SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

O Jogo das Existências – Quando a Vida Vira Missão por Egidio Guerra

 



Enquanto as redes sociais tradicionais aprisionam usuários em loops infinitos de likes e comparações vazias, a Terra da Sabedoria propõe uma revolução lúdica: “Existência: O Jogo do Mundo Real”. Não é um RPG fantástico com dragões e espadas mágicas, nem um jogo de tabuleiro com regras abstratas — é um RPG vivo, jogado nas ruas, nas comunidades, nos biomas e nas relações humanas. 

Inovação Ludonarrativa: O Game que Descoloniza 

Diferente dos RPGs convencionais onde heróis solitários salvam mundos fictícios, Existência opera como um ecossistema de missões colaborativas. Enquanto no Dungeons & Dragons você cria um personagem para derrotar monstros, aqui você descoloniza seu próprio imaginário para enfrentar monstros reais: racismo estrutural, desigualdade econômica, destruição ambiental. 

Comparado aos jogos de tabuleiro competitivos como War ou Banco Imobiliário — que naturalizam lógicas imperialistas de conquista e acumulação — nosso game inverte a lógica: vencer é coletivo, a vitória é medida pelo bem-estar do ecossistema social. Como num tabuleiro vivo de Catan só que com territórios reais, recursos naturais verdadeiros e negociações que afetam vidas concretas. 

O Big Brother Brasil a Céu Aberto: Onde a Audiência é a Transformação 

Imagine um Big Brother Brasil radicalmente diferente: sem confinamento em casas espelhadas, mas imersão nas comunidades. Sem paredes invisíveis, mas fronteiras sendo desfeitas. Sem edição para criar vilões e heróis caricatos, mas narrativas autogeridas pelos jogadores. Aqui, o “reality show” é a realidade mesma — um “Big Brother Social” onde as câmeras são os olhos da comunidade, os votos são decisões coletivas, e a eliminação não é de pessoas, mas de preconceitos, lixos plásticos, desigualdades. 

Enquanto o BBB fabrica conflitos para entreter uma sociedade adormecida, nosso game documenta conflitos reais sendo transformados por inteligência coletiva. Não espetáculo, mas espelho crítico: cada missão é um episódio de uma série onde a humanidade é ator e espectador de sua própria evolução. 

A Narrativa de um Jogador: Miguel, 19 anos, periferia de São Paulo 

Miguel entra no game através de um celular simples. Sua primeira missão: “Mapa Afetivo da Quebrada”. Ele não caça orcs, mas histórias esquecidas: entrevista Dona Maria, 82 anos, que viu o córrego virar esgoto; mapeia o ponto de descarte irregular que vira enchente; registra a feira orgânica que nasceu da horta comunitária. 

Miguel escreve em seu diário de missão: 

“Nível 1 completo: hoje entendi que minha comunidade não é ‘carente’, é sabotada. O lixo não é ‘falta de educação’, é falta de política pública. Minha missão virou projeto: vamos criar um sistema de compostagem com as vendas da feira. Ganhei o badge ‘Descolonizador do Lixo’ e conectei com uma jogadora de Portugal que está fazendo o mesmo com pescadores. RPG de verdade não tem ficha de personagem, tem identidade em transformação.” 

Facebook e Instagram: As Máquinas de Fantasmas Coloniais 

Enquanto isso, nas redes hegemônicas, a economia da atenção fabrica depressão e divisão. O Instagram vende corpos perfeitos enquanto nossas cidades adoecem de solidão; o Facebook otimiza discursos de ódio para engajamento, alimentando bolhas que explodem em violência real. São jogos perversos com regras invisíveis: quem acumula mais likes vence uma corrida por validação que ninguém escolheu entrar. Seus algoritmos são feitiços coloniais modernos: nos fazem acreditar que a riqueza é ter, que o sucesso é aparecer, que a vida é uma vitrine. 

Na Terra da Sabedoria, o algoritmo é pedagógico: sugere conexões não por interesses comerciais, mas por potenciais colaborativos. Ele não explora dados, cultiva saberes. 

A Revolução das Missões Educadoras: Clima, Pobreza, Desigualdade 

Imagine 5 milhões de jovens simultaneamente engajados em missões como: 

  • “Árvores de Histórias”: plantar mudas nativas enquanto se registram memórias orais dos anciãos sobre o bioma local. 

  • “Moedas Solidárias”: criar sistemas locais de troca que valorizam serviços comunitários. 

  • “Fronteiras Diluídas”: conectar periferias de diferentes países para trocar soluções de segurança alimentar. 

Cada missão gera dados abertos que viram ferramentas de advocacy político. As “aventuras” não terminam em castelos, mas em projetos de leicooperativas reaistecnologias sociais replicáveis. O game vira um parlamento global juvenil, onde o level up é medido pela redução do índice de homicídios na comunidade, pela recuperação de um rio, pela transformação de um ponto de tráfico em centro cultural. 

Kibuts Digitais: Comunidades que Jogam Juntas 

Cada “clã” no jogo é um Kibut digital — uma comunidade intencional que atua no físico. Eles não competem por recursos escassos, mas regeneram abundância. A “gráfica” do jogo não imprime magias, mas cartilhas de direitos. A “loja de itens” não vende espadas, mas ferramentas de agricultura urbana enviadas através de parcerias com cooperativas. 

E quando um jogador completa a missão “Descolonize seu Prato” (mapeando a cadeia alimentar local e criando uma horta comunitária), ele não ganha pontos de experiência abstratos, mas colhe legumes reais e compartilha o excedente com idosos isolados — ato registrado e inspirador para outros milhares. 

O Impossível é Apenas o Não-Imaginado Ainda 

Enquanto o Facebook nos faz acreditar que a solidão é normal, que a rivalidade é natural, que o consumo é felicidade, nosso game revela o feitiço: essas não são leis da natureza, são construções coloniais. Desobedecê-las é o ato mais revolucionário. 

Existência é mais que um jogo: é um tratado de desobediência lúdica. Suas regras são flexíveis como a vida, sua narrativa é escrita coletivamente, sua vitória é um mundo onde ninguém precisa jogar para ser herói — porque a vida cotidiana, digna e plena, já é a maior aventura. 

A partida começou. Seu avatar é você mesmo. O tabuleiro é seu território existencial. E a próxima missão — “Reescreva um Pedaço do Mundo” — aguarda seu primeiro movimento. 

*“Não jogue para escapar da realidade. Jogue para transformá-la. O dado mais importante não é o de 20 lados, é o da consciência coletiva.”* 
— Manual do Jogador, Terra da Sabedoria, 2026 

 

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