SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

“Enquanto o Norte escreve os relatórios, o Sul sustenta o carbono.


 SÉRIE COP30 - Dia 3

“O CARBONO PRECISA DE REGRAS”

Dia 3 - O Brasil no Tabuleiro das Normas

Título: Exportamos floresta, importamos regra.

O Brasil é o maior ativo ambiental do planeta e, paradoxalmente, o menor beneficiário do mercado de carbono.

Enquanto discutimos se seremos “player” ou “vitrine” na transição climática, as metodologias que precificam nossas florestas continuam sendo escritas em escritórios do Norte Global, Dra onde a floresta é um conceito, não uma vizinha.

A cada COP, o roteiro se repete:
somos elogiados pela biodiversidade, convidados a preservar e depois instruídos sobre como medir o que já sabemos conservar há séculos.

O problema é que, nesse jogo de métricas, quem cria as regras dita o valor da natureza, e o Brasil segue jogando com manuais importados.

O país tem 20% das florestas tropicais do planeta, o maior potencial de créditos de carbono por soluções baseadas na natureza (Nature-Based Solutions) e um dos menores níveis de monetização per capita nesse mercado.

Segundo as fontes científicas mais consolidadas (ONU, WWF, IBGE, IPBES, MMA e ICMBio):

O Brasil abriga entre 15% e 20% de toda a biodiversidade conhecida do planeta,

Estima-se que o país possua mais de 120 mil espécies de invertebrados, 9 mil espécies de vertebrados e 46 mil espécies de plantas, com muitas ainda não descritas pela ciência.

Isso faz do Brasil o país com maior biodiversidade do mundo.

Ou, em termos simbólicos: 1 em cada 5 formas de vida do planeta está em território brasileiro.

“O Brasil é o maior ativo ambiental do planeta e, paradoxalmente, o menor beneficiário do mercado de carbono.”

O paradoxo é aritmético: produzimos o carbono verde, mas vendemos barato porque compramos as metodologias caras.

Enquanto isso, a Europa discute taxonomias, o Canadá define parâmetros de integridade e os Estados Unidos criam plataformas nacionais de carbon registries.

E nós? Ainda certificamos biodiversidade brasileira sob normas estrangeiras, pagando royalties para validar o que nasce em solo nacional.

A Carbon Zero defende a criação de uma autoridade técnica nacional de padronização climática, que estabeleça metodologias próprias, auditáveis e compatíveis com o Acordo de Paris.

Isso não é isolamento: é soberania técnica.

O mercado global não respeita quem tem floresta, mas quem tem norma.

Com base na Lei nº 14.119/2021 (Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais) e na estrutura de MRV alinhada à ISO 14064 e 14067, o Brasil pode, e deve, ser exportador de modelos de verificação, não apenas de matéria-prima ambiental.

A COP 30, em Belém, será o ponto de inflexão.

Ou assumimos o protagonismo regulatório, ou continuaremos sendo o “armazém verde” de um mercado que monetiza nossos biomas, mas ignora nossas ciências.

“Enquanto o Norte escreve os relatórios, o Sul sustenta o carbono.

Está na hora de o Brasil deixar de ser o exemplo e passar a ser o padrão.”

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