SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

A TRAJETÓRIA DO DISCURSO ESCOLAR PARA A ZDP EM ESPAÇOS EDUCACIONAIS NÃO ESCOLARES EM VYGOTSKI.

 


Até 1925 nenhum dos sistemas teóricos construídos tinha considerado a educação como processo decisivo na gênese das capacidades psicológicas que nos caracterizam como seres humanos. A natureza humana é o resultado da interiorização, socialmente guiada, transmitida de geração para geração para Vygotski. A sua vida foi seu maior experimento onde buscou construir uma nova sociedade, nova cultura, nova ciência e um novo homem.


Ele necessitava de uma teoria científica da natureza humana e sua mudança que nasce da análise materialista das funções psicológicas humanas e das produções artísticas e culturais. Através do método genético experimental e analisando a atividade instrumental e interação para o estudo científico da psicologia, a origem sócio histórica das funções psicológicas superiores, as relações entre aprendizagem e desenvolvimento, organização semiótica do pensamento e outras. 


A escola de psicologia soviética e sua teoria sócio cultural mudou o mundo apesar de ser publicada nos EUA só em 1962. A psicologia para ele tem como objetivo prático a melhoria da sociedade através do aperfeiçoamento da educação. As relações dialéticas entre a natureza e a conduta humana e suas diversas interações geram o desenvolvimento. Estudar o processo de mudança é o caminho em busca das origens e não reduzi-los a fósseis momentâneos. Focar no processo e não nos produtos nos permitem uma explicação.


Saltos revolucionários que mudam a própria natureza do desenvolvimento é o que busca pesquisar Vygotski e não meros incrementos quantitativos e acumulativos momentâneos das capacidades humanas. Em determinados momentos novas forças biológicas e sociais, e novos princípios educacionais entram em campo para a transformação humana. Novas formas de mediação como a escrita e internet se integra com outros, gerando novos caminhos de aprendizagem e desenvolvimento.


Em relação a fase filogenética, Vygotski aceita a teoria darwiniana de adaptação incluindo o uso de ferramentas para que de símios nos tornamos humanos. No sócio genético observamos o ser humano como participante de um grupo sócio cultural. O funcionamento intelectual muda de acordo com períodos históricos e estruturas sócio econômicas. O ontogenético refere -se ao desenvolvimento pessoal , a evolução histórico cultural da espécie cria e redefine outros processos psicológicos que supõe um salto qualitativo em relação aos processos psicológicos inferiores. A linguagem, pensamento e outros sistemas simbólicos traduzem na aquisição de funções psicológicas superiores. A gênese de um ato mental singular mesmo numa escala de tempo pequena é um outro caminho de pesquisa para Vygotski. 


A vida social e a interação com outras pessoas e a participação em atividades na sociedade são fundamentais para teoria socio cultural. Mas como ocorre essa aprendizagem do social para o individual ? Os conceitos de interiorização, zona proximal de desenvolvimento e apropriação. Uma atividade externa social se torna interna psicológica. Apropriação vem do contato com seus semelhantes e cultura se apropriando de faculdades e modos de comportamentos desenvolvidos historicamente como ferramentas psicológicas para uso pessoal. Cada um se apropria de acordo com suas características pessoais, ideias, experiências, interesses e outros.


Memória colectiva e recordação compartilhada é a interação entre vários indivíduos que são apropriadas por grupos. Já a distância entre o desenvolvimento real e o potencial de uma pessoa forma uma zona de desenvolvimento proximal onde um indivíduo pode apoiar outro nessa passagem de aprendizagem. Os processos de ensino e aprendizagem criam o desenvolvimento proximal. A ZDP é dinâmica e funciona por degraus até que a criança tenha autonomia de realizar a atividade sozinha. A atuação das meninas e meninos nas atividades é fundamental para dar novos rumos à aprendizagem não construída apenas pelos professores. 


O processo evolutivo vai a reboque do processo de aprendizagem. A participação guiada nos leva dos níveis mais simples aos mais complexos. Eles transformam os conhecimentos e objetos que interagem ampliando sua autonomia sobre eles. A ajuda constante do professor ao aluno considera o ambiente da ZPD um meio para aprendizagem. A mediação semiótica envolve o conhecimento compartilhado e a interação entre subjetividades visando uma aprendizagem comum. A valorização do contexto e a linguagem são essenciais nesse processo de aprendizagem.


A análise do discurso nas interações sociais e o significado das palavras são essenciais na relação entre linguagem e pensamento para Vygotsky. A análise dos discursos educacionais nos contextos formais da escola é um principal interesse de Vygotsky no fim da vida. Os processos psicológicos por meio das atividades práticas. O conjunto de saberes e capacidades postas em práticas numa interação social são capacidades que se relacionam com contextos práticos de ação. Nesse sentido a escola como funciona precisa ser criticada e transformada.


O discurso escolar tem se transformado a partir da perspectiva histórico cultural que entende a aprendizagem como um processo distribuído, interativo e contextual que é resultado da participação e autonomia de vários atores em comunidades de saberes e práticas não necessariamente dentro da escola, do currículo, com auxílio do professor ou na sala de aula. Coordenação ou colaboração conjunta através da expressão e reconhecimentos de pontos de vistas diferentes, criação e resolução de conflitos entre outros. Afirmação das diferenças, é por meio dos discursos que as versões sobre o conhecimento se constroem e é por meio dele que podemos analisar como se constroem. 

 


 


terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

OS CONTADORES DE HISTÓRIAS, ARTE E EDUCAÇÃO!




