
- Jane Chambers
- Repórter de Negócios
Gabriela Cibils tem uma missão: ajudar a transformar o Paraguai no Vale do Silício da América do Sul.
Quando ela cresceu no país de 7 milhões de habitantes, localizado entre o Brasil e a Argentina, "não havia muito foco em tecnologia".
Mas foi diferente para Cibils, já que seus pais trabalhavam no setor.
Isso a inspirou a estudar nos Estados Unidos, onde ela se formou em computação e neurociência na Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Depois da graduação, passou oito anos trabalhando no Vale do Silício, perto de San Francisco, com cargos em diferentes startups americanas.
Mas, em vez de permanecer definitivamente nos EUA, há poucos anos ela decidiu voltar para o Paraguai.
Hoje, ela está à frente dos esforços para construir um grande e bem-sucedido setor de tecnologia que coloque o país no mapa do mundo — e atraia algumas das gigantes empresas globais da área.
"Eu vi de perto o impacto que a tecnologia pode ter na vida das pessoas", diz.
"Depois de ter sido exposta a um mundo tão diferente [no Vale do Silício], sinto que é minha responsabilidade trazer essa mentalidade de volta e juntá-la com os talentos que eu vejo no Paraguai."
Atualmente, Gabriela Sibils é sócia da firma de investimentos e tecnologia global Cibersons, cuja sede fica em Assunção, capital do Paraguai.

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Embora a maioria dos países deseje construir um setor de tecnologia de nível mundial, o Paraguai tem uma vantagem a esse respeito: abundância de eletricidade barata e verde.
Isso se deve ao fato de que 100% da geração de energia do país agora vem de fontes hidrelétricas e é centralizado na gigantesca Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Rio Paraná, que faz parte da fronteira entre o Paraguai e o Brasil.
Essa enorme usina hidrelétrica, a maior do mundo fora da China, abastece 90% da demanda elétrica do Paraguai e 10% da demanda do Brasil.
De fato, o excedente de eletricidade no Paraguai é tão grande que seus preços são os mais baixos da América do Sul.
E o país é o maior exportador mundial de energia limpa.
O governo do Paraguai espera que a abundância de energia verde e barata do país atraia empresas globais de tecnologia, cada vez mais preocupadas com as demandas de energia de sistemas de inteligência artificial.
"Se você quer instalar qualquer tipo de investimento tecnológico, como data centers de IA, tenha em mente que a energia hidrelétrica é renovável e estável", diz o empreendedor paraguaio de desenvolvimento de software Sebastian Ortiz-Chamorro.
"Comparado com outras fontes de energia renováveis, como a eólica ou solar, que têm suas oscilações, a hidrelétrica é muito mais atraente para criar data centers ou qualquer outra atividade eletrointensiva que exiga uma fonte constante de eletricidade."
Ele acrescenta que, com a Itaipu, e a outra grande usina hidrelétrica estatal do Paraguai, a Barragem de Yacyretá, as empresas privadas podem facilmente construir suas próprias instalações.

Em visita à Califórnia no ano passado, o presidente do Paraguai, Santiago Peña, conversou com empresas como Google e OpenAI para incentivá-las a investir no Paraguai.
Ainda não se sabe se as gigantes do setor abrirão grandes operações no país.
O ministro de Tecnologia e Comunicação, Gustavo Villate, está trabalhando de perto com o presidente nesses esforços contínuos.
"Temos a população mais jovem, muita energia verde renovável, baixos impostos e estabilidade econômica", diz, com orgulho.
Acompanho o ministo em uma visita guida ao novo parque digital, planejado perto do aeroporto principal de Assunção.
Atualmente, o local é composto por campos verdes e alguns quartéis do exército.
Villate desenrola as plantas do projeto para mostrar os lagos, um centro infantil e outros edifícios que, segundo ele, devem ficar prontos em menos de dois anos.
"O governo vai investir cerca de US$ 20 milhões (R$ 109 milhões, na conversão atual) na primeira fase, mas a ideia é que empresas privadas financiem o restante", disse.
Embora o parque não esteja pronto, Villate afirma que a colaboração já existente entre o setor público, privado e universitário é fundamental para construir um ecossistema capaz de atrair investidores estrangeiros.
O governo acredita que a população jovem será um importante atrativo, capaz de fornecer uma ampla força de trabalho tecnológica. A idade média no Paraguai é de 27 anos.

Para isso, mais jovens precisarão ser capacitados.
O ministro da Tecnologia diz que o novo parque digital também abrigará a Universidade de Tecnologia, uma parceria entre Taiwan e o Paraguai.
Enquanto isso, há outras iniciativas voltadas à formação dos jovens no país.
"Estamos trabalhando duro para criar uma massa de engenheiros de software, programadores e todos os profissionais necessários para oferecer serviços de software", afirma Vanessa Cañete, presidente do Sindicado Paraguaio da Indústrica de Software.
Ela diz ser apaixonada por incentivar mais mulheres a estudar engenharia da computação.
Em 2017, ela fundou a Girls Code, uma associação sem fins lucrativos que busca reduzir a desigualdade de gênero no setor da tecnologia.
A organização promove oficinas de programação e robótica para adolescentes e mulheres jovens, e mais de mil delas já receberam algum tipo de treinamento até hoje.
Cañete acrescenta que desenvolvedores de software também recebem aulas de inglês por até quatro anos, com o objetivo de melhorar a comunicação com empresas estrangeiras.
As pessoas que encontrei estão otimistas quanto ao potencial do Paraguai em oferecer tecnologia, mas também são pragmáticas.
Cibils observa que ainda há alguns obstáculos para os investidores estrangeiros, como questões de burocracia e dificuldades em adaptar contratos locais aos padrões internacionais.
Mas ela é categórica ao afirmar que "se o país colocar a inovação no centro e aproveitar todos os seus benefícios, o Paraguai pode se tornar uma potência".
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