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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

'Frankenstein': como é a versão de Guillermo del Toro do clássico, aplaudida por 13 minutos no Festival de Cinema de Veneza

 

Diretor Guillermo del Toro e ator Oscar Issac como Victor Frankenstein no set do filme Frankenstein

Crédito,Netflix

Legenda da foto,Del Toro disse dar preferência a cenários reais e procurar reduzir a computação gráfica ao mínimo possível
    • Author,Steven McIntosh
    • Role,Repórter de entretenimento da BBC, de Veneza (Itália)

Alguns anos atrás, o chefe da Netflix, Ted Sarandos, estava em uma reunião com Guillermo del Toro quando perguntou ao célebre diretor quais filmes estavam em sua lista de desejos ainda não realizados.

Del Toro respondeu com dois nomes: "Pinóquio e Frankenstein".

"Então faça", respondeu Sarandos, sinalizando que a gigante do streaming iria financiar ambos os projetos. O primeiro filme, a aclamada versão dark fantasy de Pinóquio, de Del Toro, seria lançado em 2022.

Quando chegou a hora de começar a trabalhar em Frankenstein, del Toro avisou: "É grande".

Ele não estava brincando. A ambiciosa versão do cineasta mexicano do clássico que retrata um cientista louco e sua monstruosa criação é um dos grandes destaques do Festival de Cinema de Veneza deste ano.

É um projeto em que ele trabalha há décadas.

"É uma espécie de sonho, ou mais do que isso, uma religião para mim desde criança", disse del Toro aos jornalistas no festival.

Ele destaca a atuação de Boris Karloff na adaptação de 1931 como particularmente influente na fascinação que tem pela história e explica por que sua própria versão demorou tanto tempo para sair do papel.

"Sempre esperei que o filme fosse feito nas condições certas, criativamente, em termos de atingir o escopo necessário, para torná-lo diferente, para fazê-lo em uma escala que permitisse reconstruir o mundo inteiro", explica.

Agora que o processo chegou ao fim e o filme está prestes a ser lançado, o diretor brinca que está "em depressão pós-parto".

O público que compareceu à primeira exibição do filme na 82ª edição do festival o aplaudiu de pé por 13 minutos, conforme a agência de notícias AP.

Ele está previsto para estrear nos cinemas brasileiros em outubro e entra no catálogo da Netflix em novembro.

Oscar Isaac como Victor Frankenstein em cena do filme Frankenstein

Crédito,Netflix

Legenda da foto,Oscar Isaac interpreta Frankenstein, um cientista brilhante que acaba se arrependendo de seu experimento
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Desde que Mary Shelley escreveu o romance Frankenstein em 1818, centenas de filmes, séries de TV e histórias em quadrinhos apresentaram versões do famoso personagem.

A adaptação mais recente traz Oscar Isaac no papel de Victor Frankenstein, com Jacob Elordi irreconhecível como a criatura monstruosa à qual ele dá vida.

Isaac relembra: "Guillermo disse: 'Estou criando este banquete para você, você só precisa aparecer e comer'. E essa era a verdade, houve uma fusão, eu simplesmente me conectei com Guillermo e mergulhamos de cabeça.

"Não acredito que estou aqui agora", acrescenta ele, "que chegamos a este ponto em dois anos. A sensação é de que aquilo era um auge".

Andrew Garfield havia sido originalmente escalado para interpretar a criatura, mas teve que deixar o projeto devido a conflitos de agenda decorrentes da greve dos atores de Hollywood.

Elordi assumiu o projeto em cima da hora. "Guillermo me procurou com o processo bem adiantado", lembra o ator, "eu tinha cerca de três semanas antes de começar a filmar".

"Parecia uma tarefa monumental, mas, como Oscar disse, o banquete estava lá e todos já estavam comendo quando cheguei, então tive só que puxar uma cadeira. Foi um sonho que se tornou realidade."

O filme também é estrelado por Cristoph Waltz e Mia Goth como Elizabeth, personagem que se casa com Frankenstein, mas se distancia dele à medida que demonstra mais gentileza com a criatura do que com o marido.

Guillermo del Toro e Jacob Elordi em evento relacionado à exibição do filme "Frankenstein" durante o 82º Festival de Cinema de Veneza em 30 de agosto de 2025.

