Se cada pessoa realizar seus desejos em nossa sociedade teremos um mundo melhor ? Essa é a pergunta que o filme 1984 da Mulher Maravilha nos faz. Uma análise brilhante que leva às telas de cinema os questionamentos feitos por Deleuze e Guattari em suas obras sobre o capitalismo se quisermos aprofundar essas questões. Assim como a busca pela verdade que em 1984 de Orwell, não por acaso o filme escolhe como ano, já nos alertava sobre casamento entre mentiras e poder, e que isso acontece agora no capitalismo de Trump ou no socialismo da China.
Os desejos de poder, consumo, riqueza, destruir os inimigos ao serem realizados em escala coloca o mundo em guerra, destrói o planeta e aumenta as violências e desigualdades. A opção do ter sem ser, coloca nossa energia e vida em direção a catástrofes pessoais e coletivas. Existem outros caminhos de ter e ser, mas eles começam pelo ser e pela nossa capacidade de enxergar a realidade que nos cerca e aprender com ela sobre a verdade do que sou e o que quero ser ! Mais do que uma profissão significa as escolhas que realizo em relação às formas de ser, viver e governar . Se com minhas escolhas aprofundo as violências e catástrofes ao meu redor ou pior ? Sim podemos estar presos na cadeia ou na sociedade , o que muda é as grades sociais, econômicas, tecnológicas ou curriculares. Alguns se libertam da prisões, outros nem com todo dinheiro ou diplomas do mundo.
Claro se você olhar para o concreto mais duro da vida dos estudantes e professores, independente dos discursos oficiais ou pior dos políticos que não se educam e vivem da corrupção, vamos enxergar o tamanho do abismo e absurdos que vivemos. Todavia, mesmo assim, temos que dar o primeiro passo e planejar a médio e longo prazo. Chegou a hora de derrubar as paredes internas e externas que aprisionam nosso ser e sociedade que vivemos.
Uma coisa é certa, diante de uma sociedade e vidas fragmentadas não tem solução, mesmo que cada instituição faça a sua parte com excelência. Algo que é muito difícil, pois elas são compostas por pessoas com vidas fragmentadas. Todos não partem das mesmas condições devido às brutais desigualdades e cada vida é singular, portanto esse é o desafio de como organizamos a sociedade e instituições para transformar vidas únicas. A boa notícia é que temos tecnologia para isso visando transformar nossa sociedade em orquestras e as vidas em músicas, mas o que falta é a poesia da visão sistêmica das pessoas sobre suas vidas e a sociedade que vivemos.
O cinema e a literatura se interessam por personagens, pois da trajetória deles podemos tirar lições ou refletir sobre as nossas vidas. A psicologia emerge ou mesmo o “cuidar de si” na Grécia com o mesmo propósito, pois é preciso tratar as pessoas como seres únicos. O desafio de educar é dificultado hoje pois o currículo e o atual modelo da Escola ou Universidade contribui pouco diante do desenvolvimento de seres únicos ; quando a vida e o mundo se tornam a verdadeira sala de aula baseada em desafios que destroem nosso ser, vida e o mundo que vivemos.
No meio de tantas loucuras consideradas normais, a sátira dos filmes e da vida, visa deslegitimar poderes existentes, que declara obtusos e irreformáveis; ao convencionalismo pernicioso, falso, na falta da verdade e de relações humanas nos acostumamos a viver. Ao invés desse labirinto preferimos o caminho natural sem métrica do ser.
Hoje, a linguagem não serve para comunicar e sim para exprimir egos, monólogos, onde as pessoas não dialogam, nem escutam as outras. Principalmente ninguém busca a verdade, age de acordo com os interesses do ter, assim é melhor falar mentiras, entre aqueles que concordam com elas em grupos fechados, que se reproduzem pelas redes sociais. Pessoas surdas e tagarelas vivendo em sociedades de status quo, onde o ter e os objetos de consumo são a principal linguagem.
O diálogo é anti classificatório, implica igualdade, mobilidade espiritual, intercambialidade das posições e a capacidade de escutar. O egocentrismo ingênuo, inócuo e inalterável, mostra seres que fogem de si mesmos, presos pelos modelos da sociedade ou de si mesmos, sem questionamentos, sem diálogo com o outro diferente. As Escolas e Universidades têm ampliado esse fosso entre diferentes e as fugas. Se admiramos robôs é porque muitas vezes nos assemelhamos a esses autômatos.
A vida é uma narrativa dinâmica, onde as posições mudam, onde acontecem interações transformadoras, hibridizações recíprocas que nos libertam de labirintos e fugas sem saída. As pessoas são múltiplas e necessitam ampliar seus seres, capacidades, imaginações, expressar seus sentimentos, dores e revoltas para que possam descobrir e construir outros caminhos em suas vidas, sendo personagens de uma nova história com novas formas de ser, viver e governar. Ampliar a taxa de aventuras em nossa vida e reduzir a de segurança.