Quem inicia a aula ? Que aula ? Não é aula, é espetáculo! Professora ? não atrapalhe a artista ! A contadora de história vai começar a contar…Despertar os encantos que habitam esses mundos desconhecidos de nossa imaginação. Por favor ! Razão me dê licença, a literatura infantil vai falar de outras razões que não cabem no método científico, porém ele é um personagem importante de nossa narrativa ! Uma disciplina deve ser sempre maior que os autores e conceitos sobre ela. Ela faz escolhas como poder ser vivida visando renascer outras teorias e praticas. 



Minha história poderia ser a defesa de uma tese de Doutorado em educação. Ele é um educador social que aprende com mente corpo, antes da razão, sobre os diversos movimentos da comunidade pobre onde nasceu e outras onde atua como educador. Outros personagens querem saber se ele citou todos os autores que escrevem sobre educação popular, e outro sobre uma abordagem de pesquisa, mas talvez isso o Google consiga pesquisar mais rápido. Se citasse um único autor ou nenhum como Paulo Freire em muitos livros, o que fica é a coerência de seu discurso, razões, ou melhor a história. 



Claro que prefiro esquecer quem me conta a história, que dentro dela carrega o discurso, os gestos, a vida do contador de histórias que ser seja uma professora, uma artista, ou mesmo um Doutor. A história é arte, educação, ou pode ser o percurso de uma jornada científica em busca de descobertas ? Esses foram os limites que brincamos com eles durante toda a disciplina, em busca de elos, portas escondidas que me levam às outras dimensões da aprendizagem. Mas afinal de que infância, criança e pedagogia estamos contando suas histórias ?  



Uma história aqui, outra acolá , mas resolvemos parar para escutar a platéia e os bastidores do espetáculo. O que pensam os contadores de história sobre o impacto de sua magia nas crianças, jovens e adultos ? Que teorias carregam para atribuir a arte, um conjunto de razões científicas que extrapolam os bastidores do espetáculo ? Sim, elas estão todas lá, bem que gostariam de entrar no palco com os personagens da história. Porém se na disciplina de Literatura infantil na Universidade podemos fazer essa pausa e refletir sobre os encantos. Na arte negaríamos os dons da imaginação e a capacidade do contador de histórias em desbravar os caminhos da aprendizagem por múltiplos meios. 



Educar por histórias é o que fazemos desde que a humanidade nasceu mas nem sempre faladas, ora pintadas nas cavernas, ora vividas em múltiplas brincadeiras, inclusive de brigar. O oral foi dando lugar a escrita, e depois imagens, e agora cada vez a interatividade dos games nos faz contar uma história com nossas ações. Nossas lembranças revividas em nossas memórias, é o caminho curto para entender a importância delas em nossas vidas. Porém, no lugar de educadores, as práticas pedagógicas integram aquela história num contexto mais amplo de uma disciplina ou no momento em que ela é em si uma prática pedagógica. Porém uma não se reduz a outra. 



Esse universo amplo explorado pela disciplina em aulas, webinário, conferências, e encontros não visam gerar sínteses, nem  conclusões, mas muitas vezes levam por labirintos que temos que encontrar a saída escutando outras histórias. No mundo dos contadores de histórias, as dialéticas são complexas, eles têm seus ritos, quase como membros de uma mesma tribo mas composta de pajés, guerreiros e bruxas. Quando começam a contar histórias despertam infinitos e ao mesmo tempo singulares mundos, pois cada um aprende e interage à sua maneira com aquela história, cena, ou um personagem.  



Sim, agora é a hora de contar a minha história, como educador e artista, tenho que escolher por onde começar ? Essa é a melhor lição da disciplina nos ensinar ou melhor encantar para sermos contadores de história. Porém algumas histórias buscam ser proibidas em nosso mundo de fascismos e pandemias, histórias que educam e libertam, nos fazem rir e chorar, nos convidam a contar e viver histórias juntos, afinal é no outro que ouvi falar ou que paro para escutar que me torno gente, me humanizo e sonho dentro de um sonho que considero real. É num mundo de contadores de histórias que ensinam e aprendem, um a história do outro, que nos educamos com arte e ciência. Sim, as histórias dão vida à Terra do Nunca e da Sabedoria que nos transformam, e as realidades que vivemos.  



Porém para mim a melhor história é aquela que ainda não escutei ! Aquela que ainda não contei nem imaginei ! Ou aquelas histórias que gestam em seu seio por séculos outras histórias. Elas necessitam de bons contadores de histórias, educadores, artistas e claro pessoas dispostas a escutar de forma profunda seus significados e de como elas continuam a mudar a história dos mundos que vivemos. 


"E no lar de sua mãe, Hermes, meteu-se obliquamente pelo buraco da fechadura, como a névoa em uma brisa de outono."


"Eu te proibi de comer esse fruto para evitar sua ruína. Que desculpas tens tu para ser desobediente ?"


Somos assim como você meu Deus, contadores de boas histórias. 







      




       

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

NOVAS FORMAS DE SER, VIVER E GOVERNAR . MINHA VIDA, PESQUISAS, EXPERIÊNCIAS E METACOGNIÇÃO NA LINHA DO TEMPO!

 




Vim da arte para a psicologia, o que pode explicar; ainda que não justificar, o fato de que às vezes o leitor me veja pintando contextos e cenários em ocasiões em que ele preferiria que assinalasse fatos e conceitos...” (ERIKSON,1976,p.14).


Reflexão : Eu também vim da arte para psicologia e depois educação.



