
- Bernd Debusmann Jr
- Correspondente da BBC News na Casa Branca
O presidente dos EUA, Donald Trump, confirmou nesta quarta-feira (15/10) que autorizou a agência de inteligência CIA a conduzir "operações secretas" dentro da Venezuela — e disse que estava considerando ataques a cartéis de drogas no país.
Esse tipo de operação ocorre, por exemplo, quando serviços militares ou de inteligência realizam ataques ou assassinatos em outro país — mesmo que os exércitos dos dois países não estejam combatendo diretamente um ao outro.
Forças dos EUA já realizaram pelo menos cinco ataques a barcos suspeitos de transportar drogas no Caribe, perto da costa venezuelana, nas últimas semanas, matando 27 pessoas.
Especialistas em direitos humanos nomeados pela ONU descreveram as ações como "execuções extrajudiciais".
Falando no Salão Oval, na Casa Branca, Trump disse que os EUA "estão analisando operações em terra" enquanto consideram novos ataques na região.
Trump buscou aumentar a pressão sobre o presidente Nicolás Maduro, que os EUA e outros países não reconhecem como líder legítimo da Venezuela após eleições contestadas no ano passado.
A Venezuela desempenha um papel relativamente pequeno no tráfico de drogas da região. O país não produz drogas, embora seja uma rota de trânsito para alguns traficantes, mas não a maior em comparação com outros locais da região.
O governo venezuelano não comentou diretamente a notícia, mas, falando na televisão pouco depois, a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, disse: "Que nenhum agressor ouse, porque sabem que aqui está o povo de Bolívar, que aqui está o povo de nossos antepassados com suas espadas erguidas para nos defender sob qualquer circunstância."

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O aumento da presença militar dos EUA na região gerou temores em Caracas de um possível ataque.
De acordo com o jornal The New York Times, a autorização de Trump permitiria que a CIA realize operações na Venezuela de forma unilateral ou como parte de qualquer atividade militar mais ampla dos EUA.
Ainda não se sabe se a CIA está planejando operações na Venezuela, ou se esses planos estão sendo mantidos apenas como contingência.
Falando com repórteres no Salão Oval, ao lado do diretor do FBI, Kash Patel, e da procuradora-geral, Pam Bondi, Trump foi questionado sobre a reportagem do New York Times.
"Autorizei por duas razões, na verdade", disse ele. "Número um: eles [Venezuela] esvaziaram suas prisões e enviaram [os presos] para os EUA."
Ele acrescentou: "E a outra coisa são as drogas. Recebemos muitas drogas vindo da Venezuela, e grande parte das drogas venezuelanas entram pelo mar, então você precisa ver isso, mas também vamos detê-las pela terra."
O presidente se recusou a responder quando perguntado se a autorização à CIA permitiria à agência derrubar Maduro.
Os EUA já ofereceram uma recompensa de US$ 50 milhões para informações que levassem à prisão do líder venezuelano, que é acusado por Trump de comandar um cartel de drogas.
"Não seria uma pergunta ridícula para eu responder?", disse ele.
No ataque mais recente dos EUA, na terça-feira (14/10), seis pessoas foram mortas quando um barco foi alvo próximo à costa venezuelana.
Na rede Truth Social, Trump afirmou que "a inteligência confirmou que a embarcação estava traficando narcóticos, estava associada a redes narcoterroristas ilícitas e transitava por um corredor conhecido de tráfico de drogas."
Como ocorreu em ataques anteriores, autoridades dos EUA não especificaram qual organização de tráfico de drogas acreditavam estar operando o barco, nem quem eram as pessoas a bordo.
Maduro usou as rádios locais na noite de quarta-feira para alertar contra a escalada. "Não à mudança de regime, que tanto nos lembra das guerras intermináveis e fracassadas no Afeganistão, Iraque, Líbia e assim por diante", disse o líder socialista.
"Não aos golpes de Estado orquestrados pela CIA."
Ele acrescentou: "Escutem-me, sem guerra, sim, paz, o povo dos Estados Unidos."
No início do dia, Maduro ordenou exercícios militares no subúrbio de Petare, em Caracas, e no Estado vizinho de Miranda.
Em uma mensagem no Telegram, ele disse que estava mobilizando militares, policiais e milícias civis para defender o país rico em petróleo.
O ministro das Relações Exteriores, Yván Gil, disse no Telegram que a Venezuela "rejeita as declarações belicistas e extravagantes do presidente dos Estados Unidos".
"Vemos com extrema preocupação o uso da CIA, bem como os deslocamentos militares anunciados no Caribe, que equivalem a uma política de agressão, ameaça e assédio contra a Venezuela", acrescentou.
Trump enviou oito navios de guerra, um submarino nuclear e caças para o Caribe, no que a Casa Branca diz ser um esforço para reprimir o narcotráfico.
Em um memorando vazado e enviado recentemente a parlamentares americanos, o governo Trump afirmou ter determinado seu envolvimento em um "conflito armado não internacional" com organizações de narcotráfico.
Autoridades americanas alegaram que o próprio Maduro faz parte de uma organização chamada Cartel dos Sóis, que, segundo elas, inclui oficiais militares e de segurança venezuelanos de alto escalão envolvidos no narcotráfico. Maduro negou as alegações.
Mick Mulroy, ex-oficial paramilitar da CIA e Subsecretário Adjunto de Defesa, disse à BBC: "Para conduzir ações secretas, é necessária uma decisão presidencial da CIA autorizando-a especificamente, com ações específicas identificadas."
Mulroy acrescentou que tal decisão marcaria um "aumento substancial" nos esforços contra organizações de narcotráfico.
"Talvez um 'Sicario' da vida real", disse ele, referindo-se a um filme de 2015 que retrata agentes americanos lançando operações clandestinas contra cartéis de drogas no México.
Com reportagem adicional de Ione Wells.
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