SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.
sexta-feira, 14 de março de 2025
BaianaSystem - Lucro/Colar de Miçanga .
Tire as construções da minha praia
Não consigo respirar
As meninas de mini saia
Terminar bem sucedida
Luz do sol é minha amiga
Luz da lua é minha instiga
Me diga você, me diga
O que é que sara a tua ferida
Me diga você, me diga
Máquina de louco, é pra bater, pá pá
Você pra mim é lucro, é pra bater, pá pá
Máquina de louco, é pra bater, pá pá
Vou dar rapadura pra bater, pá pá
É pra bater, pá pá
O pequeno vilarejo da Dinamarca transformado pelo Ozempic.
O pequeno vilarejo da Dinamarca transformado pelo Ozempic

Crédito,Getty Images
- Author,Adrienne Murray
- Role,BBC Worklife
Apenas dois anos atrás, o nome da empresa dinamarquesa Novo Nordisk dificilmente chamaria a atenção.
Mas a disparada das vendas de dois medicamentos para o tratamento de diabetes e obesidade – Wegovy e Ozempic – transformou a gigante farmacêutica em uma das empresas mais valiosas da Europa.
A companhia divulgou, no início de fevereiro, que seus lucros antes dos impostos aumentaram em 22%, atingindo US$ 17,8 bilhões (cerca de R$ 103,4 bilhões).
O sucesso também trouxe enorme impulso para a economia da Dinamarca, que passou a ser um dos países de maior crescimento na região. Da criação de novos empregos até a redução das taxas de financiamento imobiliário, os efeitos cascata da estratosférica demanda pelos dois medicamentos vêm sendo sentidos em todo o país.
Isso sem falar na minúscula cidade portuária de Kalundborg, uma comunidade com menos de 17 mil habitantes, onde agora se concentra um dos maiores investimentos da história da Dinamarca.
Quando descem do trem nas proximidades de Kalundborg, a uma hora a noroeste da capital do país, Copenhague, os passageiros são recebidos pelo canto dos pássaros e pelo barulho das construções. É neste local improvável que, hoje, fica o epicentro de uma revolução global da perda de peso.
No outro lado da ponte ferroviária, ficam os edifícios quadrados e cinzentos da extensa fábrica da Novo Nordisk. Ali, é produzida a metade da insulina do planeta. E também a semaglutida, o ingrediente ativo revolucionário do Ozempic e do Wegovy.

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"Somos o centro onde se inicia o remédio, a substância principal", conta o prefeito de Kalundborg, Martin Damm. Ele nos leva para visitar o perímetro da fábrica, um vasto terreno de 1,6 milhão de metros quadrados, equivalente a 224 campos de futebol.
"Agora, você está entrando na terra dos guindastes", anuncia Damm. Conto rapidamente cerca de 20 deles, erguendo novas estruturas de concreto e cabines temporárias.
Aqui, será gasto o surpreendente valor de US$ 8,6 bilhões (cerca de R$ 49,9 bilhões) nos próximos anos, gerando 1.250 novos empregos, além dos 4,4 mil funcionários atuais da empresa. A obra também atraiu 3 mil operários da construção civil para a região.
"Temos uma regra geral: cada emprego dentro da indústria gera três empregos fora dela", explica Damm.
A economia de Kalundborg enfrentou altos e baixos ao longo do tempo. A cidade era um centro de construção naval e floresceu nos anos 1960, com a fabricação dos Carmen Curlers, uma espécie de bóbi para ondular os cabelos que era popular nos Estados Unidos, mas depois saiu de moda.
Agora, parece que a cidade está revivendo. Enquanto dirigimos, Damm aponta para um posto de gasolina.
"Todas as manhãs, o proprietário precisa assar 30 kg de carne de porco para os sanduíches. Todos esses operários gostam de sanduíches de carne de porco."
Existem várias histórias de crescimento repentino do comércio. Um supermercado local aumentou suas vendas em cinco vezes e uma lanchonete fast food vendeu 17,5 mil cachorros-quentes em pouco mais de um mês, para operários da construção famintos em busca de um lanche rápido.

