Romana e outras escolas estão há tempos realizando essas transformações libertando seres para apreender e inovar de forma sistêmica em suas vidas e cidades. Da mesma forma Universidades necessitam fazer o mesmo e muitas começaram a se libertar de currículos e métodos lineares, salas de aulas e professores que repetem palavras como papagaio sem se preocupar com as singularidades de cada ser humano. Um quarto pilar da Universidade que chamo Desafios do Ser e da Cidade podem potencializar e multiplicar o valor do ensino, pesquisa e extensão atuando de forma integrada, orgânica, complexa e sistêmica.
Da mesma forma que abordamos as escolas que não realizam educação podemos dizer que o sistema judiciário não realiza há tempos justiça mas quais são origens disso ? O capitalismo e a urbanização destruíram vidas e comunidades. Seres e a Terra.
EMBURRECIMENTO, INJUSTIÇAS E DESGOVERNOS PROGRAMADOS.
Hoje onde encontrar justiça num mundo de brutais desigualdades, violências, corrupção e miséria ? Encontramos justiça apenas para proteger os ricos e poderosos. O nome de um livro sobre esse tema poderia ser Injustiça programada . Da mesma forma onde estão os governos que não mais governam para população com políticas públicas que tenham impacto em suas vidas e cidades ? Quando o dinheiro é usado para corrupção, manter privilégios, e matar as pessoas por falta de hospitais, avanço do crime , violências e outros. O nome desse livro pode ser Desgoverno programado.
E assim quando se junta Emburrecimento programado com injustiças e desgovernos programados temos a normalidade do absurdo triste e insensível que nos acostumamos a viver. Torna-se urgente e necessário inovar nosso ser e a Terra de forma sistêmica, ressuscitarmos vidas e cidades porque não existe Justiça sem Economia, Democracia e Governos. Devemos buscar e seguir caminhos onde o Bem-estar social de todos dialoga com a escolha coletiva e liberdade individual.
Claro ainda falta outras questões que vamos trabalhar com os respectivos pensadores e educadores que não existe ser nem terra sem a natureza que estamos destruindo, sem compreender as tecnologias que estamos criando, que não existe vida sem arte e nossa capacidade de viver uma existência boa, justa e bela, sem integrar nossa espiritualidade, saúde e amor com uma participação ativa e cidadã na sociedade que estamos construindo de um pequeno grão de terra a Terra da Sabedoria. Necessitamos aprender a pensar, sentir, agir e inovar de forma sistêmica e nos educar por esses caminhos transbordando de ideias e vivências .
Em busca de verdade o mar, animais ou a vida ensina nem sempre pelos melhores caminhos. Que mal ofendemos a Deus e outras pessoas ou animais ? Confiança vira dúvida, esperança se transforma em superstição, o homem pode amaldiçoar a si mesmo pela ausência da razão ou de apreender com a vida.
Essa jornada não é nada tranquila é como navegar pelo mar e temos que também participar do conflito de ideias para que possamos criticar e inovar. O egoísmo e as violências fazem parte de nossa sociedade, se organizam e expandem suas consequências, não adianta apenas pregar a paz enquanto ele avança por múltiplos caminhos . O individualismo favorece o egoísmo e as violências é preciso dialogar e debater isso da mesma forma que estimular um comportamento espiritual, curioso, aberto, flexível, experimental mas também pronto para o conflito em determinadas circunstâncias da jornada quando a vida, a terra e o mar nos ensina a navegar em busca de novos horizontes.
A discussão pública deve ser racionalizada. Da vida emerge um novo ethos tolerante com as diferenças, mas também capaz de expandir seu ser e criar. Ser de ferro ou cético diante das circunstâncias não é suficiente nem uma lucidez imoral que ofusca tudo ao seu redor. É necessário ter posição e não temer os conflitos pois desse medo nascem as burrices. Não adianta esperar os casos extremos para se posicionar ou se corromper no caminho, às almas fracas encerram suas existências e vidas quando param de criticar, criar e evoluir.
Ó, Pai
Não deixes que façam de mim
O que da pedra Tu fizestes
E que a fria luz da razão
Não cale o azul da aura que me vestes
Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor
Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorar a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima
Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
E ser mais jovem que meu filho
De ir aprendendo com ele
A magia de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio deus
Viver menino, morrer poeta
Nenhum comentário:
Postar um comentário