SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Ed Sheeran - All Of The Stars


 

Todas As Estrelas

All Of The Stars

É apenas outra noiteIt's just another night
E estou encarando a LuaAnd I'm staring at the Moon
Eu vi uma estrela cadente e pensei em vocêI saw a shooting star and thought of you
Cantei uma canção de ninarI sang a lullaby
À beira d'água e soubeBy the waterside and knew
Que se você estivesse aqui, eu teria cantado para vocêIf you were here, I'd sing to you

Você está do outro ladoYou're on the other side
A linha do horizonte se divide em doisAs the skyline splits in two
E estou a milhas longe de te verI'm miles away from seeing you
Eu posso ver as estrelas da AméricaBut I can see the stars from America
Me pergunto, será que você pode vê-las também?I wonder, do you see them too?

Então abra os olhos e vejaSo open your eyes and see
O modo como nossos horizontes se encontramThe way our horizons meet
E todas as luzes vão te guiarAnd all of the lights will lead
Pela noite comigoInto the night with me
E eu sei que essas cicatrizes irão sangrarAnd I know these scars will bleed
Mas os nossos corações acreditamBut both of our hearts believe
Todas essas estrelas vão nos guiar para casaAll of these stars will guide us home

Eu posso ouvir seu coraçãoI can hear your heart
Na batida da rádioOn the radio beat
Estão tocando Chasing Cars e eu pensei em nósThey're playing Chasing Cars and I thought of us
De volta ao tempoBack to the time
Em que você se deitava do meu ladoYou were lying next to me
Eu olhei para o lado e me apaixoneiI looked across and fell in love

Então peguei a sua mãoSo I took your hand
E por ruas iluminadas, eu soubeBack through lamp lit streets I knew
Tudo me levava de volta à vocêEverything led back to you
Então, você pode ver as estrelas de Amsterdã?So, can you see the stars over Amsterdam?
Você é a canção para a qual o meu coração bateYou're the song my heart is beating to

Então abra os olhos e vejaSo open your eyes and see
O modo como nossos horizontes se encontramThe way our horizons meet
E todas as luzes vão te guiarAnd all of the lights will lead
Pela noite comigoInto the night with me
E eu sei que essas cicatrizes irão sangrarAnd I know these scars will bleed
Mas os nossos corações acreditamBut both of our hearts believe
Todas essas estrelas vão nos guiar para casaAll of these stars will guide us home

E oh, eu seiAnd oh, I know
E oh, eu sei, ohAnd oh, I know, oh
Posso ver as estrelas da AméricaI can see the stars from America

Salmo 130 (Das profundezas a tí clamo) & A BENÇÃO - HA BRACHA


 

Al Abrigo del Elyon - Los Miles


 

O Amor nos Labirintos da Alma: Uma Viagem pela Literatura Mundial

 


"O amor é um estado de graça que não começa nem termina como pensamos", escreveu García Márquez em "Do Amor e Outros Demônios". E assim como Sierva María e Cayetano, que se amam entre febres e maldições, o verdadeiro amor nunca segue os caminhos óbvios. Ele é um rio que atravessa desertos, um fogo que queima sob a chuva, um silêncio que ecoa mais alto que todos os gritos.


Na literatura russa, o amor é muitas vezes uma paixão trágica, uma obsessão que consome. Em "Anna Karenina", de Tolstói, Anna abandona tudo por Vronski—honra, família, sociedade—e ainda assim descobre que o amor, quando não é livre, vira veneno. "" Se não há sofrimento na vida, então que tipo de vida é essa?" pergunta Dostoiévski em "Os Irmãos Karamazov". E de fato, o amor russo não é para os fracos: é um campo de batalha entre desejo e redenção, entre o céu e o inferno.


Já no Japão, o amor é sutil como o cair das pétalas de sakura., em "O País das Neves", mostra um romance entre um homem da cidade e uma gueixa do campo, onde cada gesto, cada silêncio, carrega mais significado que mil palavras. "Amo-te como se ama certas coisas obscuras, secretamente, entre a sombra e a alma", poderiam dizer os personagens de Mishima, para quem o amor e a morte dançam juntos, como em "Confissões de uma Máscara".

