SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

UMA POÉTICA EDUCACIONAL PARA O SÉCULO XXI! A QUE MISSÃO DOARIA SUA VIDA?



Você doaria sua vida porque? Essa é a razão pela qual vale a pena viver. Se você ficar uma hora olhando, tiktok verá muitas coisas que as pessoas fazem no esporte, cultura, humor, muitas besteiras inclusive para que possam ter atenção das pessoas. Alguns dão a vida para ter uma casa e quando tem não querem ficar nela porque deixaram de viver, viajar e conhecer o mundo. Alguns dão a vida por dinheiro e quando tem não se prepararam para realizar a própria vida. Eu pessoalmente dou minha vida a algo que possa mudar o maior número de vidas possível. O nome disso é educação, cultura, a boa política como Gandhi, novas tecnologias como o computador e internet, preservar e cuidar da natureza, espiritualidade, e vários caminhos que podem de fato mudar a vida de muitas pessoas. Mas o nome disso não se resume à formação na Escola ou Universidade, essa jornada extrapola as paredes na construção de saberes que alimentam vidas e sonhos. Saber que precisa contagiar, se multiplicar, assim como a natureza, as ideias no bom livro, os filmes, as tecnologias, espiritualidade que a gente possa contribuir com a humanização através de experiências de vida.   



Seguindo esse caminho em minha vida e nos passos de minha formação, os filmes são essenciais para que possamos pensar e sentir ao mesmo tempo por imagens, ao mesmo tempo que a leitura de livros de diversas ciências, história, e política nos dá a lentidão necessária para refletir sobre os conceitos na vida, somando a experiência do agir e vivências em vários setores da sociedade. Essa Interdisciplinaridade, interculturalidade, intersetorialidade, ora local, ora internacional, transborda e expande o ser em pensamentos sistêmicos e complexos cantando com poesias, dançando em redes, escrevendo e filmando no mundo real, os roteiros de outras histórias e personagens que inovam em novas formas de ser, educar, viver e nos governar no Século XXI.  


 

Mas também de que adianta entendermos tudo sobre nosso eu, se não conheço o outro, se não percebo as realidades e contextos que fazemos parte interagindo com diversas pessoas, raças, gêneros, culturas, religiosidades. Sonhando juntos, unindo individual ao coletivo, dialogando com outras gerações sobre os mundos e formações que os tornaram quem eles são, sempre procurando compreender suas razões, trajetórias de vidas e as instituições que fazemos parte. Essas lições ao mesmo tempo éticas e estéticas são apreendidas pelos afetos, pelo corpo, pela alma com autonomia no processo de individuação que ao mesmo tempo afirma a singularidade de nossa existência coletiva.  



Diante de muitos desafios coletivos como o feminicídio de milhares de mulheres sem que o Estado entregue cuidado, proteção e justiça apesar de seus diversos órgãos, orçamentos, burocracia, funcionários públicos, políticos, muitas vezes uma mulher é morta por falta de uma palavra ou atitude. De que adianta nosso currículo e formação tradicional em Escolas e Universidades diante de tais situações? Diante de não conseguir executar um orçamento que poderia salvar a vida de jovens em sistemas de medidas sócio educativas. Diante da pobreza da maioria de nossa população, da morte de jovens pela violência ou pessoas por falta de saúde, de milhões de pessoas analfabetas ou sem concluir o ensino médio, isso tudo durante décadas sobre o silêncio e omissão do Estado, de políticos e autoridades de outros poderes. Diante de partidos que ora são controlados pelas mesmas pessoas durante décadas que negociam seus cargos e posições ou são ocupados por políticos que já ocuparam diversos partidos como grupos apenas para manter seus projetos de poder, e se manter no poder a qualquer preço, mesmo que seja destruir a Democracia. A sociedade em que vivemos com trilhões de dinheiro público servindo aos interesses de grupos que usam as instituições para roubar e corromper, às custas de milhões de vidas numa guerra permanente durante décadas em várias faixas de Gazas que se tornaram as periferias sobre o comando do crime organizado. Muitas vezes transmitidas pela mídia sem discutir as reais causas ou pelas narrativas de políticos há décadas no poder que criam espetáculos e stand up para tentar apagar a história, os cargos que ocuparam e como viveram a vida toda do que agora criticam para se candidatar de novo. 



 

