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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Marcadores do Antropoceno em sistemas fluviais meândricos: traços de Césio-137 no baixo Rio Ribeira (SP). USP.




Marcas humanas no registro da Terra.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram vestígios de Césio‑137 (Cs-137) em sedimentos da planície fluvial do Rio Ribeira de Iguape (SP), um achado que pode contribuir para definir o início oficial do Antropoceno, nova época geológica marcada pela ação humana sobre o planeta.

De onde vem esse traço? O Césio-137 é um radionuclídeo artificial resultante dos testes nucleares atmosféricos realizados entre as décadas de 1950 e 1970.

Ele espalhou-se pela atmosfera global e depositou-se em solos, sedimentos e sistemas aquáticos.

Na planície fluvial analisada, os cientistas encontraram o Cs-137 em diferentes compartimentos do sistema (canal ativo, planície de inundação, bacia de decantação e meandro abandonado).

E o pico de concentração foi detectado na camada correspondente ao ano 1963, o auge da chamada “chuva radioativa”.

Esse “carimbo geológico” demonstra que a atuação humana (neste caso, testes nucleares) deixou uma assinatura visível no ambiente físico da Terra.

Em termos de Antropoceno, representa uma evidência de que as atividades humanas ultrapassaram margens locais e passaram a atuar como forças geológicas.

Como resumiu o geógrafo Breno Schmidtke Rodrigues, autor do estudo: “delimitar o período do Antropoceno é reconhecer que a ação humana tem força geológica capaz de provocar mudanças no Planeta Terra.”

Em termos práticos, conhecer esses marcadores ajuda geocientistas a entenderem melhor quando começa essa nova época e como ela se manifesta nos sistemas naturais.

Importante ressaltar: os níveis de Césio-137 encontrados são baixos, residuais, sem risco para a saúde pública ou segurança radiológica. A relevância é simbólica e científica, ligada ao rastreamento das transformações ambientais humanas.

Essa descoberta nos oferece uma oportunidade de reflexão: até que ponto nossas atividades deixam marcas profundas e duradouras no planeta?

E como podemos usar essa consciência para orientar políticas, tecnologias e práticas mais sustentáveis?

"Curioso pensar que deixamos nossa assinatura na Terra não com poesia, mas com radiação".

O planeta, paciente, agora guarda nossos rastros nucleares como quem arquiva provas de um crime elegante.

Chamamos isso de Antropoceno, mas talvez fosse mais honesto chamá-lo de “Era do Descuido Ilustrado”.

Inventamos a bomba, espalhamos o pó e agora celebramos o achado científico como se fosse arte moderna...

"Afinal, nada mais humano do que transformar até a destruição em marco geológico".


Fonte:
“Césio-137 encontrado em sedimentos de rio em SP pode delimitar Antropoceno”, Jornal da USP.
Rodrigues, B. S. (2025). Marcadores do Antropoceno em sistemas fluviais meândricos: traços de Césio-137 no baixo Rio Ribeira (SP). USP.


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