SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Em 1785, Jeremy Bentham criou o panóptico - uma prisão onde guardas podiam observar todos os presos sem serem vistos.



Imagine trabalhar sabendo que uma IA está contando cada segundo que você não move o mouse. Não precisa ir muito longe. Isso já aconteceu com 1.000 pessoas no Itaú.



Em 1785, Jeremy Bentham criou o panóptico - uma prisão onde guardas podiam observar todos os presos sem serem vistos. Em 2025, o Itaú criou a versão corporativa.

Durante seis meses, 35 mil funcionários foram monitorados por algoritmos que contavam cliques, abas abertas, tempo de inatividade.

Funcionários descobriram no dia da demissão que suas pausas para pensar foram interpretadas como "ociosidade" por uma máquina.

Por trás de cada demissão "por baixa produtividade" existe uma história que precisamos contar. Pessoas que trabalhavam há anos na empresa, que de repente descobriram que sua humanidade no trabalho havia sido reduzida a métricas digitais. Profissionais que pausavam para refletir sobre um problema complexo e foram penalizados por algoritmos incapazes de distinguir contemplação de preguiça. E, claro, provavelmente tinham pessoas q tavam só ociosas mesmo.

Isso representa a evolução do taylorismo para o que podemos chamar de "taylorismo digital" - onde não apenas movimentos físicos são cronometrados, mas cada interação digital é medida, julgada e pode custar seu emprego.

O Itaú criou um panóptico digital onde a possibilidade constante de estar sendo observado modifica fundamentalmente nossa forma de trabalhar, não pela eficácia, mas pelo medo da vigilância.

Numa sociedade onde temos líderes no topo de hierarquias sedentos por controle e alta performance esse tipo de ferramenta realiza os fetiches mais sombrios.

A questão não é tecnológica, é ética. Como essa lógica de controle biopolítico transforma o trabalho intelectual em performance para máquinas? O que isso significa para criatividade, inovação e saúde mental quando sabemos que cada pausa pode ser interpretada como falha?

Quando algoritmos decidem quem merece trabalhar, perdemos mais que empregos - perdemos nossa humanidade.

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