Quando Shakespeare escreveu As sete idades do Homem, ele não incluiu –imaginem só – o estágio do brincar ( ... ). Sentada com o gráfico do ciclo da vida no colo, enquanto Erik dirigia, eu comecei a ficar inquieta. Shakespeare tinha sete estágios, como nós, e ele tinha omitido um estágio importante (...) num chocante momento de lucidez, eu percebi o que estava errado: nós estávamos faltando (...) Os sete estágios do gráfico pulavam de Intimidade para Velhice. Nós certamente precisávamos de um outro estágio entre o sexto e o sétimo (...) Incluímos um novo estágio intitulado Generatividade X Estagnação (...). Comove difícil para a pessoa reconhecer e ter a perspectiva de onde ela está presentemente no próprio ciclo da vida” (ERIKSON,1998, p.VI)


Reflexão : Nós também passamos pela dificuldade de perceber todos os desafios da vida no ciclo que estamos vivendo, porém nos questionamos sempre, sobre as escolhas que fazemos,  e atualizamos a compreensão do ciclo e outros no passado. 



Circulou entre antropólogos e, no prefácio do livro “Infância e Sociedade” ele cita Gregory Bateson, Ruth Benedict, Martin Loeb e Margaret Mead, destacando Skudder Mekeel e Alfred Kroeber como os principais responsáveis pela sua iniciação no método da pesquisa-ação.


Reflexão :  A pesquisa-ação sempre é o método que uso em espaços educacionais não escolares nos projetos que realizamos visando metacognição, pesquisa científica, e como esta aprendizagem impacta em minha trajetória de vida.  



Erikson explica que sua teoria se propõe a entender a constituição dos aspectos adaptativos e criativos que compõem a estruturação da personalidade ao longo do desenvolvimento desde o nascimento até a morte. Isto significa dizer que há uma nova forma de olhar a relação entre as instâncias psíquicas (Id, Ego e Superego) estendida para a velhice.



Ou seja, a maneira como o Ego vai desenhando a fronteira entre mundo externo e interno é o movimento mais forte e ativo em direção à normalidade e mais forte que o conceito de instinto. Na verdade Eriksson mudou o foco da dinâmica teórica de compreensão da personalidade, ressaltando o papel do Ego como o principal responsável pela organização das memórias e síntese das experiências emocionais vivenciadas pelas pessoas. Este é o mecanismo que garantirá a construção da vida psíquica saudável.


Reflexão :  Eu sempre tratei minha vida em duas grandes perguntas: Quem sou eu ? e o mundo em que vivo. Buscando conhecimentos em livros, filmes, universidades, projetos e diálogos com pessoas diversas de mundos diferentes para respondê-las. Relato essa jornada em mais de 880 artigos escritos nos últimos 15 anos no meu blog www.habitanteterradasabedoria.blogspot.com   



Nesta dimensão é apontado um conceito importante: Princípio Epigenético. Assim explicado: “Epi significa “Sobre` e Gênese significa `Surgimento ́. Então epigênese significa que algo se desenvolve sobre outra coisa no espaço e no tempo. Isto me pareceu uma ideia simples e suficiente a ser adotada para nossos objetivos” (1967).


Reflexão : Estudo epigenética mas não conhecia sua relação com Erik Eriksson


A idéia das três dimensões nos ajuda a compreender  o desenvolvimento psicológico saudável e a explicação para a infinita capacidade de adaptabilidade do ser humano, sua condição de integrar experiências e organizar sua história, o que lhe trará um senso de continuidade, pertença e significado para a vida cotidiana. O Homem evolui porque precisa manter-se em equilíbrio, portanto, deve estabelecer a continuidade e sentido para os conflitos que experimenta ao longo de sua vida.


Reflexão :  Concordo cada conflito enquanto não resolvemos ficamos paralisados em um ciclo e fechados para outros. Porém existem interações entre eles, e o respectivo tempo de maturação e catarse de cada um é variável e singular.  



A psicanálise na atualidade está implementando o estudo do ego, um conceito que caracteriza a capacidade do homem de unificar de modo adaptativo sua experiência e sua ação. Está transferindo a importância que atribuía ao concentrado estuda das condições que entorpecem e deformam o ego individual para o estudo das raízes do ego na organização social (...) este livro é um estudo psicanalítico da relação do ego com a sociedade ( ERIKSON, 1976, p. 13).


Reflexão :  Acho que essa grande lacuna da obra de Freud que Erik preenche de forma complexa com a cultura, se somada a Jung com o inconsciente coletivo não nos reduzimos as razões pobres e frias sem cultura e espiritualidade.



Esta experiência, na verdade, é considerada uma das primeiras pesquisas denominadas “observação participante”. Eriksson explica que gostou muito de desenvolver esta pesquisa, pois a “observação participante'' implica que, na observação de seres humanos, o observador também é participante e isto deve ser parte de um plano de trabalho. Creio que devemos desenvolver a capacidade de nos convertermos em participantes observadores em terrenos como a política, isto é, devemos participar sem sacrificar a compreensão”.


ESPAÇOS EDUCACIONAIS NÃO ESCOLARES COMO VIVÊNCIAS DE OBSERVADORES PARTICIPANTES VISANDO METACOGNIÇÃO.



No caso dos índios Sioux, aconteceu que, em função da colonização, este povo perdeu, primeiramente sua condição de nômade e caçador de búfalos , depois foi derrotado em sua tentativa de se amoldar a uma função de guerreiro e, em seguida sua necessidade de sobrevivência o tornou cuidador de gado – o que também lhe foi tomado e, finalmente tornou-se um povo lavrador sedentário, silencioso, sem vigor, adoecido e desconfiado. Condições contrastantes com suas características originárias de povo viril e nômade.


