SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Pag 29- A Noite do Caos





Naquele dia, o Caos começava a organizar a noite, contemplando seus deuses... A primeira reunião tinha sido chocante, começava a escurecer e era hora de voltar para casa.
Afinal hoje acontecerá uma festa a três quadras de nosso condomínio, na Zona Perigosa, as gangues dos troianos e dos gregos iriam celebrar mais uma vez a coragem, o culto ao corpo, à beleza. O propósito não era deflagrar uma guerra na festa e sim, bebermos, vivenciarmos o prazer até o nosso limite e pela manhã, procurar algo para curar o que alguns chamam “ressaca”.


Renata, era a garota mais idolatrada do bairro, seu corpo era demais, as curvas de deusa, deixavam maluco qualquer garoto. Se isto não fosse suficiente para arrebatar corações, sua audácia era poderosa e glamorousa. Ela cantava maravilhosamente sua magia.

Ela era o tipo de menina que gostava de estar à frente de sua turma, sua liderança era nata quando o assunto era diversão. A roupa que vestia, ela mesmo fazia, as músicas que escutava, o jeito que tratava os garotos, eram símbolos de grandeza entre a nossa galera, era de imaginar que a inveja, a traição a perseguiam pois era impossível ser melhor do que ela. A autêntica arrogância de sua beleza e esperteza não dava espaço para que houvesse concorrentes.

Os inimigos não eram o seu maior problema e, sim o amor, a solidão e as drogas, provocadores de suas angústias e desejos, que desencadeavam a fúria de todos os seus amigos, não contra ela, mas contra eles mesmos, pois também eram esses as maiores dores de nossa geração. O beco sem saída do caos da noite e da festa para onde iriamos encontrar a gang dos troianos, eram os nossos deuses. A bebida que nos incitava a cantar e chorarmos, as drogas que levavam ao esquecimento, à fuga, a alegria delirante e a ilusão. Depois, ficava o vazio e as conseqüências desastrosas rondando, tais fantasmas, as nossas cabeças, dando “conselhos”, incentivando-nos a novamente procurá-los. Nós somos completamente dominados por eles, como nossos pais pelos deuses do trabalho e do consumo.

Os objetos é quem comandam os destinos de nossa geração como a exemplo da de nossos pais e raramente podemos servir de apoio um ao outro, porque deus tempo não permite o nosso encontro. Além de esquecer quem somos nós, ainda esquecemos o nosso esquecimento permitindo que os “deuses” comandem os nossos desejos e o destino deles.

Igor, um dos caras da turma da quadra de Tróia, estava apaixonado por Renata. Numa noite anterior, ela havia sido raptada por ele no seu esquecimento, ambos estavam embriagados e Renata havia se entregado aos braços dele, fizeram o sexo louco e sem regras a que estavam acostumados a praticar, só que Igor queria um pouco mais e fez com ela uma sessão de sado-masoquismo, e ela voltou ainda em estado de êxtase para a festa, pois só assim, eles chegavam ao orgasmo. No outro dia, ninguém sabia do acontecimento, exceto Alexandre, que emprestou seu quarto aos dois. Renata, não se lembrava, apesar do corpo dolorido, o que a fez refletir e se indagar sobre o que aconteceu, coisa que raramente fazia. Era ela a única dos gregos presentes naquela festa e isto se deu após uma discussão com seu pai, sobre quem teria acesso ao deus TV primeiro! Ele havia perdido a cabeça, quando ameaçou batê-la se não ficasse na sua, porque não iria tratá-la como a sua ex-mulher. Segundo ele, ela não precisava de seus adereços, suas roupas, suas marcas e iria dar um basta a essa exploração tirando do seu convívio a TV cabo, dali em diante só assinaria o canal de esportes.

Chateada Renata , pegou o seu carro e foi em busca de uma festa. Acabou encontrando os troianos e conseqüentemente Ígor, por quem tinha certa atração, considerando o físico do mesmo, que praticava musculação e outros artifícios em culto ao deus corpo.

Igor, estava ansioso por nova festa, embora que agora fosse do lado dos gregos, este seria o segundo encontro e só de pensar nisto ficava excitado, mas não ficariam lá, sairiam, para evitar que atrapalhasse seus esquemas com as outras gatas.

Nesta festa, estava toda a turma de Renata. Pontualmente as onze da noite, se encontraram nas esquinas de seu condomínio. David foi o último a chegar, ainda estava com o seu Lap Top na mão, quase encerrando um site que tinha programado sobre o seu amor, em silêncio, por Renata, sua paixão.

David nunca teve coragem de expressar o que sentia, mas aquela noite criou coragem de mostrar o flash do seu amor, onde ele havia colocado fotos dos dois, como se fosse uma só, inserido músicas do filme Romeu e Julieta, usando as mesmas roupas de Leonardo De Capri e havia animações de David negando o beijo de Ana Paula Arósio, Gisele Bündchen ou Vera Fisher, em troca do amor de Renata.

Porém o caos da sociedade moderna conspirava em seus efeitos sistêmicos. Zé Orlof’s, o troiano mais pobre financeiramente ou de espírito, sinônimo usado para financeiro na época moderna, havia acabado de injetar sua cocaína, roubada da casa do traficante Colla, ainda ligado resolveu escolher um lugar para se esconder.

Todos estreariam naquela festa. David, descobrira uma nova linguagem para expressar o seu amor, a informática. Zé Orlof’s que insistia na mesma linguagem para expressar a sua dor: a droga, caminho rugoso e sem retorno. Ígor certo de que Renata saciaria, mais uma vez seus instintos, naquela que seria sua segunda noite de sexo, em homenagem ao Marquês de Sades. Renata também estaria lá para celebrar os seus “deuses”, nessa nova Roma, cercada de Calígolas e Neros, encontrados em qualquer esquina e que a faziam esquecer a realidade, penetrando no profano e transformando o sagrado da história. Ela não sabia o que buscava, só queria prazer e ser, como sempre, o alvo da historia.

Ao chegar na festa com sua turma a cercando, logo Ígor furou o bloqueio ao som das tumbas do Rock, beijou Renata forçadamente. David ao ver aquilo, a desobediência das leis dos seus deuses, afinal, o troiano não pode namorar uma grega (e pensou: principalmente a minha!), tratou logo de agarrá-lo e humilhá-lo acertando um chute na cabeça. Caído, Ígor seria atingido no local onde homem nenhum queria ser atacado. O grito de guerra estava declarado e ninguém entendia o porque da confusão, nem Renata entendia o beijo de Ígor, nem a reação de Renata e muito menos os dois suspeitavam de seu amor em conjunto pela mesma mulher. Só o caos da solidão do coração de cada um, sabia os reais motivos.

Nesse momento as deusas bebidas e drogas imperavam no comportamento dos guerreiros gregos e troianos. Até que Colla, o traficante, a procura de Zé Orlof’s, invadiu a festa. Naquele momento David já havia dominado Ígor. Zé Orlof’s resolveu atirar no traficante, ainda sobre o efeito da droga, atingindo, casualmente, David, salvando os troianos de uma derrota. Como podem ver, caros amigos, as drogas haviam influenciado o destino... até os pobres mortais continuavam nos dias seguintes a procurar a causa, através dos jornais, onde só havia caos...
Graças aos seus amigos Bin, Amy, Nicolau e Michel, David foi levado as pressas para o hospital. As outras pessoas da festa ainda continuavam vibrando e brigando com o acontecido. Para eles, David serviria como um grande motivo para celebrar em suas conversas de guerra, o quanto aquela batalha havia sido interessante. A amizade salvara a vida de David. Há horas, ele foi levado ao hospital e a bala foi tirada rapidamente graças ao “deus computador” que David carregava em seu peito, visando fazer a declaração de amor a Carol, a bala não havia conseguido profundidade em seu corpo, o notebook abafou o impacto.

Aquela festa seria um marco para nossas vidas e para o Teatro. As coisas não seriam como antes, apesar da amizade de nossa turma ter salvo a vida de David, o Teatro, corria perigo, pois nossas discussões agora começavam a esquentar. O conflito de valores entre o nosso mundo e o mundo objetivo que nos cercava, começava a ser mais fortes que a nossa bravura e coragem durante as guerras e a declaração de projetos que havíamos feitos no Teatro!

No outro dia ao dobrar a esquina da Escola, vi mais uma vez duas gang’s se enfrentando. Uma era formada por meus amigos de infância, a outra por garotos da escola mas o que me chamou mais atenção foi uma câmara de TV que filmava tudo ali e dava sinais de que realidade e ficção em minha cabeça perderiam rapidamente suas fronteiras.

Sem perder tempo, peguei meu notebook, imaginei nele uma lança-míssel que obedeceria meu comando instantaneamete na velocidade de meu pensamento, porém antes de disparar meu lança-míssel, fui acertado por uma bala, cai... De repente de um lado vi os troianos, a câmera de TV e por detrás dela talvez meu pai estivesse preparando a cena para o Sacrifício de Isaac... 

Por um momento, fiquei como que fora de mim e cenas do meu passado vieram a tona. Lembrei de um desenho que fazia ao lado de meu avô, transformando estrelas num parque de diversão.
Por sorte não seria o meu destino, apenas mais um teatro real do imaginário da vida. A bala era imaginaria, pois o acontecimento com David tinha transformado o meu medo da violência em pesadelo. Os territórios invadidos pelas guerras das Gangues , não escolhem o seu lugar de ação , as vezes o tempo se transforma, invertendo as lógicas do passado e do futuro através de nossos medos. Somos vítimas e assassinos por omissão. A arte e realidade confundem seus papéis , conversam entre si, desafiam a vida, a lógica e a verdade transformando o que somos e o lugar que vivemos de formas inimagináveis.