A rejeição individualista de qualquer responsabilidade pelo mundo é o pior que escolhemos quando todos devem encontrar seu lugar na sociedade. Repetimos passados sem enxergar os fragmentos, ruínas e guerras que provocamos. A luta pela vida, em sobrevivência a uma cultura que nega a existência coletiva, contra a busca de uma perfeição individual nos leva mas a busca do fazer do que formar. O agora que une a história individual e coletiva, nos faz enxergar o passado e construí-lo por outros caminhos. É hora de renunciar ao caminho reto da razão em proveito para abertura dos espaços coletivos. Pensar nos sentidos daquilo que fazemos, reconstrução da experiência no presente. O conhecimento não apenas como organização e sistematização dos saberes, indo além dos limites da consciência empírica, uma experiência imanente e concreta que revela o que poderia ter sido nossa vida e o mundo que vivemos para agir agora. Uma experiência ética é uma ampliação da consciência não refém de conceitos e práticas sem sentido. Indo além do retrato fiel da realidade unindo a perspectiva estética do conhecimento e da própria vida. O Universal não precisa ser abstrato, ambição dos discursos científicos, mas é algo concreto que se revela no singular. Incorporar um senso comunitário, uma palavra comum diante do esfacelamento do tecido social e dos egos. O sentido que institui comunidades. Um campo capaz de acolher incertezas, provisórios, aquilo que escapa ao logos, fazendo da experimentação condição do saber e da vida. A escola de novas formas, a possibilitar a percepção estética da existência humana, novas construções de sentidos, dizer o presente de outras formas, criando um passado também novo. A educação é a renovação de um mundo comum, mas ela sozinha não pode resolver todos os males da sociedade de um pequeno grão de terra, a Terra da Sabedoria.                      

      



quarta-feira, 8 de novembro de 2023

A UNIVERSIDADE PÚBLICA CONTRA OS FILÓSOFOS DO PROGRESSO E DA DECADÊNCIA NO CAMINHO DA FELICIDADE E DO SOFRIMENTO DA SOCIEDADE QUE A FINANCIA.


 

Se temos uma Universidade pública de qualidade, infelizmente milhões de pessoas pagaram ou morreram sem ter acesso a ela. Essa dívida social pode ser resgatada agora por uma Universidade presente, viva e democrática atuando nas periferias, incorporando e legitimando os saberes produzidos pelas comunidades e projetos que mudam vidas e realidades com os seus saberes, tecnologias e epistemologia que desbravam novos horizontes na formação de nossa juventude e nos lugares onde moram.



A vida humana enquanto ethos, seguindo as passagens de Walter Benjamin, busca reintroduzir a experiência pela pesquisa, ensino e extensão universitária na história coletiva, e não apenas individual, nos lugares onde moramos como missão da educação. Considerando que a educação produz a singularidade do indivíduo e sua socialização na História que resgata o presente, no passado, e constrói agora o futuro. A encarnação temporal da educação compartilhando sentidos pelo contexto social até a diferença e descontinuidade, indicando que a história é um legado comum a todos os homens; assim com os "achados arqueológicos" que encontramos em nossa jornada de aprendizagem sobre a vida e o mundo que vivemos, os diversos sinais de destruição e barbárie por onde passamos que a modernidade tenta negar em nome do progresso.



Os vários acontecimentos que nos chocam e nos levam a refletir com criticidade e agir com criatividade, por serem subjetivos nos levam a humanização no encontro com o coletivo, com o diferente e com o outro para construirmos a história juntos. A experiência pode auxiliar no enfrentamento da tensão gerada nos acontecimentos que vivemos, no processo educativo, entre a criação da singularidade do eu e sua integração a um ethos comum produzindo conhecimentos. Nesses espaços educacionais não escolares produzimos narrativas que mais que retratos científicos podem incorporar a arte como tem feito o hip hop, a grafite, o cinema e outros mostrando todo potencial da vida e transformação nas comunidades. O agora interfere na produção de palavras e imagens indo além do método científico para inovar políticas públicas, novas formas de ser, viver e conhecer um mundo em transição tecnológica, mudanças climáticas e brutais desigualdades e violências.


Contra a perfectibilidade e empatia, porque nasce da tristeza, do espírito de sacrifício, do ódio, do sofrimento dos corpos prostrados no chão, a construção da experiência, segundo Benjamin, depende de uma vontade ética inscrita em uma luta política e histórica, que impeça que essa história se repita, mostrando quanto a construção da memória pertence ao presente como esse espaço coletivo. 



Não podemos depender de belas almas ou professores bons esse processo educacional como pesquisa, ensino e extensão deve ser institucionalizado nas Universidades. Parece mais fácil e menos arriscado cuidar dos que morreram muito tempo atrás, porque não ameaçam o conforto dos vivos. O que não é o caso, quando se trata dos mortos e vivos de hoje, em relação aos quais corremos o risco de tratar as lembranças dos mortos e a indignação contra os horrores passados em tantos pretextos bem vindos para nos desviar de lutar contra os assassinos do presente. É urgente educar gerações com experiências que podem salvar suas vidas, transformar e salvar as Escolas, Universidades e os lugares onde moramos no único planeta que vivemos. A História é uma superfície de luta e não o jardim da ciência para o passeio dos ociosos como descreve Benjamin. Uma educação que saiba ultrapassar a História como acúmulo de conhecimentos e conservação piedosa do passado em direção a uma História que exija uma intervenção crítica para transformação da realidade, em outras palavras, para construção de experiências. Autoformação e autoconhecimento dependem de uma memória que só adquire seu sentido mais fundamental quando mergulha suas raízes no coletivo.