Erikson enfocou sobremaneira o papel da educação infantil neste estudo e revelou um dilema profundo: O projeto e o planejamento educacional oferecido pelo governo não haviam considerado os resíduos do Universo primitivo cultural da tribo e este foi considerado o ponto de partida para a desagregação da identidade coletiva e do enfraquecimento da formação da identidade pessoal.


Para ser fiel à natureza clínica de nossa investigação, deve-se introduzir o material sobre a antiga educação infantil que se apresentará aqui com uma abundante descrição circunstancial. Para chegar a uma clareira onde uma luz mais forte nos permita ver o problema da infância e da sociedade, devo levar o leitor através dos espinhosos arbustos das relações raciais contemporâneas.



Wissler (no livro Depression e Revolt. Natural History. Vol 41, nº2.1938): “quando os búfalos desapareceram, os sioux morreram, étnica e espiritualmente. O corpo do búfalo havia fornecido não só alimento e material para roupa, abrigo e tendas, mas também utilidades como sacos e canoas, cordas para os arcos e fios para coser, tigelas e colheres. Partes do búfalo eram utilizadas para fazer remédios e adornos; os excrementos, secados ao sol, como combustível para o inverno. As sociedades e as estações, as cerimônias e as danças, a mitologia e os jogos das crianças exaltavam-lhes o nome e a imagem”. 



Reflexão :  Estou pesquisando atualmente o povo Pitaguary e Baniwa,  e sua educação indígena, incluindo, jovens lideranças indígenas da comunidade na disciplina de educação do campo do Professor Babi, visando o diálogo com a disciplina de Psicologia da adolescência da Professora Jakeline.


Implantam o metrônomo contínuo da rotina na criancinha impressionável, para regular suas primeiras experiências com seu corpo e com seu ambiente físico imediato. Só depois dessa socialização mecânica, é incentivada a se declarar uma individualista áspera. Persegue objetivos ambiciosos, mas permanece compulsoriamente dentro dos limites das carreiras estandardizadas que, na medida em que aumenta a complexidade da economia, tendem a substituir as responsabilidades mais gerais. A especialização assim incrementada conduziu esta civilização ocidental ao domínio da máquina, mas também a uma corrente subterrânea de ilimitado descontentamento e de desorientação individual.


Acreditamos que aqui nos encontramos não diante de uma causalidade simples, mas de uma assimilação mútua de padrões somáticos, mentais e sociais, que se desenvolvem reciprocamente e elaboram o plano cultural para uma vida econômica e eficiente. Só essa integração proporciona o sentimento de estar à vontade neste mundo.



Reflexão :  Defendo a Polimatia do ser Humano como princípio educacional em diálogo com sua cultura e desafios econômicos, sociais, ambientais e outros. Considero a especialização uma castração do potencial humano que afeta o seu desenvolvimento psicológico, social e econômico. 



PRIMEIRA IDADE: CONFIANÇA BÁSICA X DESCONFIANÇA BÁSICA - (ZERO A UM ANO E MEIO). PALAVRA CHAVE: ESPERANÇA. ETHOS SOCIAL: RELIGIÃO


Reflexão : Esse é o principal desafio da minha vida pois para nos relacionar precisamos confiar nas pessoas e nas suas palavras,  vêm as crises, e aprendemos a desconfiar. Porém a confiança e esperança na ação social, ciência, e espiritualidade, no meu caso o judaísmo, sempre foram o alicerce de minha vida . No meu caso a esperança do anjo da história de Walter Benjamin que tudo pode mudar agora mesmo que seja pequenas ou grandes coisas, desde que possamos agir com esperança. Aprender sobre nossas sensações, realidade, palavras e significados, amplia de acordo com nossas vivências e experiências o nosso ser.  Isso é um processo pois em várias culturas a ilusão, a mentira, o esvaziamento do conteúdo léxico das palavras e seus significados se torna cultura. É o que acontece hoje no neoliberalismo onde tudo está à venda e sem limites destruímos pessoas e culturas.   


 

SEGUNDA IDADE : AUTONOMIA X VERGONHA E DÚVIDA - (UM ANO E MEIO A TRÊS ANOS): SURGE A FORÇA DE VONTADE. ETHOS SOCIAL: A LEI. 


No instante em que a criança começa a impor sua vontade à dos outros, cada cultura apresentará um padrão para estimular ou desestimular este despontar da vontade.  Eu sempre construí meus caminhos com autonomia sem vergonha ou dúvida, ou seja sem medo de errar e melhorar sempre. O controle de sentimentos e fantasias que envolvem agressividade, destrutividade e hostilidade pode ser feito pela arte lembro de escrever um livro e fazer a capa com cinco anos de idade, depois ler muito e cinema. No mesmo caminho lembro que mesmo pequeno e franzino ganhei uma corrida de pessoas maiores e mais fortes na Escola Técnica. Porém vivemos uma cultura que ameaça com diversos tipos de violências a autonomia.


A relação entre a culpa e a vergonha, se estabelece uma proporção entre boa vontade amorosa e a auto-insistência odiosa, entre a cooperação e a teimosia, entre a expressão pessoal e a auto-repressão compulsiva … Aqui encontramos nossa relação com o outro. Os limites da autonomia, cooperação e expressão pessoal pois independente das leis temos que primeiro internalizar nossos limites na convivência com os outros. Esse processo ao mesmo tempo em que a protege de duas forças emergentes: a primeira dela é o sentimento de que se expôs, prematura e insensatamente e que nós denominamos de vergonha; e a segunda, aquela desconfiança secundária, aquela ‘dupla admiração’ a que nós chamamos dúvida - dúvida de si mesmo e dúvida quanto à firmeza e perspicácia de seus educadores.  


