SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Quando a Política se Torna Máfia: A Corrosão da Democracia e os Caminhos para o Fascismo por Egidio Guerra.




A imagem romantizada do mafioso, perpetuada por obras como O Poderoso Chefão, esconde uma verdade brutal: a máfia não é uma organização à parte da sociedade, mas um parasita que se infiltra em suas instituições mais vitais. O que acontece, então, quando o próprio Estado adota os métodos da máfia? Quando a política abandona o bem comum e se transforma em um sistema de pilhagem, extorsão e controle? A resposta é o caos, a destruição da democracia e a abertura de um perigoso caminho para o fascismo. 


Roberto Saviano, em Gomorra, desmistifica a aura dos clãs e expõe sua essência: uma empresa violenta que sobrevive pela infiltração na economia legal e nos aparelhos do Estado. A máfia, ele nos mostra, não quer derrubar o governo; quer ser o governo. Esse é o mesmo princípio que vemos operar quando oligarquias políticas se perpetuam no poder através de corrupção, contratos ilegais e a compra de votos. O "centrão" brasileiro, por exemplo, não é um bloco ideológico, mas um cartel que funciona como uma Cosa Nostra parlamentar. Sua moeda não é apenas o dinheiro, mas as emendas orçamentárias que funcionam como um moderno "pizzo" (imposto da máfia), destinadas a criar "currais eleitorais" e manter feudos de poder há décadas. 



A investigação acadêmica de Alessandra Dino em Os Últimos Chefões e as análises de Walter Maierovitch em Máfia, Poder e Antimáfia detalham como a máfia siciliana opera por "infiltração simbiótica". Ela não toma o poder pela força, mas cooptar políticos, juízes e empresários através de uma rede de favores ilícitos. O mecanismo é simples e replicado em diversos contextos: incrimina-se pessoas úteis para forçar sua cooperação e, depois de cumprida sua função, elas são descartadas ou eliminadas, enquanto a cúpula permanece intocável. É a lição de O Poderoso Chefão: "Mantenha seus amigos por perto, mas seus inimigos mais perto ainda." Na política-máfia, os "amigos" são os aliados momentâneos, e os "inimigos" são aqueles que
possuem segredos comprometedores. A nomeação de pessoas para instituições públicas – do judiciário a estatais – não visa a competência, mas a consolidação de acordos de feudos, transformando ministérios e agências em extensões do clã.
 


No Brasil, essa metamorfose é evidente. A histórica resistência à taxação de grandes fortunas, a concessão de incentivos fiscais bilionários a grupos econômicos em troca de financiamento de campanha e a exigência de emendas parlamentares como moeda de barganha são a face moderna da "prostituta política" mafiosa. Essas práticas, repetidas por décadas, têm um custo humano devastador: a falência do SUS, a precarização da educação, a violência urbana descontrolada e a perpetuação da miséria são mortes em massa, lentas e impunes, causadas pelo desvio sistemático de recursos públicos, endividam o Estado e usam dinheiro internacional para se manter no poder. O crime organizado avança não apenas pela força das armas, mas pela omissão calculada e pela conivência de um Estado capturado por essa oligarquia. 


A impunidade é o oxigênio desse sistema. Assim como a máfia protege seus "chefões" usando "laranjas" e "soldados" como bodes expiatórios, a política-mafia cria mecanismos para blindar suas cúpulas. A operações da Policia Federal, buscam desmontar essas máfias, expõe como redes de corrupção envolvendo oligarquias, partidos, empresas e o poder público funcionam como um gigantesco esquema de lavagem e propina. No entanto, como num roteiro mafioso, muitos dos que foram inicialmente incriminados para "quebrar" o silêncio depois foram descartados ou tiveram seus casos arquivados, enquanto as estruturas de poder que permitiram o esquema seguem largely intactas. 


Figuras como Bolsonaro e Trump, embora diferentes em estilo, são sintomas e catalisadores desse fenômeno. Eles não criaram o sistema, mas aprenderam a explorá-lo de forma brutal. Ao legitimar a violência, o negacionismo, o ataque às instituições e a desigualdade, eles mostram que, para a máfia no poder, tudo é permitido para se manter no controle. Eles são a encarnação moderna do princípio descrito por Giuseppe Tomasi di Lampedusa em O Leopardo: "É preciso que tudo mude para que tudo fique como está." Troca-se a retórica, o rosto no palácio, mas a estrutura de privilégios, a corrupção e o jogo sujo permanecem. É uma "mudança" de fachada para perpetuar o domínio das mesmas elites, oligarquias e gangues partidárias. 

A consequência final dessa simbiose entre política e máfia é a morte da democracia. Quando a lei é seletiva, quando a justiça é comprada, quando o voto é uma mercadoria e o parlamento um mercado de favores, a fé no sistema se esvai. É nesse vácuo de legitimidade que o fascismo encontra seu terreno fértil. Ele se apresenta como o "homem forte" que vai limpar a "casa suja", prometendo ordem contra o caos que a própria máfia no poder ajudou a criar. No fim, a política que se torna máfia não apenas rouba o presente; ela destrói o futuro, semeando o caos que justificará a própria tirania que diz combater. A luta, portanto, não é apenas contra a corrupção, mas pela própria sobrevivência do projeto democrático. Quando os esquemas vem atona, ou o projeto dos pobres avançam, quando correm os risco de perder as eleições e controle do Estado. As oligarquias e o Centrão se aliam ao Fascismo da hora, e também os enganam.


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