SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Questão do ENEM: Onde estão os nossos melhores Alunos? As Revoluções Necessárias

 




A pergunta "onde estão os melhores alunos das turmas onde estudou?" vai muito além da curiosidade superficial. Ela revela um contraste fundamental entre o progresso tecnológico e o desenvolvimento crítico coletivo. Enquanto atualizamos celulares com frequência, muitas vezes deixamos de atualizar nossa compreensão sobre nós mesmos, nossas escolhas e a sociedade em que vivemos. 

A didática aqui proposta é simples: desenvolver capacidade crítica e criativa para problemas complexos que transcendem conteúdos escolares e exigem vivência, arte e engajamento com o mundo real. Tal desenvolvimento nos permite perceber que muitos dos "piores alunos" - aqueles com desempenho escolar e acadêmico questionável - frequentemente ascendem socialmente através de mecanismos perversos: corrupção, troca de favores entre oligarquias e gangues partidárias, perpetuando um ciclo de mentiras que se estende por décadas ou mesmo séculos. 


O Contraste Internacional: Dados e Indicadores Reveladores 

Enquanto o Brasil mantém estruturas arcaicas, outros países demonstraram como transformações culturais e educacionais geram desenvolvimento: 

Coreia do Sul: Nos anos 1960, tinha PIB per capita similar ao Gana. Hoje, é a 10ª maior economia mundial. Investiu 4,6% do PIB em educação (contra 6% do Brasil, porém com eficiência radicalmente diferente). Resultado: 70% dos jovens completam ensino superior (ante 21% no Brasil). Empresas como Samsung e Hyundai surgiram de empreendedores educados - Lee Byung-chul, fundador da Samsung, era filho de família rural, não de oligarquia. 

Japão: Após a Segunda Guerra Mundial, investiu massivamente em educação universal de qualidade. Hoje, tem 25 prêmios Nobel em ciências, sendo o primeiro país asiático a alcançar tal feito. A Sony foi fundada por Akio Morita e Masaru Ibuka, sem conexões oligárquicas. 

Finlândia : Aboliu a hierarquia escolar tradicional, focando em igualdade de oportunidades. Resultado: consistentemente top 5 no PISA, com menor variação entre escolas do mundo. 

Nos EUA, a indústria cultural gerou inovadores como Steve Jobs (filho adotivo de classe trabalhadora) ou os fundadores do Google, Larry Page e Sergey Brin (filhos de professores universitários, não de oligarquias). 



A Realidade Brasileira: Indicadores que desmentem o Discurso Oficial 


  • Mobilidade social: Apenas 2% dos brasileiros conseguem sair dos 10% mais pobres para os 10% mais ricos ao longo da vida (FGV). 

  • Educação: Brasil ocupa a 60ª posição no PISA entre 79 países (2018), investindo proporcionalmente mais que a Coreia do Sul com resultados pífios. 

  • Concentração política: 70% dos deputados federais eleitos em 2018 são filhos de políticos ou têm parentes no poder (Transparência Brasil). 

  • Cultura: A Lei Rouanet beneficia predominantemente grandes instituições: entre 2013-2019, 10% dos proponentes concentraram 80% dos recursos. 

O Mecanismo de Permanência do Poder Oligárquico 

As oligarquias brasileiras negam as origens e a cultura do povo porque essa negação é instrumento de dominação. Ao privatizar o financiamento cultural (72 projetos concentraram R$ 1 bilhão via Rouanet em 5 anos), criam uma cultura de elite para elite. O Estado é capturado: o Brasil ocupa a 94ª posição no Índice de Percepção da Corrupção (Transparência Internacional, 2023). 

Esta máquina mantém a maior desigualdade do mundo entre países com PIB relevante: o 1% mais rico detém 48,9% da riqueza total (World Inequality Lab). A "falsa educação" produz analfabetismo funcional em 29% da população, enquanto a "falsa cidadania" se revela no Ceará na violência estatal com 128 mil mortes nas décadas da oligarquia no poder, o maior número de corruptos impunes e o maior número de bilionários per capita do Brasil com incentivos fiscais e financiamento público. 



Revolução Necessária: Caminhos Concretos 

Precisamos de uma revolução tripla: 

  1. Artística: Como ocorreu no Renascimento Europeu, que preparou o terreno para o Iluminismo e transformações sociais profundas. A Coreia do Sul demonstrou recentemente como o investimento em indústria cultural (K-pop, dramas) pode gerar soft power e desenvolvimento econômico. 

  1. Educacional: Baseada no modelo finlandês de equidade, não apenas de acesso. Reformar o FUNDEB para aprendizagem real, não apenas matrícula. 

  1. Política: Implementar medidas concretas: 

  1. Fim do foro privilegiado amplo 

  1. Voto distrital misto para aproximar representantes e representados 

  1. Lei de responsabilidade educacional com metas vinculadas a orçamento 

  1. Democratização dos fundos culturais com critérios técnicos e diversidade regional 

Os exemplos internacionais mostram que quando talentos ascendem por mérito - como a física Marie Curie (polonesa sem conexões aristocráticas) ou o cineasta Bong Joon-ho (coreano de família comum que conquistou o Oscar) - sociedades se transformam. 

Enquanto Nova York, Paris e Tóquio se renovam através da circulação de elites, o Brasil mantém mecanismos medievais de perpetuação do poder. A revolução começa quando entendemos que os "melhores alunos" não são os que tiram notas altas reproduzindo conteúdos, mas os que questionam estruturas, criam possibilidades e se recusam a aceitar que acesso à política, crédito e oportunidades dependam de uma máfia que controla o Estado. 

A atualização de que precisamos não é de software, mas de consciência histórica, coragem cívica e compreensão de que, como demonstram os dados internacionais, sociedades só prosperam quando permitem que seus melhores talentos - independente de origem - inovem na indústria, ciência, arte e política. O Brasil permanece refém justamente da negação deste princípio básico do desenvolvimento econômico quer seja Adam Smith, Marx, Amartya SenPiketty, Stiglitz, e Celso Furtado. 




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