Aprofundar a democracia é ampliar os caminhos possíveis para que pessoas que se consideram comuns se tornem únicas. Heróis sempre existiram mas são poucos, ir além das circunstâncias que vivemos para transformá-las, isso é uma tarefa para todas as pessoas. Falar outras línguas, conhecer outros mundos, aprender a olhar é um silêncio ativo e a palavra, escuta em gestação.
Enquanto protagonistas carregam o conflito de ser em nossa história é hora de escutar as pessoas que indevidamente consideramos menores ou subordinados e aprender com elas, e descobrimos que somos ignorantes como ponto de partida para aventura da escuta, aprendizado e abertura com o outro. Demora tempo para ser e compreender, assim como conhecer verdades, aprender a educar a si, perguntando sobre o que vê, o que pensa, e o que faz diante de algo, qual escolha de seu ser ? Os afetos e a emancipação de seres importam pois elas transformam relações de poder e sociedades.
Se puder assista esse filme ALMA IMORAL do Rabino Nilton Bonder que esta disponível no YOU TUBE, sobre o educar e o cuidar de si. Seres que por caminhos únicos em suas vidas, desbravaram para transcender e ampliar seus seres, transgredindo as regras do mundo que vivemos com um futuro melhor pra todos. Entre amor, ódio e ignorância, seguindo as tradições judaicas e budistas, as paixões pelo que não conhecemos nos convida a agir, e nos permitem sermos afetados por alguém ou por experiências que transformam nossas vidas , sociedades e saberes. Pessoas vazias se cobrem com o ódio a si e ao outro, o ódio evita enxergar o real e o imaginam de acordo com seus interesses, gerando uma fuga do real. O amor une tudo no imaginário para construir outros mundos pela interação e diálogo com escuta.
Na expansão e individualização do ser, além da espiritualidade, trabalho, causas, saberes, tecnologias, esporte, saúde, música, livros, amor, amigos, família, convivência com a natureza, animais, plantas, vivências, praticas, não esqueça o poder da arte em criar outros mundos possíveis e mudar vidas. O Gambito da Rainha, um filme da Netflix baseada em um livro de ficção, tem mudado a vida de milhares de pessoas e suas formas de agir no mundo. A personagem principal e a história não existe, na realidade foi criada, mas tem mais poder que o real em transforma-lo. Algumas artes cantam para ser escutadas, outras sensibilizam, encantam e dialogam com nossa alma, destruindo poderes, certezas e vaidades. Xeque mate na vida em uma cena.
Necessitamos destruir o poder do saber e dos desejos que carregamos sobre nosso ser, descobrir nossas ignorâncias e vivê-las , ao invés de guiar as pessoas pelo saber, devemos desobstruir as vias de acesso a esse saber e ser para que as pessoas possam caminhar livres por eles.
O não saber, o não dialogar, o não viver, gera sintomas em nossas vidas. Não se trata apenas da inibição e recusa que todos passamos em contextos de aprendizagem em nossas vidas mas o casamento entre ignorância e desconhecimento que gera ódio alimentados pelo ter e não ser. Entre o finito e o infinito existem múltiplos caminhos, seres e contrários. O saber anda junto com nossas ignorâncias, essa é opção de ser se alimentando da curiosidade que se alimenta da existência do que ignoramos.
Muitos escolhem ter formas de viver modeladas e aprisionam suas possibilidades, recusam a aprender e dialogar, convertem seus sofrimentos em sintomas, mas a ética e razão podem nos libertar com velhas tecnologias sem robôs. Necessitamos cuidar de si, mais do que educados e possuídos por sistemas de ensino artificiais. O privado e o público andam juntos, nossa interioridade é o que fazemos na sociedade, espaços em permanente transição, onde aprendemos fazer, gerir e agir juntos sem um comando de direitas ou esquerdas políticas. Partilhar nosso íntimo é uma forma comunitária de estar, de dividir incertezas e promessas. Uma origem e um destino que seja comum a todos e nos permitam dialogar sobre nossas ignorâncias, e as diferenças e singularidades que nos tornamos. Uma democracia direta sem representações, ao invés de filmes e atores guiados podemos ser personagens de nossa própria história, sem coerções de temas e grades curriculares que aprisionam seres e vidas.
As escolas e Universidades devem dialogar com as vidas e as comunidades do qual são apenas um caminho. Antes desse caminho escolar, fazemos parte da História que antecede tudo isso, incluindo nossa história pessoal e da família e cidade que somos feitos por ela também, precisamos aprender a caminhar dialogando de um pequeno grão de terra a Terra da Sabedoria; muitos mais que ciência e tecnologia precisamos ser. Levei uma vida para escrever esse artigo apoiado por outras vidas mas cada palavra e experiência Valeu Mano!
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