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Jacob Elordi (dir.) interpreta a criação de Frankenstein no filme de del Toro (esq.)

O filme é dividido em três partes — um prelúdio seguido por duas versões dos eventos contadas do ponto de vista de Frankenstein e de sua criação.

Mostra a infância de Frankenstein e os fatores que o levaram a começar a trabalhar no projeto. Mas também incentiva o público a ver as coisas do ponto de vista da criatura — destacando o quão maltratado ele foi por seu criador.

Em quase duas horas e meia (149 minutos), há espaço para que os personagens e suas histórias se desenvolvam. As primeiras críticas destacaram que o filme quase merece a duração que tem.

"Talvez pudesse ter sido encurtado, mas o universo criado por del Toro é tão irresistível, o retorno à grande produção cinematográfica de Hollywood tão pronunciado, que deve ser difícil de contê-lo", opinou Pete Hammond, do Deadline.

"Quando você solta um cineasta do porte de del Toro no laboratório, por que encurtar o filme?"

Avaliações menos generosas, contudo, pontuaram que o trabalho estava longe de ser o melhor do diretor.

Geoffrey McNab, do The Independent, disse que o filme era "só espetáculo e pouca substância", acrescentando: "Apesar de toda a maestria formal de Del Toro, este Frankenstein carece, em última análise, da energia necessária para realmente lhe dar vida".

David Rooney, do Hollywood Reporter, demonstrou muito mais entusiasmo, escrevendo: "Um dos melhores trabalhos de Del Toro, esta é uma narrativa em escala épica, de beleza, sentimento e arte incomuns".

Jane Crowther, da Total Film, que deu quatro estrelas ao filme, escreveu: "Magistralmente elaborado e com temática pertinente, Frankenstein, de Guillermo del Toro, é uma adaptação elegante, embora não tão ousada, com potencial para premiações."

Jacob Elordi como Frankenstein

Crédito,Netflix

Legenda da foto,Jacob Elordi tem sido elogiado por sua interpretação como a criação monstruosa de Frankenstein

Del Toro é um dos diretores mais queridos de sua geração, estimado na indústria cinematográfica por seu amor pelo cinema e sua ambição em torno do que o cinema pode atingir.

Aos 60 anos, o cineasta também é o preferido de Hollywood para histórias que envolvam monstros ou outras criaturas fantásticas. Seus trabalhos incluem O Labirinto do FaunoCírculo de Fogo e A Forma da Água. Este último lhe rendeu o Oscar de melhor filme e melhor diretor em 2018.

Del Toro tem grande afeição por monstros e é conhecido por humanizá-los em seus filmes, despertando a simpatia do público por personagens antes vistos como vilões.

No caso de Frankenstein, ele diz: "Eu queria que a criatura nascesse de novo. Muitas das interpretações são como vítimas de acidentes, e eu queria beleza."

Mia Goth como Elizabeth em Frankenstein

Crédito,Netflix

Legenda da foto,Mia Goth interpreta Elizabeth, que desenvolve uma conexão com a criatura

Sua visão e atenção aos detalhes em Frankenstein se estenderam a todos os aspectos da produção, com grande cuidado com figurinos e cenários — que são cenários físicos e realistas, em vez de gerados por computação gráfica (CGI, na sigla em inglês para "computer generated imagery").

"CGI é para perdedores", comenta Waltz, provocando muitas risadas. Del Toro acrescenta que filmar com cenários reais acaba resultando em uma interpretação melhor dos atores do que quando se usam telas verdes.

Ele compara a distinção entre CGI e o trabalho manual artesanal à diferença entre "colírio para os olhos e proteína para os olhos" — uma comparação que o cineasta usa com frequência para argumentar que seus filmes não são apenas espetáculos visuais, mas também obras com substância.

Ele acrescenta, contudo, que usa efeitos digitais quando absolutamente necessário.

A ideia de criar um ser inteligente que acaba agindo sob seus próprios termos pode soar familiar hoje em dia, mas Del Toro diz que o filme "não pretende ser uma metáfora" para a inteligência artificial, como alguns críticos sugeriram.

Em vez disso, ele reflete: "Vivemos em uma época de terror e intimidação, e a resposta, da qual a arte faz parte, é o amor. E a questão central do romance, desde o início, é: o que é ser humano?

