SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Sinergia para Transformação: A Economia Ecologia das Políticas Públicas por Egidio Guerra.



Em um mundo de desafios cada vez mais complexos e interconectados, como a pobreza, a crise climática, as desigualdades profundas e a insegurança, as soluções fragmentadas e setoriais mostram-se insuficientes. A nova fronteira do desenvolvimento social e urbano reside na capacidade de criar políticas públicas que trabalhem sinergias. Estas não são meros programas de governo, mas ecossistemas de ação que otimizam recursos escassos, somam competências diversas e integram processos antes isolados, para ampliar impactos e transformar, de fato, vidas e cidades. 

Essa abordagem exige uma arquitetura de colaboração que envolve diferentes atores da sociedade: as Empresas, com sua eficiência, inovação e capacidade de investimento; as ONGs, com seu conhecimento de base e trabalho direto com comunidades; as Universidades e Escolas, gerando conhecimento, evidências e formando novos talentos; os Movimentos Sociais, articulando demandas reais e exercendo pressão legítima; o Mercado Financeiro, direcionando capital para investimentos de impacto; e a Cooperação Internacional, trazendo recursos, experiências globais e perspectivas ampliadas. Quando estes setores deixam de atuar em silos e passam a co-criar, a sociedade como um todo se torna mais resiliente e forte, capaz de enfrentar problemas que nenhum setor resolveria sozinho. 




O Paralelo com a Simbiose: A Lição da Natureza 

Este modelo encontra seu espelho mais perfeito na simbiose da natureza. Na floresta, os fungos micorrízicos formam uma vasta rede subterrânea (a "Wood Wide Web") que conecta árvores, permitindo a troca de nutrientes, água e informações de alerta. A árvore mais forte sustenta a mais fraca; a planta fornece açúcares ao fungo, que, em troca, amplia sua capacidade de absorção de recursos. Não é uma relação de competição, mas de cooperação fundamental para a saúde de todo o ecossistema. Da mesma forma, a ciência moderna avança através de colaborações globais, onde dados, descobertas e competências se somam, acelerando a inovação. 

A filosofia e a psicologia profundas já intuíam essa verdade. O antropólogo Gregory Bateson, em sua "Ecologia da Mente", afirmava que a unidade de sobrevivência não é o organismo isolado, mas o organismo-em-seu-ambiente. A mente não está confinada ao crânio; ela é imanente aos circuitos e às relações que formamos com o mundo. Carl Jung, ao explorar o inconsciente coletivo, revelou que somos interligados por arquétipos e experiências comuns, e que a empatia é a ponte que nos permite reconhecer essa unidade. Não existe "liberdade" individual plena em um contexto de colapso social, nem "igualdade" genuína sem uma rede de apoio cooperativa. 



A Resposta à Desagregação Neoliberal e a Ascensão do Cosmos Cooperativo 

Este paradigma de sinergia é um antídoto vital à lógica do neoliberalismo, que, ao buscar a desconstrução do Estado e a mercantilização de todas as esferas da vida, incentiva o consumo desenfreado, o hiper individualismo e a erosão dos laços comunitários. Ele nos convenceu de que o egoísmo é um motor de progresso, quando, na verdade, é a semente da fragilidade coletiva. 

Hoje, percebemos que nossa existência é intrinsecamente simbiótica em escalas cada vez maiores. O planeta é um sistema integrado de fungos, animais, plantas e seres humanos. E estamos a ampliar essa rede: tornamo-nos cyborgs através de próteses, smartphones e interfaces cérebro-máquina; criamos inteligências artificiais e robôs que, se guiados por uma ética cooperativa, podem ser parceiros na solução de problemas complexos. Ao mirarmos outros planetas, não iremos como indivíduos isolados, mas como uma humanidade unida, levando conosco o princípio fundamental da cooperação para nos integrarmos ao cosmos. 

Concluindo, a construção de um futuro próspero e justo não dependerá de heróis solitários ou de mercados autorregulados, mas da nossa capacidade de tecer, de forma consciente e deliberada, uma ecologia de cooperação. São as políticas públicas sinérgicas, inspiradas na sabedoria da natureza e na ciência colaborativa, que nos permitirão responder aos grandes desafios do nosso tempo, tornando-nos, de fato, uma sociedade mais sábia, mais forte e verdadeiramente interligada. 

 

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