Pag 28- A ESQUINA AONDE OS DIFERENTES SE ENCONTRAM






estávamos respirando a puberdade, sentados no mesmo ponto de encontro, as esquinas do condomínio, era um ponto central para ver e sermos vistos. Na noite passada Amy havia recitado uma poesia que relembrava a nossa infância:

O tempo passa rápido
E quanta coisa que mudou
Que eu não gostaria que tivesse mudado.
O tempo passa rápido
E quanta coisa que ficou
Que eu gostaria que tivesse acabado.
O tempo passa rápido
E quanta alegria passou
Que eu gostaria de ter aproveitado.
O tempo passa rápido
E quanta mágoa o coração guardou
Que eu gostaria de ter esvaziado.
O tempo passa rápido
E quanto de amor que acabou
Que eu gostaria de ter salvo.
E quando o tempo passou
O quanto de mim sobrou
Foi a tristeza por tudo ter apenas passado
E a alegria do meu coração transformado

Renata já estava quase chorando em sua dramatização repentina do choro, para sentir prazer das gargalhadas que geraria. Ela era sempre uma surpresa. Bin havia nos convencido de ir ao cinema estava passando mais um filme sobre o Fim do Mundo e os “sete profetas” haviam votado a necessidade de curtimos a vida através do cinema. Era uma oportunidade para mais uma vez escrevermos um capitulo de nossa vida e do livro!


Depois de termos invadido o cinema, como se invade o bolo da aniversariante, tropeçando propositalmente nos pés das pessoas para chegarmos até nossos lugares. Utilizamos o velho método do cachorro e do gato, para animar a festa... Era assim: Nicolau ficava na ponta do cinema e Davi na outra. Davi começa a imitar o miado de um gato – “Miau, Miau”, até que Nicolau, da outra ponta, respondia “Au! Au! Au!”, assustando o gato por um momento até que ele reagia e dava um grito enfrentando ao cão, e o cão assustado, choramingava “Am, Am, Am”. Até que Davi gritava bem alto:
- Ei, macho eu sou o gato, tá doido!
- Tem razão, vou te enfrentar, afinal onde já se viu o gato ganhar do cachorro. Respondeu Nicolau e os dois começavam a imitar a briga entre o cachorro e o gato, até que o velho Lanterninha, imitava o Leão: “Arghhhhhh” e ameaçava colocá-los para fora!

Como podemos observar, faz parte da natureza humana, transcender seus limites para cima ou para baixo, o que não acontece com os animais. Onde já se viu, um cachorro com medo de um gato, a maioria da população mundial ser submetida a condições sub-humanas de vida e medo, por uma minoria “culta” que decide sobre a distribuição de alimentos, educação e saúde? Sobre quem vai viver ou morrer no sistema que vivemos? Isso só acontece, porque como Nicolau e David, esquecemos quem nós somos, nos permitimos que alguém nos dê um papel e até que rugido ou palavras poderemos falar, que lugar da selva nos pertence.

Aberrações da natureza são criadas, milhares de pessoas sem ter o que comer, enquanto os Nobres e os Reis viajam em seus jatos, de shopping’s para shopping center’s gastando em marca, o que de concreto seria alimento e vida! E quem permite, que a briga natural das condições de sobrevivência não aconteçam? O próprio indivíduo, que espera pelas “boas ações” assistencialistas, servindo de desencarno de consciência aos poderosos, que desta forma ganham tempo e energia para continuar a retirar as condições de vida daqueles a quem há bem pouco apadrinharam. É as vezes a falsidade de um “gatinho”. Seu miado internacional, podem convencer e submeter verdadeiros “cachorros” em tamanho e “formigas” em inteligência...

“O juízo final é apenas uma criança escolhendo os seus melhores brinquedos”, escrito em letras garrafais vermelhas encerrava mais um filme que marcaria profundamente nossa vida. O filme que acabamos de assistir era OS PROTETORES : Quando amar é proibido . Tinha o PROTESTO DAS ROSAS entre outras magias poderosas.O ar de meditação ainda pairava no cinema quando Renata afirmou...

- Apesar de estar no mesmo cinema, com o mesmo grupo de amigos, para logo após pegar o mesmo ônibus, sinto que algo diferente está prestes a acontecer!...
O silêncio e o espanto dirigido a Renata por seu grupo de amigos era reprovador, pois Renata, um ano mais velha, representava todos os papeis mas nunca a tínhamos visto na posição de profetisa.
- Fala logo, Renata, exclamou Isaac.

- Sinto que este filme vai mudar minha vida. Ele me mostrou o caminho. Se só terminarei meu segundo grau daqui a três anos e pelo menos mais cinco anos de faculdade... Isto se todos os meus anjos pescarem por mim, são oito anos até lá! Já que o filme lembra bem que o mundo se acabará daqui a quatro anos, porque aquele cometa vai se chocar com a Terra gerando uma grande onda . Isto indica que a partir de hoje só curtirei a vida, não adianta nada eu estudar. Ah! Já estou atrasada, antes que o mundo acabe quero esgotar todo o estoque de cerveja do mundo!

Todos riram afinal, Renata com aquela sua calça hipie-chic era o símbolo perfeito de “profeta da diversão”.

Michel, no caminho de volta nos propôs uma mudança de cenário para nossos encontros noturnos. Um lugar, segundo ele, mais adequado para dar vida às nossas conversas e diálogos. Ele havia descoberto há três quarteirões de nosso apartamento, um teatro abandonado... ali poderíamos dançar, sorrir, chorar, viver o mundo de nossa juventude, representar o real para o público e atores que se confundiriam com seus personagens.
Isaac adorou a idéia: o teatro e começou a falar...

- Lá, poderíamos falar de nossas vidas, sermos nossos críticos, mudarmos a peça, enquanto vivermos, questionarmos os escritores da peça, do livro, criar cenários, enfrentar nossa briga com o mundo, nossa guerra de valores! Mas principalmente lutar para que ali, o palco das expressões dos valores, se transforme no palco da vida, onde corremos o risco de que os valores percam sentido e sem sentir, a vida deixe de existir! As nossas vidas seriam meras encenações de peças que não criamos, não sentiríamos nossos braços, nossos corações, nem o cenário que nos cerca, o Sol, a Lua, o Mar... Seriamos ou somos marionetes? Ou talvez não, a lágrima se recusa a cair, e transforma-se em água, o fundamento e os princípios que a geraram não podem ser esquecidos, elas não nasceram para beber ou tomar banho! O sentido da vida é muito mais, é vencer a guerra de valores que enfrentamos no nosso dia a dia e o momento da juventude é crucial para que não percamos o horizonte de nossas vidas. Não podemos esquecer que a juventude global está no mesmo barco, no mesmo teatro executando suas peças e indicando ao leme o rumo de nossas vidas!

Isaac, terminava de suar suas palavras em tom alto e grave, começou baixo e sereno! O filme também que assistimos, tinha tons altos e baixos, rápidos e lentos, ritmos diferentes... Ele encerrou dizendo: “Eu adorei a idéia do teatro, porque nele iremos viver os filmes da realidade e aproximar os tons da vida com os dos sonhos, porque neste filme somos nós que criaremos os textos.”

Michel já havia escolhido um nome para o nosso novo local de encontro, para o Teatro ele se chamaria “TRIBOS 7i”.Bin propôs que cada um pensasse momentos de suas vidas, que pudessem ser encenados, podendo ser do passado, presente ou futuro, não importaria. O que valeria era um espaço aberto para sermos nós!

Michel comandaria a primeira reunião e logo na abertura exclamou o texto que havia escrito na Ata... e continuou:

- Hoje, pela manhã, recebi a propaganda de um cursinho que citava trechos de uma música que dizia: “fé na vida, fé no homem, fé no que virá, nós podemos muito, nós podemos mais”. Acredito no sonho desta música, no homem e no amanhã, desde que a educação seja o espírito da grandeza, a nos transformar em gigantes...

- Ôpa! Espera aí, protestou! Michel joga essa praga pra lá. Berrou Renata, se ficar mais alta do que já sou, não arrumo ninguém para namorar e você pode me desejar tudo, menos a praga de não amar e não ser amada!

- David protestou logo! Tá bom. Chega! Será que as coisas aqui não poderiam ser mais objetivas. Por exemplo poderíamos contracenar ao sair daqui, a Peça “O Banquete na Pizza Hut” e vocês poderiam subjetivamente repartir a conta individualmente entre vocês!

- Será possível que vocês não dão uma dentro! Exclamou Amy. “Pizza Hut!”, falar em grandeza de espírito e confundir com altura! Meu Deus, quando eu for artista como vai ser difícil escrever um livro ou criar um filme para que vocês entendam, sem necessariamente ter que colocar chapeuzinho vermelho, mulher maravilha, monstros e et’s!

Será que terei que mesclar grandes temas com bobagens, para que possam filmar o que quero! Oxalá, até lá espero que o grande volume de dinheiro gasto com a “arte”, se renda para grandes idéias e não efeitos especiais, pois com o passar do tempo as pessoas cansarão de assistir o óbvio e finalmente se darão conta de como vivenciando o “proibido” e o novo pelos padrões, ampliam-se os horizontes de nossas vidas...

- Tem razão bem que nós poderíamos começar a quebrar os padrões entre nós, ao invés de apenas ficarmos aqui debatendo algo novo, devemos tomar uma atitude para realizar algo de concreto, que mude a vida das pessoas, divulgando a nossa mensagem e podemos usar este Teatro para mostrar isso ao mundo! Exclamou Isaac!

- Já sei! Gritou Michel... A lâmpada “mágica” acendeu gerando uma nova idéia!
Vamos criar um espaço artístico para a juventude, aqui no Teatro “TRIBOS 7i”. Um lugar para que a expressão da arte jovem possa florescer, desabrochar, gritar, rompendo a ditadura do silêncio com o “Protesto das Rosas”...

Puxa que legal, já sei até por onde começar. Vou realizar com a ajuda de vocês, que estão lendo ou ouvindo minhas palavras o Movimento de Arte & Liberdade, composto de cinco momentos:
O primeiro momento será um festival de dança , rock , hip-hop, internet, quadrinhos, skate, linguagens das juventudes que retrate o movimento da juventude na luta pela liberdade, com danças sobre os hippies, os cara-pintadas, os jovens na Revolução Russa e Francesa, “1968 – o ano que não acabou”, 2012 – o futuro que nos espera... Um balé que retrate o jovem que enfrentou o tanque na Paz Celestial, a quebra da tradição, da hipocrisia, falsa moral. A luta por melhores condições de vida na historia onde o jovem sempre foi e será o estopim, o escudo e portador das palavras de protestos, quer seja de origem anarquista ou capitalista. Porém será a dança da juventude como o rock, funk, axé em harmonia com seus movimentos culturais e políticos que, sobretudo, expresse a sua coragem, beleza e nitidez do olhar...

O segundo momento será um Show de Rock no Teatro “TRIBO 7i”, com diversas bandas que transformaram nossas poesias, em músicas para celebrar O Protesto das Rosas. Punk, eletrônica, hip-hop, todos estes ritmos devem acompanhar nossas palavras e devemos relembrar e reviver o grande Renato Russo, como já o fazem nossos colegas da Banda Sirva os Servos, que, no nosso Teatro, cantarão sua “homenagem” aos políticos, digo os gravatas, com sua música “real solução”.

O terceiro momento seria uma exposição de quadros “O protesto das Rosas” onde teríamos pinturas de jovens que retratem seus símbolos. O teatro, o esconderijo, o circo, o sentimento, as dores de uma juventude que vive o suor de suas lágrimas, o suicídio, o cão e o gato e suas faces humanas do medo, o Festival de Dança representando o balé daquele jovem, diante de um tanque, na sua coreografia solitária, tendo um soldado desesperado no “cumprimento do seu dever LEGAL”, naquela praça da “Paz Celestial”, local profanado pelo Deus-Homem, à vista inerte das verdadeiras divindades. Enfim temos que reproduzir em imagens, momentos de significado visual tão intenso, a ponto de despertar em nosso coração, a transformação da emoção em razão e o reverso destes quadros em realidade.

O quarto momento seriam palestras sobre grandes obras da literatura que retratam a coragem de jovens e os seus destinos em nome de suas crenças, obras como Ilíada, As viagens de Gulliver, O Quinze, O que é isso Companheiro, Feliz Ano Velho, Quando Amar é Proibido! Porque não incluir filmes que retratem a bravura e os protestos da rosas, da juventude, em cenas concretos, transformando cenários em palcos de luta, sob roteiros carregados de verdade e sonhos de mudança.

E o quinto momento serão palestras com Filósofos, Educadores, Economistas, Historiadores, Psicólogos, Sociólogos, mostrando a relação entre Arte , Sociedade & Liberdade a partir das obras de Michel Foucalt, Michel Maffesoli , Nietzsche, Goethe, Chaplin, Van Gogh, Guy Debord , São Francisco, enfim falar sobre aqueles que através de suas vidas e arte levaram às nossas mentes e corações a liberdade. O Ser que transcende a si mesmo e busca no universo pontos de onde poderão pintar, dançar, escrever, alavancar o mundo. Filmaremos a Liberdade, mas principalmente o indivíduo e sua busca pela expressão da beleza, da vida! Oh! Desculpa falei demais, é que eu me empolguei, espero que vocês também! O que vocês acham, podem me ajudar?

- Tudo Bem! falou Nicolau, eu adorei, vou lhe ajudar mas preciso também de você, pois enquanto você falava, muitas idéias surgiram em minha cabeça. Como você, acho, este Teatro ideal para criar espaços políticos para a juventude. Aqui será um espaço para discutirmos sobre o trabalho, a educação, o amor, o prazer, a religião, a arte, a ciência e a política, claro! Identificaremos e encontraremos lideranças estratégicas por cada área de atuação.

- Concordo. Afirmou Michel, só que, a partir daí, montaremos um conselho de políticas públicas para a juventude em cada lugar, que desenvolverá projetos para os jovens em todos esses níveis já citados, inclusive formando um Instituto de Lideranças, ARTES EM REDES , onde discutiremos de tudo e criaremos um programa e um plano de governo, novas formas de governar , recontaremos, através da juventude, a História de nossa sociedade, do mundo e de nossa cidade, onde tudo começa, para a partir daí, propor soluções de urbanismo, geração de trabalho e renda , educação, cultura, e atendimento psico-sociais, através de uma parceria entre os jovens que tiveram a oportunidade de freqüentar uma universidade e os excluídos do “sistema”. A este projeto daremos o nome de Visão Jovem. Transformaremos organizações não governamentais em incubadoras de pequenos negócios e faremos da Escola o grande agente da revolução cultural e desenvolvimento local de nossa comunidade, e quem sabe combater a pobreza no mundo.

- Sim, mas ainda não concluí. Posso prosseguir, falou Nicolau e logo complementou: lançaremos um partido e candidatos estratégicos vindo dessas diversas áreas de atuação com projetos bem pensados que canalizem a energia da juventude de forma a tornar a vida plena. Só assim poderemos engajar a sociedade em um projeto de governo, que tenha a vida como principal valor e o jovem como meio para a partir de seu trabalho rico em significados proporcionar segurança para os idosos e a infância. Embora tendo me alongado, as idéias do teatro empolga e desperta em nossas mentes muitas utopias viabilizáveis, lutando para que a realidade que nos cerca se transforme em nosso Teatro...

David, Bin, Amy e Isaac ficaram atônitos com as idéias de Michel e Nicolau. Elas eram chocantes e necessárias.

Isaac completa:
- Precisamos, mesmo, fazer o que foi dito, porque se não o que teremos a nossa espera daqui há alguns anos?... como poderemos aceitar a vida presa a um computador, sozinho, inseguro, sem amigos e até mesmo sem esperança?... Pois sem trabalho, além de não haver realização humana não há sobrevivência! O mundo chegou ao cúmulo de tirar a sobrevivência de milhares de pessoas, a maioria jovem e até a cara de pau de dizer que por problemas de tecnologia, redução do Estado e aumento da produtividade teremos que castrar e matar diversas vidas, sonhos, juventude, rosas ou seja em vez de florescer, murcharemos. Além disto tudo, esqueceram também de dizer que não temos culpa, apenas estamos pagando o preço por termos nascido, o preço da morte, da não-vida.

Amy comenta:
- Sabendo de tudo isto e nada disto sendo discurso estaremos claramente com estas condições sendo impostas às nossas vidas. Não podemos cruzar os braços, porque se não ficaremos sem eles, não podemos continuar apenas a aplaudir os astros da música, a novela e os esportes, a sociedade do espetáculo, encenado do presidente ao papa. Os verdadeiros astros deveríamos ser cada um de nós, se tivesse uma chance mostraríamos porque viemos!

- Êpa, exclamou Renata. Eu vim ao mundo a passeio. Estou aqui num “Tour Eterno”, isso tudo é bobagem. Vamos todos tirar a roupa, legalizar a maconha e a revolução será a conseqüência.

- Cala a boca idiota! Grita alguém lá atrás.
Renata se defende:
- E daí? Vão todos para a p. q. p... ou se forem sabidos (Isaac grita: “É o novo!”), estão liberados para ir à boate se divertir.
Amy ficou irritada e disse:
- Quando é que você vai crescer, menina! E continuou, também não adianta, de forma assistencialista, aguardar que alguém nos dê alguns trocados. Temos tudo que precisamos para começar.
- Vá para a merda! Viu sua bestinha...
David fechando o assunto, concluiu:
- A juventude é o maior segmento de mercado do mundo, consomem TV’s, carros, vão a bancos, compram roupas, tomam cerveja, enfim, utilizam diversos produtos de várias empresas. Estas empresas gastam milhões de reais com mídia, promoção etc... Se fôssemos clientes dessas empresas, elas repassariam esses recursos para nós e, através deles, financiaríamos nossas atividades, organizadas por uma associação de jovens executivos globais, com uma proposta de desenvolvimento econômico. Depois seremos uma Comunidade de Empreendedores de Sonhos numa Terra da Sabedoria.

Bem, essa foi a proposta de David, ele ficou o tempo todo pensando como estes projetos poderiam ser financiados. E lembrou que depois de algum tempo eles não precisariam mais de financiamento andariam com as pernas próprias e suas origens estariam ligadas às imagens das empresas que os financiaram inicialmente. Outra forma seria empreender vários negócios entre os jovens, uma grande cooperativa de crédito e consumo, incentivando um a ser cliente do outro, criando, assim, uma rede. Poderiam surgir empresas de turismo, informática, entretenimento com aventuras em montanhas, rios etc... como vimos, o setor serviços pode florescer desde que existam boas idéias, financiamentos, empreendedores organizados e com competência de se organizarem em associações! É este o futuro das Cidades.

David surpreendeu a todos, pois, até ali, nunca havíamos pensado em algo bom para todos, talvez até por falta de oportunidade ou incentivo, ou mais espaço onde todos apresentassem suas habilidades, como a de David, pensar soluções econômicas. Por seu pai ser empresário, ele sempre se comportou como se estivesse no mercado, cheio de concorrentes, ali ele pôde perceber que haveria a possibilidade de estabelecer parcerias com seus amigos e realizar seus sonhos, fazendo algo de significativo para a sua vida! Viu que mais que uma empresa, rapidamente esquecida logo que fechasse, seu nome ficaria na historia, por ter contribuído de forma decisiva para o mundo. Eu por exemplo me lembraria mais dele.

De fato, não lembro de nenhum empresário importante que depois de falido foi glorificado, salvo o empresário do império: Mauá que conseguiu dar a volta por cima e se notabilizou.

Em épocas de economia global, podemos observar o quanto é insignificante dedicarmos nossas vidas a uma empresa, enquanto meio para comprar carros; cujo tesão se acabará em três dias e ele não satisfará sua ansiedade, ou necessidade humana de respeito e gloria que precisamos ter. Felizmente aqueles empresários que não enxergam além de sua carteira, ficarão cada vez mais isolados e responsáveis pelo destino triste que dão aos frutos do trabalho humano...

O Governo que também gasta seus recursos com o virtual, e não com a vida, se colocando em favor da usurpação do trabalho de seu povo, através do fortalecimento do mercado financeiro, conseqüentemente o enfraquecimento dos direitos, sem a ele oferecer condições de sobrevivência e felicidade. São empresários que privatizaram o Estado. Dentre suas funções, todos sabemos, no mínimo, deveriam ler os relatórios da ONU, que apontam o maior período de pobreza do mundo e agir visando a distribuição de renda, criando formas alternativas de geração de trabalho e renda, assim como fazemos nós nos Protestos das Rosas, logo mais na fase adulta teremos propostas concretas... de emancipação humana e realização econômica.

O espaço do saber tem que ocupar o espaço da produção. A produção não será vanguarda para um mundo melhor, pois o “apadrinhamento” político e o dinheiro são as ferramentas de perpetuação da tradição, enquanto o saber é quem transforma os anseios da população em revoluções, fazendo a produção se reanimar em novas direções. É necessariamente na juventude que a capacidade de produzir e do saber latente se encontram, porque foi ela que enfrentou todas as condições adversas, capazes de gerar uma nova proposta, através do saber, devendo agora ser colocada em pratica... Mas por enquanto vamos voltar para a juventude , para o Teatro e nossos amigos...

Pag 27- CAPITULO 4- A HISTÓRIA DE UMA HISTÓRIA. ADOLESCÊNCIA – inquietação, conflito, busca, descoberta...





Isaac, gostava de seguir o inverno, aqueles ventos eram o seu psicólogo. Neles encontrava a sua paz, na Legião Urbana, a sua rebeldia. Não só pelas letras das musicas, com sua profundidade, mas pelo ritmo da vida pulsando, como em “Faroeste Caboclo”!


Ele acreditava que todos têm seu ritmo. O ritmo de cada um é a própria harmonia de sua vida, porém esta é a época, da historia da humanidade, onde mais somos incentivados a tocar nossa música, a viver o nosso ritmo, a fazer o nosso filme, pintar nossos quadros, criar nossa filosofia, escrever nosso tratado cientifico, lutar por nossa política e quem acredita e defende este modelo de mundo, bem-vindo ao anarquismo (tantas vezes confundido e mal interpretado, pelo viés exageradamente político) da juventude, em que cada grupo de pessoas, cria a sua própria ordem, sua tribo, dentro de um pluralismo e diversidades que não castra as individualidades e permitem que o novo sempre surja. Pois é por esta razão que as rosas até hoje cantam, protestam...

Isso não é liberalismo. Não procuramos obrigar ninguém a ser liberal ou conservador. Só queremos que aqueles que gostam da “máfia” possam combater-se entre si mesmos, contanto que as conseqüências de seus atos não atinjam a quem não concorda com as regras do jogo. Os que querem conservar a tradição, não a conserve as custas dos trabalhadores progressistas. São regras simples. Quem quiser ser contra os homossexuais, crie a sua comunidade e viva longe deles. Deixem eles viverem da mesma forma que eles os deixarão viver.

Sabemos que existem questões que envolvem a todos como a ecologia e as guerras mundiais, porém se não quisermos extrapolar nossos limites saberemos conviver com eles. Ninguém tem o direito de declarar uma guerra mundial, seja por motivos religiosos ou econômicos! Também temos a impressão, de que em certos assuntos, a razão já superou as opiniões carregadas de todo tipo de interesse e destruiu qualquer lógica que a justifique.

Ninguém deve ser burro em apoiar que a camada de ozônio desapareça. Se tal indivíduo existir, devemos oferecer a ele gratuitamente e individualmente as conseqüências de sua opinião. Sei que não é tão simples, do mesmo jeito que gosto de inverno, outras gostam de verão... uns poderão gostar, de burlar as regras do jogo, de matar por matar, de utilizar o seu poderio econômico ou militar para impor seus acordos e todos nós sofreremos as conseqüências.

Apesar de tudo que falamos até aqui, dependendo da sua opinião, poderia se transformar em cinzas no seu balde de lixo. Porém podemos recordar por alguns minutos: quantas barreiras cientificas já quebramos para viver hoje na ciência da incerteza? Vivemos na ciência da crença, ou seja, mesmo para a razão existir temos que ter uma forte crença nos resultados que buscamos. A filosofia existencialista nos “condenou a liberdade, a abandonar os sistemas e viver o ser e o nada” e a partir de nós, construirmos nossos castelos existenciais, alicerçados pela crença onde viveremos...

A espiritualidade talvez seja uma das principais preocupações do homem moderno, porém não está nas igrejas, nos templos, nos ditos “enviados de Deus” e sim na relação do homem com o seu criador, sem intermediários, ou “só há um mediador entre Deus e os homens, Jesus, o Deus Filho”. Também queremos construir essa relação na política com a democracia direta, com votos via Internet e outros mecanismos que visem eliminar os representantes, que simplesmente “representam”, como se estivessem num Teatro, pois nenhum ser humano substitui um outro. Na educação, religião, trabalho e na arte o homem é conspirado, como nunca, pelo universo, que criou, a viver de suas idéias, a criar o seu mundo.

Isaac lembrou do filme Stigmata, de Rupert Wainwright, baseado num Pergaminho Aramaico, do Século I d. C., encontrado no Mar Morto, em Nag Hamadi, proximidades de Jerusalém. Algumas pessoas da Igreja temiam que tal documento pudesse destruir a autoridade da Igreja Moderna. Nele estão as palavras de Jesus aos discípulos na Última Ceia, suas instruções sobre como continuar a Igreja, após a sua morte.

Se estabelecia que a Igreja de Cristo era muito mais que um prédio. Cristo não estaria em prédio de madeira e pedra. Não precisaríamos de uma instituição entre “mim (Deus) e o homem (nós)”. Somente Deus e o homem. Sem representantes nem Igrejas.

“O Reino de Deus está dentro de você, à sua volta, não em templos de pedra e madeira. Rache uma lasca de madeira e estarei lá. Levante uma pedra e me encontrará”. É este o Evangelho de Tomé, considerado por estudiosos o mais precioso registro das Palavras de Jesus Cristo. O Vaticano não o reconhece e descreve como herético. Era o que lembrava o filme “Stigmata”. Portanto, não se trata do fim da História como pregou o filósofo Furukawa e sim, o fim de algumas instituições que mesmo mortas em sua razão de ser, ainda coordenam nosso viver, a exemplo dos modelos centralizadores, normativos e autoritários das Universidades, Estado e Igreja.

Novas formas de ser, pensar, gerir, viver estão surgindo e se auto organizando, a partir de modelos únicos, baseados nas realidades e nos contextos em que surgem como por exemplo, nas novas organizações não-governamentais, no direito alternativo, nas comunidades formadas a partir do poder local, em novas formas de educar, trabalhar, fazer arte, enfim, um novo mundo que surge a partir do apocalipse das instituições, configurando o juízo final dessa sociedade. Esse apocalipse – o fim da história, o fazia recordar do que havia lido no livro “Deus, Genes e o Destino”, de Steve Jones, lido durante sua viagem à Cidade de Armagedão, na Terra Santa, onde o autor afirma “que em quatro mil anos esta cidade foi devastada e construída vinte vezes”, por diversos reis e por diversos motivos. Assim serão nossas cidades como São Paulo, Nova Iorque, Paris, Jerusalém, Tóquio, Berlim, Moscou, JonhsBurg, que através da dança de seus “reis”, instituições e formas de viver, provocam constantemente apocalipses, esperanças, medos e mudanças. Mas, mesmo assim, oportunidades de seleção da semente humana entre os que serão salvos e os malditos, para um novo mundo que surge.

Muitos diriam, isto é o caos. Todavia a certeza que nós buscamos nunca existiu. Mais muitos pagaram o preço da certeza dos outros. Quantos Hitler levou com ele pro inferno? Por quantos homicídios o comunismo e o capitalismo respondem? Quanta vida foi castrada pela moral, tradição e inquisição? Quantos morreram de AIDS, sem seres responsáveis por ela e quantos morreram de fome e doença, porque algumas Nações não sabem jogar dados no mercado financeiro?

O que aparentemente mostra-se complicado e complexo para mentes carregadas de instituições, preconceitos que acumularam até as 18 anos, como disse Einstein “é o bastante simples!” Apenas almejamos que cada um viva o seu livre-arbítrio, em comum com aqueles que concordam com as regras do jogo. Não importa o jogo, contanto que não prejudique quem pagará um preço por um cheque que não assinou. Não se trata apenas de preconceitos pessoais, exigem também a eliminação de preconceitos culturais , espirituais e sociais! O desemprego não é uma conseqüência da natureza. Nem a pobreza. Principalmente aqueles que pagam o caviar de quem são nobres por natureza, apesar de ser filho de empresário, que herdou a mais-valia. 

Não posso esquecer que Marx, não era marxista, era, antes de tudo, economista. Que hoje o capital fictício é lembrado por capitalistas que perderam sua indústria no mercado financeiro.
E que antes classificavam Marx como um isto diferente do deles. Infelizmente Marx é como Einstein, não porque são judeus, apenas porque ampliaram e aprofundaram a realidade para quem queira concordar ou não, a teoria da relatividade existirá como a mais valia. Tratam-se de conceitos, que ultrajados pela Ideologia tornam-se comuns ao bom senso e ao senso comum, para quem sobrevive dele, às custas de quem deveria lucrar com o seu trabalho!

Pag 26- 1968 – Um choque de gerações, mudou o mundo, e com ele nossa vida para sempre e eu não tinha nem nascido.








1968 menos de uma década antes de eu nascer. Um choque de gerações mudou o mundo, e com ele nossa vida para sempre. Esse foi o berço de minha geração e sociedade que gravou em nosso DNA e pele, novas atitudes mesmo que a erupção só venha depois e aos poucos em todas as suas formas e dimensões que assumimos diante a experiência de viver.

Foi a época do Fim da Guerra do Vietnam e de Nixon, do discurso e morte de Marther Luter King, dos jovens que pararam as Universidades, Paris e depois o mundo.Mostrando os quantos podem fazer “contra o enorme rol dos males do mundo... Porem cada vez que um homem defende um ideal , ou age para melhorar a sorte dos outros, ou protesta contra a injustiça, ele transmite uma minúscula onda de esperança e , cruzando-se umas com as outras, de um milhão de diferentes centros de ousadia e energia, essas ondas formam uma corrente que pode derrubar as mais poderosas muralhas da opressão e resistência” como disse Bob kennedy nesta época.

Esta geração rejeitava todas as formas de autoridade, uma época de inocência quase esquisita, aonde muitos jovens começou a freqüentar a universidade como agora no Brasil.Quando várias colisões de pacifistas, ONGS, Sindicatos, jovens se uniram em passeatas de milhares de pessoas. Contra os poderosos entre governos e grandes empresas como a Dow que fabricava o napalm usado contra civis e soldados no Vietnam.

Unidos pelos direitos civis, e a liberdade e igualdade dos negros e das mulheres além da luta pela Independência dos países colonizados. Como a Indochina, Vietnam, Argélia, Nigéria, a luta dos palestinos se popularizou em 1968, e a apartheid na África do sul começa a se tornar insuportável.

Nos EUA, França, Praga, Roma, México, Brasil .. Várias verdades foram enterradas pela juventude. Em 1968 para comemorar o nono aniversário da Revolução Cubana, um mural de 20 metros de altura foi colocado em Cuba com a foto de Che. Moscou começou a queda em sua economia e nos processos que investigaram assassinatos em Massa ordenados por Stalin e a cúpula comunista. A liberdade começou na Iugoslávia com Tito, depois Praga e Romênia começavam a derrubar a cortina de ferro.

Os computadores começavam a se multiplicar pelo mundo, veio a transmissão da TV por satélite, as roupas começaram a encurtar, o futebol a se expandir pelo mundo.
Depois de 1968 o mundo mudou ainda mais e com ele a vida de meus pais, minha infância e vida.

O tempo começava a passar mais rápido, ele exigia que avançássemos com a juventude, pois não sabemos ao certo quanto tempo temos. Não espere o final do meu diário, para ler as ultimas paginas, nem que a Bíblia se encerrasse com o Apocalipse...

A nossa preocupação constante com o fim ou com a morte é um bom sinal para não deixarmos a infância abandonada! Neste período construímos coisas importantes para a autenticidade de nossas vidas. Durante a juventude podemos canalizar, de alguma forma, para que nossa rosa não se cale e aceite o cotidiano como forma de viver.
Também não podemos cair na armadilha de tentar nos apropriarmos do passado e perpetuar a tradição, querendo com elas, impedir o futuro. O livre-arbítrio da infância deve ser animado, entusiasmado com as possibilidades que ele cria, com a liberdade que temos dentro de nós. A mobilidade de nos transformarmos amanhã, a partir da abertura que temos para construir novos significados para a vida.

Não podemos, desde criança, ficar a espera que as estrelas, sol e a lua despenquem do céu. É hora de contemplá-las antes que a morte chegue, quer seja estudando o cosmo ou escrevendo poesias sobre elas. Sendo que para isto acontecer, outros entes precisam cair, como os tronos abusivos de domínio e controle, que procuram determinar o modo das pessoas viverem suas vidas! Os que sustentam estes tronos são os ditos “Neo-Liberais”. Mais com certeza tais tronos cairão, pois o que hoje observamos as catástrofes, a destruição e as transformações não são tão somente acontecimentos conclusivos da história ou o “Fim do Mundo”: são processos contínuos que vão acontecendo todos os dias e não se tratam de “desgraças”, mas sim de conquistas, vitórias e novas etapas da caminhada humana, que mesmo através da dor e da morte, podemos torná-la num resgate à vida. Ninguém domina o ser da vida, segura o impulso de uma criança, a natureza, o amor, portanto, em vez de derrubar o sol, que caiam o egoísmo, o comodismo! É na infância que se aprende a dar as mão e sonharem juntos, celebrando a vida! A juventude começa a protestar em nome destes sonhos.

Pag 25- CONEXÃO GERAÇÃO JOÃO VICTOR- Carta de João Victor





Adorava Matemática tanto quanto música e depois que descobri filmes foi um amor eterno a primeira vista.Ainda hoje é o lugar que tenho paz completa, dentro dos cinemas, que deixo de pensar por um momento para obvio pensar no filme. Ela me tira do mundo, a Tv nunca conseguiu isso. Não me lembro dos meus super-heróis de infância que gostaria de ser eles, sempre me sensibilizei mais com histórias reais de vida, de pessoas, de conquistas.


Por isso tive que escrever as minhas próprias histórias e aos 6 anos escrevi um pequeno livro com contos infantis , fiz a capa artesanal e dei de presente para minha mãe .

A minha vida é marcada por turbulências de vez em quando, acho que para ajustar a direção do barco ou para que me dê tempo de refletir sobre as barreiras que encontrei no caminho, e aprofundar a visão de mundo e de vida, além do meu papel nesta jornada. Este livro foi escrito nestas passagens por portais aonde enxergamos lá na frente quando olhamos para trás.
Sempre fiquei doente acho que pela asma depois curada; se é que é possível pelo numero de injeções que tomei. E claro catapora, mas nunca quebrei nada nem um dedo, graças a Deus, isso é uma vantagem diante de tantas estripulias.

CONEXÃO GERAÇÃO JOÃO VICTOR- Carta de João Victor da Lua

A primeira parte deste livro/ DVD fala da infância de meu pai na sociedade onde ele nasceu , meus avôs, bisavôs .. Estas são minhas origens .

Parece que este livro é um manual de como encontrar o tesouro da vida com segredos e mistérios a desvendar através de poesias , histórias de um grupo de amigos,a biografia dele como incentivo para que eu escreva a minha história de vida, Manifestos que brilham as razões, Textos sobre o contexto da época aonde tudo acontecia, Projetos capazes de transformar a Sociedade em que vivemos, perguntas e reflexões para que eu possa pensar e responder os enigmas de minha vida e do mundo em que vivo.

Sou parte deste livro , ele continua com minha história. Ele esta sendo escrito on-line pela Internet em outra dimensão do tempo próxima a minha.

Vários amigos estão se unindo em Tribos . Eles estão em Busca de heróis , de Protetores , para entender a MATRIX da Sociedade em que vivemos, as gerações que nos antecederam, porque tudo isto faz parte do segredo de nossas vidas.

Eles estão nos convidando para sair da Lua e viver uma Jornada na Terra e salvarmos o planeta do Apocalipse. Libertando minha imaginação e compreendendo a realidade que vivemos. Destruindo as correntes , monstros e espaçonaves que nos preendem aqui na Lua para libertar nossos poderes de Protetores na Terra .

Vamos conhecer os Ecossistemas que mantem a vida na Terra e na Sociedade, a partir da vida que pulsa dentro de nós. Necessitamos ir em busca de uma Simetria pessoal e Sinergia social, implodindo os Franksteins que habitam o planeta, temos que ser sábios e ter coragem para encontrar as agulhas , perguntas e respostas, capazes de libertar o amor em nossa vida e na sociedade este que é o tesouro sagrado.

Nós somos os personagens principais deste filme na vida real. Este livro é uma forma de nos preparar para os desafios que enfrentaremos . Aproveitar nossas vidas não perdendo a oportunidade de ser, viver e revolucionar este mundo.

Evitar o Apocalipse, ser um herói , um PROTETOR.

O Futuro não existe , o futuro se cria hoje! Era uma vez.....Sincronizar com as poesias, o tempo zero à liberdade de ser, deixando de ser prisioneiros do passado em tempo real. Refletindo e respondendo as perguntas. Enfrentando a Ditadura do Silêncio e do Espetacúlo ao fazer as perguntas proibidas no deserto que vai florir , vamos desvendando os segredos e mistérios , a história desta história, sua Matrix!

Nas visitas ao museus fazendo arqueologias de quadros , tirando suas fotos , e gerando a fusão dos sentidos de nossa época. Encontrando os segredos dos significados das palavras nas redações, os personagens do livro numa brincadeira de esconde -esconde e momentos perfeitos como o circo. No Baú de nossa infância que viaja no mar da vida até a lua e de volta a Terra, tem nossa escola, o bairro e milhares de coisas além do horizonte para desvendar. E lógico muito perigo, medos a enfrentar, lugares obscuros de nosso passado e sociedade!
Aos poucos vamos abrindo os selos das profecias do Apocalipse , antes que Issac seja sacrificado por sua sociedade aonde amar é proibido.

Perguntas e Reflexões 2

De que é feito o seu baú? Que coisa e lembranças você guarda dentro dele? Onde estão aquelas fotos quando éramos crianças? e os amigos de infância que histórias você pode me contar ? Onde eles estão hoje? Lembra dos primeiros amores, brincadeiras, dos segredos e da sala de aula? Pode me contar algumas coisas que aconteceram com você na escola e em seu bairro? E as férias, aniversários, Natal, ano Novo? E sobre sua família, pai, mãe, tios, primos, baba, cachorros? Quem são os personagens da TV e do vídeo game que marcaram suas vidas e seus sonhos e poderes? Quais eram seus sonhos, o que pedia ao papai do céu? E as festas? E as turbulências e dasabores da Infância como foram, onde estão, o que fizemos com elas?

Pag 24- A Escola e o Bairro dois caminhos sem destino.




Na escola como todos adorava a lanchonete, mas guardava o dinheiro da merenda para comprar o meu primeiro brinquedo com meu dinheiro, um Banco Imobiliário, que fui comprar na loja com meu pai. Muitos amigos do tempo desta escola, o Ginásio Santo Tomás de Aquino, ainda são meu amigos até hoje. Quer seja a turma do futebol, das travessuras ou dos melhores da sala. Era um dos 4 que competiam saudavelmente pelas melhores notas porque sempre sentamos um ao lado do outro, eu , Leo ( Fez Administração comigo ) , Paulo Geovani ( hoje Juiz ) e Iran ( Engenheiro) eu continuo Isaac . Porem no futebol gostava de jogar com os melhores, entre eles, o Luizinho, sempre foi craque, ainda hoje.

Na turma das brincadeiras, que de vez em quando me fazia sentar na geral para fazermos algo inovador, nunca testado na sala de aula, me geraram alguns problemas. Conheci todos os diretores e coordenadores e algumas vezes fui punido. Tinha medo, mas a alegria dessas brincadeiras valia a pena. Entre elas : Quando conversarmos soube a professora ela escutou e pediu que disséssemos o que estávamos falando. Eu sempre fui muito sincero, tenho uma terrível paixão pela verdade, disse que era ela gostosa. Ela mandou eu ficar o resto da aula em pé em frente ao quadro, depois me acostumei é já tinha uma cadeira para mim me esperando. Na escola até a quarta série acho que me apaixonei por todas as meninas bonitas da sala: Adriana, Álida, Verônica, Lana Mara, não porque eram apenas bonitas mas eram mágicas em seus sorrisos , sua vozes, gestos , mas enfim eu não tinha chance. Ainda continuo fã da beleza do amor que estas meninas marcaram minha infância de algo puro e profundo, diferente do BBB.

O BAIRRO

Lembro-me que morava numa casa pequena perto da Igreja de Nazaré, era alugada, enquanto constrói a nossa, naquele terreno de meu avô. Não sei se lembro da circuncisão, mas deve ter doído. Tenho um irmão, o Junior, dois anos mais velhos que eu. Ele sempre foi apaixonado por lutas e artes marciais, às vezes testava nas portas para ver se abria mesmo fechadas. A gente não viajava muito, mas de vez em quando íamos a praia, ao Remanso e a Canindé, onde aprendi sobre Francisco de Assis. Lembro de ter feito colônia de férias e alguns passeios porque tem algumas fotos no Baú.

Meu pai viajava muito pelo interior e minha mãe tinha plantões no Hospital. Desde pequeno tinha uma baba, a Abinha, e o meu pano de dormir que tem uma equivalência hoje a um amor que você tem por um cachorro é inseparável. A Abinha sempre nos protegeu. Minha mãe é disciplinadora e me tornei organizado, disciplinado e trabalhador graças ao exemplo dela. Da mesma forma que meu pai era o equilíbrio entre as duas quando resolviam brigar por qualquer motivo, aos poucos fui assumindo este papel conciliador.

Meu irmão Gerardo Junior sempre foi muito parecido com meu pai, mas agitado que eu enquanto criança e jovem quando encontrava os amigos, por outro lado mais tímido com os estranhos. Ele não gostava de futebol, eu amo, a nossa parceria era igual a dos filmes em alguma aventura eu fazia reta-guarda, ele atacava principalmente a comida, ainda hoje..
Nunca tivemos muitas oportunidades de brincar com os primos a não ser nas férias quando viajamos ou num aniversário. Não deu para criar vínculos mais fortes, mas família é família, os mais danados quando se encontravam como meu primo Ricardo e prima Vivi valia a pena as aventuras.

Não sei se vocês se lembram da sua primeira comunhão, eu olho para foto, na época tinha 10 anos. Parece que estes rituais não marcam tanto apesar da sua importância.
Em meu bairro adorava brincar com os meninos da rua de futebol, estourar rasga-lata na lixeira e caixa de correio dos outros, organizava as olimpíadas com várias competições e partidas de videogame até amanhecer pela segunda noite.

Nossa casa tem a frente na Avenida e as costas por aonde entra os carros na rua de trás , juntando com a de meu primo , Emilio, elas se ligam até o outra rua do lado, que sai na casa do Luís e do Paulo, a única com piscina da turma . Pense no circuito de Mônaco, pense na confusão. Ainda bem que o máximo que fazíamos era a guerra entre o Irã e o Iraque com a pronta intervenção dos EUA , nossos pais.

Pag 23- O Baú da infância.


A infância é como um Baú guarda várias coisas e lembranças dentro dele ; para de vez em quando abrir.

Eu nasci em 23 de março, o meu filho no dia 15 de janeiro de 1997. Eu ele as 7horas, 7 minutos e 7 segundos.

Quase não saia da barriga de minha mãe , era muito confortável. Não sei se Freud explica, mas não lembro muito quando era pequeno, até os seis anos. Porque o que vem na memória é o Jardim de infância e a tia Vera. Recordo-me chegando na sala, o lugar de guardar a lancheira e os brinquedos. Recordo-me de ter que tomar vacina na farmácia perto de casa e sair correndo driblando a todos e um extremo pavor pela dor que sempre tive mesmo minha mãe sendo enfermeira.

Neste baú tem muitas roupas que vesti e achava bonito por mais simples que fossem é que nunca me importei com a moda, a roupa para mim sempre foi uma mensagem. E as minhas era o que hoje chamam cool , adequadas a ocasião. Lembro-me que tinha umas camisas que queria vestir todos os dias porque as meninas ficavam olhando para ela principalmente quando tinha uma mensagem do tipo me arrumei para você.

Muitas vezes tinha que me arrumar porque eu lia a primeira e a segunda leitura na missa de domingo na capela de minha vô. Até hoje não sei de quem foi à idéia ou se me ofereci, mas foi muito importante para mim. Tinha momentos únicos de conversa com meu pai do céu (Deus ) , desde criança repito sempre a mesma oração “renovo contigo o pai, a aliança de construir a tua terra, à Terra da Sabedoria” a maior parte ajoelhado seguido de pais-nossos, ave-marias, credos e uma conversa diária com ele.

O nome Terra da Sabedoria me veio num sonho, não consegui acordar dele, era como se fosse o final do mundo, ficava angustiado, pois o que via não era apenas destruição, mas o fim da vida da forma como conhecemos e nos habituamos.Porém no final tive uma paz absoluta como se dissesse tem que atravessar esta ponte mesmo não sabendo o que está do lado de lá, caminhe, e foi o que fiz. Quanto mais caminhava mais a felicidade e a paz preenchiam minha alma, meu coração quando acordei palpitava. Sabia que tinha sonhado, mas tinha sido real compartilhar aquele momento. Estes são os primeiros dias da Terra da Sabedoria. Quanto conheci minha primeira namorada de fato aos 16, já havia alguns anos que planejava minha vida e a Terra da Sabedoria. Ninguém acreditava, ninguém ouvia, mas muitas oportunidades foram acontecendo e eu nunca tive dúvidas que esta era minha missão de vida.

Uma das minhas principais orações se realizou também; pedia a meu pai que me desse um boa namorada, bonita, uma grande mãe, inteligente, feminina e amiga. Foi minha primeira namorada Virginia , que namoramos 7 anos e ficamos cassados 7 . A mãe de João Victor. Porém isso vem bem depois...

Antes dela me apaixonei perdidamente por uma paranaense Samantha Senter, seu pai era do exercito e tinha mudado para Fortaleza. Ele, o pai dela, era o terror do bairro, tinha fama de valente. Criei coragem para me aproximar dele e da Tia Rachel, para assim ter á permissão de brincar com ela na sua casa e na rua. Samantha era mais corajosa que todos os homens da rua, brigava, mandava em todo mundo, mas como seu pai tinha um coração mágico de bondade. Ficamos tão próximos que nos chamavam de irmãos , viajamos juntos, fazíamos as refeições juntos, e brincávamos de tudo até amanhecer . Eu a protegia, sua irmã Cíntia, e tia Rachel dos ladrões e cururus quando Lineu não estava em casa. Inclusive tinha que criar coragem par imitar os Menudos numa festa que fizeram para ela, para poder cantar “ Quero Ser “ Esta foi uma das primeiras festas que organizamos com direito a boate e tive que apreender a ser DJ, mas adorei. Aquelas luzes, fumaças misturadas com batidas de dance, muito rock e música lenta são inesquecíveis. É tanto que quando jovens eu e meu primo Emilio montamos uma empresa de som . A WAR SOM e fizemos muitos bailes e festas em colégios da cidade.

Sempre estava e encontrava os amigos do bairro na rua , entre nossas brincadeiras, nas festas e depois na missa. Imaginamos que poderíamos criar uma Associação de Jovens do Bairro Aeroporto ( AJA ) . Nasceu assim nossa primeira ONG , a AJA com projetos e estatutos discutidos depois da missa em reunião na Igreja. Durante a missa convidávamos os jovens a participar do grupo que além de organizar a missa, fazer as leituras, coletas era a juventude católica.Participávamos de eventos maiores dos casais com nossas Barracas e doações.
Depôs começamos organizar um conjunto de festas nas casas de nossos pais em rodízio, campeonatos esportivos e um campeonato de Surf na Lagoinha.Fizemos a viagem de ônibus até a casa de praia dos pais de Fauber, quando chegamos lá um dos garotos , o Lulinha , que hoje mora em Miami queria comer a comida sozinho. O Edmar Junior, outro amigo, que há 20 anos lutamos juntos na área social, fez questão que ele comesse tudo para nunca mais ser fominha.
Um dos mais valentes e agitados da nossa turma era o Marco Aurélio que depois de anos ganhou o campeonato mundial de vale-tudo. Só tinha estrela e artista. Com esta turma éramos muito convidados para festa de 15 anos mesmo que a aniversariante não soubesse, inclusive na festa de 15 anos da Virginia, minha primeira namorada. Um dia quando voltávamos da primeira comunhão andando na rua, uma senhora que dirigia um buffet disse que estávamos atrasados, e nós os garçons pela roupa que usávamos já eram para estar servindo a bastante tempo. Não tem problema uma bandeja para lá, outra para cá, levamos o bolo para casa.