E na França, o amor é arte e filosofia. Marguerite Duras, em "O Amante", narra uma paixão proibida na Indochina com uma crueza que dói e encanta. "Tu eras mais forte que o tempo, mais forte que a distância", ela escreve, porque o amor francês não teme a verdade, mesmo quando ela é feita de dor. Já Victor Hugo, em "Os Miseráveis", nos dá Cosette e Marius, um amor que renasce entre as ruínas da revolução, provando que até nos tempos mais sombrios, o coração encontra seu caminho.

García Márquez diria que o amor é como "Cem Anos de Solidão"—eterno, repetitivo, cheio de fantasmas e milagres. Os russos o pintariam como uma tempestade de neve que cega e purifica. Os japoneses, como um haicai: três linhas que contêm o universo. E os franceses, como um vinho antigo: quanto mais amargo, mais verdadeiro.

No fim, todas as literaturas concordam: o amor não é um destino, mas uma viagem. E como dizia Baudelaire, "o último segredo é que só se vive verdadeiramente nos outros". Seja em Macondo, em São Petersburgo, em Kyoto ou em Paris, o amor é a única pátria que nunca nos abandona.


Amor Eterno: Dádiva, Provação e Destino



O amor eterno não é um conto de fadas. É uma chama que arde entre os deuses e os homens, uma força que desafia o tempo, o sofrimento e a própria morte. Ele vem como dádiva divina, transforma-se em provação cruel e, por fim, revela-se como destino inescapável—um fio dourado tecido nas histórias mais antigas da humanidade.

Na mitologia grega, Orfeu desce ao Submundo para resgatar Eurídice, sua amada. Os deuses permitem que ele a leve de volta, sob uma condição: não olhar para ela até que alcancem a luz do mundo. É uma prova de fé, de paciência, de amor puro. Mas Orfeu falha, virando-se no último instante, e perde Eurídice para sempre. O amor é uma dádiva, mas também uma provação—e às vezes, o destino é mais forte que o coração.

Na literaturaRomeu e Julieta de Shakespeare mostra dois jovens cujas almas estão ligadas desde o primeiro olhar. Seu amor nasce sob uma estrela maldita, entre o ódio de duas famílias. Eles desafiam tudo, até a própria morte, porque sabem que não há vida verdadeira um sem o outro. O destino os une, a sociedade os separa, e o amor os consome—mas sua história ecoa através dos séculos, porque o amor que queima rápido e brilhante nunca é esquecido.

No cinema, "Eternamente Teu" (The Age of Adaline) conta a história de uma mulher condenada à imortalidade acidental. Ela vive décadas sem envelhecer, assistindo todos que ama partirem—até encontrar um homem que a faz questionar se vale a pena voltar a ser mortal. O amor é sua maldição e sua salvação, uma prova que dura uma eternidade.

E que dizer de "Titanic"? Jack e Rose, separados pelo naufrágio de um navio e pelo peso das classes sociais. Ele morre para que ela viva, e ela carrega sua memória por toda uma vida. O amor deles durou apenas dias, mas marcou séculos—porque o verdadeiro amor não se mede em tempo, e sim em profundidade.

O amor eterno é isso: uma bênção e um fardo, um destino que alguns chamam de sorte e outros, de maldição. Pode ser doce como o primeiro beijo de "A Bela e a Máquina" ou trágico como o final de "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças". Mas uma coisa é certa—quando ele é verdadeiro, não desaparece. Transforma-se, atravessa vidas, renasce em outras histórias.

Porque o amor, no fim, é a única coisa que vence até a morte.


