SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sábado, 15 de novembro de 2025

 


Para Woody Allen, o amor é inextricavelmente ligado ao intelecto e à neurose. Em seus filmes, o amor raramente é um sentimento puro; é um debate interno, uma análise excessiva, uma troca de espirituosidades e inseguranças. O amor floresce em meio à ansiedade existencial, à culpa e ao medo da morte. Em "Annie Hall", Alvy e Annie não são derrotados por uma traição clássica, mas por uma incompatibilidade de neuroses e pelo lento desgaste da convivência. O amor de Allen é uma busca por significado em um universo supostamente indiferente, e o parceiro torna-se um cúmplice nessa busca, alguém com quem se pode compartilhar o pânico e o absurdo da vida. 


Em contraste radical, Celine Song, em "Passados", apresenta o amor como uma força silenciosa e quase transcendental. É um amor de almas gêmeas, moldado pelo destino e pelo acaso. A conexão entre Hae Sung e Nora não é construída sobre diálogos espirituosos, mas sobre olhares, silêncios e uma profunda sensação de reconhecimento. O amor aqui é uma melancolia suave, uma ligação que transcende tempo, espaço e até mesmo a vida que se escolheu construir. É um amor que não precisa de posse para ser válido; sua existência, por si só, já é um fato cósmico e completo. 


Na literatura jovem-adulta de John Green, o amor é uma metáfora para a busca de significado perante a finitude. Em "A Culpa é das Estrelas", Hazel e Augustus não se amam apesar do câncer, mas o amor deles é profundamente moldado por ele. O romance é uma celebração da vida, uma forma de se rebelar contra a escuridão. O amor de Green é inteligente, desafiador e profundamente humano; ele não salva ninguém da morte, mas oferece uma razão para viver intensamente enquanto se está vivo. É sobre ser "um pequeno organismo contra a escuridão imensa". 


Emily Henry, na ficção adulta contemporânea, explora o amor como um porto seguro e um espelho. Em "Livros e Amores à Prova de Tudo", o romance entre January e Augustus é uma dança entre a fantasia e a realidade. O amor não é sobre salvar um ao outro, mas sobre ver e ser visto verdadeiramente, com todas as cicatrizes e medos. É um amor que se constrói no dia a dia, através do apoio mútuo, da paciência e da coragem de ser vulnerável. O amor de Henry é uma cura para a solidão, um lar que se escolhe construir. 


Já Jenna Evans Welch especializou-se em romances de descoberta, onde o amor se entrelaça com uma jornada de autoconhecimento. Em "Amor & Gelato", a Itália não é apenas um pano de fundo, mas um catalisador. O amor por um lugar, por uma história familiar e por um novo rapaz andam de mãos dadas. O amor é uma aventura que leva a personagem a se reencontrar e a entender seu próprio lugar no mundo. É um sentimento que desbloqueia partes de si mesmo que estavam adormecidas. 


Uma História Baseada Nesses Romances 

Era assim: Ben era um escritor de meia-idade, eternamente às voltas com um novo roteiro sobre um homem que temia que o universo fosse indiferente (sua fase Woody Allen). Elisa era uma guia turística coreana que havia construído uma vida tranquila longe de Seul, mas cujo silêncio era povoado por ecos de um passado que ela mal compreendia. 

Eles se encontraram por acaso – ou destino? – na livraria onde ela trabalhava, quando ele, pesquisando para seu roteiro, derrubou uma pilha de livros de John Green. A primeira conversa foi uma partida de tênis verbal, cheia de ironias e observações auto-depreciativas por parte dele, que Elisa rebateu com uma serenidade que o desconcertou. 

Nos cafés que se seguiram, ele analisava excessivamente cada detalhe, temendo estar a projetar em Elisa a personagem perfeita de sua história. Mas ela, com a paciência de uma personagem de Celine Song, simplesmente estava ali. Havia uma conexão silenciosa entre eles, um fio de compreensão que não precisava de palavras. Ele contava-lhe seus medos existenciais, e ela, em vez de tentar resolvê-los, oferecia-lhe a quietude da sua presença. 

A relação deles não foi isenta das realidades de Emily Henry. Ele era desorganizado e propenso a crises de ansiedade; ela era teimosa e tinha medo de se entregar completamente, de se perder em alguém novamente. Houve discussões, mal-entendidos, noites em que ele achava que tinham "desfeito o feitiço". Mas era nessas horas que o amor se mostrava não como um conto de fadas, mas como uma escolha. Era ele aprender a calar a mente e simplesmente abraçá-la; era ela aprender a confiar e a abrir seu mundo tranquilo para o caos criativo dele. 

Num verão, ela convenceu-o a viajar para a Itália, uma jornada à la Jenna Evans Welch. Entre as colinas da Toscana, longe da sua rotina neurotica, Ben viu Elisa de uma nova maneira. Ele a viu rir alto, perder-se em ruas de paralelepípedos e falar italiano com as mãos. Foi como se a viagem desbloqueasse uma parte dela – e, por consequência, dele – que a cidade cinzenta mantivera escondida. 

Num café em Florence, sob o sol da tarde, ele fechou o laptop. O roteiro sobre o homem e o universo indiferente ainda não tinha um final. Mas ele olhou para Elisa, que lia um livro de Emily Henry, e percebeu que havia encontrado a resposta. O universo podia ser silencioso, o tempo podia ser cruel e a vida, confusa. Mas o amor não era uma busca por uma resposta cósmica. Era a coragem, como escrevia John Green, de ser um organismo contra a escuridão, de preferência com outro organismo ao seu lado. Era o silêncio compartilhado de Celine Song, o porto seguro de Emily Henry, a aventura de Jenna Welch e, sim, até a aceitação da neurose de Woody Allen. 

Ele não disse nada. Apenas colocou sua mão sobre a dela sobre a mesa. Ela ergueu os olhos do livro, e um sorriso tranquilo iluminou seu rosto. Não havia necessidade de palavras. O amor, naquele momento, era aquilo: uma escolha diária, feita não apesar de suas imperfeições, mas por causa delas. E era mais do que suficiente. 

 



 

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