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quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Lula diz que conversa com Trump será 'civilizada': 'Pintou química mesmo'

 

Lula

Crédito,ANGELA WEISS/AFP via Getty Images

Legenda da foto,Lula deu coletiva de imprensa nesta quarta-feira
    • Author,Giulia Granchi e Leandro Prazeres
    • Role,Enviados especiais da BBC News Brasil a Nova York

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quarta-feira (24/9) que espera que a possível reunião que terá com o presidente dos EUA, Donald Trump, aconteça "logo", "como dois seres humanos civilizados" e sem que haja "espaço para brincadeira".

Na terça-feira (23/9), durante seu discurso na Assembleia Geral da ONU, Trump disse que o presidente brasileiro é "um cara legal" e disse que os dois mandatários devem se encontrar na próxima semana, sem especificar como ou onde.

Respondendo a uma pergunta feita pela BBC News Brasil sobre se teme algum tipo de "constrangimento", Lula declarou que está "muito otimista com o encontro".

"Trump faz 80 anos em junho do ano que vem. Eu faço 80 anos em outubro desse ano. Não há por que ter brincadeira numa relação entre dois homens de 80 anos de idade. Eu vou tratá-lo com o respeito que merece o presidente dos Estados Unidos, e ele certamente vai me tratar com o respeito que merece o presidente da República Federativa do Brasil", disse Lula.

"Acredito muito no poder da palavra, tenho interesse na conversa e espero que aconteça logo."

O presidente brasileiro declarou que o encontro pode ser público e, inclusive, presencial, mas não definiu uma data nem respondeu se irá voltar aos EUA.

Lula disse ainda que teve a "satisfação" de encontrar Trump por alguns segundos na sede da ONU em Nova York e que os dois têm "muito a conversar".

Respondendo a jornalistas, o presidente disse que, para ele, não há "veto" sobre assuntos que podem ser debatidos entre os dois.

Lula mencionou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe, dizendo que isso "não está em jogo".

Sobre o que poderia estar na mesa de negociação, o mandatário brasileiro mencionou os minerais de terras raras.

"Queremos discutir com mundo inteiro nossos minerais críticos, queremos que empresas que queiram explorar vão para o Brasil", disse Lula, reforçando que as companhias interessadas devem realizar o processo industrial no Brasil e não apenas exportar os minérios.

"Tenho lido bastante. Estou estudando pra ninguém me enganar", brincou o presidente.

A 'química' entre Lula e Trump

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O presidente Lula também lembrou diversas vezes na coletiva a frase que Trump disse em seu discurso na terça, de que houve uma "química excelente" entre os dois.

"Fiquei feliz quando ele disse que pintou uma química boa entre nós."

"Eu acho que pintou uma química mesmo", completou Lula.

"Acho que relação humana é 80% química, 20% emoção. É muito importante essa relação, torço para que dê certo. O Brasil e EUA são duas maiores democracias do continente, temos muitos interesses comerciais, industriais, tecnológicos e científicos."

"Se somos duas maiores economias e países do continente, não há porque Brasil e EUA vivam momento de conflito", completou Lula.

Lula disse ainda que a possível reunião pode "acabar o mal-estar na relação que tem hoje."

Segundo o presidente brasileiro, o encontro pode fazer com que Trump repense medidas tomadas contra o Brasil.

"Acho que ele está mal informado em relação ao Brasil e isso tem o levado a tomar decisões que não aceitáveis a dois países com relações diplomáticas há mais de 200 anos. Acho que, quando tivermos encontro, tudo será resolvido, Brasil e EUA viverão em harmonia e quimicamente estáveis", disse Lula.

Encontro com Zelensky

Nesta quarta, antes da coletiva de imprensa, Lula encontrou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, após um longo período de negociações entre os dois governos.

Na saída, apenas Zelensky falou à imprensa. O líder ucraniano disse ter gostado do "sinais vindos do Brasil". "O presidente Lula me disse que fará o possível para levar a paz para a Ucrânia."

Aos jornalistas, Lula disse que a conversa foi muito importante porque a "guerra começou com dois países achando que um ia ganhar do outro rapidamente".

"Ninguém tem coragem de falar ainda, mas acho que as pessoas já sabem o limite de negociação", disse.

O presidente disse que falou ao ucraniano sobre a proposta da criação de "grupo de amigos", países que querem construir a paz e podem visitar Ucrânia e Rússia, com suporte da ONU.

"Senti o Zelensky com muito mais vontade de conversar do que em outras reuniões", declarou Lula.

"Disse para o Zelensky que vou me esforçar, conversar com quem eu puder conversar, inclusive conversar com o Trump. Eu sei que ele é amigo do Putin, eu também sou amigo do Putin. Então, se um amigo pode muita coisa, dois amigos podem muito mais. Quem sabe nossa química pode ser levada para o Putin e para Zelensky para a gente construir aquela saída que parece inesperada."

Discurso de Lula na ONU na terça

Na terça-feira (23/9), Lula e fez um discurso afirmando que o multilateralismo "está diante de nova encruzilhada" e que a autoridade das Nações Unidas está em xeque.

Lula defendeu maior participação dos países do sul global em questões internacionais, como a guerra da Ucrânia.

"A Iniciativa Africana e o Grupo de Amigos da Paz, criado por China e Brasil, podem contribuir para promover o diálogo", disse. "A voz do Sul Global deve ser ouvida."

Sobre conflitos globais, Lula afirmou que "nenhuma situação é mais emblemática do uso desproporcional e ilegal da força do que a da Palestina".

"Os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sob qualquer ângulo. Mas nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza."

O presidente também falou sobre mudanças climáticas e a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorre em novembro no Pará.

"Em Belém, o mundo vai conhecer a realidade da Amazônia", disse Lula. "Será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta."

Sem citar o governo de Donald Trump, que falou em seguida ao presidente brasileiro, Lula criticou "sanções arbitrárias" e "intervenções unilaterais".

No início de julho, Trump anunciou em suas redes sociais a taxação em 50% de produtos brasileiros, justificando para isso a suposta "caça às bruxas" a que Bolsonaro estaria sendo submetido na Justiça brasileira.

Cerca de 700 produtos acabaram depois isentos da taxação.

Também em julho, o governo Trump anunciou a abertura de uma investigação comercial contra o Brasil, mirando em vários assuntos, do Pix ao desmatamento.

Em seu discurso, o presidente brasileiro disse que a condenação de Jair Bolsonaro (PL) por golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é um "recado aos candidatos a autocratas do mundo e àqueles que os apoiam".

"O Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis."

O presidente falou sobre o autoritarismo e a soberania. "O autoritarismo se fortalece quando nos omitimos frente à arbitrariedade", afirmou. "Seguiremos como nação independente e povo livre de qualquer tipo de tutelas."

Na segunda-feira (22/09), o Departamento de Estado americano anunciou que a advogada Viviane Barci de Moraes, mulher do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, seria punida pela Lei Magnitsky.

A aplicação dessa lei é umas das punições mais severas disponíveis contra estrangeiros considerados pelos EUA autores de graves violações de direitos humanos e práticas de corrupção.

Lula discursa na Assembleia Geral da ONU em 2025

Crédito,REUTERS/Mike Segar

Legenda da foto,Lula abriu a Assembleia Geral da ONU com crítica à guerra em Gaza, às tarifas de Trump e ao enfraquecimento das Nações Unidas

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