Crédito,Getty Images
Dois terços do crescimento do PIB dinamarquês vieram de apenas dois municípios. Ambos têm um ponto em comum: instalações da Novo Nordisk.
Entre eles, Kalundborg observou uma taxa de crescimento surpreendente de 27% em 2022, segundo os dados mais recentes disponíveis. "Somos a número 1", declarou Damm.
O prefeito destaca que o desemprego local, que era alto uma década atrás, agora é um dos mais baixos da região.
A crescente arrecadação de impostos corporativos da Novo Nordisk ergueu as finanças do município. Isso permitiu a construção de uma piscina pública e a elaboração de planos para uma nova casa de cultura e biblioteca. Serão construídas mais de 1.250 residências e foi aberto o caminho para uma nova estrada até Copenhague.
Mas, apesar de toda essa receita, as escolas primárias locais ainda estão atrasadas em matérias como Matemática. E há na região um alto índice de crianças acima do peso, o que vem gerando críticas.
A BBC conversou com moradores de Kalundborg, que foram reticentes quanto aos benefícios verificados até aqui.
"Empresas estão abrindo e fechando, é a mesma coisa", afirma Lonny Frederiksen, dona de um salão de cabeleireiros na cidade. "Mas os jovens, agora, têm mais oportunidades."
Muitos trabalhadores usam o transporte público, em vez de morarem em Kalundborg, destaca Gitte Pedersen, cliente do salão. Ela também se desloca e lamenta o tráfego pesado. "Às vezes, preciso esperar [devido às] filas e não gosto disso."
Mas ela está otimista sobre o futuro da cidade. "Irá trazer muitos empregos. Veremos a diferença daqui a alguns anos."
Demanda insaciável
Por um século, os negócios da Novo Nordisk se basearam na produção de insulina. Mas a descoberta do efeito da semaglutida para a perda de peso gerou uma reviravolta.
"Ela está realmente se transformando em uma nova empresa", segundo o professor Kurt Jacobsen, da Escola de Negócios de Copenhague. Ele é o autor de um livro sobre a companhia.
O Wegovy e o Ozempic pertencem a uma classe de drogas chamada GLP-1s. Elas ajudam a controlar o açúcar do corpo e a suprimir o apetite.
O Ozempic foi aprovado nos Estados Unidos em 2017. E, em 2021, foi a vez do Wegovy, hoje disponível em 13 países, incluindo a China.
As vendas da injeção semanal para perda de peso cresceram em 86% no ano passado. Já o Ozempic é o remédio para diabetes mais vendido do mundo e 45 milhões de pessoas fazem uso dos tratamentos oferecidos pela empresa.
Mais da metade das vendas da Novo Nordisk foram para os Estados Unidos, onde dezenas de milhares de novos usuários de Wegovy se inscrevem a cada semana para conseguir a receita.
O tratamento custa no país mais de US$ 1 mil (cerca de R$ 5,8 mil) por mês, em comparação com apenas US$ 92 (cerca de R$ 534) na Alemanha. Por isso, muitas seguradoras americanas se recusam a cobrir os custos do tratamento.
Durante uma audiência no Congresso americano no ano passado, o senador Bernie Sanders perguntou repetidamente ao CEO (presidente-executivo) da Novo Nordisk, Lars Fruergaard Jørgensen, por que os americanos pagam mais pelo medicamento. Ele exigiu que a empresa "pare de nos espoliar!"
Em resposta, a companhia culpou as complexidades e os "intermediários" do sistema de saúde americano.