O Guerreiro e a Rainha: Lealdade Além do Amor


Nas cortes do Oriente, onde a honra tece o destino dos homens, há um guerreiro cuja espada não conhece a fraqueza. Ele não se curva aos desejos do coração, mas sim ao peso do juramento feito à sua rainha. Seu amor não é o dos poetas, suave e cheio de promessas—é o amor que se prova em sangue e silêncio, na entrega da própria vida sem hesitação.

Na antiga China, os generais da dinastia Tang juram proteger o trono até a última gota de seu sangue. Como Yue Fei, cujas tatuagens nas costas gritavam "Servir com lealdade absoluta", o guerreiro não questiona. Quando os inimigos cercam o palácio, ele não foge. Avança, sabendo que cada passo pode ser o último, mas sua morte será um escudo entre a rainha e a traição.

No Japão feudal, os samurais do clã Takeda seguiam o Bushido: lealdade acima da vida. Como o lendário Yamamoto Kansuke, que, cego e ferido, lançou-se sozinho contra um exército para dar tempo a seu senhor de recuar. O guerreiro de hoje não é diferente. Se a rainha ordenar que ele viva, ele suportará todas as dores. Se o destino exigir que ele morra, seu último suspiro será um golpe certeiro em defesa dela.

Não são flores ou juras de amor eterno que ele oferece, mas a frieza de sua lâmina e o calor de seu sangue derramado. Quando os mongóis sitiaram Kyoto, quando os assassinos se infiltraram nos corredores da Cidade Proibida, sempre houve um homem de armas entre a rainha e a morte. Ele não espera gratidão—sua recompensa é cumprir o dever.

No fim, quando seu corpo jaz no chão e sua espada quebrada, os bardos cantarão não sobre um amante, mas sobre um guardião. Porque o amor pode falhar, os sentimentos podem mudar, mas a lealdade? Essa é eterna. E assim, mesmo na morte, ele serve.

A rainha vive. O guerreiro descansa. A história lembrará.

O céu não será o lugar onde finalmente tudo girará ao nosso redor.

 

O coração do evangelho bate no altar da glória de Deus, e não nas aspirações humanas.

Entre conversas, leituras e meditações, tenho percebido que a redenção é uma história que exalta um protagonista único — Jesus Cristo.

Nós somos alvos da graça, sim. Somos alcançados, lavados, remidos. Mas não somos o centro da história. O protagonista da Bíblia nunca foi o homem — é Cristo.

Toda a Escritura aponta para Ele. Desde Gênesis até Apocalipse, o foco é a glória de Deus se revelando no Filho. Não é a jornada do homem tentando chegar ao Céu, mas o movimento do Céu vindo ao homem — e não por mérito nosso, mas por amor e soberania d’Ele.

O plano redentivo de Deus não tem como ponto culminante o homem salvo, mas Cristo glorificado. A cruz é, sim, onde encontramos perdão e vida, mas acima disso, é onde o Filho obedece até o fim, honra o Pai, cumpre as promessas, derrota o pecado e manifesta a plenitude da glória divina. O centro é Ele.

Mas quando ouvimos o evangelho sendo pregado hoje, muitas vezes o foco é outro. Parece que a boa nova é que “você é importante demais”, “você é o centro do amor de Deus”, “você merece ser feliz”. Cristo vira o meio para um fim que somos nós mesmos. Um ajudador. Um degrau. Um bônus espiritual para a nossa autorrealização.

E isso deturpa tudo.

Sim, Deus nos ama — mas o amor de Deus não gira em torno do nosso valor, e sim da Sua natureza. Ele nos salva por graça, para louvor da Sua glória. E a verdadeira liberdade só é possível quando reconhecemos isso: não somos os heróis da história. Somos os resgatados. Os perdidos encontrados. Os servos redimidos para glorificar o Senhor, e não para sermos glorificados.

O céu não será o lugar onde finalmente tudo girará ao nosso redor. Será o lugar onde finalmente tudo estará como deve ser: centrado n’Ele.

Cristo não é apenas parte do evangelho. Ele é o evangelho.