Reflexão :  Na vida passei por muitos processos que iniciam como vergonha mais que superava com autonomia , pois a capacidade de pensar, me relacionar e superar outros desafios como não ser bonito e forte. A salvaguarda institucional referente a esta idade é o princípio da lei e da ordem . Toda sociedade estabelece- se fundamentada em alicerces que norteiam os conceitos de direito, dever e justiça garantindo a convivência política e econômica da sociedade. Considero que o Brasil por ser muito injusto, desigual e corrupto, isso enfraquece nossa educação pois trata essas questões com impunidade, cada grupo protege seus corruptos sem lei e sem limites. Desde os 15 anos luto contra a corrupção da esquerda e direita pois lei tem haver com direitos, liberdade, igualdade e fraternidade. Não poucos roubando, concentrando renda e poder e praticando diversas violências. 



TERCEIRA IDADE : INICIATIVA X CULPA – SURGE O EMBRIÃO DO PROPÓSITO (TRÊS A SEIS ANOS) 


Reflexão :  Confiança e autonomia desenvolvidas nas idades anteriores fornecem os subsídios para o exercício de iniciativas, planejamentos de ações, conquistas, seduções e competições. Esse é o ponto central que planejo minha vida em 12 áreas desde os 15 anos, e relato as conquistas, amor, desafios políticos, projetos e outros em meu blog. Hoje com 880 artigos. A soma entre eles, elaboro como propósito de vida de um pequeno grão de terra a Terra da Sabedoria.    


Assim, a criança desenvolve os pré-requisitos da iniciativa masculina ou feminina e, sobretudo, certas auto-imagens sexuais que se tornarão os elementos essenciais dos aspectos positivo e negativo de sua identidade futura. Minhas chefes sempre foram mulheres e combateram o patriarcado desde que nasci pois minha mãe foi órfã, ela era filha de judia numa sociedade patriarcal e violenta, assim minha avó e minha mãe sofreram todas as consequências, e contra todos minha mãe se formou e se aposentou na UFC. 


As instituições sociais ligam-se a um ethos econômico que substitui gradativamente os contos de fadas e os heróis. Esse processo vivenciei no cinema com meus filmes e heróis, são biografias de grandes líderes, educadores, cientistas, artistas, empresários e outros . Além das histórias que contei sobre a juventude, projetos sociais e desafios de nossa sociedade sobre os quais escrevi 5 livros e realizei três filmes.   


QUARTA IDADE: PRODUTIVIDADE X INFERIORIDADE – COMPETÊNCIA - (SETE A DOZE ANOS) 


Nesta idade a criança tem a experiência de que é capaz de fazer as coisas e fazê-las bem. Ao se perceber desta forma desenvolve um sentimento de domínio e de industriosidade ao ser bem sucedida, como também desenvolve o sentimento de inferioridade, de apego à mãe, ao considerar-se mal sucedida. Este período estende- se durante o tempo em que a criança frequenta a escola elementar e Eriksson enfatiza o impacto que a educação pode exercer durante esses anos. 


Reflexão : Como relatei, eu planejei minha vida em várias áreas como trabalho, educação, arte, esporte, tecnologia, participação política e cidadã, projetos sociais e ambientais, espiritualidade e outras. Sigo o caminho da polimatia, aprendizagem em espaços educacionais escolares e não escolares, metacognição e ser personagem de minha própria história unindo conquistas e arte. Portanto, o desenvolvimento de habilidades e competências depende de ampliar as experiências, o método científico e pesquisas nas Escolas, Universidades e na vida.



QUINTA IDADE: IDENTIDADE X CONFUSÃO DE PAPÉIS- FIDELIDADE (DOZE AOS DEZOITO ANOS)


É um período da vida em que o corpo muda radicalmente de proporções, a puberdade genital inunda o corpo e a imaginação com toda espécie de impulsos, a intimidade com o outro sexo se inicia e o futuro imediato o coloca diante de um número excessivo de possibilidades e escolhas conflitantes. (1968,pp.132-133) ... ele deve fazer uma série de seleções cada vez mais específicas de compromissos pessoais, ocupacionais, sexuais e ideológicos (ERIKSON, 1968, p.245). 

 

É sabido que a adolescência localiza- se numa zona intermediária entre a vida infantil e as expectativas e medos referentes à vida futura. O quê ele explica é que a integração que agora tem lugar sob a forma de identidade do ego é mais que a soma das identificações da infância e diz respeito à experiência acumulada da capacidade do ego para integrar todas as identificações realizadas mais as aptidões naturais da pessoa mais as oportunidades oferecidas pelas funções sociais. O sentimento de identidade do ego, então firma a certeza de que coerência e continuidade interiores elaboradas no passado alicerçam e equivalem à coerência e à continuidade do próprio significado de si mesmo para a cultura, o que se evidencia, por exemplo, na escolha de uma carreira.