"E não há tarefa mais urgente do que permanecer humano em uma época em que tudo caminha para uma compreensão bipolar da nossa humanidade. E isso não é verdade, é inteiramente artificial."

Ele continua: "A característica multicromática de um ser humano é poder ser preto, branco, cinza e todos os tons intermediários. O filme tenta mostrar personagens imperfeitos e o direito que temos de permanecer imperfeitos".

Brasil confronta Trump e seu próprio passado autoritário em julgamento de Bolsonaro, diz Washington Post

 

Donald Trump e Jair Bolsonaro

Crédito,EPA

Legenda da foto,Washington Post diz que, com julgamento de Bolsonaro, Brasil está confrontando tanto Trump quanto seu próprio passado autoritário
    • Author,Daniel Gallas
    • Role,Da BBC News Brasil em Londres

Uma reportagem do jornal americano Washington Post desta segunda-feira (1/9) afirma que o julgamento de Jair Bolsonaro será um momento em que o país vai confrontar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o passado autoritário do próprio Brasil.

O julgamento do ex-presidente e dos outros sete réus que compõem um núcleo da suposta trama golpista para reverter o resultado das eleições de 2022 começa na terça-feira (2/9) no Supremo Tribunal Federal (STF)Veja aqui como assistir ao julgamento e quem são os cinco ministros que decidirão o futuro de Bolsonaro.

Segundo o Washington Post, o julgamento "marca uma reviravolta significativa" no Brasil, já que o país "tradicionalmente escolhe a conciliação em vez da acusação quando se trata de supostos crimes contra o Estado democrático".

"O julgamento de Bolsonaro também é o ápice de uma saga extraordinária que polarizou ainda mais o Brasil, testou a determinação do seu Judiciário e abriu um abismo cada vez maior com os EUA."

O jornal cita as medidas tomadas por Trump contra o Brasil e o STF — como o tarifaço e as sanções contra Alexandre de Moraes — em retaliação contra o que o presidente chama de "caça às bruxas política" do Brasil contra Bolsonaro.

"Mas em vez de recuar, o Brasil aumentou a pressão sobre o ex-presidente e seus aliados", escreve o jornal americano, citando os novos indiciamentos contra Bolsonaro e seu filho Eduardo no mês passado.

Agora o julgamento de Bolsonaro deve ser "acompanhado de perto por pessoas de todo o país e pode estabelecer um novo precedente para a responsabilização política, dizem acadêmicos".

"O Brasil sofreu 14 tentativas de golpe em sua história, metade delas bem-sucedidas. A maioria envolveu militares, começando em 1889, quando oficiais armados depuseram o último monarca brasileiro, um vestígio do domínio colonial português", escreve o Washington Post.

Sobre o regime militar que começou em 1964, o jornal americano afirma que "o resultado foi repressão generalizada e vigilância governamental descontrolada".

"Centenas de pessoas foram mortas e muitas outras foram 'sistematicamente' torturadas ou presas, de acordo com a Comissão Nacional da Verdade, criada em 2012 para investigar abusos de direitos humanos cometidos pelo regime", diz o Washington Post.

"Mas, ao contrário do Chile ou da Argentina – que também sofreram com regimes militares e posteriormente moveram ações contra os responsáveis ​​– o Brasil aprovou uma lei de anistia que tornou processos semelhantes praticamente impossíveis."

O jornal diz que, com a redemocratização, o Brasil aprovou leis para evitar novos golpes como no passado.

"As leis, que restringiam o discurso antidemocrático e criminalizavam conspirações contra o Estado, são a base das acusações contra Bolsonaro e seus supostos conspiradores", diz o jornal.

Essas leis e o julgamento de Bolsonaro também teriam provocado uma reação da direita internacional.

"A aplicação agressiva dessas leis atraiu críticas significativas não apenas de Trump, mas também de outros líderes da direita global, que acusam o Judiciário brasileiro de censura ilegal."

O jornal conclui a reportagem afirmando que qualquer que seja o resultado do julgamento de Bolsonaro, a direita radical seguirá sendo uma "força expressiva" no Brasil.

Leia também sobre o perfil de Alexandre de Moraes divulgado em agosto pelo Washington Post.