Crédito,Getty Images
Cerca de 800 milhões de pessoas vivem com obesidade em todo o mundo. Estima-se que o mercado global de tratamentos para perda de peso possa atingir US$ 150 bilhões (cerca de R$ 871 bilhões) em 2030.
Este imenso mercado alimenta uma verdadeira corrida do ouro em toda a indústria, com as grandes empresas farmacêuticas em busca da próxima geração de medicações contra a obesidade.
As líderes até o momento são a Novo Nordisk e a sua concorrente americana Eli Lilly, que produz medicamentos similares. Mas as duas fabricantes têm dificuldade para atender à demanda insaciável por seus produtos.
Para ampliar a capacidade de produção, a Novo Nordisk deu início a uma onda colossal de gastos, totalizando vários bilhões de dólares.
A empresa está ampliando suas fábricas na Dinamarca e construindo uma nova instalação no país. Além das fronteiras locais, ela também está conduzindo ampliações na França e nos Estados Unidos e adquiriu três fábricas de medicamentos da empresa americana Catalent.
Grande impacto sobre uma economia pequena
Para uma empresa sediada em um pequeno país com menos de seis milhões de habitantes, o crescimento da Novo Nordisk trouxe impactos desproporcionais.
"Existem outras empresas com participação importante na economia, especialmente a [companhia de navegação] Maersk, mas nenhuma nesta escala", afirma o economista-chefe do Danske Bank, Las Olsen. "É a maior da história."
Em 2023, a Dinamarca foi uma das economias que mais cresceram na Europa. O PIB do país aumentou em 2,5% – e metade deste crescimento foi gerado pelo setor farmacêutico.
Após a grande expansão das exportações de medicamentos, o governo agora anuncia que o crescimento em 2024 foi de 3,0% e prevê 2,9% para este ano.
O setor farmacêutico também é o que paga mais impostos no país. Ele é responsável por 20% de todos os novos empregos e muitos fundos de pensão e cidadãos dinamarqueses possuem ações de empresas do setor.
Para Olsen, "de certa forma, a Dinamarca é como o resto da Europa, mas um pouco mais forte. E, com a Novo Nordisk somos muito mais fortes."
Os dólares que chegam à Dinamarca provenientes da exportação pressionaram a moeda local. A consequência foi a redução dos custos dos empréstimos.
"Temos taxas de juros levemente abaixo da zona do euro, o que é um resultado direto de todo esse fluxo de entrada de dinheiro", explica Olsen.
Por outro lado, nos últimos meses, a cotação das ações da empresa, antes estratosférica, desabou. O motivo foi o resultado dos testes de dois novos tratamentos contra a obesidade, que decepcionou os investidores.
O movimento de venda das ações foi tão grande que a própria coroa dinamarquesa sofreu uma rápida baixa. Mas os dados dos testes iniciais bem sucedidos de mais uma nova injeção semanal fizeram com que as ações subissem novamente em janeiro.
Existe também o receio de que a Novo Nordisk esteja ficando maior que a Dinamarca e possa tornar a economia do país mais vulnerável. Surgiram comparações com a economia da Finlândia, que entrou em recessão em 2007, quando a gigante da telefonia celular Nokia não conseguiu competir com os novos smartphones.
Mas a maioria dos especialistas que consultamos não tem tanto receio de um desfecho similar.
"A maioria concorda que existe uma baixa probabilidade", segundo o presidente do Conselho Econômico da Dinamarca, Carl-Johan Dalgaard.
"É claro que a probabilidade não é zero. Se você tiver uma economia que abriga superastros da indústria, a maioria irá achar que esta é uma grande vantagem."
Mas, quando algumas empresas grandes dominam a economia do país (como é, cada vez mais, o caso da Dinamarca), podem surgir outras desvantagens, sugere Dalgaard.
"Existe o receio de que, com a influência econômica, você possa também ver eventualmente surgir a influência política, o que pode trazer consequências."

Crédito,Getty Images
E existem novos riscos surgindo no horizonte.
Em meio às tensões sobre o controle da Groenlândia, o presidente americano Donald Trump ameaçou impor possíveis tarifas de importação sobre os produtos dinamarqueses. E a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, convocou recentemente os responsáveis pelas maiores companhias do país para uma reunião.
"O lado americano indicou que, infelizmente, pode vir a haver uma situação na qual iremos trabalhar menos em conjunto do que atualmente", declarou ela.
Entre os presentes à reunião, estava Jørgensen, da Novo Nordisk. Após o anúncio dos lucros da empresa, em 5 de fevereiro, ele declarou aos repórteres que a companhia está preparada, mas "não imune".
"Tarifas de importação são sempre uma má ideia", segundo o pesquisador Jacob Funk Kirkegaard, do think tank (centro de pesquisa e debates) americano Instituto Peterson de Economia Internacional.
Mas ele acredita que "de todos os países da União Europeia, certamente nenhum seria mais resiliente às tarifas americanas do que a Dinamarca. Uma empresa sofisticada como a Novo Nordisk (que também produz fora da Dinamarca) seria capaz de se isolar."
'Daqui a cinco anos, tudo será diferente'
Além da Novo Nordisk, existem diversas empresas multinacionais na Dinamarca. Elas incluem a gigante da navegação Maersk, a indústria de cerveja Carlsberg e o fabricante de brinquedos Lego. Muitas delas, em parte, são de propriedade de fundações beneficentes.
Este modelo oferece estabilidade a longo prazo e dificulta a dissolução das empresas, segundo a vice-presidente da Câmara Dinamarquesa de Comércio, Mette Feifer.
"Se a Novo Nordisk não fosse de propriedade de uma fundação, acho que ela não seria dinamarquesa hoje em dia", explica ela. "Ela teria sido vendida 10 ou 20 anos atrás."
A fundação filantrópica da empresa, atualmente, é a mais rica do mundo. Em 2023, ela distribuiu US$ 1,3 bilhão (cerca de R$ 7,6 bilhões) em doações para centenas de projetos, na Dinamarca e no exterior.
De volta a Kalundborg, um novo campus educacional se dedica a formar a próxima geração de profissionais de ciências da vida.
Entre outras instituições, a Helix Lab é financiada pela Fundação Novo Nordisk. Ela oferece aos estudantes de mestrado acesso a laboratórios de pesquisa e contratações por empresas locais de biotecnologia.

