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quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Silenciar o pensamento crítico é, no fundo, ensiná-lo a falar com gentileza.



Durante uma reunião com gestores, coordenadores e psicólogos, em meio a uma conversa sobre desenvolvimento socioemocional, surgiu um tema que silenciou a sala: autocompaixão.

Alguém perguntou: “Como silenciar o pensamento crítico?” e essa simples pergunta abriu um abismo de reflexão. Afinal, quantas vezes somos impiedosos conosco mesmos, cobrando perfeição até nas dores?

A autocompaixão é uma das expressões mais sofisticadas da Gestão Emocional. Ela surge quando deixamos de reagir à falha como inimigo e passamos a tratá-la como professora. Ser autocompassivo não é se eximir da responsabilidade, mas se relacionar com o erro sem violência interna. É saber que o humano em nós não precisa ser consertado, precisa ser compreendido.

Do ponto de vista da Neurociência, o cérebro foi moldado para sobreviver, não para acolher. Por isso, reage ao erro com o mesmo alarme com que reagiria a uma ameaça: a amígdala dispara cortisol, e o corpo entra em modo de defesa.
A autocompaixão, ao contrário, ativa o sistema de segurança emocional, mediado pela ocitocina e regulado pelo córtex pré-frontal, responsável pela empatia e pelo equilíbrio. Nesse estado, a mente deixa de lutar contra si e passa a se regular. Assim, o que chamamos de “silenciar o pensamento crítico” é, na verdade, reeducar o cérebro para responder com cuidado, e não com punição.

A Psicanálise descreve esse mesmo fenômeno em outra linguagem. Freud chamou de Superego o juiz interno que pune até o desejo de ser imperfeito. Jung foi além, dizendo que amadurecer é integrar luz e sombra, reconhecer que a sombra não é inimiga, mas parte do todo.
Quando praticamos a autocompaixão, estamos realizando o que Jung chamaria de um ato de integração psíquica: transformamos a voz crítica em voz orientadora, firme, mas gentil. O “erro” deixa de ser sentença e se torna símbolo de crescimento.

Na Gestão Emocional, essa prática é essencial. O sujeito emocionalmente maduro não busca eliminar o pensamento crítico, mas reconfigurá-lo: fazer dele um aliado da consciência e não um sabotador do valor pessoal.
A autocompaixão atua como um filtro regulador, diminui a intensidade do julgamento e aumenta a clareza da reflexão. Quando aprendemos a dizer “errei, mas continuo digno de amor”, o cérebro sai do modo de ameaça e volta ao modo de aprendizado.

E é aqui que a Educação Socioemocional entra como solo fértil. Ao ensinar autoconhecimento, empatia, autogestão e resiliência, as escolas criam uma cultura que legitima o erro como parte do processo humano.
Em cada educador que pratica a autocompaixão, nasce um espelho emocional para os alunos, um convite silencioso à humanidade. Uma escola que ensina autocompaixão forma mentes críticas, mas corações leves.

Autocompaixão não é autopermissão. É autoconhecimento com ternura. É a coragem de continuar sendo quem se é, mesmo quando o espelho mostra as imperfeições.
Silenciar o pensamento crítico é, no fundo, ensiná-lo a falar com gentileza.

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