Michael Bolton - (Quando Um Homem Ama Uma Mulher )


 

Savage Garden Truly Madly Deeply


 

O inesperado impacto positivo dos videogames na visão e na atenção

 

Adolescente jogando videogame em casa

Crédito,Getty Images

    • Author,Michael Mosley*
    • Role,Da série "Just One Thing", da BBC

Se você tem dificuldade de realizar várias tarefas ao mesmo tempo, ignorar as distrações do dia a dia e priorizar sua lista de afazeres, pasme — os videogames podem ser um grande aliado.

Pesquisas recentes sugerem que certos jogos podem tornar sua mente mais afiada, reforçar sua memória de trabalho, melhorar seu foco, suas habilidades espaciais e até mesmo sua visão.

Ou seja, talvez a prática não seja tão "perda de tempo" como alguns pais imaginam.

"Como mãe de três filhos, eu pensava a mesma coisa. Como cientista no laboratório, fiquei muito surpresa ao descobrir que alguns videogames têm efeitos positivos no cérebro e no nosso comportamento", diz a neurocientista cognitiva Daphné Bavelier, cuja pesquisa usou eletrodos presos ao couro cabeludo de jogadores para entender o que acontece no cérebro enquanto se joga videogame.

Foco nos jogos de ação

Mas, para obter esse tipo de resultados positivos, o tipo de jogo é fundamental. Os games de ação — aqueles que envolvem tomar decisões rápidas, navegar em diferentes ambientes e encontrar alvos visuais — parecem oferecer os benefícios cognitivos mais significativos.

"Jogos de tiro em primeira e terceira pessoa realmente reforçam o quão bem você presta atenção. Eles também melhoram o quão bem você enxerga ou escuta — o que chamamos de percepção. E revelam ainda uma melhora acentuada na cognição espacial e na memória de trabalho e na capacidade multitarefa", afirma Bavelier.

"Na verdade, são benefícios que têm potencial de uso no dia a dia."

O que acontece é que, ao jogar esses games, você está treinando seu cérebro.

"Nós ativamos uma rede de áreas no córtex frontal, outras no córtex parietal — uma rede que é conhecida por ser responsável pela atenção descendente. Essa rede fica mais reforçada e muito mais eficiente no processamento de informações", explica a neurocientista.

Homem jogando videogame

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Pesquisas mostram que os chamados jogos de tiro em primeira pessoa (FPS, na sigla em inglês) podem melhorar significativamente a atenção

Um estudo de 2003 descobriu não apenas que jogadores de videogame eram melhores em resolver quebra-cabeças visuais do que aqueles que não jogavam — como foram necessários apenas 10 dias de prática de videogame para melhorar o desempenho destes últimos.

Ainda mais surpreendente, os jogos de ação também demonstraram aumentar a massa cinzenta em uma área associada ao raciocínio abstrato e à resolução de problemas.

Em relação à visão, um estudo recente revelou que jogar 50 horas de games de ação por nove semanas - um pouco menos de 1 hora por dia - melhora a sensibilidade ao contraste.

Em outras palavras, você é mais capaz de distinguir entre tons de cinza, o que é útil quando você está dirigindo à noite ou em outras situações de baixa visibilidade. E a sensibilidade ao contraste parece piorar naturalmente à medida que envelhecemos.

Infelizmente você não obtém todos estes benefícios jogando games mais calmos — é importante que sejam jogos de ação.

"Fazemos estudos de treino em laboratório, em que pedimos que os participantes pratiquem jogos de tiro em primeira ou terceira pessoa ou outros tipos de jogos, como jogos de simulação social ou jogos de quebra-cabeça. E descobrimos que apenas aqueles que treinavam jogos de tiro em primeira e terceira pessoa apresentavam essa atenção aprimorada", revela a neurocientista.

Mas não precisam ser necessariamente jogos violentos.

Em um estudo, por exemplo, participantes foram convidados a jogar um game que envolvia resolver enigmas e coletar moedas como recompensa. Eles jogaram 30 minutos por dia durante 3 meses. Ao final do estudo, o hipocampo, a parte do cérebro que é vital para a memória, havia sido aprimorado.

Dicas para iniciantes

Se você não tem familiaridade com o mundo dos games, uma boa forma de começar a aprimorar sua atenção, segundo Bavelier, pode ser com jogos de carros.

"O tipo de jogo em você precisa visar uma tarefa, mas ao mesmo tempo haja distrações ou obstáculos que você precisa evitar, pontos que você precisa coletar… Isso tem a mesma mecânica que coloca à prova sua atenção", explica.

E você não precisa passar muito tempo jogando para obter os benefícios.

"Não existe uma dose ideal, o melhor é a prática distribuída (de partidas curtas). Então, uma sessão de cerca de 30 minutos por dia, cinco vezes por semana, durante um período de dez a 15 semanas", sugere.

E o lado negativo?

Os videogames também têm um lado sombrio. Os fabricantes costumam usar todos os tipos de artifícios para manter os usuários jogando por mais tempo — e alguns jogos podem ser viciantes. Quanto mais você joga, mais quer jogar.

"Há diferentes mecânicas de jogo que podem levar a um comportamento mais ou menos insalubre. E, na verdade, os games que parecem ser jogados mais compulsivamente são aqueles em que não há um final claro. Portanto, há uma responsabilidade do ponto de vista dos designers de jogos em definir um final claro para as partidas", diz Bavelier.

E será que alguns games também podem deixar os jogadores mais agressivos? Uma meta-análise de 28 estudos, publicada em 2020, pela Royal Society, com base em dados coletados de mais de 21 mil jovens, encontrou uma pequena correlação entre violência e videogames em um quarto dos estudos — mas nenhuma correlação na maioria deles.

Os pesquisadores concluíram que as evidências mostram que "os impactos de longo prazo dos jogos violentos na agressividade dos jovens são próximos a zero".

No entanto, esse é um tema que ainda desperta calorosos debates.

*Na série Just One Thing (Uma Única Coisa), da Rádio 4 da BBC, o médico Michael Mosley aborda em diferentes episódios o que você poderia fazer por sua saúde se tivesse apenas uma escolha.

Leia outras reportagens da série aqui:

Por que entender o que o tempo de tela faz com o cérebro das crianças é mais complicado do que parece.


Uma criança sentada na cama com fones de ouvido e um iPad na mão

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Cientistas alertam para falta de evidências científicas sólidas sobre os supostos malefícios do uso de telas
    • Author,Zoe Kleinman
    • Role,Editora de Tecnologia

Outro dia, enquanto eu fazia algumas tarefas domésticas, entreguei o iPad do meu marido ao meu filho mais novo para mantê-lo entretido. Mas, depois de um tempo, me senti desconfortável: eu não estava prestando atenção em quanto tempo ele estava usando o aparelho e nem no que ele estava vendo. Então, disse que era hora de parar.

Uma grande pirraça começou. Ele gritou, deu chutes, se agarrou ao iPad e tentou me empurrar com a força de uma criança com menos de 5 anos. Não foi meu melhor momento como mãe, admito, mas a reação extrema dele me incomodou.

Meus filhos mais velhos navegam nas redes sociais, exploram jogos online e realidade virtual — e às vezes isso também me preocupa. Ouço eles se provocarem dizendo que precisam "tocar na grama", ou seja, se desconectar e sair de casa.

O falecido Steve Jobs, que era CEO da Apple quando a empresa lançou o iPad, ficou conhecido por não deixar os próprios filhos usarem a tecnologia. Bill Gates já disse que também restringia o acesso dos seus filhos.

tempo de tela tem se tornado um sinônimo de más notícias, sendo culpado pelo aumento de casos de depressão entre jovens, problemas de comportamento e privação do sono.

A renomada neurocientista Susan Greenfield foi ainda mais longe ao dizer que o uso da internet e de jogos de computador podem prejudicar o cérebro de adolescentes.

Em 2013, ela comparou o efeito negativo do uso prolongado de telas aos primeiros sinais das mudanças climáticas: uma transformação significativa que as pessoas não estavam levando a sério.