Crédito,Getty Images
"Você tem a indústria do outro lado da rua e pode colaborar mais de perto com ela", afirma a estudante de engenharia química mexicana Maria Riquelme Jiménez. Ela espera, um dia, poder trabalhar na Novo Nordisk.
"Realmente é uma vantagem para seus empregos futuros", destaca a diretora da Helix Lab, Anette Birck. E também ajuda a atrair talentos e fornecer oportunidades para os jovens de Kalundborg, segundo ela.
Em frente à orla inteligente da cidade, fica a cafeteria Costa Kalundborg Kaffe, de propriedade do neozelandês Shaun Gamble.
"Dirigindo pela área em construção, você fica surpreso com tanta grandiosidade para uma cidade pequena", ele conta.
Sua cafeteria presenciou o aumento do número de clientes e de estudantes estrangeiros que se mudam para a região, além da abertura de empresas locais.
"Houve uma mudança", ele conta. "Ainda está no começo, mas posso sentir."
"Daqui a cinco anos, tudo será diferente por aqui – e melhor."
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Business.
A impressionante metrópole construída pelos astecas dois séculos antes da chegada dos europeus.
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Crédito,Thomas Kole/Retrato de Tenochititlan
- Author,Darío Brooks
- Role,BBC News Mundo
"Esta grande cidade de Temixtitán foi fundada nesta lagoa salgada... Ela tem quatro entradas, todas com calçadas feitas a mão, com a largura de duas lanças de cavaleiros. É uma cidade tão gloriosa quanto Sevilha e Córdoba [na Espanha]."
"Suas ruas principais são muito largas e retas. Algumas delas e todas as demais são metade de terra, metade com água, onde eles andam com suas canoas."
Foi assim que o explorador espanhol Hernán Cortés (1485-1547) descreveu a cidade de México-Tenochtitlán (Temixtitán, segundo seu entendimento), em um dos mais antigos relatos escritos (1520) de como era o centro político e social dos mexicas, como também eram chamados os astecas que viviam no sul do México e na América Central.
México-Tenochtitlán e sua cidade-gêmea, México-Tlatelolco, causaram assombro nos espanhóis, devido ao seu avançado grau de urbanização.
"Esta cidade tem muitas praças, onde existem mercados permanentes e trabalhos de compra e venda", prossegue Cortés.
"Ela tem outra praça, com cerca do dobro do tamanho da cidade de Salamanca [na Espanha], toda cercada por portais ao seu redor, onde, todos os dias, há mais de 70 mil almas comprando e vendendo; onde há todos os gêneros de mercadorias encontrados em todas as terras, desde mantimentos e víveres, até joias de ouro e prata, chumbo, latão, cobre, estanho, pedras, ossos, conchas, caracóis e plumas."
No momento da sua chegada, a cidade vivia uma das suas épocas de maior esplendor.
Os mexicas haviam fundado México-Tenochtitlán mais de dois séculos antes da chegada dos espanhóis. Neste período, eles se tornaram a maior potência militar da Mesoamérica – a região política e cultural onde, hoje, fica o centro e sul do México.
O ano de fundação da cidade é motivo de debates entre os especialistas. Mas se acredita que possa ter ocorrido na primeira metade do século 14.
Na época moderna, o governo mexicano fixou uma data para sua fundação: 13 de março de 1325. Por isso, a antiga cidade pré-hispânica, que viria a se tornar a Cidade do México, comemora em 2025 seus 700 anos.

