SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

terça-feira, 28 de outubro de 2025

As pessoas mais bonitas se vestem de si mesmas por Egidio Guerra

 

As pessoas mais bonitas se vestem de si mesmas, pintam o tecido e a pele com suas cores, usam adereços naturais que dialogam com a natureza e a vida que a cerca, criam sua própria moda, olhar, gestos, toques no movimento estético da vida, dos sonhos, do amor. Sua marca é que marca a memória e a imaginação de todos. 

Elas são os verdadeiros dândis do espírito, aqueles que, como Baudelaire apontou, não buscam a elegância na submissão, mas na revolução do olhar. Não são escravos do tear mecânico, são artesãos da própria imagem. Como Oscar Wilde, que fez de seu veludo e seu lírio uma bandeira de existência, eles entendem que a vida é a primeira das artes. 

Enquanto no filme O Diabo Veste Prada, a vaidade domina um altar de ansiedades, onde a identidade é uma coleção de etiquetas e a aprovação é a moeda mais valiosa. É o reino do status, onde a pessoa é vestida pela marca, e não a marca pela pessoa. Um eco da fria elegância da Bonequinha de Luxo, onde o chique é uma prisão dourada, uma performance tão impecável quanto vazia. 

Os anjos, porém, vestem luz e iluminam o destino com autenticidade e uma inocência pura e bela. 

São os filhos da contracultura, os hippies com suas roupas de algodão cru, bordadas com flores e ideais de paz. Suas roupas não eram um uniforme, eram um manifesto. Eram a pele exterior de um sonho coletivo. São os ícones do rock dos anos 60, como Jimi Hendrix, que transformou o colete militar em tela psicodélica, um grito de liberdade contra um mundo em preto e branco. Suas roupas expressavam seu ser, o ritmo interno de suas almas, o fogo elétrico de sua música. 

Esses movimentos não lançaram uma moda; eles foram a moda no seu sentido mais profundo: uma revolução do ser. Eles rasgaram os figurinos pré-fabricados e vestiram-se de suas próprias verdades. Eram caminhantes, poetas e guerreiros que, com suas roupas, diziam "eu estou aqui", e nesse "estar", transformavam o mundo ao seu redor. 

Hoje, o risco é a cópia da cópia, um ecossistema de repetições que nega o ser, seus corpos únicos, seus movimentos singulares, suas vidas irrepetíveis. É o ruído que abafa a melodia interior. 

Mas a verdadeira elegância, a que marca a memória e a imaginação, permanece como um suspiro de beleza atemporal. Ela não segue tendências; ela as dita a partir da alma. É a coragem de, em um mundo de espelhos distorcidos, apresentar-se com o próprio rosto, vestido apenas de luz. Porque no grande desfile da existência, o traje mais revolucionário é, e sempre será, a autenticidade. 

 

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