As teorias e práticas da educação popular em conjunto e na história são essenciais e transversais como caminhos para repensar a educação escolar e universitária; assim como a sociedade construindo novas formas de ser, viver e governar. Várias lições estratégicas como o papel que a educação popular, Paulo Freire e Darcy Ribeiro desempenharam na formatação da LDB, incluindo educadores populares como professores, os limites da Ciência sobre a ótica da antropologia e da educação popular, a necessidade de misturar saberes acadêmicos e populares, o aprender a ser, viver, relacionar e fazer na escola e na vida, o papel da aula em campo, a urgência de repensar o currículo e os créditos acadêmicos que trate os desafios sociais de forma interdisciplinar como violência, racismo, desemprego, destruição da natureza e outros, enfim o papel da Escola e da Universidade na transformação da vida das pessoas e do mundo que vivemos.
A educação popular questiona o que é educar ! É a educação bancária reduzida a sala de aula, professores, notas e grades curriculares ? Emilia Romagna responde que é melhor compreender como as crianças e os jovens aprendem, enquanto a Finlândia educa tratando as questões sociais como essenciais com mais tempo das crianças com as famílias, tempo para ócio, e os direitos sociais garantidos não apenas o acesso à escola. Essas são lutas dos movimentos sociais que emergiram dos educadores populares convergindo, não por acaso, com o método de alfabetização de Paulo Freire, a luta pelos direitos dos mais pobres e a criação da LDB com Darcy Ribeiro. Não é por acaso que o antropólogo e Ministro da Educação Darcy Ribeiro realizou pesquisas nas comunidades indígenas e quilombolas, também escreveu sobre o povo brasileiro, foi o criador do sambódromo, primeiro Reitor da UNB e criador da LDB. As raízes da LDB carregam muitas lições da educação popular propondo outras formas de avaliar, assim como meios de financiar uma educação de qualidade para todos, como o FUNDEB .
Vários saberes populares têm transformado vidas criando caminhos para nossos problemas sociais, muito além da alfabetização com o qual confundimos um objetivo com a missão. Os educadores populares criam saberes e tecnologias sociais que muitas vezes tem mais impacto que as políticas públicas estatais no enfrentamento das violências , racismos, desemprego, destruição da natureza, e outros; suas teorias e práticas tem sido nas últimas décadas objetos de pesquisas, teses de mestrado e doutorado de Universidades brasileiras e internacionais. A formação dos educadores populares não é acadêmica mas na vida ensinando e despertando novos horizontes e lutas por outros caminhos. Eles não só ensinam em sala de aulas com quadros, chamadas e notas mas em campo com projetos que trabalham ao mesmo tempo a razão, o cotidiano, a cultura, os sentimentos, a imaginação e outros dialogando com a vida e outras disciplinas mas não se limitando a elas.
Diante do óbvio que a vida ensina, a educação popular contribui bastante para pensar eixos da educação como aprender a ser, viver, se relacionar e fazer. Depois esses eixos se tornaram parâmetro da educação para ajudar a repensá-la. Edgar Morin vai mostrar os limites da educação bancária e linear, ou seja em campo e complexa, porque a ética, a nossa relação com a natureza e outras vidas, a essência do que significa conhecer, incluindo os limites da Ciência, nossa ignorância e o desconhecido, extrapolam e muito as noções de escola, aulas, notas e currículos que vivenciamos no último século sem grandes transformações. Onde herdamos a estrutura e os processos dos mosteiros que centravam o saber no professor, transmissão via fala, disciplinas, e avaliação quase como uma confissão que temos que repetir as palavras dos livros como se fossem "Bíblias" ou do Professores como "padres", tendo a Escola como Igreja. Foucault trabalha essa relação entre saber e poder em vários dos seus livros, enquanto a educação popular liberta a autonomia do sujeito em produzir conhecimento em diálogo com a existência. Do ponto de vista do método podemos falar de etnobiografia ou memorial como caminhos do ser humano pensar e organizar sua existência. Principalmente no mundo onde o acesso a livros e as informações via internet se democratiza, onde outros meios como as redes sociais, mídia, games disputam a mente dos alunos, onde o crime, desemprego, pandemias afetam a escola torna-se urgente repensar outros caminhos.
No Mundo também de Terra planismo e fake news de um lado, observamos vários pensadores como Bruno Latour e outros questionando os dogmas, poderes, limites da ciência e seus impactos sobre a vida, um pensar fragmentado na relação com Terra. É hora de aprender que nossos principais problemas e desafios são interdisciplinares, complexos e sistêmicos como os já citados: destruição da natureza, pandemia, violências, racismo, criminalidade, e outros. A educação popular fortalece um processo e uma visão mais sistêmica da vida e do cotidiano, fortalece o sujeito na compreensão da realidade sem reduzi-la a disciplina A ou B conforme nos acostumamos no uso do método científico na Academia. Muitas vezes sem método ou contra o método, aprendemos a misturar saberes populares com acadêmicos para criticar melhor as notícias dos jornais ou a fala dos políticos. Essa consciência crítica inerente às origens da educação popular nos lembra que educar não se reduz a ciência, é preciso outros referenciais que nos guie; e nos alerte sempre que a educação popular é um caminho para repensar a educação e a sociedade que vivemos.