Crédito,Thomas Kole/Retrato de Tenochitlan

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"O império estava em sua expansão máxima. A cidade detinha sua maior riqueza", conta à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da BBC) Federico Navarrete, especialista em história da América pré-hispânica e pesquisador da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam).
Cortés e outros cronistas da época produziram descrições verbais e representações gráficas da cidade. Mas, nos últimos cinco séculos, a imagem mais detalhada foi a publicada em 2023, pelo desenvolvedor de software holandês Thomas Kole.
Ele passou um ano e meio liderando um projeto chamado "Retrato de Tenochtitlán", o trabalho mais detalhado sobre a cidade mexica já publicado. Ele oferece uma perspectiva única de qual teria sido a aparência da metrópole pré-hispânica.
"É fascinante observar o que eles inventaram: seu conceito de cidade, como a organizaram e a distribuíram", destaca Kole. Uma de suas especialidades é a modelagem artística tridimensional por computador.
O coração do domínio mexica
Além das descrições de Cortés, outra das crônicas mais comentadas sobre Tenochtitlán é a do frade espanhol Bernardino de Sahagún (c.1499-1590). Ele descreve como os europeus ficaram surpresos quando encontraram México-Tenochtitlán e os locais ao seu redor.
"Vimos coisas tão admiráveis que não sabíamos o que dizer, nem se era verdade o que aparecia à nossa frente. De um lado, em terra, havia grandes cidades e, na lagoa, outras tantas."
"Víamos tudo repleto de canoas e, nas calçadas, muitas pontes entre um trecho e outro. E, adiante, estava a grande cidade do México", descreveu o frade espanhol.
E não era para menos.
Os mexicas eram um grupo de indígenas nahuas que, segundo a tradição, emigrou de um local mitológico chamado Aztlán e fundou sua cidade onde, hoje, fica a Cidade do México. Eles conseguiram fundar uma cidade entre as ilhotas e a água do grande lago de Texcoco.
Kole explica que trabalhou durante um ano e meio com diversos especialistas e fontes para dar forma à sua visão de México-Tenochtitlán e sua cidade-irmã, México-Tlatelolco.
"Comecei por curiosidade, técnica e pessoal, porque estava lendo sobre o assunto e não conseguia visualizar qual aspecto teria aquela cidade", ele conta. "Pensei que, talvez, pudesse utilizar a tecnologia para visualizá-la, primeiro para mim, depois, quem sabe, para os demais. Foi assim que começou."
Kole afirma que observar como uma civilização que evoluiu sem a influência de outros continentes conseguiu desenvolver um conceito de cidade, como ocorreu em outras civilizações, foi extraordinário.
"Em muitos aspectos, eles chegaram às mesmas conclusões que em outros lugares: o poder no centro, os ricos com casas maiores e os camponeses nas fazendas."
"Muitas de nossas ideias sobre as cidades e seus elementos básicos se aplicam a Tenochtitlán, mas eles fizeram à sua maneira, o que, para mim, parece muito interessante", comenta ele.

Crédito,Thomas Kole/Retrato de Tenochitlan

Crédito,Thomas Kole/Retrato de Tenochitlan
Segundo mostram as fontes, no centro da cidade mexica, ficava instalado o poder dos seus altos governantes e sacerdotes, que moravam em palácios. Nas imagens produzidas por Kole, podemos observar essas grandes estruturas, mais altas e piramidais, bem como os centros cerimoniais mexicas.
Em Tlatelolco, havia também um dos maiores mercados existentes na época, não apenas na Mesoamérica, mas no mundo inteiro. Ali, as pessoas comercializavam produtos de todo tipo, trazidos dos domínios mexicas – que, com a Tríplice Aliança com seus vizinhos de Texcoco e Tlacopán, dominaram boa parte da Mesoamérica.
"A parte mais difícil [para realizar a modelagem] foi não ter bons mapas daquela época", conta Kole.
"É provável que os mexicas tivessem mapas detalhados da sua cidade. Por serem muito burocráticos, eles os teriam provavelmente utilizado para solucionar disputas ou traçar fronteiras. Mas eles não existem mais, foram perdidos ou queimados, provavelmente durante a conquista [espanhola]."
As fontes disponíveis mostram que Tenochtitlán era formada por calçadas e canais de água, que conectavam as diferentes ilhotas. A cidade se expandiu ao longo de dois séculos ampliando essas ilhas, com grande conhecimento e técnica de manejo da água.
Segundo Navarrete, o que os espanhóis encontraram, na verdade, foi o resultado de dois milênios de aprendizado e gestão da vida lacustre.
"Tudo parece indicar que, no local onde foi fundada Tenochtitlán, havia um assentamento anterior de otomis, como sugerem diversos autores", explica o historiador. "Esta cidade seria anterior à fundação de Tenochtitlán."
"Mas, em termos gerais, podemos afirmar que essa cidade que conhecemos como México-Tenochtitlán durou cerca de 200 anos."

Crédito,Thomas Kole/Retrato de Tenochitlan
Além das fronteiras de Tenochtitlán
O trabalho de Kole tentou dar uma ideia além da simples visualização de como era México-Tenochtitlán, uma cidade repleta de atividade.
Ele destaca como é fascinante "imaginar o aroma do ar salgado" e dos produtos da cozinha, como o pimentão assado. Ou ouvir "o som do idioma náuatle e das canoas nos canais", enquanto sentimos o calor e escutamos as aves.
Além do descrito por Cortés, outras fontes existentes sobre Tenochtitlán foram produzidas anos ou décadas depois. Isso representa um desafio para os pesquisadores da época. Mas Kole explica que não descartou estas fontes.
"É preciso reconstruir a partir de material mais recente – dezenas de anos depois da conquista, com um pouco de sorte, ou séculos depois", segundo ele. "É tudo o que existe para se trabalhar."
"Temos, por exemplo, descrições escritas de partes da cidade, alguns mapas e sondagens arqueológicas, mas eles frequentemente se contradizem. É preciso decidir como conciliar estas fontes contraditórias em algo que seja razoável."
A arquitetura de certos palácios, centros cerimoniais e mercados foi o que exigiu mais trabalho para projetar uma visão de Tenochtitlán. Um dos aspectos mais chamativos é o Templo Maior – um centro cerimonial mexica, localizado nas imediações do que hoje constitui a Praça da Constituição (o Zócalo), na Cidade do México, e suas quadras vizinhas.
Diversas fontes indicam que existiam ali quase 80 estruturas, que Kole representou com palácios e pirâmides.

Crédito,Thomas Kole/Retrato de Tenochitlan

Crédito,Thomas Kole/Retrato de Tenochitlan
Tenochtitlán também tinha escolas, que formavam guerreiros e sacerdotes. E também milhares de moradias e oficinas para sua população, que praticava diferentes ofícios. Havia desde artesãos até agricultores.
As fontes discordam sobre o tamanho da cidade. Os números variam de 50 mil até 200 mil habitantes. Mas havia, sobretudo, uma grande movimentação, com milhares de pessoas entrando e saindo da cidade, por terra ou pela água.
Federico Navarrete explica que, diferentemente da ideia de ser uma cidade solitária em meio a um grande lago, toda a região do Vale do México, na verdade, era ocupada por diversas cidades, tanto nas ilhotas quanto nas margens do lago.
"Texcoco, Coyoacán, Iztapalapa... muitas cidades que já existiam antes de Tenochtitlán."
"O que temos no Vale do México são 2 mil anos de ocupação por cidades e México-Tenochtitlán não era uma cidade isolada, mas sim uma parte do sistema urbano do Vale do México, que incluía cerca de 50 cidades diferentes", explica ele.
Navarrete afirma que Tenochtitlán, na verdade, detinha apenas cerca de 15% da população do seu entorno.