Reflexão : Neste sentido gostaria de frisar que não temos uma cultura e sociedade aberta, e que respeita as escolhas do jovem oferecendo igualdade de oportunidades e direitos a eles. Pelo contrário, escraviza jovens , seus corpos, sonhos com falsas promessas e mentiras. Quando defini meus objetivos fui encontrando barreiras estruturais que buscavam impedir de realizá-los. Foi nesta jornada que fui integrando todas as identificações realizadas mais as aptidões naturais da pessoa com as oportunidades oferecidas pelas funções sociais. Porém a continuidade depende da cultura, instituições e políticas públicas. Foi nesse processo que iniciei minha luta política, criticando as atuais políticas públicas, criando projetos sociais, integrando eles em sinergia com outros setores, visando formar coalizões para superar as barreiras estruturais.


A mente do adolescente é essencialmente uma mente do moratorium que é uma etapa psicossocial entre a infância e a idade adulta, entre a moral aprendida pela criança e a ética a ser desenvolvida no adulto.É uma mente ideológica e, de fato, é a visão ideológica de uma sociedade a que afeta mais claramente o adolescente ansioso por se afirmar perante seus iguais e que está preparado para ser confirmado pelos rituais, credos e programas que definem ao mesmo tempo o que é mau, fantástico e hostil. (ERIKSON,1976,p.242).


Reflexão :  Entre a moral e a ética temos transgredir os poderes e saberes que nos aprisionam transformando nossas vidas e sociedade.



SEXTA IDADE : INTIMIDADE E ISOLAMENTO - AMOR (DEZOITO AOS TRINTA ANOS)


à medida que as áreas de responsabilidades do adulto vão sendo gradativamente delineadas, e que a competição, o vínculo erótico e a inimizade irredutível são diferenciados um do outro, eles acabam eventualmente ficando sujeitos àquele sentimento ético que caracteriza o adulto e que sucede as convicções ideológicas da adolescência e o moralismo da infância. (ERIKSON,1968,p.138).


Reflexão :  As responsabilidades assumidas envolvem competição e ego mas não podem ser reduzidas a isso de acordo com a ética que estabelece vínculos diversos com as pessoas que nos cercam gerando colaboração ou inimizades. Existem milhares de caminhos de ser, viver e nos governar não podemos reduzir a um ou dois, foi essa ampliação e diversidades de possibilidades em busca de minha singularidade, que me levou a labirintos mas descobertas efetivas que se agregam entre si. De forma orgânica, mas sem perder a visão complexa e sistêmica que temos da sociedade que queremos construir, levam a escolhas por outros caminhos e mundo possíveis. 



SÉTIMA IDADE: GENERATIVIDADE X ESTAGNAÇÃO - CUIDADO (TRINTA AOS SESSENTA ANOS)


Este é um período que, quando as articulações egóicas das idades anteriores aconteceram relativamente bem, proporciona capacidade de criar e enfrentar desafios, cuidar dos bens conquistados e fazer a manutenção das relações afetivas. É talvez a idade mais longa descrita no ciclo vital, pois envolve a construção de uma família, a expansão profissional que exige da pessoa produtividade, afeto, envolvimento e empenho no cuidado com a nova geração. Este cuidado assegurará, nas crianças e adolescentes que estão sob sua atenção o desenvolvimento de confiança, autonomia, iniciativa, produtividade e formação de identidade.


Reflexão : Estou nessa fase da vida ao mesmo tempo preparando a nova geração do meu filho de 25 anos e amigos. As duas gerações têm o poder de reforçar e atuar juntos com autonomia, iniciativa, produtividade e identidade singular. É o que temos feito, incluindo outros jovens de vários culturas, quer sejam americanos, europeus, africanos e projetos com indígenas, MST, comunidades rurais e urbanas, ou mesmo nas Empresas, Universidades, Arte e ONGS. O cuidar é princípio de existência, acho que ele é transversal a todas as idades. 



OITAVA IDADE: INTEGRIDADE X DESESPERANÇA - SABEDORIA (APÓS OS SESSENTA ANOS)


Somente a pessoa idosa que zelou pelas coisas e pessoas e se adaptou aos triunfos e desapontamentos de ser, necessariamente, a geradora de outras pessoas e a criadora de coisas e idéias - só nela se amadureceu gradativamente o fruto das sete idades do homem. Eu não conheço melhor palavra para expressar isso do que integridade. Na falta de uma definição precisa, assinalar alguns atributos desta fase mental. É a garantia acumulada do ego de sua propensão para a ordem e significado - uma integração emocional fiel às imagens do passado e pronta para assumir a liderança no presente, eventualmente renunciar a esta. É a aceitação de seu ciclo vital único e das pessoas que se tornaram significativas e indispensáveis à sua vida, não permitindo, por isso, substituição. Significa, assim, um novo e diferente amor pelos pais, liberto do desejo de que eles poderiam ter sido diferentes, e uma aceitação do fato de que cada um é responsável pela sua própria vida. É uma sensação de camaradagem para com homens e mulheres de épocas distantes e de diferentes ocupações, que criaram ordens, objetos e idéias transmitindo dignidade e amor humanos. Embora cônscio da relatividade de todos os vários estilos de vida que deram significado ao esforço humano, o indivíduo que atingiu a integridade está pronto a defender a dignidade de seu próprio estilo de vida, contra todas as ameaças físicas e econômicas. Pois ele sabe que uma vida individual é a coincidência acidental de um único ciclo vital com um único segmento da história e que, para ele, toda a integridade humana se mantém e coincide com aquele estilo de integridade que ele compartilha (ERIKSON,1968, pp.139,140).


A partir das fases da vida, disposições tais como a fé, força de vontade, determinação, competência, fidelidade, amor, zelo e sabedoria – sendo todos estes critérios da força vital individual também fluem para  vida das instituições. Sem elas, as instituições definham, mas, sem que o espírito das instituições impregne os padrões de zelo e amor, instrução e treino, nenhuma força poderia emergir da seqüência de gerações (1968.pg.141)


Reflexão : Eu uni integridade e transcendência pois compreendo esse processo único. A métrica não é dual mas a cada dia nos tornamos mais íntegros e transcendemos em vários momentos da vida.  A sabedoria necessita de amor, fidelidade e competências para ser exercida de forma plena. Ela acontece na vida pessoal e coletiva das instituições, o ser humano é um só, e assim a cultura muda e se renova.  O legado nos guarda a ordem de nosso ser, unidos organicamente ao que pensamos e nos emociona, essas memórias e registros compõem nosso ser e vida. Porém essa integridade exige que nos mantenhamos atualizados sempre com jornais, mas também, ciência , livros e filmes. Atualizar a compreensão de nosso ser e do mundo que vivemos faz parte da sabedoria.

 


NONA IDADE: A TRANSCENDÊNCIA


Segundo o dicionário transcender significa simplesmente erguer-se acima ou ir além de  um limite, exceder, superar ́ e também, ́ir além do universo e do tempo ́ .... Os historiadores de épocas anteriores apresentam evidências de como, no Oriente, os velhos eram muito respeitados por uma longa vida de serviço e de bom julgamento. Os anciãos sábios eram aplaudidos por deixar a azáfama da vida da comunidade, retirando-se para as montanhas e locais remotos para acabar de viver suas vidas. Embora o recolhimento possa ter sido solitário, ele não terminava com o auto respeito, e muitos eram alimentados e cuidados adequadamente por muitos anos de retiro (...) talvez os realmente velhos só encontrem um lugar seguro para refletir sobre seu estado de espírito na privacidade e no isolamento. Afinal de contas, de que outra maneira podemos encontrar paz e aceitação das mudanças que o tempo impõe ao corpo e à mente? A corrida e a competição estão terminadas; libertar-se da pressa e da tensão é obrigatório na velhice. Alguns aprendem isso cedo, e outros, tarde demais. (ERIKSON, 1998, p.104).


Reflexão : Neste sentido, todas as fases da vida são essenciais para culminar a transcendência e senti falta da imaginação como elemento essencial da formação humana e superação de todos os desafios da sociedade.    




quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

DIÁRIO DE BORDO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO!



O primeiro desafio dessa jornada foi definir onde queríamos chegar ? Definir o que é educação do campo é a principal lição e o desafio para implantá-la, somando as diversas resistências que lutam para manter sua cultura, contra o capitalismo neoliberal, e várias tipos de violência que atacam diariamente as comunidades rurais, ainda não engolidas completamente pelos processos de urbanização. Entre elas o agrobusiness, agrotóxicos, abandono das questões do campo na escola, entre outros.


Bem, cada uma dessas questões foi um lugar que paramos para pensar e refletir, ora lendo textos, diálogos com o Professor, apresentação de trabalhos diversos sobre a temática, reflexões políticas aprofundadas, incluindo sobre nosso papel ativo nesta jornada cada vez maior com as mudanças climáticas. Portanto essa disciplina é o início de uma jornada durante a vida e o diário de bordo continua como educadores ao longo da vida.


O que aprendemos são as ideias essenciais, as catarses, que modificam nossa forma de pensar, comportamentos, ideias políticas, sociais, e outros que modificam nossa forma de ser e viver em comunidade. Portanto, a melhor forma de avaliar a disciplina é como ela nos transformou como educador.


A nossa jornada começou com a apresentação de cada aluno que foi importante para ampliar o diálogo, mas também para o professor abordar a disciplina sobre ângulos diversos de forma democrática que interagisse com a nossa história e desafios. O segundo passo essencial foi recolocar o lugar do campo na educação, isso significa compreender como o capitalismo, urbanização, agribusiness trabalharam juntos para destruir o campo, seus povos e cultura. 


Nessa jornada, todos os dias da disciplina, fomos aprendendo que a cultura, modos de viver e práticas das comunidades do campo, incluindo suas relações sociais e culturais foram sendo atacadas. Nesta jornada as resistências e lutas dos povos indígenas, quilombolas, MST e outras foram fundamentais para afirmar e divulgar sua história, cultura, e violências que sofrem. Nessa jornada com a autonomia desses povos, eles tem várias vitórias no mundo oficial relacionados a criar escolas como Escola Alegria do mar que foi a primeira indígena no Brasil, Escolas do MST como do Riacho Maceió com a Branca que tive oportunidade de conviver, outras do MST em outros distritos, experiências quilombolas como Baturité que são pesquisadas internacionalmente, e outras escolas que o campo está transformando e diferenciando  sua escolarização.   


Porém em nosso diário é preciso registrar que esse olhar e lições foram sendo comparadas com o discurso e as práticas da educação oficial em números e práticas. O quanto ela diferencia e leva importantes lições para as escolas urbanas . Esse diálogo é algo profundo que vamos manter em nossa jornada como educadores. Nessa mesma direção, um outro trabalho apresentado sobre o Agribusiness amplia nossa compreensão sobre os desafios e o tamanho desse embate em relação ao presente e futuro, incluindo questões relacionadas à alimentação, uso da tecnologia e outros. 


Portanto o olhar micro e macro se misturam de forma complexa e dinâmica para compreender o que é educação do campo, suas particularidades, como ela impacta em nossa vida e sua relação com as questões ambientais. Essa foi outra apresentação feita por outra equipe que registramos em nosso diário de campo. Várias outras questões ficam em aberto, como avaliar as escolas em campo ? Elas são enquadradas e pressionadas para adotar o modelo padrão e massificado do PISA. Portanto devemos aprender a pensar a médio e longo prazo, e como essa disciplina se relaciona com outras disciplinas em nossas formação como educadores. 