A possibilidade da experiência pressupõe que o indivíduo alienado de si mesmo possa acordar no coletivo. Numa relação radical e original com o tempo: o futuro está no presente. O futuro deixa de ser projeção finalista, para no presente, articular se no passado. Cada geração tem um encontro marcado com as gerações passadas. É um movimento que não quer ficar na simples constatação dos fatos, mas quer transformar o que está inacabado (a felicidade) em algo acabado e o que está acabado (sofrimento) em algo inacabado. Contra os filósofos do progresso e da decadência, é urgente recriar a vida, recolher todo o passado no presente, pensar o agora para além de sua negatividade e de progressos tecnológicos sem humanidade. Voltar a alegria e o riso do saber para ironizar poderes e ignorâncias que destroem vidas e a Terra com a capacidade crítica e criativa dos estudantes. Educar para adaptação e autonomia capazes de mudar culturas, o mundo e o tempo. Interromper o fluxo da história oficial dos vencedores, quebrando a coerência dos seus discursos, em busca de outras formas de pensar, ser, viver em um mundo em transição tecnológica, mudanças climáticas, brutais desigualdades e violências.                              




segunda-feira, 6 de novembro de 2023

AS QUESTÕES DA PROVA DO ENEM E A CRITICIDADE ENTRE ESCOLARIZAÇÃO E EDUCAÇÃO.



 

A maioria das questões do Enem exige uma compreensão crítica, incluindo da linguagem do mundo em que muitos não vivem, nem têm acesso a ele devido a pobreza e violências. A verdade é que muitas das respostas das questões do ENEM se encontram em processos de letramento educacionais que se dão na vida, no mundo ou na paz de sua mesa em casa fazendo outras coisas que não se reduz ao que a escola exige. Mas infelizmente desde a infância muito da curiosidade, autonomia, e rebeldia é massacrada e negada em processos de escolarização que negam a educação e o despertar das cem linguagens das crianças e seus modos de expressão. Muitas vezes para manter o silêncio e a disciplina em sala de aula, quando um tipo de aula é ministrada, para quem conseguir acompanhar, não importa quantos estão aprendendo e as diferentes formas de aprender entre eles. Não importa que o problema da violência e indisciplina tem a ver com outros fatores cognitivos, sociais e às vezes biológicos que a Educação necessita urgente lidar como fizeram os principais sistema de ensino no mundo, integrando política educacional, social, saúde, e outras.  




Mas muitas vezes as escolas são usadas para alimentar as neuroses de capitães do mato que se saciam com "tarefismos" e métricas inúteis que servem para esconder a verdade e os limites de um modelo escolar conteudista. É importante lembrar que os melhores sistemas de ensino devem ser medidos pelas piores escolas em que estão os alunos com maiores dificuldades, violências e desigualdades. Numa fábrica quando um modelo de carro dá problema tentam identificar o lote e a causa. Parece incrível mas é verdade que com seres humanos no que se chama de escolas fazem o mesmo! O que foi algum problema no algoritmo escolar naquela nota ? Tem que ser muito malvado ou ignorante para querer transformar a educação por esses caminhos. Afinal para isso deve simplesmente dizer que a maioria das piores escolas e notas não deu certo ainda; porque ainda não encontraram a fórmula mágica ou seus manuais oficiais de educação tentam negar pensadores que construíram juntos em seus países a História da educação. Que tal estudar Dewey, Wallon, Vygotsky, Morin? Mas eles insistem em colocar na marra fake news de fundações empresariais ou políticos que transformaram educação em bom negócio para alguns. 



A relação com o tempo é fundamental na educação, ainda não somos feitos de chips, além do exterior da escola e do interior da casa, tem muitos lugares físicos e virtuais que passamos e não adianta fechar os olhos, podemos ser críticos e criativos a eles ou nos deixar adestrar para a novidade ou prova da hora. O amor ao saber é que nos torna humanos e ele é anti-cartesiano. Situações da vida são ambivalentes e complexas e não podemos enxergar apenas o superficial ou querer calcular até porque com o computador e a inteligência artificial esse não é mais o problema. Não se reduz as respostas mas as perguntas que fazemos, que depende de como lemos o mundo e o nosso ser, de como imaginamos o inimaginável diante de tantas guerras, mudanças climáticas, pobreza e criminalidade cometidos por poderosos e ricos impunes no mundo sem lei para eles. Como é o caso das Lojas Americanas no Brasil, a nossa Enron, de donos de escolas privadas que querem impor um modelo na escola pública pela força das violências como fizeram durante o Governo Temer sem escutar professores, alunos e famílias.


Na arte de viver o mundo presente despertado pela educação, o saber se alimenta da ética e da estética do pensamento em ação com crítica e criatividade. A criança deve experimentar o mundo pela escola, sem submeter as métricas da ciência de hoje nem do mercado. Ainda estamos presos nas certezas sem física quântica, em um mundo irreversível que chamamos cíclicos de apocalipses, retorno ao Paraíso ou viagens a Paris como consumo de shoppins. A razão é cega para si mesma e nunca vamos livrar-nos do medo mesmo que alguns se tornam senhores de escravos de suas vidas. A escolarização é uma prisão com suas grades, disciplinas, e capitães do mato. A escola da falsa utilidade e meritocracia não nos torna pessoas melhores para o mundo ainda não aprendemos isso ? Não tira a maioria da pobreza cercada pelo crime há décadas, e nega um espaço verdadeiro livre para criação sem nota, para vontade e poesia da infância. Necessitamos lidar com nossa capacidade crítica para os diversos choques de realidade que o mundo nos desafia todos os dias e refletir sobre eles, não esconder ou negar enquanto nos preparamos para a próxima prova de um sistema de avaliação qualquer que não avalia o mundo que eles criaram com seu dinheiro e poderes. Esvaziamos as crianças e jovens de sua própria vida. Ensinamos várias máscaras e fugas em processos escolares que negam a solidariedade, o amor e a justiça em nome de uma competitividade idiota e irracional. A nossa memória não é de computador, ela carrega experiências que não cabem no currículo e mudam a história, vida e as escolas apesar de vocês, os amanhãs já são outros dias. Afirmar a pobreza dessas tristes realidades escolares para construir outros mundos e educação ricas em vida e alegres pelo aprender com seu corpo e alma que não transforma nossas mentes em zumbis. Mesmo diante da destruição, podemos reconstruir outras escolas vivas e democráticas.   



Como diria Nietzsche " e se um certo dia às 12 horas eu não tiver nada de verdadeiramente pensado a dizer? " Como infelizmente muitos jovens hoje estão deformados por nossas escolas e Universidades. Gerações negam a elas o coletivo a fim de se tornar refém de seus egos. Como Freud escreveu a consciência nasce onde acaba o traço repetitivo, infelizmente repetir é a moda dos tik tok e redes sociais. Vivemos tempos sem memória, sem sentido que nos priva de experiências educacionais, que os agora aprisionados no presente possam ser libertados. Escolas ou Jogos Vorazes? Alguns macacos querem destruir a sabedoria da educação que humaniza? Ou alguns imperadores não eleitos usando cargos e dinheiro público? 



          

 


sexta-feira, 3 de novembro de 2023

CAPÍTULO 51 | Nitsavim - Instados | Sabedoria em Foco

 


Sobre as Guerras contra o povo judeu.


 


Nessa época de escuridão das guerras no coração de tantos homens, a luz que pode iluminar outros caminhos vem da sabedoria da alma e da história. Dentro de um pedaço de carvão vive uma luz solar guardada em plena escuridão, mesmo no fogo que arde de uma bala de canhão! Mesmo nos ataques das violências a escuridão dura pouco quando a luz tem o poder de iluminar nossos atos de terror. A verdade e a consciência sempre serão luz. Enxergue o máximo que puder à luz antes que teus olhos se fechem diante do ódio e da guerra. Talvez os fatos, razões e a espiritualidade acabem com a loucura das guerras.


 

Em um minuto, o mundo muda para sempre. Falar coisas bonitas e a verdade é proibida na guerra. Muitos preferem ficar invisíveis em momentos como esse. Mas, a escuridão e cegueira não nos protege nem nos guia. Muitas crianças, mulheres, idosos e jovens estão sendo mortos na linha de frente da guerra, enquanto terroristas covardes se escondem e negociam seus poderes. O terror mente e quer apagar toda luz e verdade, objetivo é nos acostumarmos com a escuridão onde impera a verdade do terror na guerra, onde a humanidade morre de fome e desespero enquanto outros não economizam suas armas. A guerra é maior que qualquer discurso, ela cala todas as razões com as armas do terror. A bondade é assassinada, o medo destrói o humano, o silêncio e a dor imperam. Enquanto o tirano é filho do orgulho, imprudência e vaidades.


 

As notícias da guerra são armas que atiram contra a opinião pública e corrompem a verdade e a ética. Mas nenhuma guerra vai mudar minha alma. Sempre vivi na terra em busca de amor, alegria e sabedoria e isso depende de termos coragem de lutar para não deixar as guerras te destruírem. A vida eterna, a vida na terra, tudo está ligado ao amor, a liberdade, a luz mesmo que não possamos vê-la podemos senti-la, como crianças inocentes que morrem na guerra sem compreender porque nasceram?  


 

Porque atiram aqueles que falam em nome de seus profetas ou de Deus? É importante entender que os judeus nunca falam por Deus. No judaísmo, os judeus podem até brigar com Deus, buscam estudar para entender as palavras da Tora, mas não existe a possibilidade de negociar com Deus, nem de se matar em nome dele por um ato de terror. Eles começam as guerras calculadas por projetos de poder de alguns que não respeitam e matam seu próprio povo na miséria ou como escudos. Ninguém negocia com o terror, o seu objetivo é matar ou buscar exterminar o povo judeu. O povo de Deus não negocia Deus, ele transforma vida em conhecimento, riqueza, luz em sabedoria. Não podemos transformar bênçãos e dádivas em guerra, não queremos guerra, mas mataremos primeiro quem quiser matar o povo judeu. O Holocausto ensina que não lutar é o pior caminho, que buscamos a paz não degolar, estuprar e explodir pessoas. Reféns não são moedas de negociação, e o povo palestino precisa se libertar do terror. Os árabes e outras civilizações sempre perseguiram e mataram o povo judeu, mas saímos do Egito e da escravidão pelos caminhos dos Kibutz e enriquecemos pelos caminhos do estudo, do trabalho e da fé. Não pedimos esmolas, mas passamos fome e pobreza sem calar nossas vozes e preces. O povo judeu é ao mesmo tempo oriente e ocidente, criou os sindicatos e as empresas, transgrediu as regras com melancolia e revolta, protegeu suas famílias e a mãe judia comanda nosso povo como Golda Meyer que em seis dias venceu a guerra.   



         

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

'Esquerda identitária e extrema direita populista são responsáveis por polarizar a sociedade', diz cientista político Yascha Mounk

 

'Esquerda identitária e extrema direita populista são responsáveis por polarizar a sociedade', diz cientista político Yascha Mounk

Broches de votação e de bandeiras de gênero

CRÉDITO, GETTY IMAGES

Legenda da foto, 

Para cientista político Yascha Mounk, políticas baseadas em pautas identitárias empurram eleitores a apoiar candidatos como Donald Trump

Uma mãe negra tenta matricular sua filha de 7 anos numa determinada turma de uma escola pública em um rico subúrbio de Atlanta, no Estado da Geórgia (EUA). Diante da resistência da diretora da instituição em acatar a escolha da família, a mãe questiona a escola. A resposta: “essa não é a classe dos alunos negros”, explica a diretora, igualmente negra, como a mãe e a aluna. 

Esta não é uma história que se passa nos anos 1940, antes que a Suprema Corte tomasse a decisão conhecida como Brown vs. Board of Education, que declarou inconstitucional que crianças fossem segregadas racialmente nas escolas, como era praxe até então na sociedade americana. Nem a diretora da escola de Atlanta, em 2020, estava motivada por ideias segregacionistas e racistas de décadas atrás.

A história da tensão na escola de Atlanta é um dos vários exemplos que o cientista político alemão-americano Yascha Mounk usa para ilustrar o que chama de “armadilha identitária”. Mounk descreve como, segundo ele, uma parte da política progressista ou de esquerda atual passou a privilegiar a identidade sobre todas as outras coisas na hora de desenvolver políticas públicas e se posicionar no debate político. 

Para Mounk, em nome de ideias e valores “centralmente preocupados com o papel que categorias de identidade como raça, gênero e orientação sexualdesempenham no mundo”, uma parcela considerável da esquerda passou a desprezar — ou relegar a segundo plano — “valores universais e regras neutras, como liberdade de expressão e igualdade de oportunidades”, historicamente bandeiras do espectro esquerdista, ele argumenta. A isso, Mounk chama de “síntese identitária”, mas no Brasil é o que tem sido batizado, à esquerda, de pauta identitária, e à direita, de “ideologia de gênero”, entre outros termos.

Conhecido por ser um pensador de esquerda, Mounk acaba de lançar, nos Estados Unidos, o livro “Identity Trap: a story of ideas and power in our time” (ou, em tradução livre, “A armadilha identitária: uma história de ideias e poder em nosso tempo”), ainda sem previsão de publicação no Brasil.

Segundo seu raciocínio, ao dominarem as discussões de políticas públicas ou tomarem instituições como universidades e a imprensa, a síntese identitária acaba por alienar uma boa parte da população, que se sente excluída ou confrontada pelos termos do debate. E aí ganha força eleitoral o outro lado da história, a que ele chama de “extrema direita populista”, citando figuras como Donald Trump ou Jair Bolsonaro. 

Segundo Mounk, a síntese identitária não serve nem mesmo para solucionar o problema de representatividade a que se propõe, porque ao priorizar as características de subgrupo social das pessoas — como a cor da pele de uma juíza negra apontada ao Supremo Tribunal Federal (STF) — deixa-se de privilegiar seus predicados objetivos — como o saber jurídico e intelectual — que deveriam ser os reais motivos da indicação.

Em entrevista por vídeo chamada à BBC News Brasil, Mounk defende que a pauta identitária leva à polarização social tanto quanto a nova direita populista, que nos EUA essas ideias já levaram a políticas públicas erradas, como as regras de distribuição de vacina contra a covid-19, e ajudam a explicar a saúde política do candidato republicano Donald Trump, que tenta voltar à Casa Branca em 2025.

No Brasil, embora reconheça os limites da noção de “democracia racial”, Mounk afirma que os brasileiros não deveriam permitir que a luta contra a estratificação racial — que mantém os negros em patamares mais baixos de renda do que os brancos — provoque o aumento na segregação racial.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista de Yascha Mounk à BBC News Brasil. 

O cientista político americano Yascha Mounk

CRÉDITO, GETTY IMAGES

Legenda da foto, 

O cientista político alemão-americano Yascha Mounk se dedica a estudar as democracias liberais e os processos que levam a sua erosão

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Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

Episódios

Fim do Podcast

BBC News Brasil - Por muito tempo, a esquerda perseguiu um certo universalismo, no sentido de mostrar que as diferenças de renda, raça, gênero não tornavam os direitos dos cidadãos diferentes, pelo contrário. Em que momento e por que isso começa a ser abandonado por grupos de esquerda em favor do que você chama de ‘síntese identitária’?

Yascha Mounk - Eu sou alguém que sempre esteve à esquerda e permanece à esquerda. Entrei para o Partido Social Democrata Alemão aos 13 anos. Na verdade, tive que mentir para entrar no partido porque eu só poderia fazer isso aos 14 anos e alguém sugeriu que eu falsificasse meu aniversário para entrar. E o que me atraiu para a esquerda foram duas tradições que marcavam sensivelmente esse espectro político. 

A primeira é o reconhecimento de que na maioria das sociedades, historicamente, as pessoas são discriminadas com base na situação econômica, mas também com base nos tipos de grupos em que nasceram. Grande parte da direita e da extrema direita sempre quiseram manter hierarquias de dominação baseadas em religião, cor de pele, orientação sexual, gênero e assim por diante. 

E em segundo lugar, partimos da luta por uma sociedade na qual superássemos essas diferenças, insistindo que somos capazes de nos compreendermos para comunicarmos através das fronteiras de nação, classe, religião e raça. Queríamos construir um mundo onde pudéssemos nos ver como irmãos e onde seríamos tratados como iguais, tratados da mesma forma. O que me chama a atenção na nova ideologia relativa à raça, ao gênero e à orientação sexual, cuja ascensão narro no meu novo livro "A armadilha da identidade" é que a esquerda desistiu da segunda parte deste raciocínio.

Agora está na moda dizer que se você e eu estamos em diferentes interseções de identidade - como nos Estados Unidos, em que você é uma mulher latina e eu sou um homem branco - então realmente não seremos capazes de nos comunicar e de nos entender.

(Essa interpretação do mundo) argumenta que deveríamos estar muito preocupados com as formas de influência cultural mútua, mas se eu pertenço a um grupo e você pertence a outro grupo, seria problemático para mim inspirar-me na sua criação artística ou nas suas tradições históricas.

E incentiva cada vez mais as pessoas a se conceberem, antes de mais nada, em virtude de um grupo no qual nasceram. Muitas escolas nos Estados Unidos agora dizem explicitamente que querem educar os alunos para que se concebam como seres raciais e coloquem a identidade racial acima de outras maneiras pelas quais eles poderiam pensar sobre si mesmos. E eu acho que isso é uma traição à missão histórica da esquerda e é um erro em termos de um tipo de sociedade que deveríamos querer construir e criar.

BBC News Brasil - Parece que esta abordagem da esquerda agora poderia potencialmente abrir a porta para o ressurgimento de algo que historicamente foi combatido pela esquerda: a segregação social, o regime de apartheid. Concorda que parece haver uma contradição? Por que a esquerda está optando por essa abordagem?

Mounk - Acho que há uma contradição aí. (O advogado pelos direitos civis) Derrick Bell, um dos fundadores do que ficou conhecido como teoria crítica da raça, ajuda a explicar isso. Bell era um advogado afro-americano de direitos civis nos Estados Unidos e fez um trabalho heroico ajudando a integrar escolas, empresas e instituições em todo o sul na década de 1960. Mas suas ideias acabaram sendo profundamente moldadas pelas deficiências dessas transformações, algumas das quais são compreensíveis. Ele percebeu, por exemplo, que estava defendendo a integração de escolas em nome dos seus clientes, mas por vezes, quando conseguia vencer esses processos judiciais e integrar essas escolas, esses clientes já tinham concluído o ensino médio (em escolas racialmente segregadas), então não se beneficiavam mais dessas mudanças. 

Em vez de reconhecer que as mudanças são lentas, mas podem ser reais, Bell exagerou as implicações desses resultados. Ele começou a dizer que a América no ano 2000 permanecia tão racista como tinha sido em 1950 ou 1850, que o progresso na questão racial não era possível, ele afirmava que o racismo é uma característica permanente dos Estados Unidos.

E como resultado, acabou por rejeitar as partes fundamentais do Movimento dos Direitos Civis. Ele passou a pensar que Brown vs Board of Education (a decisão da Suprema Corte que acabou com a segregação racial nas escolas) era, em muitos aspectos, um erro, argumentando que escolas separadas, mas verdadeiramente iguais, poderiam ser melhores (do que escolas racialmente integradas mas com discriminação). E apelou aos seus seguidores para que rejeitassem o que chamou de defunta ideologia da igualdade racial do Movimento dos Direitos Civis. Então isso ajudou a estabelecer uma nova forma de política de esquerda que busca respostas ao fazer com que a forma como tratamos uns aos outros e como o Estado trata a todos nós dependa explicitamente do tipo de grupo racial do qual fazemos parte. 

O objetivo disto é ser libertador e não opressivo, que estas formas de consideração diferencial ajudem em vez de prejudicar os grupos que historicamente foram maltratados. Mas acho que é muito ingênuo presumir que é assim que as coisas vão acontecer. Se encorajarmos a sociedade a transformar-se num conflito de soma zero entre diferentes grupos étnicos, não há nenhuma razão específica para assumir que isso beneficiará sempre os grupos historicamente marginalizados.

BBC News Brasil - Na sua avaliação, ao retirar a ênfase de princípios básicos como um homem um voto ou da liberdade de expressão e reforçar as diferenças entre diferentes grupos na sociedade, essa parte da esquerda fragiliza a democracia?

Mounk - O livro é chamado de armadilha de identidade e acho que a metáfora da armadilha é muito útil aqui porque uma armadilha é uma isca, é algo que atrai você e, no caso desta ideologia, a isca é a afirmação, a promessa de que ela permitirá que as pessoas lutem contra as injustiças nos Estados Unidos, no Brasil e em muitas outras democracias do mundo da maneira mais intransigente possível. Mas é uma armadilha porque acaba por ser contraproducente. E é contraproducente de várias maneiras. Ao inspirar políticas públicas, por exemplo, ela na verdade prejudica, em vez de ajudar, grupos vulneráveis. 

Nos Estados Unidos, o Centro de Controle de Doenças (CDC) decidiu que não poderia priorizar os idosos. Quando finalmente obtivemos vacinas que salvam vidas durante a pandemia de covid-19, praticamente todos os países priorizaram os idosos para essas vacinas porque são o grupo com maior risco de mortalidade por covid. Nos Estados Unidos, nós decidimos que isso seria contra o novo valor da equidade, uma vez que os americanos mais velhos são desproporcionalmente brancos. Por isso, o CDC acabou priorizando um grupo muito mais amplo, de trabalhadores essenciais, como os primeiros a receber as doses. 

Mas isso levou a muitas injustiças porque acarretou em uma disputa política sobre quem seria considerado como trabalhador essencial - e aí os produtores de cinema em Los Angeles e os executivos financeiros em Nova York entraram nessa categoria. Acabamos com muitas pessoas elegíveis para poucas vacinas. Então as pessoas mais conectadas, com mais recursos, que tinham condições de dirigir por horas até uma farmácia remota para tomar uma vacina acabaram em primeiro lugar na fila. E, como resultado, provavelmente isso matou mais americanos não-brancos. Portanto, estas ideias são também uma armadilha política. 

A síntese identitária, como a chamo, e o populismo de extrema direita, são talvez opostos um ao outro ideologicamente, mas em termos práticos e políticos, cada um ajuda a polarizar a sociedade e acaba por reforçar a posição do outro. 

Nos Estados Unidos, uma das razões pelas quais estas ideias se tornaram tão influentes depois de 2016 é que, quando Donald Trump foi eleito, tornou-se muito difícil criticá-las pela esquerda sem ser acusado de querer ajudá-lo secretamente.

Mas uma das razões pelas quais Donald Trump está agora competindo cabeça a cabeça com Joe Biden na eleição presidencial de 2024 é que uma enorme quantidade de americanos está desanimada com o papel que estas ideias passaram a ter sobre as instituições convencionais. Portanto, em termos práticos e políticos, um é a outra face do outro, para se opor a um de forma eficaz, é necessário opor-se a ambos.

Novo livro de Yascha Mounk, "A armadilha identitária"

CRÉDITO, DIVULGAÇÃO

Legenda da foto, 

Novo livro de Yascha Mounk, "A armadilha identitária", recém-lançado nos EUA e ainda sem previsão de publicação no Brasil

BBC News Brasil - Em que outros aspectos você vê semelhança entre essas duas forças políticas? O modo como atuam no poder é semelhante?

Mounk - É até difícil para nós sabermos como seria um governo totalmente pautado pela síntese identitária, em parte porque ela é tão pouco atraente do ponto de vista eleitoral. Minha preocupação mais imediata não é o que acontecerá se essas ideias acabarem chegando ao poder, mas sim que, se essas ideias tomarem conta das instituições convencionais, as pessoas perderão a confiança nos jornais, nas universidades e em outras instituições das quais precisamos para que a sociedade funcione bem, e quando essas ideias dominam os partidos políticos de esquerda, isso torna muito mais fácil para os candidatos de extrema direita conquistarem o poder político.

BBC News Brasil - Você é um pensador de esquerda fazendo uma crítica a um dos movimentos mais fortes surgidos na esquerda nos últimos tempos em um momento em que muitos veem as democracias fragilizadas por correntes populistas de direita. Há quem critique sua ênfase na crítica à esquerda dizendo que ela atua em favor da direita. Qual a sua resposta a isso? 

Mounk - Uma parte da resposta é que essas ideias são importantes por si mesmas, se os Centros de Controle de Doenças acabarem adotando um conjunto incorreto de diretrizes sobre como distribuir vacinas que salvam vidas (por causa da pauta identitária), isso pode levar a que pessoas de todas as raças e origens nacionais morram desnecessariamente, logo, os riscos são elevados por si só.

Vimos que muitas instituições progressistas importantes que servem algumas das pessoas mais vulneráveis ​​nos Estados Unidos tiveram enormes colapsos internos e grandes disputas políticas que tornaram impossível servir eficazmente suas missões importantes nos últimos anos e essa é uma das razões pelas quais alguns as pessoas da esquerda estão começando a abrir os olhos sobre como estas ideias são equivocadas e falhas. 

E, finalmente, como eu estava argumentando, acho que a maneira certa de lutar contra os perigosos políticos de extrema direita não é fechando os olhos para os problemas do nosso próprio espectro político e fingindo que eles não existem. É chamar a atenção para esses problemas para que os políticos se distanciem destas ideias, porque é isso que é preciso para poder vencer a extrema direita nas urnas.

BBC News Brasil - O Brasil sustenta há anos um mito de ser uma democracia racial, quando na verdade segue excluindo pessoas negras, indígenas e também mulheres do centro de poder. Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recusou a indicar uma mulher negra ao Supremo Tribunal Federal ao dizer que o importante era nomear alguém que servisse bem ao Brasil, não escolher alguém a partir de um perfil socioeconômico e racial. Quão importante afinal é a representatividade de grupos na democracia e como ela deve ser garantida?

Mounk - Eu certamente acho que a representação política é importante. Muito do meu trabalho, inclusive este livro, é motivado por essas injustiças, que realmente persistem. Certamente tanto o Brasil quanto os Estados Unidos têm origens como uma sociedade escravista e isso tem levado a injustiças persistentes, em particular contra aqueles que são descendentes de pessoas escravizadas. Precisamos lutar contra as formas atuais de discriminação de forma intransigente e precisamos criar muitas oportunidades para as pessoas que não têm recursos e acesso à mobilidade econômica. 

Também penso que os partidos políticos têm a responsabilidade moral de tentar recrutar candidatos provenientes de uma gama mais ampla de origens, sejam elas minorias étnicas ou mulheres. 

No entanto, não creio que as cotas explícitas sejam uma forma útil de fazê-lo, em parte porque retiram aos eleitores a capacidade de exercer a escolha livremente e em parte porque acabam por colocar um asterisco nas pessoas que são selecionadas desta forma. 

Nos Estados Unidos, por exemplo, temos visto repetidamente nos últimos anos que os democratas acabaram por desvalorizar aos olhos do público candidatos muito qualificados porque foram explicitamente selecionados com base no fato de serem negros. Foram os casos da última juíza da Suprema Corte nomeada por Joe Biden, Ketanji Brown Jackson, a KBJ, e a senadora pela Califórnia Laphonza Butler, escolhida pelo governador Gavin Newsom, e nomeada após a morte de Dianne Feinstein. Ambas são altamente qualificadas, tanto como juíza quanto como política, e teriam sido escolhas perfeitamente naturais para as posições. Mas como Biden e Newsom haviam anunciado com antecedência que escolheriam uma mulher negra, elas foram percebidas por grande parte da população como sendo apenas a pessoa mais qualificada dentro de uma pequena subcategoria de uma população. Acho que teria feito muito mais sentido para eles dizerem que escolheram a pessoa mais qualificada para o trabalho. E muito plausivelmente teria sido KBJ e Butler. Mas penso que há uma grande diferença entre garantir que se procura e recompensa talentos políticos em diferentes partes da população e dizer explicitamente que se está fazendo isto com base numa cota ou numa restrição do próprio processo de seleção.

BBC News Brasil - Mas no caso de Lula, houve uma decepção de parte de sua base, que esperava por uma nomeação que corrigisse essa injustiça, e também parece ser parte da responsabilidade histórica da esquerda ajudar a aumentar a representatividade, não?

Mounk - É um pouco difícil comentar sobre uma questão de política brasileira que não acompanhei de perto. Se houvesse um candidato natural altamente qualificado ao Supremo Tribunal Federal nesse grupo demográfico, então Lula certamente deveria ter considerado essa pessoa. E é perfeitamente possível que ele não o tenha feito devido a alguma forma de preconceito que é difícil para eu avaliar de fora, mas é certamente plausível. Mas o que estou dizendo é que se ele escolhesse um candidato qualificado desse subgrupo, ele deveria anunciá-la com base nas qualificações reais da candidata, em vez de apresentá-la como a candidata mais qualificada dentro de um subgrupo e dizer que a escolha foi motivada pela agenda racial.

BBC News Brasil - Como você vê a evolução deste debate identitário nas próximas décadas?

Mounk - O que veremos é uma contestação nos próximos 20 a 30 anos sobre o que significa ser de esquerda e sobre a natureza destas ideias, que se tornaram extremamente influentes nas principais instituições. 

Elas dominam grande parte dos padrões pedagógicos com os quais a próxima geração de pessoas está sendo criada. E algumas das deficiências dessas ideias estão se tornando mais evidentes a cada dia e a resistência a elas, em parte, por razões de reação da extrema direita, mas também de muitos liberais, de muitos moderados, muitas pessoas de esquerda que discordam da visão de sociedade futura que estas ideias implicam, está se formando uma resistência. Acho que será uma luta genuína na contestação dessas ideias que durará muito tempo. 

É importante que os críticos razoáveis ​​destas ideias vençam, que as pessoas que são capazes de reconhecer as profundas injustiças que continuam a formar a nossa sociedade, que defendem a tolerância e a verdadeira igualdade, que querem insistir na nossa capacidade de nos compreendermos através das linhas políticas, por pessoas que pensam que o que temos em comum pode ser e é mais importante do que aquilo que nos divide. 

Em vez de construir uma sociedade que encoraje a eliminação de alguns conflitos entre diferentes grupos de identidade, podemos construir uma sociedade com uma identidade partilhada como cidadãos de um país que trata todos os seus membros com igual respeito e merecimento e da forma justa que aspiramos.