Hoje, o tema é encarado com mais seriedade. Mas os alertas sobre o lado sombrio talvez não contem a história completa.

Um editorial publicado no British Medical Journal argumentou que as alegações de Greenfield sobre o cérebro "não se baseavam em uma avaliação científica justa das evidências e são enganosas para os pais e para o público em geral".

Agora, outro grupo de cientistas do Reno Unido afirma que faltam evidências científicas concretas sobre os supostos malefícios do uso de telas.

Então, será que estamos errando em nos preocupar com as nossas crianças e tentar limitar o acesso delas a tablets e smartphones?

É tão ruim quanto parece?

Pete Etchells, professor de Psicologia na Bath Spa University, é um dos acadêmicos que alerta sobre a falta de evidências.

Ele analisou centenas de estudos sobre o tempo de tela e saúde mental, além de grandes volumes de dados os hábitos digitais dos jovens. Em seu livro Unlocked: The Real Science of Screen Time (Desbloqueado: a verdadeira ciência do tempo de tela, na tradução livre para o português), ele afirma que a ciência por trás das conclusões alarmantes que estampam as manchetes é inconsistente e, em muitos casos, falha.

"Simplesmente não há evidências científicas concretas que sustentem essas histórias sobre os efeitos terríveis do tempo de tela", escreve.

Uma criança deitada com o celular na mão

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Alguns estudos sugerem impacto pequeno do uso de telas em questões de saúde mental

Um estudo publicado pela Associação Americana de Psicologia, em 2021, apresentou conclusões semelhantes.

Os 14 autores, de várias universidades ao redor do mundo, analisaram 33 estudos publicados entre 2015 e 2019. Eles concluíram que o uso de telas, incluindo smartphones, redes sociais e videogames, teve um "impacto pequeno nas questões de saúde mental".

E embora alguns estudos tenham sugerido que a luz azul — como a emitida por telas — dificulte o sono por suprimir a produção do hormônio melatonina, uma revisão de 2024, que analisou 11 estudos realizados em diferentes países, não encontrou evidências consistentes de que a exposição à luz das telas na hora de dormir realmente dificulte cair no sono.

Problemas com a ciência

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Fim do Que História!

Um dos grandes problemas, aponta Etchells, é que a maioria dos dados sobre o tempo de tela depende fortemente do autorrelato. Em outras palavras, os pesquisadores simplesmente perguntam aos jovens quanto tempo acham que passaram diante das telas e como lembram de se sentir.

Ele também argumenta que há milhões de formas possíveis de interpretar essa quantidade de dados. "Temos que tomar cuidado ao analisar correlações", destaca.

Ele cita o exemplo do aumento estatisticamente significativo tanto nas vendas de sorvete quanto nos casos de câncer de pele durante o verão. Ambos estão relacionados ao clima quente, mas não um ao outro: sorvetes não causam câncer de pele.

Ele também lembra de um projeto de pesquisa inspirado por um clínico geral que havia notado duas coisas: primeiro, que estava tendo mais conversas com jovens sobre depressão e ansiedade; segundo, que muitos jovens usavam seus celulares em salas de espera.

"Nós trabalhamos com o médico e dissemos: 'Ok, vamos testar isso, podemos usar dados para tentar entender essa relação'", explica.

Apesar dos dois fatores apresentarem correlação, havia um elemento adicional significante: o tempo que os jovens com depressão ou ansiedade passavam sozinhos.

No fim, o estudo sugeriu que era a solidão que estava levando os jovens a passar por problemas de saúde de mental, e não o uso de telas.

A diferença entre rolar a tela e fazer uso positivo dela

Além disso, há detalhes importantes faltando nas pesquisas: a natureza do tempo de tela em si. O termo "tempo de tela" é vago demais, diz Etchells.

Foi um tempo de tela positivo? Foi útil? Informativo? Ou você apenas ficou rolando o feed sem parar? O jovem estava sozinho ou interagindo com outros amigos online?

