SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Homenagem ao Dia dos Professores: Educar é Transformar Vidas na Escola, nas Ruas e no Mundo por Egidio Guerra.

 


No alvorecer de cada dia, em salas de aula muitas vezes desprovidas de recursos, mas nunca de sonhos, ergue-se uma figura fundamental: a professora, o professor. Hoje, celebramos não apenas uma profissão, mas uma missão consagrada à mais nobre das tarefas humanas: a transformação. Educar, como nos ensinou o grande Paulo Freire, não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. É um ato de amor e coragem, um diálogo constante em que educador e educando se reinventam. 




Pensadores visionários iluminaram este caminho. Paulo Freire nos legou a pedagogia do oprimido, defendendo uma educação que liberta, que problematiza o mundo para transformá-lo. Edgar Morin convoca-nos a ensinar a compreensão humana e a lidar com as incertezas, preparando cidadãos para um planeta complexo. Henri Wallon colocou a afetividade no centro do desenvolvimento, lembrando-nos que se educa com a mente e o coração. Jean Piaget e Lev Vygotsky, com suas teorias sobre a construção do conhecimento e a dimensão social da aprendizagem, mostraram que o aluno não é uma tábula rasa, mas um ser ativo, cuja inteligência se expande na interação com o outro e com o meio. 

Esta missão de formar cidadãos críticos e conscientes nunca se restringiu aos muros da escola. Ela ecoa e se alimenta dos gritos de justiça que ressoam nas praças e avenidas do mundo. A luta é uma extensão da aula. Foi nas ruas do Chile, com os estudantes secundaristas à frente em 2011, que um movimento nasceu, pavimentando o caminho para a presidência de Gabriel Boric, mostrando o poder da juventude educada e mobilizada. Em 1968, em Paris, Praga e no mundo, estudantes e trabalhadores clamavam por liberdade e por uma nova sociedade, tendo a educação como bandeira. 


Movimentos como o 
Occupy Wall Street, nos EUA, e o 15-M que deu origem ao Podemos, na Espanha, questionaram as estruturas de poder e a desigualdade, temas caros a qualquer educação verdadeiramente emancipatória. No Brasil, os 20 centavos da passagem de ônibus foram o estopim para que milhões fossem às ruas, em um levante que tinha na sua base uma geração formada em escolas públicas e universidades. E a luta não para: da Quênia ao Nepal, do Peru a Marrocos, jovens educados e indignados seguem combatendo a opressão e exigindo seus direitos.
 



A luta continua hoje, de forma incansável, para que os ricos paguem impostos justos e que essa verba se reverta em um orçamento digno para a educação. Continua contra a escala 6x1 desumana que esgota nossos mestres. Continua sem anuência para a retirada de direitos. A sala de aula é o primeiro território de resistência, mas a batalha é travada também no orçamento federal, nos plenários das câmaras e nas manifestações populares. 

O cinema e a literatura eternizaram a beleza e os desafios desta missão. Em "Sociedade dos Poetas Mortos", o professor John Keating (Robin Williams) inspira seus alunos a "aproveitarem o dia" (carpe diem), despertando neles o pensamento livre. Em "Escritores da Liberdade", a professora Erin Gruwell (Hilary Swank) transforma a realidade de jovens marginalizados através da escrita e do reconhecimento de suas histórias. E em "Ao Mestre, com Carinho", Mark Thackeray (Sidney Poitier) conquista uma turma rebelde com respeito e dignidade, mostrando que a educação vai muito além do currículo. 

Ser educador é, portanto, um ato político e poético. É acreditar, contra todas as evidências, no potencial de cada criança, de cada jovem. É ser artesão da curiosidade, arquiteto da esperança e soldado da paz. É ensinar a ler o mundo nas letras de um livro, na equação de um quadro, mas também na realidade crua das ruas e na história de luta dos povos. 

Neste Dia dos Professores, nosso reconhecimento deve vir acompanhado de ação e apoio. Que a sociedade entenda que investir na educação e valorizar seus mestres não é uma despesa, mas o único investimento capaz de erguer
uma nação verdadeiramente justa, soberana e feliz.
 

Aos professores e professoras, nosso eterno obrigado. Que continuemos, juntos, a transformar vidas – na escola, nas ruas e no mundo. Porque, como bem disse Freire, "a educação não muda o mundo, a educação muda as pessoas. As pessoas mudam o mundo". 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário