SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

domingo, 20 de maio de 2012

PROCURAM-SE LÍDERES! A MORAL, A POLÍTICA, E A GESTÃO DAS POLÍTICAS DITAS PÚBLICAS.


Existem várias formas de tiranias e ridículos disfarçadas de gestão pública. Na ausência de líderes públicos que canalizam demandas, prioridades, conhecimentos, e energias das pessoas sobram espaço para burocracias utilizar o dinheir o público usando a força do estado para destruir a autonomia e a organização das próprias pessoas em torno de temas centrais no desenvolvimento de suas capacidades e de suas vidas. Porque nem sempre o bem necessita de bens materiais, mas necessita de respeito. Porque o dever público deve ser precedido de amor às causas e as pessoas como bem maior de uma sociedade.

Enquanto para uns tudo é gestão para outros tudo é politica e da mesma forma disfarçam os interesses de seu grupo com maiorias construídas momentaneamente com aquele fim. Usam os cargos e o dinheiro público para cooptar burocracias ao invés de instrumento de dialogo e aperfeiçoamento coletivo de políticas construídas publicamente. No meio de tudo isto entre os gestores e a nova casa grande politica ainda aparece os defensores dos pobres, excluídos... Como setores da igreja, ONGS, empresas que tem programas de responsabilidade social que dizem que não precisam da politica e vão resolver a pobreza sem o estado utilizando a mágica da “gestão social” misturando a moral com a ética, o pessoal e o coletivo.

Porém a verdade é que precisamos dos 3 e das diferenças entre elas. Necessitamos de um moral que não se reduza a política, de uma política que não se reduza a moral, e de uma gestão que não se reduza a política e nem a moral. Este é nosso desafio como equilibrar os três saberes a luz das vozes das comunidades que demandam aos gestores e políticos, politicas publicas capazes de mudar suas vidas ? Enquanto a questão politica busca a relação entre o justo e o injusto, a moral foca no debate entre o bem e o mal, ou melhor, entre o humano e o inumano. Mas qual o sentido deste debate quando não há um consenso sobre a sociedade ideal entre o que seria a justiça hoje no meio de tantas injustiças tão banais ao nosso lado? Quais os sentidos do bem e do mal quando Deus não unifica mais a coesão da sociedade em torno de uma espiritualidade única ou hegemônica? Hoje a busca deste sentido é a maior expressão politica de nosso tempo pois hoje a legitimidade do Estado não vem mais das suas forças feudais cada vez mais transparentes em suas ousadias de se considerarem reis e rainhas no meio de tantos ídolos ;mas da capacidade do Estado em transformar as injustiças no bem de uma maioria ao acessar seus direitos. Estes direitos não podem ser construídos de fora para dentro mas devem respeitar a capacidade das pessoas de construírem os sentidos de suas vidas. Pois mesmos Espartacos derrotados carregados de sentidos são mais heróis do que generais vitoriosos a custa da força do poder das armas ; e muitas vezes as politicas publicas e o Estado tem se transformado em armas para os poderosos concentrarem mais renda negando a dignidade básica de seu povo.

E de que adianta vencer quando não se sabe por que viver? As pessoas não acreditam mais no mundo e nos seus políticos porque tem sido negado a elas o acesso aos direitos , espaços que nos permitem, a construção de sentidos comunitários em suas vidas, de busca do saber, de realização pelo trabalho, de prazeres e alegrias na cultura enfim daquilo que nos torna humano . Porque é este compartilhar direitos que nos torna comunidade. Sem vínculos, não há comunidades, não há sentidos, nao ha politica. Não nos reduzimos como seres humanos ao consumo e ao dinheiro. Como disse no inicio, mais do que a gestão ou as lutas politicas ideológicas o que esta em jogo na validação das politicas públicas é os sentidos que permitem que indivíduos exerçam suas capacidades e os direitos universais que dão forma e vida as comunidades. Portanto as regras e os valores que as leis e o Estado, seus gestores e políticos, devem querer implementar nascem da reconstrução dos tecidos sociais que voltam a religar as pessoas em torno mais que de bens econômicos e sim do bem que podemos compartilhar em nossa humanidade. Isto é que devemos orquestrar, que as diversas pessoas possam exercer a partir do Estado um pouco de sua autonomia, de seus direitos, de suas vozes, de seus sentidos. Eu sei que a política assim como a economia é dominada pelo neoliberalismo e age por interesses ou dos negócios ou dos políticos e de seus grupos , porem é o inverso do que defendemos; afinal uma ação só pode ser considerada moral ou ética se agir por desinteresse. Esta é a grande diferença entre ser líder publico por dever ou por amor!

É urgente que coletivamente devemos construir limites para a economia e o Estado no neoliberalismo que vivemos.Portanto quais são os limites da economia? Para ela não ser usada como armas destruidoras de vida? e da politica e do Estado? Afinal hoje ,onde tudo é possível, é cada vez mais assustador as formas como estes poderes econômicos e políticos tem sido usados. Só podemos limitar estes poderes pela ética e a moral atribuindo sentidos a cada ato de nossos governos, empresas, Universidades, ONGS,.... para que elas não usem as vidas dos sujeitos que compartilham e usufruem estes espaços e poderes como estatísticas dos projetos,que elas desenvolvem com recursos públicos,em nome de legitimidades sem participação,cada vez mais vazias de sentidos e comunidades de fato e de direitos.

A soberania continua do povo e não dos governos, leis e juízes que podem e são mudados historicamente quando se confunde democracia como tentativa de anular as consciências e competências que continuam reescrevendo a história a luz da moral, da ética, da espiritualidade e dos sentidos que atribuímos inclusive aos governos. A consciência de um homem de bem é mais exigente que um legislador, afinal o individuo tem mais deveres que um cidadão. Portanto os caminhos possíveis de fortalecer as democracias e governos são criando as condições para que a educação, a liberdade e a humanidade avancem por indivíduos cada vez mais conscientes e críticos de seus sentidos e dos sentidos de sua sociedade. Seres humanos que além de respeitar as leis e cumprir todos os seus deveres possam amar. Por isso precisamos de lideres que busquem criar as condições para que vínculos, sentidos, possam se religar em suas comunidades e em suas vidas. Os cidadãos não são meros objetos , consumidores ou eleitores de políticos. Eles são pessoas que as politicas publicas têm impactos múltiplos em suas vidas.

Entendo moral tudo que se faz por dever e ética tudo que se faz por amor , aprendi com o sociólogo André Comte-sponville. É na potência de agir , no comando de nossas vidas, que exercemos nossas capacidades, nas pequenas vitórias que plantamos como seres,que damos um salto qualitativo na luta e conquista de nossos direitos. A justiça não existe,precisamos fazê-la, assim como o amor tem que ganhar vida em nossas atitudes , na construção de novas formas de governar, que emergem de baixo para cima, dos vínculos entre os indivíduos e suas diversas comunidades e expressões como trabalho, educação, cultura e outras.A política e os líderes só existem com educação,com liberdades, com vínculos,com comunidades,ela é feita dos elos capazes de reconstruir os sentidos,o tecido social,as capacidades, e tudo aquilo que só podemos fazer coletivamente, muito mais que os governos,como preservar a natureza,gerar trabalho,melhorar a educação,reduzir a violência e a criminalidade,por que isto necessita das atitudes das pessoas e da capacidade do poder público de orquestrar estas “músicas” potencializando as vidas e as comunidades.

Porem infelizmente grande parte dos políticos a confundem com seus interesses e seus podres poderes, frutos de suas incapacidades e das maquinas inúteis que os produziram confundindo-os com seus egos e vaidades. A Democracia morre quando o vazio da não realização de sentidos nas vidas das pessoas deixam elas ser devoradas pela escuridão de um ser reduzido a objeto por sua comunidade e seus líderes ditos públicos.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Sobre os amigos que nos despertam ,dos medos, das mesmas ideias vendidas como novidades !


O poeta urbano me disse que por estes dias , eu tinha escrito uma obra de arte. Enquanto outro , Edmar Junior , conclamava Miss Saravejo lá no meio da guerra declarar o que era belo! Porem as músicas de Pink Floyd como “ Wish you were here ” vividas por Ivo Gomes toca sem parar em minhas buscas, como trilha sonora da vida real “ então você acha que consegue distinguir ? paraíso do inferno , céus azuis da dor ...O que encontramos os velhos medos ? “ E faz alguns dias que estes medos , tem se transformado em buscas , que tem se transformado em ideias , que tem pulsado como ar que respiro da arte que vivo , centelhas, indícios, de novos sonhos impossíveis, que me trouxeram ate aqui para viver além do agora, o ontem e o futuro sempre. Momentos eternos. Uma das mesmas ideias é como a maior parte dos políticos continua idiota, isso não é novo, mas os medos se perpetuam, o Sarney ainda esta aí, e com ele o neto do ACM, o Collor, até o Jader lembra ? o Lula com o mesmo discurso , não os mesmos inimigos, mas o mesmo poder , os grandes empresários e os seus filhos do Capitalismo de Estado sem concorrência , o STF , os Desembargadores e a teia de advogados, TCEs, TCUs, que há tempos privatizam a Justiça como pedágios, sem falar na mídia que grita como animadora de torcida deste jogo de quem dá mais! Eles constroem o poder público, a sua semelhança como Idiotas, erguendo ora cemitérios ora circos, para enterrar os pobres enquanto comemoram os mesmos carnavais. Como diria Antônio Marcos que já morreu, mas continua novo, diferente do Sarney que continua vivo, infelizmente, “há o mundo sempre foi um circo sem igual, aonde todos representam bem ou mal, onde a farsa de um palhaço é natural” A dos políticos perdeu a cor, de tão artificial é triste como funeral. Esta é para mim uma das grandes novidades ninguém esta mais a fim de representar, nem os políticos, nem precisa mais, ninguém acredita mais, diante dos mesmos absurdos vendidos como novidades, não deixa de ser cômico, engraçado, ter visto a mesma peça tantas vezes, gritado, chorado e cantado tantas vezes “o mundo tão desigual, tudo tão desigual” Será que podemos “brincar ou brindar” com o orçamento público e as prioridades no Brasil? Será que posso falar nos títulos da divida pública e a nossa capacidade de investimento no Estado público? Será que podemos de deixar de representar a educação, a segurança, a preservação da natureza em nosso país ? Será que conheceremos os sócios do Brasil enquanto os Bancos brasileiros baixam os juros para permanecer os mais altos no mundo em épocas de crise americana e europeia? Piada senhores, muda às peças e os atores, porque estas ideias não me comovem mais! Outra mesma ideia vendida como novidade que não me comove mais é a nova crise. Bem o desemprego vai aumentar né? Porque não leram Keynes? Não bem pior porque este modelo de educação industrial, interessado em formar trabalhadores para fabricas que não existem mais, nem sequer é discutido principalmente nas escolas? Porque as comunidades e os seres ainda não começaram a discutir economia? Outras formas de democracia que gere trabalho para além do capital? Não a pergunta não esta invertida. O que esta é nosso modelo educacional que vem da cultura das diversas drogas e diversões dispostas a lhe desconectar do mundo concreto com esperança de que o mundo virtual te faça feliz. Sempre mais fugas baseadas nas mesmas ideias que não discutem educação, economia e diversão como se fossem mais sagradas que Deus; e este ate é permitido discutir. Porem o papel do Estado não, nem da educação, da economia... Da diversão mesmo entre os marxistas. Eles não se divertem brigam pelo poder entre eles, para continuar a farsa do Estado que se fundiu há tempos com o Capital. Não posso deixar de perguntar , de buscar para além dos medos, novos horizontes, que ainda não viraram espetáculo e que tem o poder de nos libertar principalmente a imaginação de novas formas de viver em sociedade. A correlação entre as forças que movem a economia, educação, cultura e outros hoje são insustentáveis não apenas ambientalmente, mas humanamente insustentável ser no meio dos robôs que as tecnologias preferem porque podem ser vendidos e obedecem cegamente. Porem nem este medo me comovem mais, tenho outras utopias para sonhar não preciso de Blade Runneres, Matrixs, posso cantar outras musicas e fazer outros filmes. E escrever outras coisas. Não preciso das mesmas ideias, vendidas como novidades, porque posso nascer de novo a cada ideia e atitude que tomamos diante da vida. Por isso que como Poeta urbano , Ivo Gomes, Edmar Junior temos o direito de viver nossa palavras , de viver a nossa vida e descreve-la como poesias, para além da espiritualidade e do amor , mas sobre o mundo concreto que muda a nossa forma de espiritualidade e amar este mundo transgredindo seus medos, palcos e ilusões pós modernas. Os amigos de ideias e lutas são aqueles que nos despertam da letargia que os ingleses nos insistem em nos vender como vida, que mas do que o capital colonizaram nosso imaginário, mas cansamos de seus falsos paraísos nada ortodoxos entre eles. Podemos ser uma nova civilização como Darcy Ribeiro lutou e não cansou de ser derrotado por seus inimigos. Porem precisaram de amigos que acreditem nas mesmas obras de arte, que cada um da sua forma constrói.

domingo, 29 de abril de 2012

CHEGOU A HORA DE PARAR! Entre o invisível e o visível destas palavras. por Egidio Guerra.

o olho divino



















Depois de vários anos lutando nas pastorais, grêmio, UNE, empresa júnior, ONGS, Empresas, Partidos, Banco Mundial, Projetos, Governo, ONU...Chegou a hora de parar. Nesses caminhos busquei encontrar algo, e de uma certa forma encontrei uma parte de mim em cada lugar desse, em cada sonho realizado, em cada desafio, conhecimento e valores compartilhados, porém o preço pago pela vida pessoal é muito alto e as formas de diálogo e relação entre as pessoas nas instituições estão se tornando cada vez mais troca entre mercadorias. De fato depois de lutar por ser e seres, chegou a hora de parar para não correr o risco, de transformar-me em mercadoria. Porém como sempre disse, daqui para frente é tudo bônus, digo que posso morrer a qualquer momento, morro super feliz, realizei quase tudo que sonhei, e esses sonhos nunca couberam nas instituições, muito menos em mercadorias ou relação de trocas entre pessoas. Fazer política nos partidos é pouco; achar que a Universidade representa o saber, menos ainda; que as empresas desenvolvem as capacidades das pessoas, pelo contrário; que as igrejas têm espiritualidade; há tempos é dizimo. Enfim, a questão ética e estética estão cada vez mais distantes da arte, mas graças a Deus tudo isso continua pulsando de outras formas para além das instituições; se organizando por outros meios, inclusive pela internet; e outros seres já não cabem mais nos lugares e tarefas que querem que eles ocupem. Depois que cada ser se expande e encontra seu ritmo, a música, a vida, caminham para mudar a história e os múltiplos sentidos que iluminam novos horizontes e lutas. É para lá que estou indo, você quer caminhar junto? Sozinho não dá mais! É hora de parar entre o vermelho e a sensibilidade da chuva. A razão dos bastidores castra e não ilumina mais...Por isso que o parar é sem recomeço . Quero que os lugares sangrem, não se pode sangrar sem buscar a cura das dores que crescem, gritar em seu lugar, aonde os sentidos desaparecem, já que até hoje a razão silencia em acordos e os encontros entre os seres comecem para encontrarem a si mesmos. Muitos hoje se escondem de si mesmo, se entregando aos vazios da cachaça quando pobres ou dos poderes vazios quando ricos. Sem luz, consomem a si mesmos, quando poderiam despertar para vida com novas ideias e horizontes. Nesses casos o fogo congela ao invés de aquecer, as virtudes são silenciadas. A sensibilidade da beleza que desperta nosso olhar busca conquistar a estética e a ética de nossa vida, mas muitos não querem ver nem pensar, apenas esquecer, apenas brincar, quer limpar a sujeira, mais um novo dia, mais mortes na TV e mensagens no facebook, as mesmas preocupações, dinheiro,.... É hora de parar entre o azul e o terror do cotidiano. O que cada um quer mais? Mais pimenta na comida, um carro a mais nas ruas, uma noite de sexo com mais novidades, mais uma cerveja, menos prazer, menos amor, menos fé?... Bem que poderíamos navegar, brincar de forma alegre e livre, deixar as palavras, os lugares, fluírem com seu próprio encanto, enquanto perdemos o medo de amar, de ter fé, pois é hora de parar! Você acha que consegue? Sem continuar a ler este texto, sem lutar, sem se divertir, parar de olhar para o sol, trocar de roupa, visitar novos lugares, novos amores, novas resistências, entre o branco e a vontade de morrer lutando? Entre a melancolia dos ricos e doença dos pobres, entre uma escola que adestra, uma igreja que repete palavras e perdões, o trabalho que você paga com a vida mais batata frita e cerveja, entre a arte idiota de monstros e seres fantásticos, cada vez mais velozes e destruidores? Olho para meu filho. Enquanto pinguins, soldados, cruzes, melancias, fumaças, dançam uma música sem ritmo, sem sentido nas propagandas. Todos querem o real, as mercadorias para se vestir, moldar seus corpos, ir a festas. Entre o preto e o idiota que vive sem pensar, é melhor parar! As nuvens carregam ácido, os olhos também, vamos comer etanol ao invés de trigo, vamos vender o sabor como sabonete para limpar tudo que se envergonha dos delírios, vamos queimar o fim de tudo e lançar uma nova moda. Porém enquanto várias destruições acontecem ao nosso redor, um novo vulcão explode, multidões se movem, gente nova nasce. Enquanto o amarelo não virar ouro, a luz não deixa que eu pare, os ventos, as máscaras caem, a neblina, o nevoeiro desaparece, os escombros desta sociedade vira poeira. Os pássaros voltam a voar, o declínio do capitalismo europeu e americano, abre espaços para novas hegemonias. Não preciso mais dos jornais e das velhas mídias. Posso andar de bicicleta e não comer carne; posso amar sem sexo e fazer sexo sem amor; posso lutar contra a corrupção e denunciar empresas e políticos pela internet, independente dos falsos juízes; posso respeitar a sabedoria da terceira idade e proteger o que é sagrado pra mim; posso escrever estas palavras entre o cinza e o desequilíbrio das cores e das dores; despertar uma nova consciência. Uma barbárie que ao mesmo tempo em que nega, afirma uma paz violenta em cada ser e na sociedade, capaz de despertar a dignidade de novas ideias, valores, imagens, atitudes e sonhos. Não posso parar! O balé de pássaros e pessoas, os fogos de artifício, a música, os ecos da natureza, despertam o olhar e a curiosidade das crianças. Novas explosões, o silêncio absoluto, cartazes de dores que não voltam mais, nascer de novo, de novo, de novo entre o verde e as certezas tecnológicas. Porque afinal quem somos nós? Que mesmo querendo não podemos parar, que mesmo chegando às conclusões entre poesias e razões não paramos de pensar e sentir, que mesmo sofrendo, não deixamos de amar, que mesmo que mintam, roubem, traiam, não destroem nossa fé, que potência é esta que carregamos? Assim como a natureza, essas dores e desesperanças, no silêncio emergem como furações. Destruindo e criando novas paisagens, complexidades, tecnologias, que como linhas se entrecruzam a milhares de outras formas, para tecer novas realidades, seres, cores, imagens, poesias, que afirmam a vida entre o invisível e o visível destas palavras e cores que não paro de ser escolhido por elas.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

GASTA 4 GANHA 150. O MELHOR NEGÓCIO DO MUNDO.


No Crato falei que a juventude sem a rebeldia, indignação e sonho será mais um adulto entregue ao celular, cachaça e forro mesmo na decima Economia do mundo. Bem , se um politico comprar o voto de todos os eleitores do Crato , ou seja 65 mil eleitores , nas eleições a 50 reais o voto, ele vai gastar 4 milhões. Porem o orçamento da cidade é 120 milhões por ano ou seja 480 milhões em 4 anos. Se eles roubarem 30 % , dá 150 milhões , OU SEJA GASTA 4 GANHA 150. O MELHOR NEGÓCIO DO MUNDO. Uns dizem e se dividir os 150 milhões por todos os habitantes dá 3 mil para cada. Ai ele compra uma Tela plasma ou uma moto, pode ser roubado, ou um parente ficar sem médico, o filho sem escola, a moto se acabar nos buracos e faltar lazer e esporte de verdade na sua comunidade. Por isso dividimos a cidade em territórios para as comunidade dizer quais são as prioridades, quanto custa , e ela saber de onde vem o dinheiro. Cada proposta dessa vira um projeto e temos um plano de governo que vai virar uma placa de artesanato e colocado em um monumento da democracia em algum lugar da cidade. O teatro e o cinema vão ajudar a divulgar estas propostas com personagens históricos da cidade!

Quais as diferenças entre um Educador e um Capataz ?

Quais as diferenças entre um Educador e um Capataz ? A Educação não pode se dissociar dos desafios de sua época , da vida em comunidade que a escola acha que pode separar pelos muros; mas ela entra através das vidas de cada aluno e professor que para alem de fardas e cargos são gente que pensa e quer autonomia sobre sua realidade . Todos sabem que as questões sociais, das drogas, do desemprego, da família , do forro, da cachaça, do consumo, dos desafios de entrar na Universidade e outras afetam o desempenho escolar mas quantos buscam inserir isso nas disciplinas para melhor compreender a vida e a realidade que vivemos, em projetos , em debater e transformar estes problemas na comunidade escolar em cursinhos Pré-Vestibular, Festivais de musica , grupos de aconselhamento , cine clube e outros ? Quantos permitem que os alunos e as escolas se organizem adequando as regras aos seus contextos e desafios locais ? Ou melhor quantos preferem ser meros capatazes mesmo falando do lugar do Educador , mesmo citando Paulo Freire sem vivê-lo , pois para vários outras prioridades a flexibilidade existe , mas infelizmente as vaidades , as pequenas guerra de poder , imperam também nas escolas e afetam a vida de muita gente. Ser Diretora de Escola em um mundo aonde o neoliberalismo avança transformando tudo e a todos em mercadorias é bem mais que cumprir as regras negando as circunstâncias locais. É ter sensibilidade, compromisso e ética para enxergar para além da razão vendida como organização. Pois esta suposta organização é desmontada todo dia pela vida dos alunos, suas famílias , comunidade, e as diversas relações com a escola. Este “ecossistema social “ que a escola mesmo sem querer se tornou , as regras tem de entrar em sintonia com estes desafios e problemas , que como já disse afetam o desempenho escolar independente da estrutura, direção e professores. É importante o Governo , a direção , os professores , e cada um de nós apreender estas lições para que tenhamos as condições para ensinar para além das disciplinas , a empoderar as escolas e permitir que a autoestima se revele nos projetos e atitudes das pessoas. Quando a 20 anos fundei as empresas juniores no Brasil , a ideia era que o aluno na Universidade deveria viver seu sabor, experimentando praticas que interagem com a realidade ao mesmo tempo que desenvolve capacidades , que a sala de aula por si só não consegue. Quando há aproximadamente há 10 anos conheci o Professor Manoel Andrade do PRECE e passamos a lutar juntos por sede , recursos, e politicas públicas. A ideia é que o potencial do aluno e entre eles se ajudando a estudar, como foi demonstrado nas aprovações na UFC, é bem maior que sua relação com os professores e capatazes que como já disse falam em Paulo Freire mas reduzem eles a mero decoradores de palavras ,a funcionários doceis para o neo liberalismo sugar sua alma , em troca de celular, cachaça e forro. Quando há três anos fundamos o Instituto IEP a ideia era que Governo , empresas, jovens, comunidade, podem construir pontes entre seus mundos para integrar a formação dos alunos em ambientes e contextos diversos , ampliando os mundos aonde estes jovem podem potencializar seu ser, otimizando recursos e ampliando impacto de ações isoladas de cada setor. Quando ano passado fundamos a UNISERES visando educar seres sustentáveis para atuarem juntos em organizações, comunidades e Redes Sustentáveis. O objetivo é que Ecossistemas sociais formados pela relações entre Escola, Famílias, Comunidade, Governo, Empresas, Universidades, e outros possam compartilhar desafios e energias misturando saberes e setores para através da sinergia em projetos alavancarem metas comuns e compartilhadas. Temos feitos isto inclusive com estudantes americanos em ONGS e Comunidades que vivem a interação sócio educacional . Enfim quando há 2 meses conheci a Escola Polivalente do Crato , conversando com os jovens do pré-vestibular e seus respectivos professores , apreendi que dão aula cantando a moda cariri , mostrando as belas melodias da vida e da Ciência. Bem isto ocorre no Bairro mais pobre do Crato , Seminário, numa cidade que há 500 anos , transforma a Prefeitura em troca de favores e fofocas entre famílias. Bem várias demandas emergem nesta comunidade independente da Escola e do Governo . Elas pulsam e entram em sala de aula para alem das regras pedindo que os Educadores não se transforme em capatazes e tenham atitudes. Por tudo que escrevemos aqui defendemos que o Pré-vestibular do Polivalente tem o direito de se adequar as circunstâncias locais de sua cidade e comunidade , a liberdade de selecionar professores que encantem e transforme saberes em vida , sonhos em realizações e aprovações como eles tem alcançado nos últimos anos por mérito. A comunidade do pré-vestibular deve ter autonomia de definir as disciplinas que se adequem ao vestibular de cada semestre. E não estas questões de disciplinas, professores e outras serem empurradas de cima pra bairro , sem dialogo , sem pedagogia. Porque não é as burocracias que estão no cotidiano da escola , nem compartilham os desafios de construir os resultados, e de interagir com a comunidade. Assim como foi feito com o PRECE , o Pré-vestibular devem ter autonomia de definir seus caminhos e novos horizontes. O Cariri precisa de um Educação em Comunidade e o Polivalente é o caminho !

domingo, 8 de abril de 2012

Como se fabrica a opinião pública - Pierre Bourdieu

Como se fabrica a opinião pública

por Pierre Bourdieu

Um homem oficial é um ventríloquo que fala em nome do Estado: assume uma atitude oficial – seria preciso descrever a encenação do personagem oficial -, fala a favor e em lugar do grupo ao qual se dirige, fala para e em lugar de todos, fala enquanto represent ante do universal.

Oficialidade, a má-fé coletiva
Uma das dimensões muito importantes da teatralização é a teatralização do interesse pelo interesse geral; é a teatralização da convicção do interesse pelo universal, do desinteresse do homem político – teatralização da fé no padre, da convição do homem político, de sua confiança naquilo que faz. Se a teatralização da convicção faz parte das condições tácitas do exercício da profissão de clérigo – se um professor de filosofia deve parecer acreditar na filosofia -, é porque é a homenagem fundamental do personagem oficial para com a autoridade; é aquilo que precisa conceder à autoridade para ser uma autoridade, para ser um verdadeiro personagem oficial. O desinteresse não é uma virtude secundária: é a virtude política de todos os mandatários. As escapadelas dos padres, os escândalos políticos são o colapso dessa espécie de fé política na qual todos estão de má-fé, a fé sendo uma espécie de má-fé coletiva, no sentido sartriano: um jogo no qual todos mentem a si mesmos e aos outros, sabendo que os outros também mentem a si mesmos. É essa a autoridade…

E nesse ponto chega-se à moderna noção de opinião pública. O que é essa opinião pública, invocada pelos criadores de direito das sociedades modernas, das sociedades nas quais o direito existe? É tacitamente a opinião de todos, da maioria ou daqueles que contam, daqueles que são dignos de ter uma opinião. Penso que a definição explícita, numa sociedade que se pretende democrática, ou seja, de que a opinião oficial é a opinião de todos, esconda uma definição latente, ou seja, que a opinião pública é a opinião daqueles que são dignos de ter uma opinião. Há uma espécie de definição censuária da opinião pública como opinião iluminada, opinião digna desse nome.

A lógica das comissões oficiais é aquela de criar um grupo capaz de dar todos os sinais externos, socialmente reconhecidos e reconhecíveis, de sua capacidade de expressar a opinião digna de ser expressada, e nas formas convenientes. Um dos critérios tácitos mais importantes na seleção dos membros de uma comissão, em particular de seu presidente, é a intuição, por parte de quem esteja encarregado da composição da comissão, de que a pessoa em questão conheça as regras tácitas do universo burocrático e as reconheça: em outras palavras, alguém que saiba jogar o jogo da comissão de maneira apropriada, aquela maneira que vai além das regras do jogo, que o legitima: nunca se está tanto dentro do jogo como quando se vai além. Em cada jogo, há regras e fair-play. A propósito do homem cabilo (N. do T.: berbere da Argélia), ou do mundo intelectual, eu tinha utilizado esta fórmula: a excelência, na maior parte das sociedades, é a arte de jogar com a regra do jogo, fazendo desse jogo com a regra do jogo uma homenagem suprema ao jogo. O transgressor controlado é a verdadeira antítese do herético.

O grupo dominante coopta os seus membros com base em indícios mínimos de comportamento, que são a arte de respeitar a regra do jogo até mesmo nas transgressões reguladas pela regra do jogo: as boas maneiras, o comportamento. É a célebre frase de Chamfort: “O ‘grande vigário’ pode sorrir de uma piadinha contra a religião, o bispo pode rir dela abertamente, o cardeal pode acrescentar-lhe algo de seu (1).” Mais subimos na hierarquia das excelências, mais podemos jogar com a regra do jogo, mas ‘ex officio’, a partir de uma posição tal que seja eliminada qualquer dúvida. O humor anticlerical de um cardeal é requintadamente clerical. A opinião pública é sempre uma espécie de realidade dupla. É aquilo que não se pode não invocar quando se quer legiferar em campos não organizados. Quando se diz: “Há um vazio jurídico” (expressão extraordinária), a propósito da eutanásia ou dos bebês-proveta, são convocadas pessoas que se colocarão a trabalhar com toda a sua autoridade. Dominique Memmi (2) descreve uma comissão de ética [sobre a procriação artificial], a sua composição com pessoas disparates – psicólogos, sociólogos, mulheres, feministas, arcebispos, rabinos, cientistas, etc. – que têm a tarefa de transformar uma soma de idioletos (3) éticos num discurso universal que preencherá um vazio jurídico, ou seja, – legalizar as mães portadoras, por exemplo. Quando se trabalha nesse tipo de situação, é necessário invocar uma opinião pública. Nesse contexto, compreende-se muito bem a função atribuída às sondagens. Dizer “as sondagens estão do nosso lado” é como dizer “Deus está conosco” em um outro contexto.

Mas a questão das sondagens é irritante, porque às vezes a opinião iluminada é contra a pena de morte, ao passo que as sondagens são predominantemente a favor. O que fazer? Faz-se uma comissão. A comissão constitui uma opinião pública iluminada que traduzirá a opinião iluminada em opinião legítima em nome da opinião pública – que, possivelmente, diz o contrário ou não tem nenhuma opinião formada a respeito (como acontece com muitos assuntos). Um das propriedades das sondagens consiste em colocar às pessoas problemas que elas mesmas não se põem, em sugerir respostas a problemas que elas mesmas não se colocam, portanto, em impor respostas. Não é questão de procurar caminhos transversos na constituição das amostras, é o fato de se impor a todos problemas que são sentidos pela opinião iluminada e, por essa via, de propor respostas gerais a problemas sentidos somente por alguns, portanto, de dar respostas iluminadas enquanto tiverem sido geradas com a pergunta: deu-se vida a problemas que não existiam para as pessoas, enquanto a pergunta era qual fosse o problema delas.

Vou lhes traduzir um texto de Alexander Mackinnon, de 1828, extraído de um livro de Peel sobre Herbert Spencer (4). Mackinnon define a opinião pública, dá a definição que seria oficial, se não fosse inconfessável numa sociedade democrática. Quando se fala de opinião pública, joga-se sempre um duplo jogo entre a definição confessável (a opinião de todos) e a opinião autorizada e eficiente que se obtém como subconjunto restrito da opinião pública democraticamente definida: “É a opinião, a propósito de um qualquer argumento de que se fale, expressa pelas pessoas mais informadas, mais inteligentes e mais morais da comunidade. Ela é gradualmente difundida e adotada por todas as pessoas dotadas de uma certa instrução e de um sentir adequado a um Estado civilizado”. A verdade dos dominantes se torna aquela de todos.

Colocar em cena a autoridade que autoriza a falar
Nos anos 1880, dizia-se abertamente à Assembleia Nacional aquilo que a sociologia precisou redescobrir, isto é, que o sistema educacional precisava expulsar os filhos das classes mais desfavorecidas. No início, a questão era colocada mas depois foi plenamente resolvida, à medida que o sistema escolar começou a fazer, sem solicitação explícita, aquilo que se esperava dele. Portanto, nenhuma necessidade de se falar a respeito. O interesse pela volta à gênese é muito importante porque, na fase inicial, podem ser recuperados debates em que são expressas com letras claras coisas que, em seguida, podem parecer provocações dos sociólogos.

O reprodutor da autoridade sabe produzir – no sentido etimológico do termo: produzir significa “trazer à luz”-, teatralizando-o, algo que não existe (no sentido de sensível, de visível), e no nome do qual se fala. Deve produzir em nome de quem tem o direito de produzir. Não pode não teatralizar, não dar forma, não fazer milagres. O milagre mais comum, para um criador verbal, é o milagre verbal, o sucesso retórico; deve produzir a encenação daquilo que autoriza o seu dizer, em outras palavras, da autoridade em nome da qual é autorizado a falar.

Reencontro a definição da prosopopeia que eu procurava antes: “Figura retórica pela qual se faz falar ou agir uma pessoa que é evocada, um ausente, um morto, um animal, uma coisa personificada”. E no dicionário, que é sempre um instrumento formidável, encontra-se esta frase de Baudelaire a respeito da poesia: “Manejar sapientemente uma língua, quer dizer praticar uma espécie de bruxaria evocadora”. Os clérigos, aqueles que manipulam uma língua sapiente como os juristas e os poetas, devem encenar o referente imaginário em nome do qual falam, e que falando produzem nas formas; devem fazer existir aquilo que exprimem e isso em nome do que se exprimem. Devem juntos produzir um discurso e produzir a confiança na universalidade do seu discurso através da produção sensível (no sentido de evocação dos espíritos, dos fantasmas – o Estado é um fantasma…) dessa coisa que será garante daquilo que fazem: “a nação”, “os trabalhadores”, “o povo”, “o segredo de Estado”, “a segurança nacional”, “a demanda social”, etc…

Percy Schramm mostrou como as cerimônias de consagração fossem a transferência, na ordem política, das cerimônias religiosas (5). Se o cerimonial religioso pode ser transferido assim facilmente para as cerimônias políticas, através das cerimônias da consagração, é porque se trata, em ambos os casos, de fazer acreditar que há um fundamento no discurso, o qual aparece auto-fundante, legítimo, universal só enquanto existir a teatralização – no sentido de evocação mágica, de bruxaria – do grupo unido e consonante com o discurso que o une. Daí o cerimonial jurídico. O historiador inglês E. P. Thompson insistiu no papel da teatralização jurídica no século XVIII inglês – as perucas, etc.-, que não pode ser compreendido completamente se não se vê que não se trata de um simples aparato, no sentido de Pascal, que viria a ser acrescentado: é parte constitutiva do ato jurídico (6). O falar forense em paletó e gravata é arriscado: arrisca-se perder a pompa do discurso. Fala-se sempre em reformar a linguagem jurídica, sem jamais fazê-lo, porque é o último indumento: os reis nus deixam de ser carismáticos

sábado, 7 de abril de 2012

A Complexidade e a Ação

A Complexidade e a Ação

Edgar Morin

A ação é também uma aposta

Temos, às vezes, a impressão de que a ação simplifica porque, diante de alternativas, decidimos, optamos. O exemplo de ação que simplifica tudo lembra a espada de Alexandre que corta o nó górdio que ninguém soubera desatar com suas mãos. Certamente, a ação é uma decisão, uma escolha, porém, é também uma aposta.

Porém, na noção de aposta está a consciência do risco e da incerteza. Toda estratégia, em qualquer domínio que seja, tem consciência da aposta, e o pensamento moderno tem entendido que nossas crenças mais fundamentais são objeto de uma aposta. Isso é o que n os havia dito, no século XVII,Blaise Pascal acerca da fé religiosa. Nós também devemos nos conscientizar de nossas apostas filosóficas ou políticas.

A ação é estratégia.

A palavra estratégia não designa um programa predeterminado que baste para aplicar, sem variação no tempo. A estratégia permite, a partir de uma decisão inicial, imaginar um certo número de cenários para a ação, cenários que poderão ser modificados segundo as informações que nos cheguem no curso da ação e segundo os elementos aleatórios que sobrevirão e perturbarão a ação.
A estratégia luta contra o azar e busca a informação. Um exército envia exploradores, espiões, para informar-se, quer dizer, para eliminar a incerteza ao máximo. Mais ainda, a estratégia não se limita a lutar contra o azar, trata também de utilizá-lo. Assim foi que a genialidade de Napoleão em Austerlitz foi a de utilizar o azar meteorológico, que fez surgir uma camada de brumas sobre os pântanos, considerados impossíveis para o avanço dos soldados. Ele construiu sua estratégia em função dessa bruma e tomou, de surpresa, por seu flanco mais desguarnecido, o exército dos impérios. A estratégia tira vantagem do azar e, quando se trata de estratégia com respeito a outro jogador, a boa estratégia utiliza os erros do adversário. No futebol, a estratégia consiste em utilizar as bolas que a equipe adversária entrega involuntariamente. A construção do jogo se faz mediante a desconstrução do jogo do adversário e, finalmente, a melhor estratégia – se se beneficia com alguma sorte – ganha. O azar não é somente o fator negativo a reduzir no domínio da estratégia. É também a sorte a ser aproveitada.

O problema da ação deve também fazer-nos conscientes dos desvios e das bifurcações: situações iniciais muito próximas podem conduzir a desvios irremediáveis. Assim foi que, quando Martin Lutero iniciou seu movimento, pensava estar de acordo com a Igreja, e que queria simplesmente reformar os abusos cometidos pelo papado na Alemanha. Logo, a partir do momento em que deve seja renunciar, seja continuar, franqueia um umbral e, de reformador, se torna contestador. Um desvio implacável o leva – isto é o que acontece em todo desvio – e leva à declaração de guerra às teses de Wittemberg (1517).

O domínio da ação é muito aleatório, muito incerto. Impõe-nos uma consciência muito aguda dos elementos aleatórios, dos desvios, das bifurcações, e nos impõe a reflexão sobre a própria complexidade.

A ação escapa a nossas intenções.

Aqui intervém a noção de ecologia da ação. No momento em que um indivíduo empreende uma ação, qualquer que seja, esta começa a escapar a suas intenções. Essa ação entra em um universo de interações e é finalmente o ambiente o que toma posse, num sentido que pode tornar-se contrário à intenção inicial. Aos poucos, a ação se tornará como um bumerangue sobre nossas cabeças. Isto nos obriga a seguir a ação , a tratar de corrigi-la - se ainda há tempo - e talvez a torpedeá-la ,como fazem os responsáveis da NASA que, se um foguete se desvia de sua trajetória, enviam outro foguete para explodi-lo.

A ação supõe complexidade, quer dizer, elementos aleatórios, azar, iniciativa, decisão, consciência dos desvios e das transformações. A palavra estratégia se opõe à palavra programa. Para as seqüências que se situam em um ambiente estável, convém utilizar programas. O programa não obriga estar vigilante. Não obriga inovar. Assim, quando nós nos estamos ao volante de nosso carro, uma parte de nossa conduta está programada. Se surge um engarrafamento inesperado, faz falta decidir se temos que mudar o itinerário ou não, se temos que violar o código: faz falta fazer uso de estratégias.

É por isso que temos que utilizar múltiplos fragmentos de ação programada para podermos concentrar-nos sobre o que é importante, a estratégia com os elementos aleatórios.
Não há um domínio da complexidade que inclua o pensamento, a reflexão, por uma parte, e o domínio das coisas simples que incluiria a ação, por outra. A ação é o reino do concreto e, talvez,parcial da complexidade.
A ação pode, certamente, bastar-se com a estratégia imediata que depende das intuições, dos dotes pessoais do estrategista. Ser-lhe-ia também útil beneficiar-se de um pensamento da complexidade.

Porém o pensamento da complexidade é, desde o começo, um desafio.

Uma visão simplificada linear torna-se facilmente mutilante. Por exemplo, a política do petróleo cru levava em conta unicamente o fator preço, sem considerar o esgotamento dos recursos, a tendência à independência dos países possuidores desses recursos, os inconvenientes políticos. Os políticos haviam descartado de suas análises a Historia, a Geografia, a Sociologia, a política, a religião, a mitologia. Essas disciplinas vingaram-se.

A “máquina” não trivial

Os seres humanos, a sociedade, a empresa, são “máquinas” não triviais: é trivial una máquina que, quando conhecemos todos seus inputs e todos seus outputs; podemos predizer seu comportamento desde o momento que sabemos tudo o que entra na máquina. De certo modo, nós somos também “máquinas” triviais, das quais se pode, com amplitude, predizer os comportamentos.

De fato, a vida social exige que nos comportemos como “máquinas” triviais. É certo que nós não atuamos como puros autômatos, buscamos meios não triviais desde o momento que constatamos que não podemos chegar a nossas metas. O importante é o que sucede em momentos de crise, em momentos de decisão, nos quais a “máquina” se torna não trivial: atua de uma maneira que não podemos predizer. Tudo o que concerne ao surgimento do novo é não trivial e não pode ser predito por antecipação. Assim é que, quando os estudantes chineses estão na rua aos milhares, a China se torna uma “máquina” não trivial... Em 1987-89, na União Soviética, Gorbachov se comportou como uma “máquina” não trivial! Tudo o que sucedeu na história, em especial em situações de crise, são acontecimentos não triviais que não podem ser preditos por antecipação. Juana d´Arc, que ouve vozes e decide ir buscar o rei da França, tem um comportamento não trivial. Tudo o que vai suceder de importante na política francesa ou mundial surgirá do inesperado.

Nossas sociedades são “máquinas” não triviais no sentido, também, de que conhecem, sem cessar, crises políticas, econômicas e sociais. Toda crise é um incremento das incertezas. A preditibilidade diminui. As desordens se tornam ameaçadoras. Os antagonismos inibem as complementaridades, os conflitos virtuais se atualizam. As regulações falham ou se desarticulam. É necessário abandonar os programas, temos que inventar estratégias para sair da crise. É necessário, aos poucos, abandonar as soluções que solucionavam as velhas crises e elaborar novas soluções.

Preparar-se para o inesperado

A complexidade não é uma receita para conhecer o inesperado. Porém, nos torna prudentes, atentos,não nos deixa dormir na mecânica aparente e na trivialidade aparente dos determinismos. Ela nos mostra que não devemos nos encerrar no contemporaneismo, quer dizer, na crença de que o que acontece agora vai continuar indefinidamente. Devemos saber que tudo de importante que acontece na história mundial ou na nossa vida é totalmente inesperado, porque continuamos atuando como se nada inesperado nunca devesse acontecer. Sacudir essa preguiça mental é uma lição que nos dá o pensamento complexo.

O pensamento complexo não rechaça, de maneira nenhuma, a clareza, a ordem, o determinismo.
Porém os sabe insuficientes, sabe que não podemos programar o descobrimento, o conhecimento,nem a ação.

A complexidade necessita uma estratégia. É certo que, os segmentos programados em sequencias nas quais não intervém o aleatório, são úteis ou necessários. Em situações normais, a condução automática é possível, porém a estratégia se impõe sempre que sobrevém o inesperado ou o incerto,quer dizer, desde que aparece um problema importante.

O pensamento simples resolve os problemas simples sem problemas de pensamento. O pensamento complexo não resolve, em si mesmo, os problemas, porém constitui uma ajuda para a estratégia que pode resolvê-los. Ele nos diz: «Ajuda-te, o pensamento complexo te ajudará».
O que o pensamento complexo pode fazer, é dar, a cada um, um sinal, uma ajuda à memória, que lhe lembre: «Não esqueças que a realidade é mutante, não esqueças que o novo pode surgir e, de qualquer maneira, vai surgir».

A complexidade se situa em um ponto de partida para uma ação mais rica, menos mutilante. Eu creio profundamente que quanto menos mutilante for um pensamento, menos mutilará os humanos.
Temos que recordar as ruínas que as visões simplificantes têm produzido, não somente no mundo intelectual, mas também na vida. Suficientes sofrimentos atingiram milhões de seres como resultado dos efeitos do pensamento parcial e unidimensional.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

PORQUE O PODER DA PREFEITA TRAIU ELA MESMA!

PORQUE O PODER DA PREFEITA TRAIU ELA MESMA!

Roseno tem razão foi uma autocritica que a prefeita fez em seu artigo sobre o poder.

Mas afinal porque a gestão da prefeita traiu ela mesma ? Os rebeldes, após derrubarem o poder de Lula e Zé Dirceu , sentem -se culpados. Porque entre eles tinham uma relação ambígua de amor e ódio, parafraseando Freud. A prefeita se identifica com eles e buscar instituir um poder tão opressivo quanto de Dirceu no PT. Assim como Lula escolhe Dilma , Luzianne escolhe Elmano e podemos falar em democracia ?

A suposta liberdade politica em nosso país tem sido usada com fins opressivos. É preciso contestar isto. Como diria Marcuse “ Nã o se trata apenas de mudar as instituições, mas ainda – e isso é o mais importante - de mudar totalmente os homens, suas atitudes, seus instintos, seus objetivos, seus valores etc.” Principalmente dos nossos líderes daqueles que almejam e chegam ao poder com seus métodos cada vez mais violentos.

O Direito inalienável da resistência garantiu a candidatura da prefeita pela primeira vez ; agora ela luta para impor uma aliança de cima para baixo usando os acordos entre os senhores feudais dos partidos. Enquanto isso a rigidez destas organizações partidárias , petrificadas por seus grupos de poder , buscam extinguir o impeto revolucionário, para se perpetuar no poder trocando figurinhas entre si.

Felizmente a revolta espontânea virá de baixo em Fortaleza , como sempre , porem desorganizada? ou a oligarquia ocupara com o falso novo ?

Neste sentido se faz necessário potencializar cada vez mais organizações políticas flexíveis , que não imponham chefes nem dogmas rigorosos , e seja permeável ao movimento e as iniciativas. Estimulando novos líderes e não os líderes de hoje que são frutos da propaganda e máquinas governamentais, porem sem expressão. E quanto dinheiro tem sido gasto na incompetência destes líderes e na busca de viabilizá-los a custa do Estado público ? Gerindo recursos que eles não sabem onde estão ?

Principalmente numa cidade brutalmente desigual como Fortaleza onde o luxo convive lado a lado com a Miséria, o desperdício e o conforto para os privilegiados. É necessário também acabar com o desperdício que a gestão que a gestão pública gera em várias áreas como o Governo Cid. Deixando nítido a ausência de um projeto de cidade dialogado, que poderia ter sido construído de baixo para cima , aprofundando a democracia e fortalecendo novas lideranças. Por isso a prefeita teve que dizer que elege ate "um poste sem luz" e vai ter que fabricar um candidato? A consequência é que a maior parte da população não acredita mais no processo democrático e despreza esta politica.

É urgente novos porta-vozes que não traiam mais uma vez a democracia e a cidade!

Vivemos um projeto de país e de cidade que fortaleceu a compra de carros e não o transporte público. Um projeto que fortaleceu as Universidades e escolas privadas e não a educação publica. Um projeto que fortaleceu a corrupção e não a saúde publica. Estamos renunciando a esperança por atos e não por palavras. Fortalecendo cada dia mais a violência institucionalizada nos partidos políticos, na polícia, nas empresas, na defesa do dinheiro e não na construção dos direitos das politicas públicas. Por isso a maior parte dos nossos jovens que são massacrados nas escolas , em suas comunidades por falta de lazer, no trabalho mal pago, vem exercer a violência sobre o ditame da propaganda e das drogas.

Nossos líderes deveriam criar as condições para a tomada de consciência no exercício do poder , porem o que fazem ?

Por isso a urgência de novos lideres , uma vanguarda , que não tenham esta “experiência” do que hoje se chama politica , um jogo marcado e violento. Assim eles poderam caminhar por outros horizontes. Como diria Marcuse “ todo poder aos estudantes e a imaginação “ Unir a politica com a arte , a imaginação no poder!
“ Tentar traduzir na realidade as ideias e os valores mais avançados da imaginação. Isso prova que aprendemos alguma coisa de importante ; que a verdade não esta somente no racional ,mas também, e talvez mais, no imaginário”

Precisamos transformar a politica numa ética e numa estética .Criando caminhos para o que maior numero de pessoas possam se auto-organizar e tomar consciência da realidade e de seus desafios , que possam exercer todos os seus direitos e deveres. Estimular o espirito desta aventura é ultrapassar os limites de uma dura realidade. Resgatar os conselhos comunitários , aonde a igualdade e a confiança é restabelecida na politica. Não entre os chefes partidários mas entre os vizinhos. Desta forma podemos controlar os representantes, a classe politica, a burocracia e a corrupção. Sendo também uma forma de educar politicamente as comunidades. Fortalecendo seres autônomos, críticos ..Assim a democracia pode se enraizar dando vida a prefeitura , aos vereadores , a politica, as comunidades..

Porque sem isso , infelizmente , a cada “vitória da esquerda “. A manutenção dela no poder , torna o resultado cada vez pior , assim como foi na URSS e outros países.
Porem como mudar o caráter consumista , submisso e hedonista das pessoas que se rendem a estes projetos de poder ? Como seria possível potencializar uma subjetividade rebelde ? “Segundo Marcuse “ o lado subjetivo da transformação não tem a ver apenas com a consciência e com a ação guiada da inteligência, mas também com as emoções, com a estrutura pulsional”

Infelizmente nossas lideranças não tem tempo para debater estas questões . Eles buscam cada vez mais associar os esquemas de poder econômico e politico em nosso país e em nossa cidade. Agora a violência para se manter no poder é brutal, “despida de todas as falsas aparências de verdade e justiça” E muita propaganda e mentiras da Oligarquia que exigem o silêncio a qualquer preço

Valores como o bem e mal se transformaram em mercadorias e homens e coisas são definidas pelo seu valor mercantil. Um politico também é vendido como um produto e não impota o projeto para a cidade e nem fortalecer a organização politica das comunidades e das pessoas.

O nosso desafio é criar as condições para que as pessoas possam se educar e se organizar à luz dos desafios e prioridades de suas vidas e comunidades. Criar as condições para que elas possam exercer os vários papeis e potências do seu ser para erguer de baixo para cima novas atitudes políticas, culturais, econômicas, educacionais, sociais, ambientais...Criando novas formas de resistências a este tipo de sociedade e políticos que buscam enquadrar a tudo e a todos.

Deve-se buscar trabalhar a partir do que existe e não de projetos desenvolvidos do decimo andar sem contato direto com os problemas postos pela realidade dos oprimidos . Buscar avançar no sentido de mostrar as ligações existentes entre as questões reformistas e a necessária transformação do todo. Esta ação coletiva de homens e mulheres transcende a politica entendida como atividade de profissionais e militantes nos limites das instituições existentes.

Porem o que os políticos fazem com seu poder ? Quais os marcos da gestão que de fato mudou a vida das pessoas pobres ? Festas, material gratuito nas escolas, vereadores dominando hospitais isso não muda a realidade nem aprofunda a democracia.

Diante de uma sociedade opressora comandada pelo capitalismo neoliberal o que esta gestão deixa de legados ?

Poderíamos ter potencializado a capacidade critica e criativa das comunidades , incentivado a emancipação política, cultural, econômica e social destas populações apoiando caminhos e novas formas de viver em sociedade.

Porem o que vivenciamos foi a entrega desta gestão aos esquemas de poder tradicionais , o caminho mais fácil, unir-se aos lideres de Juracir, dividir a cidade , entregar-se aos interesses das construtoras e companhias de lixo, como os capitais e capitais imperam sobre as comunidades, não conversa com as pessoas, os aliados e com a equipe. E no ultimo minuto do jogo pedir socorro ao Governo Federal e ao PT para tentar recuperar o estrago que fez , e pedir à todos que esqueçam?

A esses tipos de lideranças não lhe foi ensinado a amar de verdade sua população por isso a traição em torno de mais um projeto de poder ; para que esta cidade pudesse antes de ser bela , ser cuidada e protegida. Quando os delírios se misturam com o ego e as vaidades é melhor desobedecer estes líderes.

Alguns anos atras ela negava o apoio e os feitos de Lula, hoje implora. Porem estes feitos são herdados , assim como Lenim entrega ao Stalin , um Império para governar da sua forma, e não de um dialogo com o povo.

Não podemos esquecer que Lideres como Mandela e Gandhi tiveram que dividir o pão com os inimigos porem nunca abriram mão das causas e da luta que os movia desde o inicio. Quando abrimos a mão, somos nós que nos traímos, e a todos que acreditaram que era possível dar espaço para que cada um aprenda a governar a si e a aos outros.
Por isso que precisamos que venha a tona as verdades , do que os gregos chamavam de ética!

quinta-feira, 29 de março de 2012

SOBRE A DIGNIDADE DOS POBRES E A COVARDIA DOS LÍDERES DE FORTALEZA!

SOBRE A DIGNIDADE DOS POBRES E A COVARDIA DOS LÍDERES POLITICOS!

É incrível como políticos que se dizem líderes se sujeitam e são subjugados por seus grupos.
O silêncio da maioria da população é a forma mais ousada de protesto diante de um circo político que antes até servia para nos impressionar sobre as acrobacias delirantes para se manter no poder ; mesmo que a vergonha do absurdo , cada dia mais , caía no ridículo de sua indigestão pública. Nós não devemos perdoar. Tudo isto está errado.

Visitei algumas escolas e hospitais em Fortaleza, procurando olhar para as pessoas. A tristeza e a desesperança fazia com que eles andassem em grande parte de cabeças baixas. Talvez esperando o dia que sua mãe ou avô recebe o bolsa família, para conforme os nossos líderes da “esquerda” receberem a dignidade que tem direito. Já que nas escolas e nos hospitais eles não tem este direito! Há 500 anos na direita e também vamos ficar assim nesses dez anos da esquerda brasileira?

Quando tomamos uma Coca-Cola num bar , se eles nos cobrarem 4 reais , e ela estiver aberta e sem gás? Os nossos líderes de Fortaleza não vão querer pagar , vão ficar indignados que estão sendo assaltados , vão culpar o capitalismo, o Tasso …. Mas quando esses líderes de Fortaleza vão entregar as Cocas – Colas que eles venderam nas eleições passadas com toda a publicidade do mundo ? Tipo Oligarquias toda eleição.

Senhores acordem, despertem, vejam os olhos das pessoas ! As suas Coca colas estão quebradas , foram vendidas a 500 mil reais a garrafa, e a dona do bar não quer que eu reclame ? Se na democracia socialista estes direitos não existem, mesmo no Capitalismo, senhora, estes direitos ainda podem ser reclamados. 

Quando se fala das praticas da democracia que governa cidades com empreguismo, clientelismo, da política em detrimento da educação e da saúde do povo, do governo dos amigos, com a continuidade do loteamento das escolas e unidades de saúde entre os políticos, da continuidade do uso de Organização Social para distribuição de empregos aos milhares, da continuidade de gasto de dinheiro público em hospital privado, só porque pertence a políticos? Realmente é o fim da picada !

Bem espero que fique como lição a dignidade de quem ganha 1 ou 2 salários mínimos por mês, anda de ônibus pelos terminais , tem seus filhos nas escolas municipais , e seus parentes atendidos pelo IJF ou Postos de saúde. Por um motivo politico estas pessoas tem sido chamada da nova classe média brasileira, ela trabalha três turnos num emprego instável ou numa pequena empresa em sua grande maioria, servindo a rentabilidade dos Bancos que governos brasileiros servem com dignidade. Porem esta classe de trabalhadores financia o circo do que vocês chamam de politica. Eles não querem saber se os Ferreira Gomes são irmãos e dividem a cidades com as famílias no poder como no interior durante a ditadura. Eles querem saber se assim como eles são exigidos quando vão trabalhar, que cada um , mesmo os políticos, tenham as habilidades e as responsabilidades para cumprir seu papel em seu local de trabalho, que juntos com outras pessoas entregue aos seus clientes o serviço que eles pagaram. Eles não querem saber se é marxista ou capitalista, se a sua conversa fiada realiza a esperança ou o medo que prometem em seus olhos para seus filhos e comunidades com boas escolas, hospitais e no trabalho que compartilham com outras pessoas .

Porque se isto não é feito ! Fica transparente a covardia e a submissão dos líderes e dos grupos que negam dar as respostas mínimas; inclusive apurar as denuncias que foram feitas. É melhor arrumar outro trabalho porque as cidades não aguentam mais pagar a incompetência e a politicagem de grupos, muito menos seus falsos discursos, e suas posturas de Feudos mesmo entre os lideres de esquerda de fato deste país, negam espaços entre seus companheiros de lutas e estradas.


segunda-feira, 19 de março de 2012

Experiência e pobreza

Escola de Frankfurt - Walter Benjamin
Experiência e pobreza
1933

Walter Benjamin

Em nossos livros de leitura havia a parábola de um velho que no momento da morte revela a seus filhos a existência de um tesouro enterrado em seus vinhedos. Os filhos cavam, mas não descobrem qualquer vestígio do tesouro. Com a chegada do outono, as vinhas produzem mais que qualquer outra na região. Só então compreenderam que o pai lhes havia transmitido uma certa experiência: a felicidade não está no ouro, mas no trabalho. Tais experiências nos foram transmitidas, de modo benevolente ou ameaçador, à medida que crescíamos: "Ele é muito jovem, em breve poderá compreender". Ou: "Um dia ainda compreenderá". Sabia-se exatamente o significado da experiência: ela sempre fora comunicada aos jovens. De forma concisa, com a autoridade da velhice, em provérbios; de forma prolixa, com a sua loquacidade, em histórias; muitas vezes como narrativas de países longínquos, diante da lareira, contadas a pais e netos. Que foi feito de tudo isso? Quem encontra ainda pessoas que saibam contar histórias como elas devem ser contadas? Que moribundos dizem hoje palavras tão duráveis que possam ser transmitidas como um anel, de geração em geração? Quem é ajudado, hoje, por um provérbio oportuno? Quem tentará, sequer, lidar com a juventude invocando sua experiência?

Não, está claro que as ações da experiência estão em baixa, e isso numa geração que entre 1914 e 1918 viveu uma das mais terríveis experiências da história. Talvez isso não seja tão estranho como parece. Na época, já se podia notar que os combatentes tinham voltado silenciosos do campo de batalha. Mais pobres em experiências comunicáveis, e não mais ricos. Os livros de guerra que inundaram o mercado literário nos dez anos seguintes não continham experiências transmissíveis de boca em boca. Não, o fenômeno não é estranho. Porque nunca houve experiências mais radicalmente desmoralizadas que a experiência estratégica pela guerra de trincheiras, a experiência econômica pela inflação, a experiência do corpo pela fome, a experiência moral pelos governantes. Uma geração que ainda fora à escola num bonde puxado por cavalos viu-se abandonada, sem teto, numa paisagem diferente em tudo, exceto nas nuvens, e em cujo centro, num campo de forças de correntes e explosões destruidoras, estava o frágil e minúsculo corpo humano.

Uma nova forma de miséria surgiu com esse monstruoso desenvolvimento da técnica, sobrepondo-se ao homem. A angustiante riqueza de idéias que se difundiu entre, ou melhor, sobre as pessoas, com a renovação da astrologia e da ioga, da Christian Science e da quiromancia, do vegetarismo e da gnose, da escolástica e do espiritualismo, é o reverso dessa miséria. Porque não é uma renovação autêntica que está em jogo, e sim uma galvanização. Pensemos nos esplêndidos quadros de Ensor, nos quais uma grande fantasmagoria enche as ruas das metrópoles: pequeno-burgueses com fantasias canavalescas, máscaras disformes brancas de farinha, coroas de folha de estanho, rodopiam imprevisivelmente ao longo das ruas. Esses quadros são talvez a cópia da Renascença terrível e caótica na qual tantos depositam suas esperanças. Aqui se revela, com toda clareza, que nossa pobreza de experiências é apenas uma parte da grande pobreza que recebeu novamente um rosto, nítido e preciso como o do mendigo medieval. Pois qual o valor de todo o nosso patrimônio cultural, se a experiência não mais o vincula a nós? A horrível mixórdia de estilos e concepções do mundo do século passado mostrou-nos com tanta clareza aonde esses valores culturais podem nos conduzir, quando a experiência nos é subtraída, hipócrita ou sorrateiramente, que é hoje em dia uma prova de honradez confessar nossa pobreza. Sim, é preferível confessar que essa pobreza de experiência não é mais privada, mas de toda a humanidade. Surge assim uma nova barbárie.

Barbárie? Sim. Respondemos afirmativamente para introduzir um conceito novo e positivo de barbárie. Pois o que resulta para o bárbaro dessa pobreza de experiência? Ela o impele a partir para a frente, a começar de novo, a contentar-se com pouco, a construir com pouco, sem olhar nem para a direita nem para a esquerda. Entre os grandes criadores sempre existiram homens implacáveis que operaram a partir de uma tábula rasa. Queriam uma prancheta: foram construtores. A essa estirpe de construtores pertenceu Descartes, que baseou sua filosofia numa única certeza — penso, logo existo — e dela partiu. Também Einstein foi um construtor assim, que subitamente perdeu o interesse por todo o universo da física, exceto por um único problema — uma pequena discrepância entre as equações de Newton e as observações astronômicas. Os artistas tinham em mente essa mesma preocupação de começar do principio quando se inspiravam na matemática e reconstruíam o mundo, como os cubistas, a partir de formas estereométricas, ou quando, como Klee, se inspiravam nos engenheiros. Pois as figuras de Klee são por assim dizer desenhadas na prancheta, e, assim como num bom automóvel a própria carroceria obedece à necessidade interna do motor, a expressão fisionômica dessas figuras obedece ao que está dentro. Ao que está dentro, e não à interioridade: é por isso que elas são bárbaras.

Algumas das melhores cabeças já começaram a ajustar-se a essas coisas. Sua característica é uma desilusão radical com o século e ao mesmo tempo uma total fidelidade a esse século. Pouco importa se é o poeta Bert Brecht afirmando que o comunismo não é a repartição mais justa da riqueza, mas da pobreza, ou se é o precursor da moderna arquitetura, Adolf Loos, afirmando: "Só escrevo para pessoas dotadas de uma sensibilidade moderna.. Não escrevo para os nostálgicos da Renascença ou do Rococó". Tanto um pintor complexo como Paul Klee quanto um arquiteto programático como Loos rejeitam a imagem do homem tradicional, solene, nobre, adornado com todas as oferendas do passado, para dirigir-se ao contemporâneo nu, deitado como um recém-nascido nas fraldas sujas de nossa época. Ninguém o saudou tão alegre e risonhamente como Paul Scheerbart. Ele escreveu romances que de longe se parecem com os de Júlio Verne, mas ao contrário de Verne, que se limita a catapultar interminavelmente no espaço, nos veículos mais fantásticos, pequenos rentiers ingleses ou franceses, Scheerbart se interessa pela questão de como nossos telescópios, aviões e foguetes transformam os homens antigos em criaturas inteiramente novas, dignas de serem vistas e amadas. De resto, essas criaturas também falam uma língua inteiramente nova. Decisiva, nessa linguagem, é a dimensão arbitrária e construtiva, em contraste com a dimensão orgânica. É esse o aspecto inconfundível na linguagem dos homens de Scheerbart, ou melhor, da sua "gente"; pois tal linguagem recusa qualquer semelhança com o humano, princípio fundamental do humanismo. Mesmo em seus nomes próprios: os personagens do seu livro, intitulado Lesabéndio, segundo o nome do seu herói, chamam-se Peka, Labu, Sofanti e outros do mesmo gênero. Também os russos dão aos seus filhos nomes "desumanizados": são nomes como Outubro, aludindo à Revolução, ou Pjatiletka, aludindo ao Plano Qüinqüenal, ou Aviachim, aludindo a uma companhia de aviação. Nenhuma renovação técnica da língua, mas sua mobilização a serviço da luta ou do trabalho e, em todo caso, a serviço da transformação da realidade, e não da sua descrição.

Mas, para voltarmos a Scheerbart: ele atribui a maior importância à tarefa de hospedar sua "gente", e os co-cidadãos, modelados à sua imagem, em acomodações adequadas à sua condição social, em casas de vidro, ajustáveis e móveis, tais como as construídas, no meio tempo, por Loos e Le Corbusier. Não é por acaso que o vidro é um material tão duro e tão liso, no qual nada se fixa. É também um material frio e sóbrio. As coisas de vidro não têm nenhuma aura. O vidro é em geral o inimigo do mistério. E também o inimigo da propriedade. O grande romancista André Gide disse certa vez: cada coisa que possuo se torna opaca para mim. Será que homens como Scheerbart sonham com edifícios de vidro, porque professam uma nova pobreza? Mas uma comparação talvez seja aqui mais útil que qualquer teoria. Se entrarmos num quarto burguês dos anos oitenta, apesar de todo o "aconchego" que ele irradia, talvez a impressão mais forte que ele produz se exprima na frase: "Não tens nada a fazer aqui". Não temos nada a fazer ali porque não há nesse espaço um único ponto em que seu habitante não tivesse deixado seus vestígios. Esses vestígios são os bibelôs sobre as prateleiras, as franjas ao pé das poltronas, as cortinas transparentes atrás das janelas, o guarda-fogo diante da lareira. Uma bela frase de Brecht pode ajudar-nos a compreender o que está em jogo: "Apaguem os rastros!", diz o estribilho do primeiro poema da Cartilha para os citadinos. Essa atitude é a oposta da que é determinada pelo hábito, num salão burguês. Nele, o "interior" obriga o habitante a adquirir o máximo possível de hábitos, que se ajustam melhor a esse interior que a ele próprio. Isso pode ser compreendido por qualquer pessoa que se lembra ainda da indignação grotesca que acometia o ocupante desses espaços de pelúcia quando algum objeto da sua casa se quebrava. Mesmo seu modo de encolerizar-se — e essa emoção, que começa a extinguir-se, era manipulada com grande virtuosismo — era antes de mais nada a reação de um homem cujos "vestígios sobre a terra" estavam sendo abolidos. Tudo isso foi eliminado por Scheerbart com seu vidro e pelo Bauhaus com seu aço: eles criaram espaços em que é difícil deixar rastros. "Pelo que foi dito", explicou Scheerbart há vinte anos, "podemos falar de uma cultura de vidro. O novo ambiente de vidro mudará completamente os homens. Deve-se apenas esperar que a nova cultura de vidro não encontre muitos adversários."

Pobreza de experiência: não se deve imaginar que os homens aspirem a novas experiências. Não, eles aspiram a libertar-se de toda experiência, aspiram a um mundo em que possam ostentar tão pura e tão claramente sua pobreza externa e interna, que algo de decente possa resultar disso. Nem sempre eles são ignorantes ou inexperientes. Muitas vezes, podemos afirmar o oposto: eles "devoraram" tudo, a "cultura" e os "homens", e ficaram saciados e exaustos. "Vocês estão todos tão cansados — e tudo porque não concentraram todos os seus pensamentos num plano totalmente simples mas absolutamente grandioso." Ao cansaço segue-se o sonho, e não é raro que o sonho compense a tristeza e o desânimo do dia, realizando a existência inteiramente simples e absolutamente grandiosa que não pode ser realizada durante o dia, por falta de forças. A existência do camundongo Mickey é um desses sonhos do homem contemporâneo. É uma existência cheia de milagres, que não somente superam os milagres técnicos como zombam deles. Pois o mais extraordinário neles é que todos, sem qualquer improvisadamente, saem do corpo do camundongo Mickey, dos seus aliados e perseguidores, dos móveis mais cotidianos, das árvores, nuvens e lagos. A natureza e a técnica, o primitivismo e o conforto se unificam completamente, e aos olhos das pessoas, fatigadas com as complicações infinitas da vida diária e que vêem o objetivo da vida apenas como o mais remoto ponto de fuga numa interminável perspectiva de meios, surge uma existência que se basta a si mesma, em cada episódio, do modo mais simples e mais cômodo, e na qual um automóvel não pesa mais que um chapéu de palha, e uma fruta na árvore se arredonda como a gôndola de um balão.

Podemos agora tomar distância para avaliar o conjunto. Ficamos pobres. Abandonamos uma depois da outra todas as peças do patrimônio humano, tivemos que empenhá-las muitas vezes a um centésimo do seu valor para recebermos em troca a moeda miúda do "atual". A crise econômica está diante da porta, atrás dela está uma sombra, a próxima guerra. A tenacidade é hoje privilégio de um pequeno grupo dos poderosos, que sabe Deus não são mais humanos que os outros; na maioria bárbaros, mas não no bom sentido. Porém os outros precisam instalar-se, de novo e com poucos meios. São solidários dos homens que fizeram do novo uma coisa essencialmente sua, com lucidez e capacidade de renúncia. Em seus edifícios, quadros e narrativas a humanidade se prepara, se necessário, para sobreviver à cultura. E o que é mais importante: ela o faz rindo. Talvez esse riso tenha aqui e ali um som bárbaro. Perfeito. No meio tempo, possa o indivíduo dar um pouco de humanidade àquela massa, que um dia talvez retribua com juros e com os juros dos juros.

Tradução de Sérgio Paulo Rouanet
Ensaio obtido em Walter Benjamin – Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Prefácio de Jeanne Marie Gagnebin. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 114-119.