Cada um desses fatores gera uma experiência diferente.

Um menino usando o celular e vendo um vídeo

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,A forma como a criança usa a tela, se está apenas rolando o feed, ou aprendendo algo, faz diferença no impacto para o cérebro

Um estudo conduzido por pesquisadores dos Estados Unidos e do Reino Unido analisou 11.500 exames cerebrais de crianças entre 9 e 12 anos, junto com avaliações de saúde e relatos delas mesmas sobre o uso de telas.

Embora tenham sido identificados padrões de uso de tela associados a mudanças na forma como as regiões do cérebro se conectam, o estudo não encontrou evidências de que o tempo de tela estivesse ligado a problemas de bem-estar mental ou dificuldades cognitivas, mesmo entre aquelas que passavam horas por dia diante de telas.

O estudo, realizado entre 2016 e 2018, foi supervisionado pelo professor Andrew Przybylski, da Universidade de Oxford, que estuda os impactos dos videogames e redes sociais na saúde mental. Seus estudos — revisados por pares — indicam que ambos podem, na verdade, melhorar o bem-estar em vez de prejudicá-lo.

"Se as telas realmente mudassem o cérebro para pior, seria possível identificar esse sinal em um banco de dados tão grande como esse. Mas isso não acontece. Então essa ideia de que as telas estão mudando o cérebro de forma consistente ou duradouramente negativa simplesmente não parece se sustentar", diz Etchells.

Essa visão é compartilhada pelo professor Chris Chambers, chefe do setor de estimulação cerebral da Universidade de Cardiff, que é citado no livro do professor Etchells: "Seria óbvio se houvesse um declínio. Seria fácil olhar para os últimos, digamos, 15 anos de pesquisa..."

"Se nosso sistema cognitivo fosse tão frágil a mudanças no ambiente, nós não estaríamos aqui. Nós teríamos sido extintos há muito tempo."

'Combinação terrível para a saúde mental'

Nem o professor Przybylski nem o professor Etchells questionam a gravidade de certos perigos online, como a exposição crescente a conteúdos explícitos ou nocivos. Mas ambos argumentam que o debate atual sobre o tempo de tela corre risco de torná-lo ainda mais 'clandestino'.

Przybylski se preocupa com os argumentos apresentados para limitar e até mesmo proibi-los o uso de dispositivos, e acredita que, quanto mais rigidamente o tempo de tela for controlado, mais chance dele se tornar "um fruto proibido".

Muitos discordam. O grupo britânico Smartphone Free Childhood afirma que 150 mil pessoas já assinaram o compromisso de banir smartphones para adolescentes com menos de 14 anos, além de adiar o acesso às redes sociais até os 16.

Quando Jean Twenge, professora de Psicologia da Universidade Estadual de San Diego, nos EUA, começou a pesquisar o aumento das taxas de depressão entre adolescentes americanos, ela não tinha intenção de provar que as redes sociais e os smartphones eram "terríveis". Mas ela acabou descobrindo nessas tecnologias um único denominador comum.

Hoje, ela acredita que separar crianças e telas é algo óbvio, e faz um apelo para que os pais mantenham os filhos longe dos celulares pelo maior tempo possível.

"Os cérebros [das crianças] estão mais desenvolvidos e maduros aos 16 anos", argumenta. "E o ambiente social na escola e entre grupos de amigos é muito mais estável aos 16 do que aos 12."

Uma criança jogando um jogo no iPad

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Outros pesquisadores afirmam que a alta exposição a telas leva a menos horas de sono e interação social, o que é 'uma combinação terrível' para a saúde mental

Apesar de ela concordar que os dados coletados sobre o uso de tela por jovens seja, em sua maioria, baseados em autorrelato, Twenge argumenta que isso não enfraquece as evidências.

Um estudo dinamarquês publicado em 2024 envolveu 181 crianças de 89 famílias. Por duas semanas, metade delas teve o uso limitado de tela a três horas por semana.

