Abrimos nossos mercados, nossos recursos e nosso potencial com a promessa falsa do progresso. Chegam empresas de outras praças, muitas vezes com isenções generosas, TIK TOK, e ocupam os espaços de maior lucratividade e inovação. O resultado? As melhores oportunidades, os cargos de liderança, os salários dignos, ficam com quem vem de fora. Para o cearense, sobra o subemprego, a prestação de serviços terceirizados e a sensação de ser um estrangeiro em sua própria terra. Transformamo-nos em espectadores de um desenvolvimento que não nos inclui, consumidores de um crescimento que não nos nutre.
E enquanto o capital se concentra nas mãos de poucos, a vida de nossos jovens é drenada por um sistema perverso. Matamos nossos futuros engenheiros, artistas, professores e médicos, não apenas pela violência pontual, mas por uma estrutura que os empurra para as margens. O tráfico, alimentado por demandas nacionais e internacionais, floresce no solo fértil da falta de perspectivas. É um genocídio silencioso e rentável, que transforma dor em cifras e luto em lucro, enriquecendo cadeias criminosas que muitas vezes se entrelaçam com o poder estabelecido.
No centro deste teatro macabro, a corrupção e a lavagem de dinheiro encontraram no futebol um palco perfeito. O esporte que deveria ser alegria pura, identidade e catarse coletiva, virou instrumento de branqueamento de reputações e capitais duvidosos. Bilionários, oligarquias corrompidas e tecnocratas — os modernos "capitães do mato", que em vez de capturar escravizados, capturam o erário e a esperança do povo — financiam suas falsas alegrias com a tristeza profunda que semeiam. Sua celebração é um espetáculo vazio, um Carnaval de ilusão pago com o suor e o sangue cearense. Eles compram times, estádios e vitórias efêmeras, enquanto a base, a formação, o protagonismo local, são negligenciados e menosprezados.
Essa negação do protagonismo é o cerne da nossa tragédia. Roubam de nós o direito de ser os autores de nossa própria história, no futebol, na economia, na política e na arte. Nos ensinam a admirar o que vem de fora e a desprezar o que brota do nosso chão. As verdadeiras alegrias, aquelas duradouras e libertadoras, não são importadas nem baixadas de cima. Elas são construídas de baixo para cima, a partir do reconhecimento de nossa própria capacidade.
A verdadeira alegria está no talento do jovem da periferia que joga bola não para ser vendido como mercadoria, mas para representar seu bairro com orgulho. Está na economia solidária, nos empreendimentos locais, na valorização da nossa cultura, do nosso caju, da nossa rede, do nosso humor ácido e resiliente. Está na política feita não como trampolim para o enriquecimento ilícito, mas como ferramenta de organização e luta por direitos. Está na arte que emerge das quebradas, dos sertões e das praias, contando nossas dores e nossas belezas sem filtros estrangeiros.
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