Pag 22- Lições de Issacs





Outras lições iriam apreender na escola! Lições de Isaacs .


Ao acordar pela manhã mais uma vez para ir a aula, sentia um grande desconforto, ou melhor, insegurança. Sabia que naquele dia aprenderia mais alguma coisa e esse aprender mudaria mais uma vez a minha vida...

Lembrava que a primeira vez que tive a consciência de que aquele lugar onde brincava, longe de minha casa, era uma escola, foi quando comecei a aprender a ler e escrever. Como para qualquer pessoa, aquilo era muito importante, pois até então apenas escutava a fala das outras pessoas e nada do que eles faziam ou pensavam quando estavam lendo ou escrevendo. Queria além de ler e escrever, saber os significados das palavras que as pessoas escolhiam para falar, pois assim conheceria muito mais sobre elas. Neste ponto, minha professora Rita tinha um truque especial...

- Bom Dia, crianças! Exclamou Rita!
- Bom Dia! Todos responderam
- Hoje vamos ter uma aula diferente. Precisamos ampliar nosso vocabulário. Tudo Bem?...
- Tudo Bem, respondemos...
- Mas afinal o que é “tudo bem”, para vocês? Indagou Rita...
- O silêncio ficou no ar. Pela primeira vez na vida daqueles alunos eles pensavam um pouco sobre o que falavam sem pensar.
Começavam a despertar para o mundo e a perceber que às vezes ou quase sempre fazemos coisas apenas como mero ato de repetição...
A professora continuou...

- Pois Bem, eu vou escrever uma palavra e gostaria que todos vocês escrevessem uma redação tendo por tema o significado desta palavra. Certo? Depois eu vou pedir que alguns de vocês venham até aqui para ler suas redações. De preferência aqueles que tem atribuído significados diferentes a esta mesma palavra. Não quero que vocês imaginem nada, apenas escrevam o quanto puderem sobre o significado desta palavra para vocês! A palavra é justiça! Vocês têm 25 minutos!

O tempo é relativo, todos nós sabemos! Isto significa que naquele momento, o que demoraria 25 minutos, poderia tornar-se uma realidade absoluta durante toda a vida de Isaac. Assim começava aquele ritual de compreender os significados das palavras, a partir dos valores de quem as expressa, do seu projeto de vida e de como vê o mundo. Enfim de sua ideologia marcada por demasia pelo lugar ou esconderijo que ocupa e por seus atos. Assim poderia ver naquele momento e, em especial, o significado para aquelas crianças do que era justiça.
Poderia ser verdade, beleza, liberdade, ética, se saísse da mesma boca, como, por exemplo, da de Isaac, teriam quase sempre o mesmo significado, pois o seu projeto de mundo, os seus valores que davam sustentáculo às suas palavras era concreto, integrado, múltiplo e consistente em seus atos!

Ao final do tempo, iríamos esboçar uma pequena noção daquela palavra, fruto da nossa infância. Era este o inicio da busca que empreenderíamos durante toda a nossa vida.
Buscamos significados, para as palavras que consideramos mais importantes para as nossas vidas. Durante a juventude passaremos da noção para o conflito de significados, que enquanto crianças representavam sonhos e agora a realidade gera conflito de valores. Nós e o mundo objetivo, o que existe e o que podemos criar, o que aceitamos e não aceitamos, a fé para mudar...

Como adultos já não definiremos as palavras, mais as nossas vidas! Pois a palavra terá se transformado em conceito do sistema de vida que levamos e do qual temos uma lógica de idéias que carregamos conosco pelo labirinto da verdade. Mais já diziam alguns filósofos: “a verdade é a perfeição!” Alguns artistas, como Renato Russo, afirmavam: “Sonhos vem, sonhos vão o resto é imperfeito”.

Lá estavam eles na sala de aula com a professora Rita, quem seria o primeiro a ler a sua redação?

Michel se levantou e pediu licença para começar. Adiantou que havia pensado mais que escrito e não podia falar muito sobre justiça, poderia dar exemplo do que havia analisado como atos justos.

Lembrou-se do que havia feito Salomão, quando duas mulheres se diziam mãe de uma mesma criança. Salomão viu que não conseguiria descobrir a verdade, para assim fazer justiça, se não usasse da seguinte estratégia. Anunciou que cortaria a criança ao meio. Neste momento, a mãe verdadeira entregou a criança à outra mulher, afirmando que preferia que a criança ficasse com ela. Assim, o rei descobriu a verdade e fez justiça, deixando a criança com a verdadeira mãe, a que provou seu maternal amor. Mesmo que para isto entregasse seu filho, impedindo-o de morrer! Observamos com esse fato que a justiça é uma palavra vazia, que necessita de fatos, sentimentos, para que ela possa ganhar conteúdo e nada pode defini-la previamente.

Puxa que legal! Levantou-se Bin, mais o meu significado é diferente e minha história também. Todo domingo vou à Missa com os meus pais. Lá na Igreja se fala muito sobre a justiça de Deus! A qual acredito, por exemplo, todos nós já ouvimos falar sobre a arca de Noé, que garantiu a sobrevivência de nossa espécie, para que a justiça de Deus fosse feita, a Terra, foi inundada através do Dilúvio, que matou toda a vida humana, com exceção daqueles que estavam na Arca. Eles não seguiram os Mandamentos de Deus, e fizeram todos os males, os quais Deus puniu com a sua justiça, ou seja, a sua vontade!

Todos já estavam bastante interessados no assunto, pois além das histórias serem interessantes, os nossos maiores interesses era descobrir qual o significado que cada um dos colegas daria à palavra justiça!

A professora Rita levantou e pediu que Nicolau lesse a sua redação! Nicolau em tom solene com voz alta como sempre. Iniciou o seu discurso ou sua redação!

“Bem, lá no edifício em que moro, existe uma quadra de futebol, onde jogamos bola todo final de tarde. É sempre uma confusão para ver quem joga primeiro. Tomei a iniciativa de definir a regras. Agora jogam primeiro, os mais velhos, em caso de empate quem tiver chegado primeiro. Como podem perceber foi feito justiça. Eu, por ter ajudado a organizar, controlo para que tudo aconteça dentro das regras e ninguém seja injustiçado! Justiça é poder definir regras que facilitem o nosso convívio”.

Muito bem Nicolau! Parabenizou David que estava sentado ao seu lado e falou.
- Professora posso ler o meu? É bem pequeno mais fácil de entender.

- Pode ler, David.

“Bem! Recentemente economizei cinqüenta reais de minha mesada e comprei todo de material para fazer travinhas de futebol, mas não tendo tanta habilidade para fazer isto e nem tempo, contratei alguns meninos pobres que moram lá perto de casa, para que fizessem o serviço. Se fizessem dez travinhas, daria uma a eles e esses aceitaram! Foi a maneira que encontrei de ser justo com eles, recompensando o seu trabalho. Vendi as outras nove e ganhei cem reais, fui justo comigo também!”

Foi neste momento, que Isaac resolveu falar, também queria dar a sua contribuição, porém não tinha escrito nada, só observava, sentia, tentava entender o que acontecia naquela sala e assim começou a falar...

Bem, muito do que vocês falaram até agora é bastante polêmico, fiquei com algumas dúvidas sobre o que é justiça. Eu, por exemplo, já rasguei a minha redação duas vezes, pois quando começo a pensar e a escrever sobre justiça só consigo lembrar de meu pai me levando ao circo e minha mãe me beijando. Não sei explicar, apenas sinto que são momentos que vejo a justiça de perto. Quando minha mãe me beija e me acaricia, sinto que para mim e para ela, aquilo que estamos fazendo é bom. Nós dois concordamos que o beijo, o carinho nos agrada e nos faz felizes! Eu não conseguiria explicar, mas apenas dizer que a justiça é algo muito próximo do amor pelo outro, como amamos a nós mesmo só podemos dizer se algo é justo, quando podemos sentir na pele do outro, a nossa atitude... É assim que vejo justiça...

Todos ficaram quietos, o silencio invadiu a sala. Nem ao menos ficamos tristes ou alegres com suas palavras, foi como estivéssemos ouvindo algo que já sabíamos!

Depois Amy, com sua voz suave, falou que justiça era a beleza! Onde esta predominasse, se estaria fazendo justiça! Ela começou a citar o último livro que estava lendo: “Peter Pan”, que enfrentava todos perigos, o capitão gancho e vencia! Considerando que Peter Pan era belo e jovial, todos queriam a sua vitória. A vitória dele era justa como a de “Robin Hood”, que, apesar de ser assaltante, ajudava os pobres! Isto são belos, eles e seus feitos. Todos querem ser Robin Hood e Peter Pan. Não é verdade? E se eles fossem feios e não vencessem, vocês queriam ser eles? A justiça é o belo!

Renata ficou calada. Ela nunca havia pensado em justiça, sempre fez o que quis, o que lhe desse mais prazer ou que dissessem que daria. A idéia de justiça não estava muito presente em suas aventuras, afinal roubar a goiabeira da vizinha, era atraente, pelas goiabas e pelo perigo. Brincar do jogo do copo poderia não ser justo com os espíritos, mas ela queria conhecer esses limites. Descer com sua bicicleta em alta velocidade, pela ladeira, sem parar para atravessar a rua era emocionante, justo demais pela adrenalina que extravasava. Para ela só quem corre todos os riscos é justo. Isso ela contou a mim, depois disse que iria causar muita polêmica e seu ouvido preferia ter prazer escutando musica alta a conselhos da professora! Ligou o seu walk-man e fez que ouvia aquele debate!

Não achávamos precipitada essa infância muito intelectual, você não imagina o que as crianças hoje estão fazendo. Elas se forem bastante estimuladas, quebrarão os limites que antes chamávamos de épocas das brincadeiras, mas a maioria dos adultos brinca mais com a vida, a sua e a dos outros, do que quando criança! E o pior, acreditam que é coisa seria, que não esta brincando...