O Universo Invisível: O Poder do Que Ainda Não Existe. 485 dias Por Egidio Guerra




No grande teatro da existência humana, a realidade que vivemos é apenas o palco iluminado. Nos bastidores, em um reino de sombras e luz não filtrada, habita um universo paralelo de potencialidade pura: os livros que nunca foram escritos, os filmes que nunca foram feitos, as ideias que ainda não têm nome. Este é o domínio supremo da imaginação, o berço de tudo o que um dia será, e a força mais revolucionária da nossa história. Ela começa na infância e na escola  

Essas obras-fantasma não são meras ausências; são sementes adormecidas. Imagine a trilogia épica que Shakespeare ruminou, mas nunca colocou no papel. Visualize o filme que um cineasta genial sonhou, mas que a falta de recursos ou o medo impediu de nascer. Sinta o peso da teoria científica que brilhou por um instante na mente de um gênio, mas se dissipou antes de ser capturada por equações. Cada uma é um universo inteiro abortado, uma realidade alternativa que poderia ter colorido nossa cultura de forma irreversível. 


É neste espaço do "e se" que a humanidade verdadeiramente avança. A literatura não é feita apenas dos volumes em nossas estantes, mas do diálogo constante entre o escrito e o não-escrito. Um autor, ao criar uma obra, invariavelmente mata cem outras possibilidades. Mas são essas possibilidades descartadas que alimentam a chama para o próximo criador. Elas são o oceano invisível do qual as ilhas da inovação emergem. 

No cinema, a história é a mesma. Cada frame que vemos na tela é a vitória de uma ideia sobre um mar de alternativas. O filme que não foi feito, seja por censura, por convenção ou por circunstância, muitas vezes se torna um mito fundador, um farol que guia gerações futuras a ousarem mais, a quebrarem as barreiras que contiveram seus predecessores. Ele existe como um desafio silencioso no éter criativo. 


E na tecnologia? Cada invenção revolucionária – a roda, a imprensa, a internet – começou como uma dessas ideias sem nome. Foi um lampejo de intuição, um "e se" sussurrado no ouvido de um visionário. Antes de ser um aparelho, o smartphone foi um sonho. Antes de ser uma ferramenta, a inteligência artificial foi um devaneio filosófico na mente de um escritor de ficção científica. A tecnologia é a imaginação materializada, a prova física de que sonhar é o primeiro ato de criação.


 

O Combustível da Transformação: Sonhos, Sabedoria, Coragem e Amor 

Mas como transitamos desse reino etéreo da imaginação para a concretude da mudança? Através de atitudes aparentemente pequenas, mas carregadas de uma força descomunal. 

O Sonho: É a matéria-prima. É a capacidade de visualizar um mundo diferente, seja um mundo com uma história emocionante para contar ou um mundo sem uma dor específica. Sonhar é o ato de rascunhar os primeiros esboços dos livros não escritos. 

A Coragem: É a ponte. É o que transforma o sonho privado em ação pública. É a coragem de enfrentar a página em branco, de buscar financiamento para o filme, de testar a teoria maluca, de arriscar o ridículo. A coragem é a decisão de resgatar uma ideia do anonimato e dar-lhe um nome. 

O Amor: É o combustível e o propósito. É o amor por uma pessoa que inspira a busca por uma cura. O amor por uma arte que impulsiona a criação de uma obra-prima. O amor por um planeta que motiva a invenção de uma tecnologia sustentável. O amor é o que garante que nossas criações não sejam apenas inteligentes, mas também compassivas e significativas. 

São essas pequenas atitudes, aninhadas no coração de indivíduos, que alteram a trajetória do mundo. Uma palavra de encorajamento que dá a alguém a coragem para escrever aquele livro. Um ato de fé que permite a um diretor filmar aquele filme. Uma curiosidade insistente que leva um cientista a nomear aquela ideia. 

Portanto, não subestime o poder do que ainda não existe. Não lamente os livros não escritos, mas inspire-se neles. Não tema os filmes não feitos, mas veja neles um convite. Não ignore as ideias sem nome, pois é nelas que reside o futuro. Que tipo de mundo queremos ? e o que faremos para cria-lo e conquista-lo?

 

Em homenagem a padroeira, dos imigrantes, doentes e pobres.