Li recentemente uma reflexão de um colega que dizia se sentir aterrorizado diante da ideia de um Deus onisciente — um Deus que olha para todos ao mesmo tempo, que conhece cada pensamento em meio a tantas vidas, histórias e desejos.
Fiquei pensando nisso.
Entendo o peso da ideia. Mas, para mim, o que realmente assusta não é ser visto — é não ser.
Não ser ouvido.
Não ser lembrado por Deus.
Não há vidas demais neste mundo. Pelo contrário: talvez não haja o suficiente. Talvez seja exatamente por isso que pessoas continuam a nascer — porque o amor ainda não se esgotou, porque sempre há espaço para mais histórias, mais vozes, mais corações que importam.
A onisciência pode soar ameaçadora. Mas é justamente aí que encontro consolo: em saber que, em meio a milhões, não sou invisível. Que Deus está perto — tão perto! — e que, mesmo no silêncio, há Alguém que conhece o que se passa dentro de mim, até quando nem eu mesma sei organizar.
Temível não é ser visto. Temível seria não haver olhar algum.
Somos tão pequenos, caídos, perdidos e necessitados.
E é nesse Olhar Constante do Criador que existe um amor que escapa à nossa compreensão. Um amor que acolhe cada fragmento da alma — dúvidas, medos, alegrias e mágoas escondidas. Ser visto por esse olhar não é, necessariamente, ser exposto ao julgamento, mas ser reconhecido na nossa essência, naquilo que às vezes nem nós conseguimos alcançar.
Então, se há algo a temer, não é o olhar que tudo sabe, mas uma eternidade sem compreensão.
Um vazio.
Solidão.
Deus é um Deus pessoal, um Criador que sente prazer em ter intimidade com sua criação, não um ser distante, rancoroso e inacessível.
Ele nos olha com amor e cuidado — com intenção, não como quem está prestes a nos fuzilar com raios por tropeçarmos na escuridão. Ele quer ser a Luz.
Acredito que quem anda na luz, busca a verdade e tenta seguir um caminho de retidão encontra paz nesse olhar mais facilmente. Mas quem não vive assim, embora sinta incômodo, também tem a mesma oportunidade de usufruir desse amor, desse cuidado, desse direcionamento.
Somos incapazes de atingir a perfeição. Mas recebemos a capacidade de sermos aperfeiçoados naquele que é Perfeito.
Assim seguimos.
Conhecidos.
Amparados.
Amados.
Vistos.

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