Esse velho diário já me dizia: “O juízo final pode ser apenas uma criança sozinha escolhendo os seus melhores brinquedos”. E quanto uma educação critica e criativa faria diferença sobre a formação de Isaacs e o poder da liberdade de construírem sus mundos.

Como esta frase “O juízo final pode ser apenas uma criança sozinha escolhendo os seus melhores brinquedos” existem outras todas soltas, escritas esporadicamente entre uma pagina e outra.

Fico surpreso porque ao escrever sobre a minha infância, elas acabam se encaixando perfeitamente sobre o que estou falando. Parece que o e-book, o baú e o mar que abrigaram durante muito tempo esse diário, deram-no vida. Ele fala por muitas gerações que virão e, um dia, voltarão ao mar! O método e o ritmo que seguimos é o da vida, ora poesia, manifestos, perguntas, reflexões e histórias a contar...

Pag 21- O CIRCO








No circo da vida num encontro entre um espetáculo e outro as gerações conversam rapidamente, as minhas brincadeiras com as de meu filho se misturam em nossas infâncias. É como se ao ser pai Deus nos dá a oportunidade de voltar a ser crianças e as mães de reencontrarem aquela boneca que tanto amavam e cuidavam, com a magia e o brilho do sorriso de uma criança.


O esconde –esconde e sua busca por perfeição ao descobrir alguns sentidos da vida reverbera em meu futuro presente como pai e no presente futuro de meu filho em sua jornada aqui nesta Terra.

Uma música sempre me marcou profundamente o refrão diz” há o mundo sempre foi , um circo sem igual, aonde todos representam bem ou mal, aonde a farsa de um palhaço é natural . Há no mundo da ilusão entreguei meu coração” Era um retrato da geração de meus pais e da minha , não gostaria que continuasse sendo a de meu filho. Um novo significado para o circo deve brilhar em sua memória.

Lembro-me que a noite, quando o João Victor ia dormir , quando tinha cinco anos, sonhava com palhaços, mágicos, acrobatas, bailarinos... certas noites acordava e continuava sonhando, acordado...

Ele Levantava bem para me contar , o quanto eu tinha colorido seus sonhos com minhas histórias , brincadeiras e ideias. Falava dos palhaços e da alegria que proporcionavam ao seu coração! Imitava os acrobatas em suas estripulias, fingia ser mágico escondendo as roupas de sua mãe...

O sonho era tão intenso e real, que naquele dia, antes de ele dormir, fui até a sua cama e pedi que ele fosse de carro comigo bem ali, logo estariamos de volta.
- Mais pai estou morrendo de sono, respondeu
- Não tem problema, você dorme lá...

Entrou no banco de trás do carro e lá se pôs a dormir. Eu continuei a percorrer meu caminho. Por algum motivo sentia que aquele momento merecia uma história , um livro , era a autobiografia de diálogos entre gerações.

Meu avô e pai também não conseguiriam encontrar algum pintor famoso que o já tivesse pintado, o que logo iria acontecer. Desta vez, não se tratava de nenhum momento histórico ou bíblico, mas, sobretudo, dos objetivos eternos pelos quais estes momentos significam a vida.

Tratava da busca da felicidade, da vida, da perfeição e se nós não poderíamos mudar o mundo, como tantas vezes idealizamos enquanto jovens, poderíamos mudar o mundo de meu filho, construindo um momento repleto de felicidade. Em cada passo que dava até o circo, sentia que também estava conquistando a felicidade de meus pais, ao construir a felicidade de meu filho. Colocava neste mundo alguém que veria a vida com outros olhos. Se meu filho se acostumasse a viver seus sonhos, tornando-os realidade, amanhã teria forças para construir sonhos maiores.
- Acorde filho chegamos!

Ele só conseguia ver os palhaços, os mágicos, os trapezistas todos estavam lá. Era fantástica, a luz, a gargalhada da criançada, seu coração batendo, até hoje ele não sabe ao certo se foi sonho ou realidade. Pois quando acabou o espetáculo, dormiu! Mas isso não importa, é até bom confundirmos sonhos com realidade. Porque só assim, quando quisermos, saberemos transformar sonhos em realidade. E nunca deixaremos de acreditar neles, o mundo será o palco da vida espetáculo que construiremos. Graças a este dialogo entre gerações pela arte aprendemos estas lições!

Pag 20- BRINCANDO DE ESCONDE-ESCONDE: ENCONTRANDO AMIGOS





Durante a infância, formei meu grupo de amigos, bem diferentes cada um em suas posturas diante do mundo. Era essa diversidade de propósitos, que me atraía. Queria compreendê-los em seus mundos, em suas certezas, para que pudesse construir o meu... Era a estrela, a rosa que falava mais alto dentro de mim, que guiava minhas jornadas desde a infância...


A nossa brincadeira preferida era o esconde-esconde. Toda vez que brincávamos, era uma verdadeira descoberta. Em cada lugar que achávamos para nos escondermos tinha um pouco, de quem nós éramos, como na sociedade de hoje cada um com seu lugar, no seu quadrado e seu papel, escondendo dos outros as conseqüências e significados de suas atitudes.

Às vezes, as brincadeiras dão um salto no futuro, para falar dos lugares que haveríamos de nos esconder neste mundo moderno, este que se assemelha muito à casa sombria de minha tia, onde brincávamos de esconde-esconde e em cada amigo que encontrava seu esconderijo, revelava-se um personagem de minha historia. A angústia de ser descoberto a qualquer momento é talvez o principal medo que carregamos; que nossas brincadeiras se tornem realidade!
Eu sempre fui escolhido para procurá-los. Continuaria fazendo isto durante a juventude e enquanto adulto...

10, 9, 8, 7, 6 ,5, 4, 3, 2, 1. Lá vou eu! Espero que todos estejam bem escondidos: e não esqueçam! Um gordo não se esconde em lugar apertado, nem medrosos no escuro... Nós poderemos ser salvos. Se eu achar um de vocês e correr para o bastão da vida, é só gritar PERFEIÇÃO. Se um de vocês não me acharem também poderão sair de seus esconderijos, irem até o Bastão da vida e também gritar PERFEIÇÃO. Não existem ganhadores ou perdedores, o tesão dessa brincadeira é que ou salvamos a todos, ou viveremos na escuridão, a ausência da luz, a ausência de Deus...

Michel gostava de se esconder na Biblioteca, atrás dos livros! Seu pai era médico ele amava filosofia. Apesar de ser magrinho, branquinho, já usava óculos, se esforçava para subir as prateleiras e ficar lá em cima, longe da ignorância, até que no futuro Foucault desceu e brincou de lutar nas ruas por suas idéias. Os livros à sua frente garantiriam mais segurança de que não seria encontrado e pelos livros encontraria o verdadeiro papel do saber em nossa sociedade e nossas instituições. Mesmo que fosse encontrado seria um dos últimos, pois a Biblioteca, por seu ar sombrio intimidava as pessoas de irem lá! Ele tinha alergia a poeira e talvez a única forma de encontrá-lo no meio de tantos livros, fosse despertar sua alergia! Sempre que ia à sua procura, levava um espanador e fazia com que a natureza o entregasse. Com isto, seus espirros, se davam cada vez mais altos, me apontando o lugar onde estava e os livros nos ajudariam a subir no bastão da vida e gritar: Perfeição!

Nicolau, um fã da CIA, gostava de se esconder entre pessoas e de procurar imitá-las para que não fosse encontrado, podendo confundi-lo. Se suas palavras serviam de esconderijo, seus atos permitiam que pudéssemos vê-lo, pois nunca seguia os rumos de suas palavras era só procurá-lo no sentido inverso, como era amigo íntimo de David, filho de um grande industrial, estava sempre próximo a ele, perto do luxo do quarto de minha tia, mas procurava imitar o jardineiro, como se estivesse ali, trabalhando, fazia voz de cansaço, que enganaria até os mais céticos! Já David, não se escondia, gostava de ficar deitado na cama de minha tia, comendo pipoca, assistindo TV, até que eu o encontrasse e pedisse para que ele dividisse sua pipoca com os outros, pelo contrário, ele se escondia para comê-las sozinho. Michel, Nicolau e David, só faltavam três!

Como podemos observar, Michel seguirá futuramente sua carreira em Educação, Nicolau será político, David trabalhará no mercado financeiro. Todos envolvidos em uma sociedade de heroísmo e traição. Uns idealistas tentarão salvar a Grécia, a modernidade, outros se adaptarão às circunstâncias, será que o juízo final vencerá mais uma sociedade?

Existiam também aqueles que por concordarem com o mundo que ai está, reafirmavam suas condições objetivas através de seus atos! Renata gostava de buscar como esconderijo lugares perigosos, ela sempre dizia que não fazia isto para dificultar encontrá-la, apenas pelo prazer do perigo! Se havia na casa, algum local perigoso ela já conhecia todos... , Bin sempre muito calmo e sublime, buscava a paz em seus esconderijos. Lá estava ele, em cima da árvore contemplando... Lá estava ele numa caverna para fugir deste mundo ou próximo ao silêncio da varanda...Esse até agora nunca encontraram. Era necessário além de falar que foi encontrado, tocá-lo, às vezes acordá-lo de seu mundo distante! Amy tinha por seu esconderijo ela mesma, gostava de se maquiar, pintar-se, usar perucas, trocar as roupas com as de minha tia, se fazer de estátua, como um quadro a se confundir com a paisagem. Era a mais difícil de achar, pois ela não estava buscando se esconder, em sua naturalidade transformava-se em sonhos e desejos. Sempre quebrando as impossibilidades. É com ela, que os outros descobriam novos lugares, novas formas e até mesmo determinada coisa ou assunto, vistos sob vários ângulos.

Como disse no início o objetivo da brincadeira, como também de nossa infância, era construir momentos que tocassem o bastão da vida e pudéssemos gritar: Perfeição! Muitos estão agora se interrogando: o que são esses momentos de perfeição? Essa palavra tem muitos sentidos talvez um deles seja sonhos que se realizam.