SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

terça-feira, 7 de outubro de 2025

SEUS FILHOS ESTÃO SENDO ROUBADOS DE NÓS

 


As crianças não moram mais em casa porque agora vivem em suas telas. Seus corpos estão aqui, mas seu mundo está em outro lugar. Seu quarto não é mais do que um cenário porque sua verdadeira casa é digital.


Parece uma metáfora, mas não: é realmente uma mutação antropológica. O local de transmissão mudou.
Os pais foram expulsos de sua função simbólica: a de dar forma, medida e memória.
A tecnologia digital tomou conta dele e
Agora é Ele que fala, que guia, que tranquiliza e que mostra o mundo. Ele é um pai sem carne, sem fadiga e sem olhar.

É uma tragédia: os pais não têm mais acesso aos filhos. Eles passam por eles sem vê-los, falam com eles sem serem ouvidos. Eles gerenciam a logística de vidas que não compartilham mais.
Os pais se tornaram os mordomos silenciosos de uma casa deserta. Eles deram à luz um filho, o amavam, o criaram, o acompanharam... e tudo o que eles cultivaram foi arrebatado deles, absorvido e... Reconfigurado.

As telas aboliram os limites: não há mais portas para cruzar ou olhares para apoiar. Uma geração sem passagem, sem ancestrais e sem alteridade.

E neste mundo sem limites, os adolescentes se tornaram os soldados de uma nova civilização, armados de pixels e certezas, defendem um reino sem dor, sem esforço e sem morte.
Eles acreditam ser imortais, infinitos e intocáveis. E se for necessário pisar em seus pais para preservar este reino, eles o farão. Se for necessário renunciar à realidade, eles renunciarão.

Antropologicamente, a tecnologia digital não rouba apenas das crianças: ela recompõe as espécies simbólicas.
A criança não é mais uma herdeira, mas um subproduto do tempo.
O ser humano está dividido entre duas ontologias: a do corpo (mortal, lenta, imperfeita) e a do pixel (imortal, instantânea, infinita).

O que a tecnologia digital rouba não são apenas seus filhos: é também a própria duração de sua infância. A criança digital vive em um tempo contraído, sem expectativa e sem se tornar. Ele não cresce mais, ele rola. Não tem mais uma história, mas sim uma sucessão de micro-presentes.

A tela substituiu o rito.
A refeição, a hora de dormir, o olhar - esses limiares simbólicos pelos quais as gerações se reconheciam - foram apagados.
A criança é privada de ritos de passagem e, portanto, de limites simbólicos. É isso que o torna um exército sem lei, sem ancestrais e sem memória.

As telas aboliram os limites. Simplesmente não há mais portas para cruzar, não há mais olhares para apoiar.

Podemos ainda falar de "pais e filhos, ou melhor, de gerações separadas por um cataclismo invisível".
Assim como Prometheus uma vez roubou o fogo, a tecnologia digital roubou os fios. Uma humanidade está em processo de ser derrotada em seu gesto mais antigo: transmitir.

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