Esse é o maior aprendizado na educação do campo que suas características e demandas específicas das escolas do campo sejam respeitadas assim como as lutas desses povos, afinal a educação é resultado de sua história e cultura, e temos muito que aprender e compartilhar com eles. As novas gerações dependem deles cada dia mais essa é nossa missão .    


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Por caminhos ilimitados, singulares e infinitos nos diversos universos de cada criança.





Eu acompanho a vivência de uma Professora Waldorf, Nicolle Mehrere, nos últimos anos. Ela se formou em pedagogia na escola, escreveu seu TCC sobre o tempo e o brincar, é apaixonada por conta do fadas. Gostaria de fazer reflexões sobre o vídeo de Tizuko Morchida - O brincar na educação infantil em diálogo com Nicolle.


Uma das conclusões do trabalho de Nicolle é que as brincadeiras em muitas periferias de Fortaleza permanecem as mesmas, relacionados é claro também a perpetuação da pobreza. Já na classe média e alta, as crianças têm medo de brincar na rua, vivem isoladas com acesso aos games, muitas cuidadas por babás e outros que tem como função evitar que as crianças se machuquem, protegem de diversas maneiras, inibindo muitas vezes as atitudes das crianças, suas brincadeiras e outras. Mas o que significa brincar ? 


A brincadeira é uma forma da criança pensar e descobrir o universo dela. A brincadeira é um direito da criança. Ela interage com brinquedos, tendo liberdade e sendo protagonista de suas descobertas. Ela interage com brinquedos de formas diferentes ou mesmo objetos da vida doméstica, ela vai explorar, relacionar, descobrir diferenças e outros. Quando ela começa a andar, toma decisões em movimento, aprende a se colocar numa postura, tirando e colocando coisas em seu carrinho, lidando com seu corpo e outras formas de brincar.


As crianças pela imitação aprendem o mundo dos adultos, cada cultura tem também uma forma de lidar com os brinquedos. Uma criança quando interage com objetos do mundo doméstico vai aprender a falar, simulará um personagem como médico que gostaria de ser, imaginar e outros. Portanto o brinquedo e a brincadeira tem haver com o corpo, movimento, afetividade, fala, imaginar, e representatividade como o espelho, onde vai ver quem é e o outro.  Um dos objetos essenciais para brincar.


Como disse cada cultura com suas formas de brincar gera diversos tipos de brincadeira, brincam com jogos de regras, aprendem a ganhar e perder, conviver em grupo, e outros. Existem diferentes formas de brincar que desenvolvem uma cultura lúdica.Ela passa a ter um arsenal de informações, liderança, flexibilidade, criar, capacidade de escolha, contato com diferentes crianças, desenvolvimento raciocínio, aprendizado sobre seu mundo e ao seu redor. Depois que as crianças passam pelo desenvolvimento motor, elas começam a imitar, mas ainda não está assumindo papéis. Já aos três anos ela brinca, como dar de comer, ser médico, experimentando, explorando…No faz de contas ela assume um papel, lidando com o raciocínio e expressão, ela pensa longe da realidade, exercendo uma importante função simbólica como prescreve Piaget e Vigotski.


É importante que as creches tenham espaços, objetos e brinquedos, mas hoje falta o equipamento básico para que a brincadeira do faz de contas possa ocorrer. A mediação da Professora é fundamental que observe a brincadeira, interaja com a criança, e observe o que está faltando na estrutura. As crianças para brincar são essenciais para que cada criança assuma um papel na brincadeira e possam brincar com outras crianças usando pedras, pulando cordas, cantando, dançando, correndo, e outros. Portanto o brincar de qualidade envolve a diversidade de experiências com acompanhamento do adulto e de outras crianças.


Porém esse caminho tem que ter uma política pública que oferte os recursos, espaços diferenciados, e adultos para observar e brincar. Hoje no Brasil são muitas crianças para poucos professores. Nós temos professores formados, mas a formação hoje está distante das práticas. As crianças precisam ser diferenciadas de acordo com a idade e demanda espaços e tempo distintos. Os cursos discutem a teoria mas deixam de lado as práticas, temos que aprender as razões mas também as formas de aplicá-las. É necessário espaços e ambientes nas creches para receber famílias, descanso, formação e planejamento, entre outros.


Já no plano de documentos oficiais no Brasil avançamos com normas mas sem recursos, vivemos descompassados e as políticas municipais não respeitam as crianças, nem os profissionais. A brincadeira é um eixo da educação infantil, ela não é apenas a brinquedoteca mas todos os espaços, mediações, brinquedos, objetos diversos, e claro outras crianças. Hoje infelizmente a criança não escolhe a brincadeira, isso é um princípio, portanto não é uma sala que resolve, mas autonomia, material pedagógico, bons professores, pois tudo isso serve para brincar . Mas temos que entender que a criança tem que ter seu projeto de brincadeira compartilhado com outras crianças.Subir em arvores é importante o nosso playground natural é incrível. Infelizmente o Brasil está 20 anos atrasados.


Concluindo em diálogo com Nicolle, a professora da Escola Waldorf, aprendi que quando unimos as brincadeiras com os contos de fadas a mágica da educação expande por caminhos ilimitados, singulares e infinitos nos diversos universos de cada criança. Esse é matéria de outro artigo.