Crédito,Thomas Kole/Retrato de Tenochitlan

Crédito,Thomas Kole/Retrato de Tenochitlan
De fato, a organização política da época era menos centralizada do que se acredita.
Tenochtitlán, por exemplo, era um poderoso centro urbano, devido à sua força militar. Já Tlatelolco era forte pelo seu comércio. Mas cada uma tinha seu próprio governo, em um sistema "internacional" com governos independentes, explica Navarrete.
As cidades vizinhas tinham tamanho menor, mas não eram menos avançadas do que a grande Tenochtitlán.
O cronista Francisco López de Gómara (1511-1564), por exemplo, descreveu Iztapalapa como uma cidade de "grandíssimos palácios de pedra e carpintaria muito bem trabalhados, com pátios e quatro andares e todo o serviço muito bem feito."
"Nos aposentos, muitos paramentos de algodão, ricos à sua maneira. Eles tinham refrescantes jardins de flores e árvores odoríferas, com muitas calçadas com redes de canas, cobertos de rosas e pequenas ervas, além de tanques de água doce", descreveu ele, sobre um dos locais onde Cortés e seus homens chegaram antes da capital mexica.
Seu relato indica que havia ali 10 mil casas. Em outras, como Coyoacán, havia 6 mil e, em Mexicalzingo, cerca de 4 mil.
"Estas cidades têm muitos templos, com muitas torres, que as enfeitam", escreveu López.
Kole explica que seu trabalho se concentrou apenas em Tenochtitlán e Tlatelolco. Mas ele admite que existiram muitas outras cidades no seu entorno.
"Seria interessante ver reconstruções de outras cidades, como Iztapalapa ou Texcoco, que seriam lugares históricos fascinantes", explica ele. "Mas existem ainda menos informações sobre elas do que sobre a Cidade do México."
A cidade na água
Os mexicas e os povos vizinhos detinham grande conhecimento sobre como administrar o entorno lacustre onde eles moravam.
Seus sistemas de canais, diques e açudes permitiam controlar a água e evitar inundações, em uma bacia caracterizada por sua abundante estação das chuvas. Além disso, eles também criaram uma extensa barreira de terra e pedras para separar a água doce e salgada. A própria água potável era transportada em aquedutos de forma muito eficiente.
"O que era realmente assombroso sobre estas cidades do Vale do México era sua relação com as lagoas e a forma como atingiram um desenvolvimento urbano muito avançado, de alta densidade, com uma agricultura muito produtiva, sem destruir o ecossistema das lagoas e lagos do Vale do México", destaca Navarrete. "Era um sistema de gestão hidráulica muito complexo."
"E as lagoas eram um meio de transporte para levar uma grande quantidade de materiais, de forma mais eficiente do que o outro meio disponível, que eram as pessoas carregando as coisas sobre os ombros."
Os mexicas idealizaram um sistema de agricultura em ilhotas, chamadas chinampas, que oferecia certo grau de autossuficiência alimentar, sem necessidade de trazer alimentos de terra firme.
A agricultura em chinampas é uma das poucas técnicas pré-hispânicas que ainda persistem ao sul da atual Cidade do México.
Cinco séculos depois, a Cidade do México e sua zona metropolitana enfrentam sérios problemas relacionados à água.
A região tem 20 milhões de habitantes. De um lado, ela enfrenta secas que obrigam sua população a limitar o consumo de água potável. De outro, as fortes precipitações da estação das chuvas geram sérias inundações em regiões onde, antes, havia canais naturais.
"A forma atual de gestão não tem nenhuma relação com o modo praticado pelos mexicas e por outros povos pré-hispânicos", explica Navarrete.
"O que ocorreu foi um ecocídio cometido pelos espanhóis e pelos governos mexicanos. O afundamento ocorre porque retiramos toda a água do vale."
A extração da água do subsolo gerou um problema de afundamento da cidade, que se agrava ano após ano.
"A Cidade do México é um símbolo de como não se pode vencer a água", segundo Kole. "Ela é mais forte que nós. "Você pode tentar dominá-la, mas nunca irá vencê-la."
"Acredito que esta seja uma lição que também aprendemos na Holanda. Nós aprendemos a aceitar a água e dar a ela o espaço de que ela precisa, criando um entorno mais saudável."
"Espero que o México consiga se reconciliar com isso", prossegue Kole. "A Cidade do México é um belo lugar, com uma identidade forte e única, diferente de qualquer outro local. Acredito que ela mereça existir, tem esse direito."

Crédito,Thomas Kole/Retrato de Tenochitlan