A conclusão foi que a redução do uso de mídias digitais "afetou positivamente os sintomas psicológicos de crianças e adolescentes" e aumentou o "comportamento pró-social", embora os autores ressaltem que mais pesquisas são necessárias.

Um outro estudo no Reino Unido, em que os participantes foram orientados a registrar o tempo de tela em diários de atividades, observou que um maior uso de redes sociais estava associado a níveis mais altos de sentimentos depressivos entre meninas.

"Se você pegar essa fórmula: mais tempo online — geralmente sozinho com uma tela —, menos horas de sono e menos tempo com os amigos presencialmente, temos uma combinação terrível para a saúde mental", destaca Twenge.

"Não entendo por que isso é controverso."

'Julgamento entre pais'

Quando eu converso com o professor Etchells, é por uma chamada de vídeo. Um de seus filhos e um cachorro entram e saem do cômodo. Eu pergunto a ele se as telas estão realmente "reprogramando" o cérebro das crianças, e ele ri, explicando que tudo muda o cérebro: é dessa forma que os humanos aprendem.

Mas ele também demonstra empatia em relação ao medo dos pais sobre os possíveis perigos das telas.

Não ajuda o fato de que há poucas orientações claras — e que o tema está repleto de vieses e julgamento entre pais.

Jenny Radesky, pediatra da Universidade de Michigan, resumiu bem essa questão ao falar na fundação filantrópica Dana Foundation. Segundo ela, há um "discurso cada vez mais carregado de julgamento entre os pais".

"Muito do que tem sido discutido parece mais voltado a gerar culpa nos pais do que, de fato, a esclarecer o que a pesquisa científica tem a nos dizer", afirmou. "E isso é um problema real."

Olhando para trás, a pirraça do meu filho mais novo por causa do iPad me alarmou na hora, mas, refletindo melhor, já vi reações parecidas dele em situações que não envolviam telas: como quando ele estava brincando de pique-esconde com os irmãos e não queria se preparar para dormir.

O tempo de tela também aparece bastante nas minhas conversas com outros pais. Alguns são mais rígidos do que os outros.

Atualmente, as orientações oficiais são inconsistentes. Nem a Academia Americana de Pediatria, dos EUA, nem do Colégio Real de Pediatria e Saúde Infantil, do Reino Unido, recomendam limites específicos de tempo de tela para crianças.

Duas crianças deitadas no chão com iPads e uma mãe sentada no sofá usando o computador

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Julgamento entre pais e sentimento de culpa é comum em discussões sobre uso de telas

Organização Mundial de Saúde (OMS), por sua vez, recomenda que crianças menores de um ano não usem telas de forma alguma, e aquelas com menos de quatro anos não ultrapassem uma hora por dia de uso (embora, ao ler a diretriz, seja perceptível que o foco principal é priorizar a atividade física).

O problema maior é que simplesmente não há ciência suficiente para estabelecer uma recomendação definitiva, e isso está dividindo a comunidade científica — apesar da forte pressão social para limitar o acesso das crianças às telas.

Mas, sem diretrizes definidas, será que estamos criando um cenário desigual entre crianças que já serão fluentes em tecnologia quando adultas e outras que, por não terem esse mesmo contato, estarão mais vulneráveis?

De qualquer forma, o risco é alto. Se as telas estiverem realmente prejudicando as crianças, pode levar anos até que a ciência consiga se atualizar e comprovar isso. Ou, se eventualmente concluir que não há perigo, nós teremos desperdiçado energia e dinheiro, e durante o processo, mantido as crianças longe de algo que pode ser extremamente útil para elas.

Enquanto isso, as telas evoluem para óculos, as redes sociais se reorganizam em torno de comunidades menores, e as pessoas já usam a inteligência artificial para ajudar com o dever de casa e até mesmo como forma de terapia — ou seja, a tecnologia, que já faz parte das nossas vidas, está evoluindo rapidamente, com ou sem a nossa permissão para que as crianças a acessem.